Análise Política
Estivessem as autoridades federais desimpedidas, legal e politicamente, para gastar, ou investir, certamente seriam gigantescas as pressões pela extensão do AE até depois da eleição do ano que vem. Muito maiores que o alarido desencadeado pela decisão governamental de fazer uma ginástica contábil e abrir espaço aos 400 reais mensais às famílias do cadastro único. Alarido que se mostrou desproporcional, pois praticamente cessou quando o presidente da República foi ao ministério da Economia para posar ao lado do ministro e ambos disseram aos jornalistas que estava tudo bem. Entre eles dois e com o AB. E o caso regrediu rapidamente ao seu tamanho natural. Mais uma Batalha de Itararé na nossa longa lista.
Se o assunto deu uma hibernada agora, o agito da semana que acaba já contratou pelo menos um tema relevante para a campanha presidencial. “Candidato fulano ou candidata fulana, se o senhor ou a senhora vencer a eleição, o auxílio de 400 (ou mais) reais vai continuar?” E se a pergunta for para Luiz Inácio Lula da Silva versará sobre um pagamento de 600. Pois é o que, segundo Lula, Jair Bolsonaro deveria estar pagando.
Então já temos aqui um interessante trabalho para economistas de campanhas. Achar de onde tirar esse dinheiro dentro do limite colocado pelo teto de gastos. Cuja continuidade ou não será (já é) outro assunto-chave. Quem quiser o apoio do dito mercado terá de passar por esse beija-mão. Ou negociar algum meio-termo. Por exemplo, tirar do teto os investimentos. Ou os programas sociais. Ou qualquer outra coisa.
O conjunto dessas variáveis tende a produzir o cenário de
completa ingovernabilidade que hoje já se vislumbra, e será a situação a
aguardar o próximo presidente da República. Que por sua vez já estará, seja o
atual ou outro, encaixotado pela crescente superforça orçamentária do
Legislativo e pelo voo cada vez mais livre do Judiciário. Dragões que Jair
Bolsonaro deveria ter enfrentado, mas vai deixar vitaminados para o sucessor.[esses dragões foram favorecidos pela pandemia - que impediu o presidente de governar; com o fim da pandemia e a recuperação do crescimento econômico (eventos indesejados pelos integrantes do establishment, formado por adeptos do quando pior melhor, que também são inimigos do Brasil e por afinidade também inimigos do presidente) e o capitão com um segundo mandato presidencial, novinho em folha, ajustes serão feitos e os dragões perderão combustível.]
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político