Por
surpreendente e irracional que seja, essa relação visceral com homens
públicos é muito comum, e não só aqui, neste país mais afeito aos
sentimentos que às razões, mas por toda parte. Políticos são pára-raios
de emoções.
Eu me
confesso uma exceção. Minha relação com pessoas em geral tende a ser
bastante racional, e com políticos mais ainda. Nunca simpatizei com
Lula, não por motivos extra-políticos, mas porque sempre vi nele uma
pessoa politicamente oportunista e desonesta. [a primeira vez que vi o coisa ruim - graças a Deus, por foto - uma certeza me dominou: é ladrão e traiçoeiro'.
Infelizmente, o tempo e os fatos mostraram que minha intuição estava certa = mostraram primeiro seu caráter traiçoeiro, um 'judas' repugnante - deixava os metalúrgicos fazendo agitação nas assembleias e ia encher a cara, com lideranças da Fiesp, e fornecer os planos dos grevistas;
aproveitava a passagem pelo centro da capital paulista para ir ao DOPS 'conversar' com o delegado Romeu Tuma, a época chefe de operações contra greves e ações do tipo - o codinome do petista era 'boi' = vulgo adequado, já que boi é o nome do vaso sanitários das prisões e é nele que os traidores, também odiados pelos bandidos, recebem as primeiras punições quando são descobertos.]
Eu o
conheci pessoalmente nos EUA no começo dos anos 80, quando ainda era
líder sindical e havia recém-fundado o PT. Ouvi-o fazer um discurso
pregando a “revolução” e exaltando ideais socialistas.
Se revelou por
inteiro como é, fanfarrão, mentiroso, o “trabalhador” mítico das
fantasias de uma igreja de orientação marxista e uma intelectualidade
que ainda sonhava com a sociedade perfeita dos devaneios esquerdistas.
Era um fantoche. Depois, esperto, se aproveitou da situação para calcar
pé e se promover, alçando de títere a controlador.
Mas eu
ainda achava o PT uma boa ideia, e votei nele inúmeras vezes. Nunca para
cargos majoritários, mas frequentemente para o Congresso, pois comprei,
ingenuamente, a fantasia de um partido incorrupto de origem popular que
podia significar uma mudança no coronelismo elitista que sempre
caracterizou a política nacional.
A realidade
dos governos petistas jogou água gelada nessa ilusão. Ficou evidente
que o PT era até pior do que os piores partidos mais tradicionais, todos
corruptos até a alma.
Com a adicional desvantagem de carregar nas
costas o cadáver insepulto de uma ideologia do fracasso que a História
havia se encarregado de matar.
Por outro
lado, eu sempre tive uma relação de oposição quase radical a Bolsonaro.
Ele me parecia quando jovem deputado a encarnação do atraso, além de
grosseirão, anti-intelectual, agressivo.
Quando ele apareceu como
alternativa única ao petismo, porém, não tive dúvidas, deixei de lado
essas impressões e apostei em sua eleição, esperando apenas barrar a
ascensão de Haddad.
Simplesmente porque ali estava a corrupção, a
incompetência, a ideologia retrógrada, o retrocesso institucional e o
fracasso econômico.
Com o
tempo, porém, Bolsonaro foi melhorando aos meus olhos. Seu governo me
parecia estar no rumo certo, apesar de eu não simpatizar com os seus
rompantes excessivamente conservadores na área dos costumes. Mas eu
entendia que seus eleitores também o elegeram por isso e ele tinha
mandato para falar e agir assim, ainda que eu não concordasse sempre.
Seu governo
acabou por ser muito mais bem sucedido do que eu imaginava quando votei
nele em 2018.
E acompanhando também sua evolução como pessoa, me
pareceu que ele amadureceu e melhorou.
Não sei se pela idade, o peso
massacrante do poder, a experiência de quase morte, Bolsonaro se tornou
mais humano, mais afável, menos faca nos dentes, uma figura menos
patética e mais trágica.
Como Lula,
Bolsonaro foi catapultado para a cena pública quase por acidente. Ambos
originalmente como figuras de oposição antissistêmica. Lula, porém, se
converteu rapidamente ao sistema, tornando-o ainda mais corrompido.
Bolsonaro também um pouco se adaptou para não ser ejetado imediatamente,
mas não o suficiente para não permanecer ainda como um cancro a ser
removido.
Tudo muda,
Lula, Bolsonaro, eu. Por isso é tão importante tentar não ficar preso a
preconceitos antigos, primeiras impressões, simpatias e antipatias
viscerais. Lula só piorou com o tempo, Bolsonaro melhorou, e eu, que já
votei no PT e já antipatizei com Bolsonaro, mas marquei 17 na urna em
2018 por pragmatismo, hoje escolho Bolsonaro porque vejo nele a única
liderança política no Brasil atual capaz de inaugurar uma nova era de
desenvolvimento político, institucional, econômico e social no país.
Jairo José Silva - Texto publicado originalmente na página do autor no Facebook.
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