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domingo, 1 de novembro de 2020

A rede de intrigas dentro do Palácio do Planalto

Fofocas, dossiês e supostos grampos: a rede de intrigas no Palácio do Planalto

Disputa entre dois grupos por mais espaço no governo envolve ministros em fofocas, dossiês-fantasmas e até denúncias de supostos grampos contra Bolsonaro

Em outubro de 2018, o general Luiz Eduardo Ramos, então comandante militar do Sudeste, acompanhava ansioso a apuração dos votos da eleição presidencial. Confirmada a vitória de Jair Bolsonaro, ele se ajoelhou, fez uma oração e chorou copiosamente ao lado da esposa. Ele e o presidente eram amigos de longa data. Oito meses depois, o general foi convidado para assumir a Secretaria de Governo, um posto cuja principal e mais sensível atribuição é cuidar da articulação política. Na época, o presidente dava de ombros para o Congresso, relativizava a importância de acordos, desautorizava negociações e alimentava um ambiente conturbado que, em certo momento, chegou a ameaçar a continuidade de seu mandato. Ex-­asses­sor parlamentar do Exército, Ramos, com seu jeito afável, aceitou a missão de construir pontes com o Parlamento. Pragmático, convidou os partidos de centro para participarem do governo. Deu a eles cargos e verbas em troca de apoio político — uma parceria, em princípio, legítima, bem-sucedida, mas que, agora, está na raiz de uma barulhenta disputa de poder entre dois grupos.

No dia 21 de outubro passado, um importante assessor do presidente da República confidenciou a um amigo que Luiz Ramos estava com os dias contados no governo. O general, segundo esse assessor, guardava arquivos de áudios de conversas reservadas entre ele e Bolsonaro. O ministro teria feito isso com o intuito de registrar que suas ações, principalmente as que envolviam indicações políticas para cargos públicos, eram todas de conhecimento do presidente. Os arquivos em seu poder provariam isso.

Visto por outro ângulo, as gravações, se existissem mesmo, também trariam à tona um monumental escândalo e, sem sombra de dúvida, fulminariam a carreira do general. O fato é que esse enredo, narrado precisamente dessa maneira, chegou ao conhecimento da chamada ala ideológica do governo, grupo radical que disputa espaços nos ministérios, se opõe a acordos políticos com determinados partidos, prega o fechamento do Supremo Tribunal Federal e considera os militares como adversários.

Jair Bolsonaro já deu mostras de como reage a supostas conspiratas em seu governo. O antecessor de Ramos na Secretaria de Governo, general Santos Cruz, foi demitido sumariamente depois de ter sido acusado de criticar o presidente e um de seus filhos. A prova do crime era a reprodução de uma tela de telefone em que aparecia uma mensagem de Whats­App na qual ele tecia comentários desairosos sobre os dois. Santos Cruz negou, em vão, ser o autor do texto. Tempos depois, a Polícia Federal descobriu que a mensagem era uma montagem grosseira. O ex-­ministro não tem dúvida de que foi vítima de uma armação patrocinada pela ala radical do governo. A acusação contra Ramos segue o mesmo roteiro. O grupo chegou a discutir uma estratégia para levar a denúncia ao presidente. O problema é que, desta vez, não apareceu uma mísera evidência de que o grampo de fato existiu.

Em 22 de outubro, um dia depois de circular a informação sobre as gravações, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, um dos membros da ala ideológica, não gostou de uma notícia publicada pelo jornal O Globo segundo a qual ele estaria “esticando a corda” com a ala militar supostamente depois de ter recebido uma espécie de salvo-conduto do presidente da República. O ministro viu nela uma tentativa de intrigá-lo com Bolsonaro, responsabilizou Ramos pela informação e o chamou de “Maria Fofoca” em mensagem publicada numa rede social. A indelicadeza provocou uma daquelas crises que só servem para desviar a atenção das questões que importam e provocar desgastes ao próprio governo. Salles ganhou logo o apoio nas redes sociais do filósofo Olavo de Carvalho, guru dos bolsonaristas, e de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse que Salles “resolveu destruir o próprio governo”. Ramos foi aconselhado a não reagir.

