Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador batalha de Itararé. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador batalha de Itararé. Mostrar todas as postagens

domingo, 24 de outubro de 2021

E depois da eleição? Alon Feuerwerker

Análise Política

A transição do Auxílio Emergencial (AE) para o Auxílio Brasil (AB) traz uma boa notícia para o pessoal do Bolsa Família. E uma nem tanto para quem não é. Uns passarão a receber 400 reais (ou mais, a depender do Congresso Nacional) mensais até dezembro de 2022. Outros ficarão sem a ajuda nascida com a pandemia. Será interessante acompanhar o balanço político-aritmético. Na última linha da planilha, será que o governo vai conseguir ganhar em popularidade? Ou vai perder? [Em tempos de pandemia o Auxílio Emergencial se faz necessário e deve durar até que os malefícios decorrentes da peste maldita sejam eliminados.
Já o Bolsa Família é um tipo de auxílio que precisa ser transitório, excepcional, por alcançar pessoas que são cronicamente necessitadas e que sempre serão, já que a exemplo dos preguiçosos do governo petista, que criou tal 'bolsa', são adeptos de preferir receber um peixe já frito, do que uma vara de pescar, ainda que estejam próximos a  águas piscosas.]

Estivessem as autoridades federais desimpedidas, legal e politicamente, para gastar, ou investir, certamente seriam gigantescas as pressões pela extensão do AE até depois da eleição do ano que vem. Muito maiores que o alarido desencadeado pela decisão governamental de fazer uma ginástica contábil e abrir espaço aos 400 reais mensais às famílias do cadastro único. Alarido que se mostrou desproporcional, pois praticamente cessou quando o presidente da República foi ao ministério da Economia para posar ao lado do ministro e ambos disseram aos jornalistas que estava tudo bem. Entre eles dois e com o AB. E o caso regrediu rapidamente ao seu tamanho natural. Mais uma Batalha de Itararé na nossa longa lista.

Se o assunto deu uma hibernada agora, o agito da semana que acaba já contratou pelo menos um tema relevante para a campanha presidencial. “Candidato fulano ou candidata fulana, se o senhor ou a senhora vencer a eleição, o auxílio de 400 (ou mais) reais vai continuar?” E se a pergunta for para Luiz Inácio Lula da Silva versará sobre um pagamento de 600. Pois é o que, segundo Lula, Jair Bolsonaro deveria estar pagando.

Então já temos aqui um interessante trabalho para economistas de campanhas. Achar de onde tirar esse dinheiro dentro do limite colocado pelo teto de gastos. Cuja continuidade ou não será (já é) outro assunto-chave. Quem quiser o apoio do dito mercado terá de passar por esse beija-mão. Ou negociar algum meio-termo. Por exemplo, tirar do teto os investimentos. Ou os programas sociais. Ou qualquer outra coisa.

Alguma solução precisará aparecer. O cenário hoje é de:
1) gastos constitucionalmente engessados e crescentes, 
2) tsunami de recursos destinados a emendas parlamentares, 
3) resiliência de corporações muito bem situadas no cenário político-administrativo-judicial (e excelentemente conectadas na opinião pública) para defender os próprios privilégios e 
4) um teto de gastos determinado não pela arrecadação, mas pela inflação.

O conjunto dessas variáveis tende a produzir o cenário de completa ingovernabilidade que hoje já se vislumbra, e será a situação a aguardar o próximo presidente da República. Que por sua vez já estará, seja o atual ou outro, encaixotado pela crescente superforça orçamentária do Legislativo e pelo voo cada vez mais livre do Judiciário. Dragões que Jair Bolsonaro deveria ter enfrentado, mas vai deixar vitaminados para o sucessor.[esses dragões foram favorecidos pela pandemia - que  impediu o presidente de governar; com o fim da pandemia e a recuperação do crescimento econômico (eventos indesejados pelos integrantes do establishment, formado por adeptos do quando pior melhor, que também são inimigos do Brasil e por afinidade também inimigos do presidente) e o capitão com um segundo mandato presidencial, novinho em folha, ajustes serão feitos e os dragões perderão combustível.]

