Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador artilharia pesada. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador artilharia pesada. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 22 de abril de 2020

"Clima ruim na política brasileira" - Gazeta do Povo

J. R. Guzzo

Há um clima ruim na política brasileira, possivelmente o pior até onde a memória alcança nos anos mais recentes. Já não estava bom antes da chegada do coronavírus ao Brasil, por volta de dois meses atrás, com o conflito cada vez mais aberto, mais rancoroso e mais intransigente entre o governo do presidente Jair Bolsonaro, de um lado, e as chefias que dão o tom à atuação do Congresso Nacional, de outro. O Judiciário, no meio, não tem a confiança de nenhuma das duas partes, e menos ainda da população; não tem estatura, nem moral, para mediar nada. Agora, com o desastre trazido pela epidemia, a disputa ficou ainda mais perniciosa. Será tão ruim quanto o vírus se ela degenerar em guerra.

É verdade que não se pode subestimar os altos teores de mentira que envolvem o presente confronto; é possível, de um lado e do outro, que haja mais gente fazendo cena para a plateia do que operando a sério para virar a mesa. Mas, do ponto de vista das cenas exibidas ao público, nunca a situação pareceu tão complicada como agora. Vai se ver mais adiante, inevitavelmente, se isso é mais uma batalha de Itararé, a que nunca aconteceu, ou se é uma briga à vera. No momento, o que temos é um estado de hostilidade declarada entre os poderes.

Este domingo foi um marco. Em Brasília, para surpresa e susto de muita gente, o presidente da República decidiu discursar diante de uma  multidão que se juntou em frente ao Quartel General do Exército – logo onde – pedindo “intervenção militar já”, fechamento do Congresso e do STF, a volta do Ato Institucional número 5, que boa parte dos manifestantes nem saberia explicar direito o que foi, e por aí afora. De cima de uma caminhonete, cercado por um cordão de isolamento composto por cerca de 200 militares do Exército, Bolsonaro veio com artilharia pesada. “Nós não vamos negociar nada”, disse ele. “Temos de acabar com essa patifaria. Esses políticos têm de entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro.”

Foram as palavras mais pesadas que Bolsonaro já utilizou em público desde o começo da briga com o Congresso. “É o povo no poder”, resumiu ele, enquanto oficiais do Exército tiravam selfies e sorriam para a multidão. Foi uma maneira de dizer ao mundo político que, no seu entendimento, a massa da população está com ele, e não com os deputados, senadores e magistrados – e que pretende apostar no apoio da rua para enfrentar o inimigo. Parece convencido, também, que as Forças Armadas estão fechadas com ele. (No mesmo momento, o general Edson Pujol, comandante do Exército, declarou que a epidemia é “uma das maiores crises vividas Brasil nos últimos tempos”. A “força terrestre está em sintonia com as necessidades e aspirações do país” disse ele. “Somos 220.000 combatentes dispostos a lutar”.)

O general Pujol estava falando da disposição dos militares em combater o vírus, mas é pouco provável que o Exército tenha se empenhado a sério em dissuadir os organizadores da manifestação de escolherem justamente o espaço público em frente ao Quartel General para pedir o fechamento do Congresso e do Supremo. Há o direito constitucional à livre expressão, é claro, e as Forças Armadas não podem impedir que as pessoas se manifestem – mas por enquanto ninguém ainda viu os militares assinarem proclamações de apoio ao deputado Rodrigo Maia, ou ao presidente do Senado, ou aos altos magistrados dos nossos tribunais superiores.

Se não podem contar com a devoção das Forças Armadas, muito menos é o povo nas ruas que vai salvar os políticos numa briga de verdade, não é mesmo? Nem eles acreditam nisso. A coisa realmente não está boa.