No fim de semana, por ordem do presidente, combinou-se um armistício. O ministro do Meio Ambiente ligou para Luiz Ramos, pediu desculpas pela grosseria e disse que se deixou levar por muitas coisas que ouviu nos últimos dias. Depois, publicou no Twitter uma retratação da briga. O chefe da Secretaria de Governo postou uma mensagem dizendo que uma “boa conversa apazigua as diferenças”. Mais tarde, divulgou uma foto dele lado do presidente no Palácio da Alvorada, antes de um passeio de moto. Nos bastidores, porém, as intrigas continuaram. Na noite da terça-feira 27, foi a vez de um militar procurar Ramos para avisá-lo de que “havia gente do governo” fazendo circular a informação de que um assessor do general estaria preparando um dossiê com denúncias graves contra ele. Intrigado com toda essa situação, o ministro levou o caso ao presidente da República, que manteve o tom apaziguador e disse que confia no trabalho do seu amigo de longa data. O tal dossiê também não apareceu.

Os termos usados por Salles para se dirigir a Ramos deixaram a ala militar bastante irritada. Um dos mais indignados é o vice-presidente, general Hamilton Mourão, que disputa com o ministro do Meio Ambiente o protagonismo da política ambiental. A Amazônia está sob o decreto da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e, portanto, aos cuidados do Ministério da Defesa, que disponibiliza uma tropa de mais de 3 000 soldados para conter a devastação. Enquanto isso, dizem os militares, Salles dedica-se a negar os problemas, a digladiar-se com as ONGs e até a comprar briga com celebridades, como aconteceu com o ator Leonardo DiCaprio. Outro personagem que demonstrou insatisfação com a postura de Salles foi o general Braga Netto, ministro-­chefe da Casa Civil, que assumiu o cargo com a missão de coordenar as ações e os principais programas do governo. A ala radical viu nisso uma perda de espaço e de poder. Em julho, a coluna Radar, de VEJA, revelou que a filha do general foi indicada para ocupar um cargo na Agência Nacional de Saúde Suplementar, com salário de 13 000 reais. A nomeação acabou cancelada. O general atribuiu o vazamento e a amplitude que a história ganhou à ação do grupo ideológico. Braga Netto também foi convidado pelo presidente para o passeio dominical de moto, o que foi visto como um sinal de prestígio da ala militar.

Desde o início do governo, Carlos Bolsonaro, o filho Zero Dois, acirra esse embate entre os dois grupos. Sem cargo ou delegação oficial, o vereador do Rio de Janeiro participa de reuniões de trabalho no Planalto, dá palpites e consegue até interferir em projetos. Uma dessas reuniões ocorreu durante as discussões sobre os decretos que flexibilizavam a posse e o porte de armas no país. O Exército, responsável pela fiscalização dos armamentos, defendia a criação de uma norma para rastrear armas e munições. Carlos, que participava do encontro, se pôs veementemente contra a medida, mas os militares não cederam. A contragosto do filho, a portaria foi editada, mas valeu apenas por um mês. 

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Em  VEJA, MATÉRIA na ÍNTEGRA

Publicado em VEJA, edição nº 2711,  de 4 de novembro de 2020


sábado, 28 de julho de 2018

Número de eleitores homens de Bolsonaro é o triplo do de mulheres - Bolsonaro não era, não é e não será bolha.

Base de eleitores que declaram espontaneamente a preferência pelo candidato do PSL é de 22% entre os homens e apenas 7% entre as mulheres

Pesquisa feita pelo instituto Ideia Big Data com exclusividade para VEJA mostrou que o pré-candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, tem uma base sólida de eleitores e se mostra como um forte candidato às eleições presidenciais de 2018. No entanto, o levantamento traz uma notícia ruim para o deputado: se ele é um sucesso entre os eleitores homens, o mesmo não pode se dizer das mulheres. [as mulheres admiram e confiam em Bolsonaro e em sua maioria vão votar nele; 
se omitem, ou mesmo mentem, durante as pesquisas,  devido ao patrulhamento que sofrem das outras mulheres que defendem práticas que Bolsonaro irá combater  - entre elas o aborto, o kit gay o desmonte das famílias (especialmente das feministas, das lésbicas e das indecisas sobre a opção sexual).

Mas na hora H, na hora do voto, apenas a eleitora e a urna, cravará Bolsonaro.

As mulheres do Brasil são, em sua maioria, conservadoras - repudiam alguns exageros mas em valores básicos são consevadoras, porém, silenciam sobre e isto faz que que as aborteiras e outras categorias façam mais barulho.
Só que as urnas são silenciosas.]

