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terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Os lucros com a cleptocracia em Angola e Brasil - O Globo

José Casado



Políticos e empresários ganharam fortunas em negócios obscuros

Estava tudo dominado no Brasil, em Angola e em Portugal. Inquéritos nas duas margens do Atlântico mostram como políticos e empresários ganharam fortunas em negócios obscuros e interligados, com dinheiro das empresas estatais Petrobras e da Sonangol e a participação de bancos e fundos públicos brasileiros, angolanos e portugueses. 




Nesse bioma floresceu [Isabel, afortunada primogênita do ex-presidente angolano JoséEduardo Santos - saiba mais aqui] US$ 2 bilhões em patrimônio, acionista de 424 empresas, das quais 155 em Portugal e sete no Brasil, disseminadas por setores como energia, finanças e comunicações. É sócia (15%) da Galp, que explora petróleo em sete áreas da costa brasileira (na Bacia de Santos, projeto Lula/Iracema). Os laços se estendem ao grupo Sonae, com 40 mil empregados, e avançam pela praça financeira europeia, onde liquida 42,5% do banco EuroBic. Nada seria possível sem o aval de governos e de auditorias como BCG, PwC e McKinsey.

Pode-se olhar para Isabel como filha dileta da cleptocracia angolana, mas não é possível abstrair vínculos do chefe do clã Santos, o ex-presidente José Eduardo, do seu vice Manuel Vicente e de alguns generais do MPLA em Portugal e no Brasil. Em Portugal há inquéritos sobre pactos angolanos com o ex-primeiro-ministro José Sócrates, o banqueiro Ricardo Salgado (Espírito Santo), e executivos como Armando Vara, ex-presidente da Camargo Corrêa em Angola, hoje preso.

No Brasil, as alianças da cleptocracia se consolidaram sob Lula, privilegiaram a família Odebrecht, e abrangeram outros, como a Asperbras (grupo Colnaghi). A Lava-Jato coleciona testemunhos de Emílio e Marcelo Odebrecht, do ex-ministro Antonio Palocci e de ex-diretores da Petrobras sobre várias transações nebulosas. Uma delas foi relatada por Nestor Cerveró, antigo chefe da área Internacional da Petrobras. Ele contou como Angola “contribuiu” com US$ 12 milhões, o equivalente a R$ 48 milhões, para a campanha de reeleição de Lula em 2006.


José Casado, colunista - O Globo


terça-feira, 15 de setembro de 2015

Nem paz, nem amor. Pouca vergonha - É o que temos pra agora



De 162 países apenas 11 não estão envolvidos em guerras – externas ou internas políticas, raciais ou religiosas. É o que temos neste 15º ano do século XXI, dito o século da informação e do conhecimento.
Nesses números feios não estão incluídos países de grande violência urbana, como o Brasil, por exemplo, que registra 27 homicídios por cada 100 habitantes. Foram 200 mil de 2008 a 2011. Mais do que a guerra do Iraque que, em 10 anos, matou 174 mil pessoas. O Brasil, deste 2015, responde por 13 a cada 100 assassinatos no mundo.

Bom não está. Nem aqui, nem acolá. Só da guerra da Síria a mais em pauta neste setembro - sairão quatro milhões de refugiados, estima a ONU. Em 2014, havia 59,5 milhões de deslocados no mundo, 42.500 pessoas em média diária, 19 milhões de refugiados. A fome castiga a maioria deles.

“Deslocados” são pessoas que por conta de guerras e conflitos tiveram de abandonar suas casas e buscar proteção em outros lugares, dentro ou fora de seus próprios países. Refugiados são os que trocam de países. Como os sírios agora. Como os angolanos, haitianos e outros das 81 nacionalidades dos 5, 2 mil refugiados aqui abrigados.  “Nos próximos 50 anos, a inteligência artificial, a nanotecnologia, a engenharia genética e outras tecnologias permitirão aos seres humanos transcender as limitações do corpo. O ciclo da vida ultrapassará um século. Nossos sentidos e cognição serão ampliados. Ganharemos maior controle sobre nossas emoções e memória. Nossos corpos e cérebro serão envolvidos e se fundirão com o poderio computacional.”

A previsão é do filosofo e futurista Max More, datada de 1994, que arrematou:Usaremos essas tecnologias para redesenhar a nós e nossos filhos em diversas formas de pós-humanidade”. Estamos cada vez mais perto da previsão. Grosso modo, o pós-humanismo posto em discussão desde Nietzsche e seu supra-humano, tem a ver com tecnologia e conhecimento – evolução. Mas vem convivendo com o desumanismo, a brutalidade em escala crescente, traduzida nos números desumanos das violências – urbanas, de guerras, terrorismo, guerrilhas. 

Operamos cada vez melhor as máquinas, armas inclusive. Padecemos muito do descontrole sobre as emoções. Não são elas que, desregradas, produzem intolerância, preconceito, ódios, ganância e brutalidades?  Agora, somos 7,3 bilhões de pessoas a ocupar o planeta terra, onde, estima-se há US$ 75 trilhões em circulação. 800 milhões de almas ainda passam fome. Diz-se que os 85 mais ricos têm o mesmo dinheiro do que os 3.5 bilhões de mais pobres.

Na última campanha eleitoral brasileira foram gastas 5,1 bilhões de reais. O suficiente para pagar quatro meses de bolsa família, que socorre 14 milhões de pobres. Ou construir 20 super-hospitais.  Parece que o prejuízo causado pela corrupção na Petrobrás foi de 19 bilhões. Somália e Correa do Norte são os dois países mais corruptos do mundo.

Dinamarca, Nova Zelândia e Finlândia são os menos. O Brasil tem a 69ª posição nesse ranking de surrupiação, que reúne 175 países. Divide o prêmio com Bulgária, Grécia e Itália.  Pouca vergonha. Pouca paz, pouco amor. É o que temos pra agora, com pós-humanidade em curso e redesenhando-se para nós, nossos filhos, nossos netos. 

Fonte: Tânia Fusco – O Globo