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quarta-feira, 19 de outubro de 2022

"Muitos já passaram por esta mudança, eu inclusive." - Jairo José Silva


Perguntei hoje a um senhor afável e simpático que trabalha na minha academia, e que sei inimigo figadal do petismo, mas que já externou críticas a Bolsonaro, o que ele tinha contra o Presidente. A resposta foi: não vou com a cara dele. E por quê? Insisti. Porque não gosto de carioca, foi a resposta. Mas vou votar nele contra o outro, completou.

Por surpreendente e irracional que seja, essa relação visceral com homens públicos é muito comum, e não só aqui, neste país mais afeito aos sentimentos que às razões, mas por toda parte. Políticos são pára-raios de emoções.

Eu me confesso uma exceção. Minha relação com pessoas em geral tende a ser bastante racional, e com políticos mais ainda. Nunca simpatizei com Lula, não por motivos extra-políticos, mas porque sempre vi nele uma pessoa politicamente oportunista e desonesta. [a primeira vez que vi o coisa ruim - graças a Deus, por foto - uma certeza me dominou: é ladrão e traiçoeiro'. 
Infelizmente, o tempo e os fatos mostraram que minha intuição estava certa = mostraram primeiro seu caráter traiçoeiro, um 'judas' repugnante - deixava os metalúrgicos fazendo agitação nas assembleias e ia encher a cara, com lideranças da Fiesp, e fornecer os planos dos grevistas; 
aproveitava a passagem pelo centro da capital paulista para ir ao DOPS 'conversar' com o delegado Romeu Tuma, a época chefe de operações contra greves e ações do tipo - o codinome do petista era 'boi' = vulgo adequado, já que boi é o nome do vaso sanitários das prisões e é nele que os traidores, também odiados pelos bandidos, recebem as primeiras punições quando são descobertos.]
 
Eu o conheci pessoalmente nos EUA no começo dos anos 80, quando ainda era líder sindical e havia recém-fundado o PT. Ouvi-o fazer um discurso pregando a “revolução” e exaltando ideais socialistas.  
Se revelou por inteiro como é, fanfarrão, mentiroso, o “trabalhador” mítico das fantasias de uma igreja de orientação marxista e uma intelectualidade que ainda sonhava com a sociedade perfeita dos devaneios esquerdistas. Era um fantoche. Depois, esperto, se aproveitou da situação para calcar pé e se promover, alçando de títere a controlador.

Mas eu ainda achava o PT uma boa ideia, e votei nele inúmeras vezes. Nunca para cargos majoritários, mas frequentemente para o Congresso, pois comprei, ingenuamente, a fantasia de um partido incorrupto de origem popular que podia significar uma mudança no coronelismo elitista que sempre caracterizou a política nacional.

A realidade dos governos petistas jogou água gelada nessa ilusão. Ficou evidente que o PT era até pior do que os piores partidos mais tradicionais, todos corruptos até a alma. 
Com a adicional desvantagem de carregar nas costas o cadáver insepulto de uma ideologia do fracasso que a História havia se encarregado de matar.
 
Por outro lado, eu sempre tive uma relação de oposição quase radical a Bolsonaro. Ele me parecia quando jovem deputado a encarnação do atraso, além de grosseirão, anti-intelectual, agressivo. 
Quando ele apareceu como alternativa única ao petismo, porém, não tive dúvidas, deixei de lado essas impressões e apostei em sua eleição, esperando apenas barrar a ascensão de Haddad. 
Simplesmente porque ali estava a corrupção, a incompetência, a ideologia retrógrada, o retrocesso institucional e o fracasso econômico.

Com o tempo, porém, Bolsonaro foi melhorando aos meus olhos. Seu governo me parecia estar no rumo certo, apesar de eu não simpatizar com os seus rompantes excessivamente conservadores na área dos costumes. Mas eu entendia que seus eleitores também o elegeram por isso e ele tinha mandato para falar e agir assim, ainda que eu não concordasse sempre.

Seu governo acabou por ser muito mais bem sucedido do que eu imaginava quando votei nele em 2018. 
E acompanhando também sua evolução como pessoa, me pareceu que ele amadureceu e melhorou
Não sei se pela idade, o peso massacrante do poder, a experiência de quase morte, Bolsonaro se tornou mais humano, mais afável, menos faca nos dentes, uma figura menos patética e mais trágica.
 
