Tenho duas histórias para contar, a respeito da liberação de armas para jornalistas: nas duas, se estivesse armado, não teria como sair vivo
Não gosto de armas: balas aleijam e matam. Mas não entro na discussão sobre porte de armas na segurança pública. Na Suíça e em Israel, onde cada cidadão tem em casa armas poderosas, e no Japão, onde civis raramente podem ter qualquer tipo de arma, o índice de criminalidade é baixo.
Mas tenho duas histórias para contar, a respeito da liberação de armas para jornalistas: nas duas, se estivesse armado, não teria como sair vivo.
Uma ocorreu no Brasil, uma no Uruguai. No Brasil, por sorte de repórter, fui à casa onde tinha ficado prisioneiro o embaixador americano Charles Elbrick, sequestrado por militantes da luta armada. Cheguei instantes antes do fechamento da rua e entrei na casa. Cada serviço de informações (lá havia vários) achava que eu pertencia a outro. Eu achava que as notícias estavam liberadas, já que tudo o que perguntava me respondiam. A folhas tantas, liguei para o Jornal da Tarde, no Rio, e pedi um fotógrafo. Não havia ninguém disponível. Explodi: “Que cazzo de jornal que nem tem fotógrafo?”.
Segundos depois, estava diante do cano de uma pistola. Um senhor de farda queria saber de que jornal se tratava — e, enfim, quem era eu? Ali mesmo me revistaram, apreenderam minhas anotações e meus documentos, me puseram entre dois soldados com metralhadoras. “Se tiver arma, é um deles”. Não tinha armas, fui liberado e avisado de que não poderia publicar nada. Publiquei tudo, mudei de hotel. E, creio, esqueceram de mim.
El coche de la Policía
No Uruguai, os tupamaros enfrentavam o regime (a caminho de uma
ditadura militar). Tinha contatos com os dois lados. Aluguei um
Maverick, que seria lançado aqui (outra matéria!) Convidaram-me para uma
reunião de tupamaros e segui para lá de Maverick. Fui bem recebido, até
que alguém cochichou algo ao líder do grupo. Fui cercado por jovens
armados que queriam saber por que eu guiava um Maverick — e
como saberia que era o carro favorito da Polícia, como o Falcon na
Argentina? Instrução: “Viu demais. Se tiver arma, deem um jeito”. Não
tinha arma, meu contato teve tempo de garantir que eu era repórter
mesmo. A falta de armas me salvou.
Ficando fraco
Quando Bolsonaro assumiu, seu Governo se apoiava em Moro e Guedes.
Moro, pela reputação e popularidade; Guedes, por ser bem aceito pelo
mercado. Guedes, com poucos tropeços, continua poderoso; Moro, com
seguidas derrotas, a última das quais o bloqueio do Congresso à
transferência do Coaf (que segue as movimentações financeiras), para sua
pasta, vem murchando. Já perdeu umas sete batalhas, e duas vezes na
questão das armas. Não acha que, com a população armada, o crime se
reduza. Não acha, mas aceitou. E já disse que seu sonho maior é ir para o
Supremo. Ok, Bolsonaro agora sabe que ele não reage quando contrariado.
Sabe também qual a chave para mantê-lo tranquilo. Moro continua sendo
mais bem-visto do que Guedes e o próprio Bolsonaro, mas era maior em
Curitiba do que é em Brasília.(...)
Subindo
Quem cresceu na avaliação é o vice Hamilton Mourão, com 39% de ótimo e
bom. Já 20% o consideram ruim ou péssimo. Como veem a contribuição de
Mourão para o Governo? Ampla maioria, 82%, a avaliam como positiva ou
neutra; e 20% consideram que a contribuição do vice é negativa.
Previdência
Pela primeira vez, a pesquisa XP Ipespe perguntou aos entrevistados o
que acham da reforma da Previdência proposta pelo Governo. Divisão
quase meio a meio: 50% contra (dos quais 22% acreditam, porém, que algum
tipo de reforma tenha de ser feito); 45% a favor (dos quais 21%
discordam de partes do projeto). E 75% acham que o Congresso aprovará a
reforma.Blog do Augusto Nunes - Veja