Ou para ele mesmo, se conseguir reverter o atual quadro desfavorável. [o quadro atual será revertido, o presidente reeleito e com quatro anos para realmente governar = os quase três de agora foram gastos para se livrar do tiroteio dos inimigos do Brasil, dos malefícios da pandemia, da crise hídrica e outras mazelas
2023 ao final de 2026, período que pode se estender ao  final de 2023,  com as bênçãos de DEUS,  serão anos  de  bonança para o governo do capitão e milhões e milhões de brasileiros.]

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político

 

quarta-feira, 22 de abril de 2020

"Clima ruim na política brasileira" - Gazeta do Povo

J. R. Guzzo

Há um clima ruim na política brasileira, possivelmente o pior até onde a memória alcança nos anos mais recentes. Já não estava bom antes da chegada do coronavírus ao Brasil, por volta de dois meses atrás, com o conflito cada vez mais aberto, mais rancoroso e mais intransigente entre o governo do presidente Jair Bolsonaro, de um lado, e as chefias que dão o tom à atuação do Congresso Nacional, de outro. O Judiciário, no meio, não tem a confiança de nenhuma das duas partes, e menos ainda da população; não tem estatura, nem moral, para mediar nada. Agora, com o desastre trazido pela epidemia, a disputa ficou ainda mais perniciosa. Será tão ruim quanto o vírus se ela degenerar em guerra.

É verdade que não se pode subestimar os altos teores de mentira que envolvem o presente confronto; é possível, de um lado e do outro, que haja mais gente fazendo cena para a plateia do que operando a sério para virar a mesa. Mas, do ponto de vista das cenas exibidas ao público, nunca a situação pareceu tão complicada como agora. Vai se ver mais adiante, inevitavelmente, se isso é mais uma batalha de Itararé, a que nunca aconteceu, ou se é uma briga à vera. No momento, o que temos é um estado de hostilidade declarada entre os poderes.

Este domingo foi um marco. Em Brasília, para surpresa e susto de muita gente, o presidente da República decidiu discursar diante de uma  multidão que se juntou em frente ao Quartel General do Exército – logo onde – pedindo “intervenção militar já”, fechamento do Congresso e do STF, a volta do Ato Institucional número 5, que boa parte dos manifestantes nem saberia explicar direito o que foi, e por aí afora. De cima de uma caminhonete, cercado por um cordão de isolamento composto por cerca de 200 militares do Exército, Bolsonaro veio com artilharia pesada. “Nós não vamos negociar nada”, disse ele. “Temos de acabar com essa patifaria. Esses políticos têm de entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro.”

Foram as palavras mais pesadas que Bolsonaro já utilizou em público desde o começo da briga com o Congresso. “É o povo no poder”, resumiu ele, enquanto oficiais do Exército tiravam selfies e sorriam para a multidão. Foi uma maneira de dizer ao mundo político que, no seu entendimento, a massa da população está com ele, e não com os deputados, senadores e magistrados – e que pretende apostar no apoio da rua para enfrentar o inimigo. Parece convencido, também, que as Forças Armadas estão fechadas com ele. (No mesmo momento, o general Edson Pujol, comandante do Exército, declarou que a epidemia é “uma das maiores crises vividas Brasil nos últimos tempos”. A “força terrestre está em sintonia com as necessidades e aspirações do país” disse ele. “Somos 220.000 combatentes dispostos a lutar”.)

O general Pujol estava falando da disposição dos militares em combater o vírus, mas é pouco provável que o Exército tenha se empenhado a sério em dissuadir os organizadores da manifestação de escolherem justamente o espaço público em frente ao Quartel General para pedir o fechamento do Congresso e do Supremo. Há o direito constitucional à livre expressão, é claro, e as Forças Armadas não podem impedir que as pessoas se manifestem – mas por enquanto ninguém ainda viu os militares assinarem proclamações de apoio ao deputado Rodrigo Maia, ou ao presidente do Senado, ou aos altos magistrados dos nossos tribunais superiores.

Se não podem contar com a devoção das Forças Armadas, muito menos é o povo nas ruas que vai salvar os políticos numa briga de verdade, não é mesmo? Nem eles acreditam nisso. A coisa realmente não está boa.