Como Lula, Bolsonaro foi catapultado para a cena pública quase por acidente. Ambos originalmente como figuras de oposição antissistêmica. Lula, porém, se converteu rapidamente ao sistema, tornando-o ainda mais corrompido.  
Bolsonaro também um pouco se adaptou para não ser ejetado imediatamente, mas não o suficiente para não permanecer ainda como um cancro a ser removido.

Tudo muda, Lula, Bolsonaro, eu. Por isso é tão importante tentar não ficar preso a preconceitos antigos, primeiras impressões, simpatias e antipatias viscerais. Lula só piorou com o tempo, Bolsonaro melhorou, e eu, que já votei no PT e já antipatizei com Bolsonaro, mas marquei 17 na urna em 2018 por pragmatismo, hoje escolho Bolsonaro porque vejo nele a única liderança política no Brasil atual capaz de inaugurar uma nova era de desenvolvimento político, institucional, econômico e social no país.

Jairo José Silva  -  Texto publicado originalmente na página do autor no Facebook.

 

domingo, 21 de agosto de 2022

Contra os fatos: etiquetas e narrativas, nascidas umas para as outras. - Percival Puggina

Como eu não nasci ontem, tenho a vantagem de não usar fraldas na memória. Falo do que vi. Quase sem exceção, o mesmo jornalismo que faz campanha contra o presidente da República atacava-o quando candidato ao pleito de 2018
Colavam-lhe etiquetas, diziam-no homofóbico, racista, misógino e perigosamente agressivo. 
A maioria do eleitorado não lhes deu crédito.
 
Eleito, Bolsonaro virou a Cartago dessa mídia. Tinha que ser derrotado! Destituído, preferivelmente. E a luta dos companheiros continuou implacável. 
Quantos foram afastados das redações por marcharem de passo errado com o batalhão? Era preciso haver unidade em relação aos objetivos comandados!

Desmentidas, as velhas e inúteis etiquetas foram rapidamente deixadas de lado para serem esquecidas pois eram testemunhas da derrota. Essa esquerda malsã, porém, não faz políticas sem etiquetas. Logo, Bolsonaro passou a ser acusado, inutilmente, de negacionista, genocida e fascista. Também por aí a tarefa não ia bem; a CPI foi um fiasco, o depois chegou e a gente viu. A eleição se avizinhava.

Resolveram, então, atacar Bolsonaro por se constituir num perigo à democracia e ao estado de direito. 
Não há matéria na imprensa mencionando o presidente da República e a eleição de outubro sem que esse risco e a necessidade de proteger a nação contra algo terrível, medonho, não se faça presente. 
Para que a derradeira etiqueta funcione, há que aplicar-lhe camadas e mais camadas de adesivo.

É isso que explica:

  1. o convite aos embaixadores para encontro com o ministro Fachin quando este presidiu o TSE;
  2. as mal redigidas cartas pela democracia e pelo estado de direito;
  3. a ausência de qualquer menção a longa história do ininterrupto anseio por maior transparência no sistema eleitoral, que já conta décadas e tem sido constante nos últimos quatro anos;
  4. o abandono à própria sorte da lógica mais rudimentar: golpistas pedem eclipse, ocultação. Não pedem transparência; menos ainda se o fazem, ordeiramente, por anos a fio;
  5. as fileiras cerradas para impor silêncio a sociedade sobre algo que lhe foi teimosa e autoritariamente recusado;
  6. a “pompa e circunstância” que marcou a sagração de Sua Alteza Eleitoral na presidência do TSE;
  7. o silêncio sobre o gritante paradoxo de estarem o estado de direito e a democracia, o devido processo, a Constituição, as boas leis, os direitos humanos e a liberdade sendo feridos em alegada defesa do estado de direito e da democracia.

Como de hábito, a ausência de qualquer elemento probatório que justifique a etiqueta não é suficiente para silenciar os ataques determinados pela cartilha. Sempre há um senador pronto para transformar os tribunais superiores em puxadinhos de seu gabinete.

Ontem (19/08), em poucas palavras, falando em Resende, Bolsonaro desfez a narrativa e a etiqueta foi para a lixeira.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

domingo, 27 de dezembro de 2020

Cacaso previu a ‘nova política’- Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo
 

Wilson Witzel e Marcelo Crivella foram novos na empulhação

Um perdeu o mandato e batalha pela liberdade; o outro está preso em casa

Dois anos depois da eleição de Wilson Witzel para o governo do Estado do Rio e passados quatro da vitória de Marcelo Crivella para a prefeitura da cidade, a “nova política” mostrou seu verdadeiro rosto

(.........) 