Os 14% de intenção de voto estimulada que o candidato ostenta na pesquisa são a balança entre 22% de eleitores homens e apenas 7% de eleitoras mulheres, uma diferença de mais de três vezes. Nos cenários estimulados, nos quais há uma lista de candidatos, o voto em Bolsonaro vai de 26% a 28% entre eles e de 11% a 12% entre elas. Em seu histórico, o pré-candidato carrega alguns acontecimentos que jogam contra sua influência junto ao eleitorado feminino, uma vez que ele já defendeu a redução da licença-maternidade e já brincou que teve uma filha mulher por uma “fraquejada”, após quatro filhos homens.

O voto em Bolsonaro, diz o levantamento exclusivo do Ideia Big Data, é maior entre jovens (faixas de 16 a 24 e de 25 a 34 anos), escolarizados (maior entre quem tem ensino médio e ensino superior), ricos (nas faixas com maior renda familiar) e oriundos das regiões Norte e Centro-Oeste do país.  O oposto do deputado, quando o assunto é a análise dos dados por gênero, é a pré-candidata da Rede, Marina Silva. A ex-ministra tem, entre os homens, de 7% a 12% das intenções de voto, enquanto entre as mulheres esse número parte dos mesmos 12% e pode chegar a até 17%.

A diferença é tão discrepante que no cenário mais extremo para os dois, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não concorre e é substituído pelo ex-governador da Bahia Jaques Wagner (PT), Marina fica em primeiro lugar, superando o pré-candidato do PSL para além da margem de erro, de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. [Marina, arranca e depois engasga; sempre foi assim.] Nesse cenário, considerando apenas as mulheres, ela tem 17% das intenções de voto; ele, 12%.  O voto em Marina Silva é mais frequente entre mulheres jovens, igualmente distribuídas entre as faixas de escolaridade e majoritariamente das classes média e média baixa. A intenção de voto dela é maior no Norte e no Sudeste.

A pesquisa do Ideia Big Data entrevistou 2 036 eleitores no total, distribuídos entre 134 municípios em 25 estados e no Distrito Federal, entre os dias 20 e 23 de julho. O levantamento está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob a identificação BR-04178/2018.



A ameaça é real  

[não existe ameaça; o que há é uma certa indecisão sobre o risco da adoção por Bolsonaro de algumas medidas que poderão complicar a economia;

na área de Segurança Pública, valorização da Família, da Moral e dos Bons Costumes - que estão sendo destruídos pelo politicamente correto, pela maldita ideologia de gênero, pela liberdade total dada aos homossexuais para impor suas práticas aberrantes - melhora da Saúde Pública, Educação, Bolsonaro inspira confiança.

O seu ponto fraco é a indecisão sobre a economia, condição que favorece o Alckmin, que nesta área inspira Maiorca confiança que Jair Bolsonaro.]




Bolsonaro cresce no voto espontâneo, e surge um desafio: como lidar com um candidato que é um retrocesso no social e uma incógnita na economia.

E não era bolha

Sem apoio de partidos, dinheiro nem tempo de TV, Bolsonaro cresce nas pesquisas e demonstra ter musculatura para ser competitivo no segundo turno

Na primeira vez em que Jair Bolsonaro bateu nos 8% de intenções de voto, ombreando com veteranos como o tucano Geraldo Alckmin e o pedetista Ciro Gomes, a maioria dos analistas disse que sua candidatura à Presidência da República não passava de uma bolha que o vento se encarregaria de levar. Quando o ex-­capitão do Exército chegou aos dois dígitos, os mesmos analistas afirmaram que ele havia batido no teto e, daí em diante, a gravidade se encarregaria de colocá-lo em seu devido lugar. Na última semana, no entanto, Bolsonaro que oficializou sua candidatura pelo PSL sem vice, sem coligação e sem dinheiro — mostrou que, contrariando vaticínios, desejos e esconjuros, continua de pé, e crescendo. A pesquisa realizada pela Ideia Big Data, encomendada por VEJA, revela que Bolsonaro está se consolidando como líder no primeiro turno — na hipótese eleitoral mais provável, em que o ex-presi­dente Lula não concorre — e é, nesse mesmo cenário, o candidato com mais chances de chegar ao segundo turno.

No último levantamento do instituto Datafolha, divulgado em junho, Bolsonaro tinha 17% dos votos. Agora, na pesquisa da Ideia Big Data, que adota os mesmos critérios do Datafolha, de tal modo que as pesquisas são tecnicamente comparáveis, Bolsonaro mantém os mesmos 17%, mas cresce na intenção de voto espontânea em que o entrevistado revela em quem pretende votar sem que o entrevistador tenha lhe apresentado opção alguma. Nesse caso, Bolsonaro marca 14%, 2 pontos a mais do que na última pesquisa do Datafolha. É uma posição relevante quando se sabe que, entre os candidatos (exceção feita a Lula), nenhum alcança mais que 2% de intenção de voto espontânea no eleitorado. Nesse quesito do voto espontâneo, Bolsonaro rivaliza com Lula, que tem 17%, o que é um resultado e tanto. Afinal, Lula participa da corrida presidencial há três décadas, e Bolsonaro acabou de entrar.