J. R. Guzzo, jornalista - Vozes - Gazeta do Povo


segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Estratégia do Planalto é deixar 'Lula falando sozinho' - O Estado de S. Paulo


Tânia Monteiro

Núcleo político do governo avalia que petista, que deixou a prisão, não terá superexposição nas redes sociais

Depois de passar por um momento de susto e tensão com a saída do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da cadeia, o núcleo político do governo de Jair Bolsonaro avalia que o petista não terá mais superexposição nas redes sociais e no noticiário. “É para deixar o Lula falando sozinho daqui em diante. Temos de focar nas pautas positivas”, disse o presidente Bolsonaro à sua equipe, numa conversa recente no Palácio do Planalto.

Organizador da estratégia, o próprio Bolsonaro, no entanto, terá de segurar seu temperamento explosivo para a aposta dar resultado. Na ofensiva para conter o primeiro adversário de peso do governo, a equipe do Planalto considera fundamental que o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), o filho "02" do presidente, continue afastado das redes sociais, sem criar novos embaraços.
Logo após os primeiros discursos de Lula, com ataques ao governo, Bolsonaro chegou a escrever no Twitter que não responderia a “criminosos, que por ora estão soltos”. No entendimento do presidente, se não for para o ringue, ele reduzirá a inserção de Lula no jogo político, relataram integrantes do núcleo do governo ao Estado.

Apreensão
No fim de semana após a soltura de Lula, a apreensão tomou conta não apenas do Planalto, como de representantes influentes do Judiciário e até de parlamentares moderados. No sábado e domingo passados, muitas reuniões e conversas pessoais e ao telefone foram realizadas entre integrantes dos três Poderes. Havia temor de que os discursos de Lula fora da cela da Polícia Federal, onde ficou preso por um ano e sete meses, levassem militantes petistas a promover manifestações.[ pt = perda total = está quebrado e o condenado petista sem os dentes, sem garras, apenas um idoso de setenta e poucos anos.
Vejamos:
- sem dinheiro para bancar a atuação da militância - não pode mais assaltar os cofres públicos a organização criminosa sequer consegue recursos para bancar o sanduíche com mortadela e "refri" para os militontos = agora tem que ser na base do pão com margarina e suco de envelope;
- não banca mais fretar ônibus para levar os militontos até o local do comício e devolvê-los em casa = no máximo consegue pagar uma passagem de coletivo;
- outro detalhe é que o Supremo liberou o condenado mas não revogou o CPP, de modo que qualquer perturbação da ORDEM PÚBLICA que o presidiário - temporariamente, ex-presidiário - provocar, perde o direito a aguardar em liberdade o julgamento dos recursos e será preso - não tem maneira do STF impedir o cumprimento dessa determinação do CPP.
- sendo preso em flagrante,o condenado corre risco de ser recolhido ao presídio da cidade onde estiver.]
 
Bolsonaro e os mais exaltados integrantes do núcleo de governo chegaram a pensar na aplicação da Lei de Segurança Nacional (LSN), uma das normas de repressão da ditadura que não foram varridas no período democrático. Informações dos serviços de inteligência, porém, indicavam que não haveria manifestos virulentos como os que ocorrem em Santiago ou La Paz.

Somava-se ao temor a realização do encontro dos Brics, ao longo da semana passada, em Brasília, com a presença de presidentes de Rússia, China e África do Sul, além do primeiro-ministro da Índia. Para evitar atos violentos, um forte esquema de segurança foi montado. O decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para esses dias deu o comando das ações de segurança às Forças Armadas, para facilitar a mobilização policial na Esplanada dos Ministérios.

Ainda havia preocupação sobre como a cúpula militar reagiria a possíveis protestos com atos agressivos. Diante da Batalha de Itararé que não houve, os integrantes do Alto Comando se acalmaram. Os militares, então, recorreram ao bordão de que não há “outro caminho” fora o respeito à Constituição e à democracia.
Soou como música um recado endereçado a Lula e à esquerda, enviado pelo ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Em entrevista ao Estado na noite de domingo, 10,  o autor do voto de minerva que permitiu a Lula deixar a prisão criticou o radicalismo e avisou que o Judiciário “saberá” agir pela “pacificação social”. “Se alguém quer se valer da Justiça para uma luta social, não vai conseguir. A Justiça não tolerará uma crise institucional”, afirmou Toffoli.