J. R. Guzzo, jornalista - Vozes - Gazeta do Povo


sexta-feira, 12 de julho de 2019

Eduardo Bolsonaro: ‘Vai perder as fichas quem apostar na queda do Moro’

Em entrevista exclusiva a VEJA, deputado diz que haverá convulsão social se Lula for solto e acusa o PT de estar por trás da invasão do celular do ex-juiz


O primeiro pronunciamento do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) após seu pai assumir a Presidência da República acabou em confusão. Era fevereiro deste ano, o Congresso Nacional ainda iniciava os trabalhos da nova legislatura, mas os ânimos já estavam exaltados. O PT havia decidido pedir uma investigação sobre Fabrício Queiroz, ex-­assessor da família Bolsonaro, no mesmo dia em que saiu a condenação do ex-presidente Lula no caso do sítio de Atibaia. Enquanto petistas exigiam a apuração do caso Queiroz, o microfone foi tomado por uma voz pouco usual no plenário da Câmara. Eduardo fez questão de dizer que aquele era “um dia triste” para o Partido dos Trabalhadores, ressaltou a condenação de mais de doze anos por corrupção do ex-presidente e encerrou o breve pronunciamento com um tiro: “O Lula está preso, babaca!” (referência a uma fala de Cid Gomes, irmão de Ciro, durante a campanha). Houve bate-boca e os microfones foram cortados. Eduardo soltou uma gargalhada e, na sequência, deixou a tribuna.

Chamado de Zero Três pelo presidente Jair Bolsonaro, o deputado, 35 anos comemorados na semana passada, já não se refere mais ao ex-presidente entre risadas. Mas, sim, com artilharia pesada. Ele agora alimenta a certeza de que há uma grande conspiração em andamento para livrar o petista da cadeia — e o vazamento de mensagens privadas entre o ex-juiz Sergio Moro e os procuradores da força-tarefa da Lava-Jato teria tudo a ver com esse plano. Em algum momento deste segundo semestre, o Supremo Tribunal Federal (STF) vai julgar o pedido de suspeição do hoje ministro da Justiça feito pela defesa do ex-­presidente, que está preso há mais de um ano numa sala da Superintendência da Polícia Federal do Paraná. Mensagens publicadas por VEJA em parceria com o site The Intercept Brasil revelaram que o ex-juiz interferiu indevidamente nas investigações. Para o Zero Três, o vazamento, a divulgação e o pedido de suspeição são parte de uma armação articulada pelo PT e por partidos de esquerda para libertar corruptos presos e, de quebra, ainda atingir o governo. “Foi uma invasão criminosa com o objetivo político de soltar o ex-presidente Lula. Querem descredibilizar o ex-juiz Sergio Moro para, consequentemente, acabar com a Lava-Jato”, afirma o deputado.

A libertação de Lula seria o sinal verde para o caos. “Soltar o Lula poria em xeque a nossa democracia, com risco de uma convulsão social. Eu não sei em que proporções, mas isso estaria dando o recado de que vale a pena ser desonesto no Brasil.” Em entrevista exclusiva a VEJA, que não participa de conspiração nenhuma e faz apenas jornalismo, Eduardo defendeu a ideia de que Lula seja transferido da carceragem da PF, onde conta com luxos como frigobar, televisão e banheiro privativo, para um presídio de segurança máxima. Ele também garantiu que Moro permanece no cargo.

Em 2018, Eduardo bateu um recorde nacional: tornou-se o deputado mais votado da história, recebendo 1,8 milhão de votos. A façanha fica ainda mais impressionante porque este é apenas o seu segundo mandato. Hoje ele representa a continuidade das quase três décadas de atuação de Jair Bolsonaro na Câmara Federal e tem grande poder de influência sobre o pai — atuando, inclusive, na indicação e na queda de ministros, como foi o caso do general Santos Cruz, ex-chefe da Secretaria de Governo. Além de herdeiro de Bolsonaro, Eduardo é conhecido por ser um representante de peso da direita, força que ganha cada vez mais espaço na política mundial. O deputado é um dos mais fiéis seguidores do filósofo Olavo de Carvalho e foi nomeado por Steve Bannon, estrategista de Donald Trump, como líder sul-­americano do grupo direitista The Movement. Defensor do porte de arma, só se separa de sua pistola quando entra nas dependências do Congresso. Nas páginas seguintes, os principais pontos da entrevista, concedida na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, permanentemente vigiada por policiais legislativos.

MORO FICA
Nas últimas semanas, a imagem do ministro e ex-juiz Sergio Moro foi seriamente abalada pela divulgação de mensagens em que ele aparece orientando ações do Ministério Público durante as investigações da Lava-Jato, o que é ilegal. Para o governo Bolsonaro, porém, isso não põe a permanência do ministro em xeque.
“Eu nasci na década de 80 e, na minha época, corrupção era o que havia de mais abjeto. A minha geração consegue facilmente fazer a relação de que o que falta no hospital é o que o político roubou. Em nenhum momento passou pela cabeça do presidente demitir o Moro. Ele resgatou a esperança de que o Brasil pode ser um país que não privilegia a corrupção em detrimento das pessoas que trabalham honestamente. Vai perder as fichas quem apostar na queda do Moro.”