A preferência pelo deputado, medida pelo voto espontâneo, exibe crescimento consistente desde o início do ano. Há um ano, ele contava com 8%, de acordo com o Datafolha. No mesmo período, Lula marcava 15%, mas caiu para 13% em abril, depois de ser preso. A volta do petista ao patamar de 17%, afirma Maurício Moura, diretor da Ideia Big Data, pode ser atribuída às recentes movimentações de membros do Judiciário em favor de sua soltura. “Qualquer evento que envolva mais ruidosamente o ex-presidente aciona a memória e a convicção de sua base eleitoral”, diz.

O avanço de Bolsonaro também é notado em praticamente todos os cenários de segundo turno, à exceção daquele em que seu nome é confrontado com o de Lula — nesse caso, o petista ganharia com folga, por 37% a 30%. Até junho, o Datafolha mostrava que Bolsonaro perderia no confronto com todos os candidatos, menos Fernando Haddad, do PT paulista. A nova pesquisa da Ideia Big Data revela que ele melhorou seu desempenho. Agora, Bolsonaro empata, dentro da margem de erro de 2 pontos para cima ou para baixo, com todos os candidatos.

Aos que torcem para a realização da profecia de que a candidatura do ex-capitão do Exército vai murchar tão logo comece o horário eleitoral na TV (malsucedido nas coligações, ele tem ínfimos sete segundos diários de propaganda), a pesquisa reserva dois jatos de água fria. Um levantamento feito pelo instituto com eleitores de São Paulo e do Rio de Janeiro mostrou que o que já foi crucial para uma campanha eleitoral pode não ser mais tão relevante: em 2008, a audiência das inserções em horário nobre rendia, em média, 25 e 22 pontos nas duas capitais, respectivamente. Em 2016, caiu para 7 e 6 pontos.  Bolsonaro conta ainda com outro fator capaz de minimizar sua desvantagem na TV: a baixa vulnerabilidade de seus eleitores a essa plataforma. A pesquisa encomendada por VEJA revela que o eleitorado do ex-capitão da reserva é o único majoritariamente formado por pessoas com nível superior, jovens (de 16 a 34 anos) e com renda superior a quinze salários mínimos. Essa é a fatia de eleitores mais propensa a consumir informações via grupos de Whats­App, redes sociais e sites na internet e não pela TV. O deputado é, dos principais candidatos, o que ostenta mais seguidores no Facebook, Instagram e Twitter: 7 milhões — quase o dobro do que tem Lula.

Contra a tese de que bateu no teto, há outra, bem mais favorável ao deputado — a de que ele ainda contaria com uma quantidade de “votos envergonhados”. São assim chamadas as escolhas dos eleitores que, em pesquisa presencial, ficam constrangidos com a opção pelo ex-capitão. Em pesquisas telefônicas, e sobretudo na solidão da urna, esses eleitores não escondem o voto em Bolsonaro. Moura vê indícios de que o fenômeno pode estar ocorrendo — e pode ser mais forte entre as mulheres, cuja antipatia ao candidato é hoje seu maior problema. De todos as pessoas que responderam à pesquisa, 28% dos homens disseram votar em Bolsonaro, enquanto, no caso das mulheres, apenas 11% deram essa resposta. Moura, mestre em ciências políticas pela Universidade George Washington, lembra que o “voto envergonhado” foi uma das variáveis ignoradas em 2016 por institutos de pesquisa dos Estados Unidos, que não foram capazes de antecipar a vitória de Donald Trump.

Bolsonaro nunca ocultou sua admiração pelo presidente americano, com quem gosta de se comparar. Ao contrário do brasileiro, no entanto, que reina no eleitorado mais escolarizado, Trump garantiu a vitória com os votos de eleitores com nível mais baixo de instrução nos cinturões do desemprego nos Estados Unidos. Ganhou a disputa prometendo “grandeza nacional”. Já Bolsonaro direciona seu arsenal retórico para a segurança pública e a denúncia da corrupção. Em 2015, 5% dos brasileiros consideravam o combate à criminalidade uma questão importante na hora de escolher seu candidato. Hoje, essa porcentagem mais que dobrou: é de 11%. Quanto à corrupção, o índice subiu de 15% para 31%.