No Planalto, interlocutores de Bolsonaro dizem que o Brasil de hoje é muito diferente daquele de abril de 2018, quando Lula foi preso. Ali, todos acreditam que o petista voltou à cena com um tom muitos graus acima do que se esperava e isso acabou servindo para ajudar a unir, novamente, os eleitores contrários ao PT.
Por isso, Bolsonaro avisou aos ministros que não quer que ninguém perca tempo” respondendo a Lula nem promovendo bate boca nas mídias sociais. A estratégia do silêncio deverá ser mantida pelo governo até uma avaliação sobre o giro de Lula pelo Nordeste, hoje seu principal reduto eleitoral.

Bastidores - Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo
 


segunda-feira, 10 de junho de 2019

A crise de Itararé (a que não houve) e a dúvida existencial da oposição

Semanas atrás, a agitação em torno da anunciada instabilidade, talvez terminal, do governo Jair Bolsonaro trouxe um ânimo para a oposição. Que andava meio entorpecida (natural, nas circunstâncias) e recebeu uma lufada de ar naquele 15 de maio. Baixada a poeira, a realidade se impôs: tudo continua mais ou menos do jeito que estava.  A oposição tem um longo caminho pela frente, pois a hegemonia da direita leva jeito de ser menos provisória do que poderia parecer no pós-eleição. E os atritos intestinos no governo e no bloco político nascido da longa crise (aí sim, a palavra cabe) de 2013-18 são, como a diz palavra, internos. Os personagens em luta pelo poder são uma turma só.
Algum governista está tão infeliz que apoiaria a volta do PT, ou algum satélite?  
[ NÃO.] Se você não vive no mundo da lua, e por isso respondeu negativamente, pode concluir fácil que as melancias estão chacoalhando e se ajeitando na carroceria do caminhão situacionista mas ele não está perto de capotar. E nunca esteve. Mais uma batalha de Itararé.
A raiz da agitação está num fato e numa constatação. O fato: a eleição do ano passado teve um vencedor, o bolsonarismo, um perdedor, o petismo, e os dizimados, o chamado centro liberal e a social-democracia não propriamente de esquerda. A constatação: a relativa instabilidade deve-se a que os dizimados querem mandar nos vencedores.
  Mas isso só seria viável se os dizimados aceitassem juntar com os derrotados numa frente ampla para emparedar o governo. E o que exatamente têm a oferecer à esquerda, além da agenda do progressismo liberal? A liberdade de Lula? Mais oxigênio (recursos) para os sindicatos? A volta da reforma agrária? Mais orçamento para os pobres?
Difícil. O dito centro está aprisionado pela direita pois as diferenças entre ambos não estão no que fazer. Estão no jeito de fazer. O pedaço da elite econômica e política que torce o nariz para Bolsonaro não tem alternativa à agenda dele. Daí que enquanto o apocalipse era anunciado o Congresso voltava a andar, e sintonizado.
Então tudo são flores para o governismo? Não. Ele tem seu encontro marcado com a crescente turbulência política se a economia e os empregos não reagirem. Mas isso ainda leva algum tempo. E quando mais o Congresso enrolar na reforma da previdência mais o presidente poderá dizer que a situação só não melhora por causa dos políticos.
Sim, a tática tem limite, pois governos são eleitos para resolver, e não para explicar por que não resolveram
E a esquerda? Tem um problema, uma oportunidade e uma dúvida. O problema é o isolamento social. A oportunidade é a onda antiestablishment, quem sabe?, abrir possibilidades para o “novo de esquerda”, pois a direita está no poder. A dúvida? Se dá prioridade a alternativas eleitorais próprias ou se apoia dissidências do outro lado.
A resposta a essa última questão vai depender principalmente de que programa a esquerda vai levar às campanhas eleitorais do próximo ano e de 2022. Se optar por uma plataforma liberal-progressista, termo que a Ciência Política vem usando, será quase automático que não consiga se distinguir do tal centro, e será natural o apoio a terceiros. 
Mas se preferir um caminho mais raiz, explorando a polarização social e o custo do ajuste austero liberal, a esquerda precisará construir dentro de seu campo alternativas eleitorais. Algumas viáveis, algumas destinadas a preparar o terreno para dali a dois anos. Quando enfrentará ou Bolsonaro ou um bolsonarismo recauchutado para agradar aos salões.
*