“Ele resgatou a esperança de que o Brasil pode ser um país que não privilegia a corrupção em detrimento das pessoas que trabalham honestamente. Vai perder as fichas quem apostar na queda do Moro”
O VICE QUE INCOMODA
Bolsonaro e o vice-presidente Hamilton Mourão já se estranharam em diversas ocasiões. Assessores do presidente chegaram a levantar a hipótese de que haveria uma conspiração orquestrada pela ala militar.
“Não existe ala militar no governo. Há militares no governo, o que é bem diferente. O general Mourão desagradou aos eleitores do Bolsonaro, principalmente no início do mandato, quando expressou algumas opiniões, especialmente sobre aborto e desarmamento, que iam na direção oposta às do presidente. Ele chegou a afirmar que o aborto era uma opção da mulher e defendeu o desarmamento. Mas agora passou a fazer discursos alinhados aos do presidente. Sobre ele voltar a compor a chapa com o presidente em 2022, ainda é cedo para falar em reeleição.”

ERROS DE MÁ-FÉ
Em junho, o presidente Bolsonaro demitiu o general Santos Cruz, então ministro-chefe da Secretaria de Governo. Os motivos da demissão nunca foram bem esclarecidos.
“A saída do Santos Cruz foi um benefício muito grande. Ele era muito crítico a alguns ministros, principalmente aqueles que seriam discípulos de Olavo de Carvalho (ideólogo de direita, guru do presidente Bolsonaro e do próprio Eduardo). Parecia que estava jogando War, querendo dominar cada vez mais e mais espaços. A linha internacional dele era ‘ONU Futebol Clube’, uma linha globalista, afinada com as teses da esquerda. As divergências começaram durante a transição, quando a cerimonialista, contratada por ele, convidou para a posse o Nicolás Maduro (presidente da Venezuela). Os nossos apoiadores, com razão, reclamaram. O general também defendeu o controle da imprensa — erros que pareciam de má-fé. Ele mostrou estar totalmente desalinhado com o governo. Isso causava desconforto.”

O MINISTRO TRAPALHÃO
Indicado por Olavo de Carvalho e apoiado por Eduardo, o ex-ministro da Educação Ricardo Vélez Rodríguez foi demitido depois de comparar turistas brasileiros a canibais e deixar a Pasta praticamente paralisada por três meses.
“Talvez a escolha não tenha sido adequada. O Vélez escreveu vários livros, vários artigos. É uma pessoa qualificada, mas atuaria melhor numa secretaria. Ele teria desempenho melhor em um trabalho técnico. Inevitavelmente, um ministro tem de ter um ‘quê’ de político, tem de saber lidar com deputados e senadores, estar aberto ao diálogo e a atender com presteza os parlamentares. O Ministério da Educação é aparelhado pela esquerda.”

FECHAR O SUPREMO Eduardo Bolsonaro disse, certa vez, que o Supremo Tribunal Federal atuaria contra os interesses da população e, para corrigir isso, bastariam “um cabo e um soldado” para fechá-lo. Uma pesquisa feita pelo site Jota mostrou que 33% da população defende essa ideia descabida.
“A sociedade está revoltada com algumas atitudes do STF. Vemos que, em algumas situações, há um ativismo judicial, como foi o caso da criminalização da homofobia. Isso vai além do trabalho que é confiado ao Supremo. A indignação é justificável. Por outro lado, fechar o STF significaria uma radicalização e traria instabilidade ao país. Não se trata disso. Chamo de ‘brincadeira saudável’ o episódio em que eu mencionei que bastavam um cabo e um soldado para fechar o Supremo. Eu direcionei isso a uma plateia de estudantes de uma escola preparatória para concursos, e no final o pessoal inclusive deu risada. Jamais defendi o fechamento do Supremo. Mas considero a revolta legítima, assim como há uma revolta grande contra o Congresso.”

 Clique aqui para ler mais em Veja - entrevista exclusiva