(...) 
O embate entre seu nome e o de Haddad, em que o petista perderia (com 15%, contra 31% de Bolsonaro), demonstra que, sem Lula, os eleitores não estão dispostos a resgatar a herança do partido. Bolsonaro, portanto — um candidato que representa um nicho radical minoritário da população —, tem possibilidades reais de tornar-se presidente do Brasil. E isso é sério. Jair Bolsonaro jacta-se de não precisar de marqueteiro. Há uma semana, questionado se contrataria um profissional da área para sua campanha, o deputado voltou a ser taxativo: “Não vou. Por que eu vou querer marqueteiro para sete segundos de TV?”. 

 Desde maio, no entanto, sua pré-campanha conta com os serviços de uma empresa de comunicação especializada em eleições. Dono da agência 9ideia, de João Pessoa, na Paraíba, Lucas Salles, de 55 anos, estava preparado para fazer a campanha de Julio Lossio, candidato da Rede ao governo de Pernambuco, até que recebeu o convite para trabalhar para Bolsonaro. Em entrevista ao repórter Gabriel Castro, da sucursal de VEJA em Brasília, Salles diz que escolheu o mote da campanha, produziu o jingle e está bolando a estratégia para aproveitar de “maneira surpreendente” os dois programas diários de TV de três segundos e meio de duração cada um. Ele, porém, faz uma ressalva: não é marqueteiro, cujo termo abomina. “Usa-se marquetólogo”, explica.
 
Como o senhor foi para a campanha de Bolsonaro? Fui levado a Brasília pelo Julian Lemos (vice-presidente do PSL) há cerca de dois meses. No gabinete, logo que me sentei, o deputado Bolsonaro perguntou: “Você está preparado para a missão?”. Respondi que estava absolutamente preparado para trabalhar em uma campanha presidencial. Disse isso por causa da minha história. Venho trabalhando com vereador, deputado estadual, federal, prefeito e governador. Eu me sinto preparado para o desafio.

Não é curioso trabalhar para um candidato que diz não precisar de marqueteiro? Ele me disse que não gosta de marqueteiros. Eu respondi: “Somos dois”. Não sou marqueteiro. Estou há anos trabalhando para desconstruir esse termo, que é pejorativo. Usam-se marquetólogo, profissional de marketing ou consultor político. O marketing é ciência. A gente faz análise do cenário, das propostas, do candidato, do programa de governo. E equaciona a comunicação da forma mais verdadeira possível.

O que é preciso corrigir no candidato Bolsonaro? Não vou mudar nada, não vou fazer nenhuma perfumaria. Ele será apresentado em sua essência. Uma das coisas que ele me disse foi: “Eu não quero que me mude”. As pessoas buscam essa autenticidade. Quem tentar mexer com isso não vai conseguir e ele não vai aceitar, porque chegou aonde está assim.

Qual será o mote da campanha? Nas nossas conversas, ele falava muito da verdade. Então, nós chegamos a “Muda Brasil de verdade”, que já usamos na convenção. O jingle traz o mesmo conceito. Tem gente trabalhando o tempo todo para desconstruir a imagem dele. Nosso trabalho vai ser apresentar Bolsonaro e repor a verdade.

Ele precisa moderar o linguajar? Essa é uma decisão pessoal dele. O Bolsonaro já foi assimilado pelo povo brasileiro. Cada vez mais, as pessoas compreendem que ele é verdadeiro, fala o que pensa e não mede as palavras. É tudo muito natural.

O que dá para fazer em três segundos de TV? 
 Não posso falar da estratégia. Por enquanto é sigilosa. Mas vamos otimizar o tempo da forma mais criativa possível. As novas regras favorecem quem se posicionou mais cedo. Há alguns anos, cerca de 70% dos eleitores decidiam o voto com base na propaganda eleitoral na TV. Hoje, fala-se em 30%. As redes sociais serão muito importantes.

Quanto vai custar o marquetólogo do Bolsonaro? Não tenho essa resposta. A gente vai trabalhar com os recursos disponíveis. Fui criado na adversidade, no Nordeste. Aqui tudo é mais difícil. Isso nos estimula a trabalhar mais o lado da inovação e da criatividade.

Qual o tamanho da sua equipe? Eram dezesseis pessoas. Duas pediram demissão quando começamos a trabalhar com Bolsonaro. Alegaram desconforto.


Publicado em VEJA de 1º de agosto de 2018, edição nº 2593