Ibaneis com Picciani
Ibaneis Rocha, governador de Brasília e empresário bem-sucedido, com um patrimônio declarado de R$ 94 milhões é também um destemido.

Em agosto ele arrendou a fazenda Monteverde, em Uberaba (MG), de propriedade do notável Jorge Picciani. O simples fato de fazer negócio com o ex-presidente da Assembleia do Rio indicaria um empresário audacioso. Como Picciani foi condenado a 21 anos de prisão e rala sua pena em prisão domiciliar, fazer negócio nesse mundo é coisa de gente muito corajosa. Ibaneis e Picciani pertencem ao mesmo partido, o MDB.

Os bens do poderoso Picciani estão bloqueados pela Justiça que lhe cobra R$ 91 milhões. Onze em cada dez empresários correriam de um negócio desse tipo como o Tinhoso corre da cruz.

A Carta de Capistrano
A Fiocruz deu uma lição de Justiça aos ministros do Supremo Tribunal Federal e ao Superior Tribunal de Justiça (o da Cidadania). Ambos pediram reservas de vacinas para seus doutores, funcionários e colaboradores. O STF queria sete mil doses só para ele e para a turma do Conselho Nacional de Justiça.

O pedido foi feito sem que os ministros dos dois tribunais fossem consultados. [altamente improvável que o diretor-geral do STF e seu ilustre par do STJ,  efetuassem uma solicitação dessa natureza - repleta de implicações políticas - sem o aval de alguns ministros ou, no mínimo, do presidente ou vice. 

Tanto que continuam em seus cargos - quando a exoneração sumária seria um excelente pedido de desculpas e a punição adequada.] Promotores do Ministério Público de São Paulo haviam tentado o mesmo golpe há algumas semanas. A centenária instituição de defesa da saúde pública nacional respondeu aos doutores informando que não lhe cabe “atender a qualquer demanda específica por vacinas”.

Foram educados. O historiador Capistrano de Abreu, num lance indelicado e agressivo, defendeu uma revisão constitucional, pela qual a Carta teria apenas dois artigos:

Artigo 1º - Todo brasileiro deve ter vergonha na cara.

Artigo 2º - Revogam-se as disposições em contrário.

(............) 

Alcolumbre tonto
O senador Davi Alcolumbre convenceu-se de que seu inferno astral foi produzido pelos acertos que supunha ter feito no Supremo Tribunal Federal. É exagero. Se Macapá ficou sem energia e seu irmão perdeu a prefeitura, o Supremo nada teve a ver com isso.

No fundo, ele esperava que o Tribunal declarasse inconstitucional um dispositivo da Constituição. Na forma, Alcolumbre e seus aliados tinham feito as contas. No conteúdo, a dose era cavalar e a receita desandou.

Na mosca
Não importa o motivo que levou os ministros Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Alexandre de Moraes a anunciar que continuarão trabalhando durante o recesso que vai até 6 de janeiro. Eles miraram no que viam e acertaram o que não viram.

Com as sessões virtuais, esse recesso é um mimo anacrônico. A crônica dos litígios que aguardavam o recesso para cair no colo generoso do presidente-plantonista registra incríveis acrobacias às quais os quatro mosqueteiros podem ter dado um fim.

Salto alto
As administrações do governador João Doria e do prefeito de São Paulo, Bruno Covas, subiram em saltos altos.

Há algumas semanas um dos hierarcas de Doria disse numa entrevista que se a CoronaVac tivesse 50% de eficácia, estaria tudo bem. Quem entende do assunto sentiu cheiro de queimado. Passaram-se os dias e o grau de eficácia dessa vacina está no tabuleiro. Jogo jogado, pois tudo poderia estar sendo feito com a melhor das intenções.

Eis que nisso o governador quis tirar férias em Miami. Já o prefeito Bruno Covas, aumentou seu próprio salário e tungou a gratuidade no transporte público para idosos (nesse lance, em parceria com Doria). Tucano quando sobe em salto alto é incapaz de descer dele até na hora do banho.

Folha de S. Paulo - Jornal O Globo (MATÉRIA COMPLETA) Elio Gaspari, jornalista