Os Estados Unidos do livre-comércio distribuem sanções e sobretaxas a torto e a direito, como cura para todos os males. E esta semana China e Rússia saíram em defesa da “globalização de face humana”. O mundo não está para principiantes. 


quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

O barraco no Supremo

“O papel de poder moderador atribuído ao Supremo pela Constituição de 1988 começa a ser solapado pelo desgaste político de decisões intempestivas e polêmicas de seus ministros


Às vésperas dos recessos legislativo e judiciário e a 11 dias da posse do presidente eleito, Jair Bolsonaro, duas decisões monocráticas do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello ameaçaram virar o país de pernas para o ar: uma gerou forte reação no Congresso, ao interferir na eleição dos presidentes das duas Casas, acabando com o voto secreto; a outra, revoltou a opinião pública e os integrantes da Operação Lava-Jato, ao revogar as prisões em decorrência de condenações em segunda instância. A liminar abriria as portas dos presídios para 169 mil presos, aproximadamente, entre os quais, condenados por crimes de colarinho branco, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas acabou suspensa pelo ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo.

As decisões de Marco Aurélio desnudaram a fratura que existe no Supremo em relação à Operação Lava-Jato e à execução de penas após a condenação em segunda instância, como é o caso de Lula. Por quatro vezes, nos últimos anos, o Supremo firmou jurisprudência em plenário sobre o tema. Entretanto, houve uma mudança na composição da Corte e o entendimento da nova maioria sobre o chamado “transitado em julgado” é outro. O presidente do Supremo já anunciou que pretende rever essa questão em 2019, mas sinaliza a intenção de encontrar o caminho do meio: uma solução intermediária, que unifique o Supremo, provavelmente restringindo o alcance da aplicação das penas de prisão após condenação em segunda instância.

Ontem, porém, Toffoli foi atropelado por Marco Aurélio, com sua decisão monocrática. O ministro alegou que tentou pautar o tema no plenário do STF durante todo o ano, mas o tribunal não colocou a ação em julgamento. “Achei que não podia encerrar o ano no Judiciário sem tomar uma decisão sobre o assunto”, disse. [é ministro, a pretexto de domar uma decisão, o senhor fez tudo errado -  tanto por lhe faltar competência quanto pelo teor do decidido - expondo-se ao ridículo e, mais, grave, expôs ao ridículo o STF e a própria Justiça do Brasil.] A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, recorreu contra a decisão e o presidente do Supremo suspendeu a liminar, antes que o caso virasse uma crise mais grave. Advogados dos presos da Lava-Jato já estavam peticionando a soltura de seus clientes.

Foi uma espécie de batalha de Itararé, mas quem saiu mais desgastado do processo foi o Supremo, onde cada ministro se acha no direito de fazer o que quer e bem entende em termos de interpretação da Constituição. Não há um consenso básico do tribunal sobre temas que exigem um posicionamento claro e unificado de seus integrantes pela repercussão que têm na opinião pública e no processo político. Toffoli tem manifestado a intenção de conciliar as partes no tribunal e preservar o papel de poder moderador atribuído ao Supremo pela Constituição de 1988, mas que começa a ser solapado pelo desgaste político de decisões intempestivas e polêmicas de seus ministros.

Congresso
A outra decisão polêmica de Marco Aurélio foi a interferência na eleição da Mesa do Senado, determinando que seja com base no voto aberto, quando o regimento interno da Casa determina que seja secreto. Houve reação dos presidentes do Senado, Eunício de Oliveira, que não se reelegeu, e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que ontem exercia interinamente a Presidência da República. Nesse caso, a Procuradoria-Geral da República não recorreu, mas o Senado recorrerá. A eleição para presidente da Casa, bem como dos demais cargos diretivos, está prevista para ocorrer no início de fevereiro de 2019, quando o Congresso retomar as atividades.

Marco Aurélio Mello atendeu a pedido feito pelo senador Lasier Martins (PSD-RS), que pleiteou a eleição em votação aberta, com o argumento de que a transparência é exigência para o Poder Público. “Prevalece, como direito inalienável dos cidadãos, a submissão dos atos de exercício de poder, tanto do Executivo como do Judiciário e do Legislativo, à luz meridiana, dogma do regime constitucional democrático. Constitui fator de legitimação das decisões governamentais, indissociável da diretriz que consagra a prática republicana do poder, o permanente exercício da transparência”, disse o ministro.

A decisão tem tudo a ver com a disputa pela Mesa do Senado, na qual é favorito o senador Renan Calheiros (MDB-AL), que já presidiu aquela Casa por quatro vezes. O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), recém-eleito, se movimentava para construir uma alternativa, mas, desde a descoberta da “caixinha” que havia em seu gabinete da Assembleia Legislativa fluminense, teve que recuar nesse enfrentamento. Marco Aurélio e Renan Calheiros são inimigos figadais. [a conveniência da votação aberta é plausível e talvez evite Renan Calheiros exercer, mais uma vezes a presidência do Senado da República.

Mas, sendo o ministro Marco Aurélio inimigo declarado de Renan, seria melhor para a imagem do STF que o supremo ministro se declarasse impedido.]

Nas Entrelinhas  - Luiz Carlos  Azedo - CB

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

A batalha de Porto Alegre

O divórcio entre o PT e a democracia representativa se revela na imagem da ‘morte’

Longínqua é a época em que o PT se vestia de defensor de outra forma de participação política, procurando seduzir não somente os incautos do Brasil, mas também os do mundo. A soberba já naquele então desconhecia limites, mas apresentava-se com as sandálias da humildade. Era o mundo da dita “democracia participativa” e da mensagem, no Fórum Social Mundial, de que um “outro mundo era possível”. Porto Alegre tornou-se o símbolo que irradiava para todo o País, e para além dele, transmitindo a imagem de uma grande solidariedade, de uma paz que o partido encarnaria.

Para todo observador atento, contudo, a farsa era visível. Porém foi eficaz: levou o partido a conquistar três vezes a Presidência da República. Mas deixando um rastro de destruição, com queda acentuada do PIB, inflação acima de dois dígitos, mais de 12 milhões de desempregados e corrupção generalizada. Dirigentes partidários foram condenados e presos a partir do “mensalão” e do “petrolão”. Antes, o partido tinha um currículo baseado na ética na política; hoje, uma folha corrida.

No dito orçamento participativo das administrações petistas de Porto Alegre já se apresentavam o engodo, a enganação e, sobretudo, o desrespeito à democracia representativa, tão ao gosto dos petistas atuais. Reuniões de 500 pessoas em bairros da cidade, nas quais um terço dos participantes era constituído por militantes, decidiam por regiões inteiras de mais de 150 mil ou mesmo 200 mil habitantes. Impunham uma representação inexistente, numa espécie de autodelegação de poder. O partido tudo instrumentava, arvorando-se em detentor do bem, o bem partidário confundido com o público.

Num Fórum Social Mundial, os narcoterroristas das Farc foram recepcionados no Palácio Piratini, sob o governo petista de Olívio Dutra. Lá, numa das sacadas do prédio, em outra ocasião, discursou, com sua arenga esquerdizante, Hugo Chávez, líder do processo que está levando a Venezuela a um verdadeiro banho de sangue, com a miséria e a desnutrição vicejando como uma praga – a praga, na verdade, do socialismo do século 21.

Eis o “outro mundo possível”, louvado pelos atuais dirigentes do PT. A vantagem hoje é a de que a máscara caiu. O partido, pelo menos, tem o benefício da coerência. A máscara caindo mostra com mais nitidez que a democracia representativa nada vale e que a violência é o seu significante. A mensagem de paz tornou-se mensagem de sangue. A presidente do partido não hesitou em afirmar que a prisão de Lula levaria a “prender” e a “matar gente”. A tentativa de conserto posterior nada mais foi do que um arremedo.

Conta o fato de ter ela expressado uma longa tradição marxista-leninista de utilização da violência, da morte, acompanhada, segundo essa mesma tradição, de menosprezo pelas instituições democráticas e representativas, na ocorrência atual, sob a forma de desrespeito aos tribunais. A democracia, para eles, só tem valor quando os favorece. Desfavorecendo-os, deve ser liminarmente deixada de lado. Mesmo que seja sob a forma jurídica de pedidos de liminares, para que a luta continue.

Não sem razão, contudo, o PT e seus ditos movimentos sociais consideram este dia 24 como decisivo, o de seu julgamento. Para eles, tal confronto se exibe como uma espécie de luta de vida e morte. Nela, ao jogar-se a candidatura de Lula à Presidência da República e caindo, em sua condenação, o ex-presidente na Lei da Ficha Lima, está em questão a “vida” do candidato e do seu partido. Este, aliás, escolheu identificar-se completamente com seu demiurgo, selando com ele o seu próprio destino. O resultado é uma batalha encarniçada, o seu desenlace constituindo-se numa questão propriamente existencial.

A imagem da “morte”, segundo a qual os militantes fariam sacrifício por seu líder, por não suportarem a prisão dele, nada mais faz do que revelar o profundo divórcio entre o partido e a democracia representativa, com as leis e suas instituições republicanas. Pretendem sujar a Lei da Ficha Limpa com o sangue de seus seguidores.

Assim foi na tradição leninista: os líderes mandavam os seguidores para o combate e a morte, permanecendo eles vivos; e depois, uma vez conquistado o poder, usufruindo suas benesses. O sangue do ataque ao Palácio de Inverno e a vitória da revolução bolchevique levaram aos privilégios da Nomenklatura, dominando com terror um povo que veio a ser assim subjugado.

Segundo essa mesma lógica “política”, sob a égide da violência, Lula e os seus dividem apoiadores e críticos nomeando os primeiros como “amigos” e os segundos, “inimigos”. Sua versão coloquial é a luta do “nós” contra “eles”, dos “bons” contra os “maus”, dos “virtuosos” do socialismo contra os “viciados” pelo capitalismo. Ora, tal distinção, elaborada por um teórico do nazismo, Carl Schmitt, é retomada por esse setor majoritário da esquerda, expondo uma faceta propriamente totalitária. Lá também a morte, o sangue e a violência eram os seus significantes.

O desfecho do julgamento do dia 24,
estruturante da narrativa petista, será vital para o destino do partido. Em caso de condenação, o que é o mais provável, o partido continuará correndo contra o tempo, numa corrida desenfreada por meio de recursos jurídicos, procurando esgotar os meios à sua disposição do Estado Democrático de Direito.

Assim fazendo, tem como objetivo produzir uma instabilidade institucional que venha a propiciar-lhe a reconquista do poder, produzindo um fato consumado numa eventual eleição sub judice. Seria consumar a morte da democracia representativa, solapando seus próprios fundamentos.Resta saber se o partido conseguirá, para a concretização de seu projeto, realizar grandes manifestações de rua. Se lograr, a democracia representativa correrá sério risco. Se malograr, o partido estará fadado a divorciar-se ainda mais da sociedade. A narrativa soçobraria na falta de eco. [as manifestações de rua que a corja lulopetista, à frente a senadora e ré Gleisi, serão o maus retumbante fracasso já sofrido pelos militontos lulopetistas.

Tenham certeza que NADA vai acontecer no próximo dia 24 em termos de perturbação da ordem pública, a condenação de Lula será confirmada pelo TRF-4 com a pena retificada mediante majoração e alguns cães lulopetistas vão ladrar, só isso.
Será mais uma 'batalha de Itararé' a confirmar o velho, mas sempre atual, adágio: 'enquanto os cães ladram, a caravana passa'. ]
Denis Lerrer Rosenfield -  O Globo - Professor de filosofia na UFRGS