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segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Colapso à vista: a China tem fome - Ataque Aberto

A China nunca comprou tanta comida. No Brasil, muita gente comemora o fato de que, justamente em meio à pandemia de Covid-19, quando todo mundo retraiu o consumo, os chineses elevaram sua participação nas importações do agronegócio. Se em janeiro o país comprava 33% das exportações brasileiras de carnes e grãos, chegou em julho respondendo por 39% das vendas do setor agrícola brasileiro para o exterior. Quer dizer que os chineses estão comendo mais? Paradoxalmente, não.

Ao contrário do que Pequim quer fazer parecer, os chineses não estão comprando mais porque as coisas andam bem por lá ou porque se tornaram mais comilões na quarentena. Eles estão avançando nos estoques globais de alimentos para evitar uma catástrofe dentro de suas fronteiras: a fome. Um estudo feito pela Academia de Ciências Sociais da China, divulgado em agosto, estima que o déficit de fornecimento doméstico de alimentos será de 130 milhões de toneladas até 2025. O que reforça que a profunda dependência da China quanto aos mercados produtores de grãos como os Estados Unidos, Brasil e Argentina está bem longe de ser resolvida.

Apesar de a insegurança alimentar ser um problema crônico para China, a recente voracidade dos chineses sobre os estoques de carne e grãos no Brasil e na Argentina é resultado do iminente colapso do abastecimento de alimentos no país. Enquanto diplomatas chineses fazem propaganda para mostrar como a China é bacana com o mundo – mantendo o ritmo de compra de commodities agrícolas e, em muitos casos, aumentando –, o Partido Comunista Chinês faz mil e uma piruetas para pintar com tons de solidariedade e liderança global o que, em essência, é um movimento colossal para a manutenção do regime, marcado pela instabilidade.

O ano de 2020 não começou apenas com a descoberta de que a China era nascedouro de uma pandemia que empurraria a economia global para o abismo. O país foi atingido por uma praga de gafanhotos que se alastrou por algumas das principais áreas produtivas chinesas. Somente na província de Yunan, os insetos devoraram plantações que cobriam 90 quilômetros quadrados, uma área de mais de 9 mil campos de futebol. A praga de gafanhotos veio acompanhada de uma outra infestação. 

Insetos conhecidos pelos agricultores brasileiros pelo nome de lagarta do cartucho foram detectados em quase toda a extensão da China. Apenas cinco províncias ainda estão livres dos bichos, que têm a destrutiva habilidade de devorar sem piedade lavouras inteiras. A perda de parte importante da safra chinesa está diretamente associada à elevação dos preços do milho no mercado chinês, que chegou ao nível mais alto dos últimos cinco anos.

As pragas chinesas vieram acompanhadas de uma peste suína que dizimou 180 milhões de aninais, o equivalente a 40% do rebanho, bem como de dois fenômenos climáticos superlativos: uma das maiores enchentes da história recente da China, na porção Sul do território, e secas severas no Norte. As inundações, que começaram no início de junho, continuam nas bacias dos rios Yangtzé, Huai e Amarelo, localizadas nas maiores regiões produtoras de grãos. A quebra na safra impactou diretamente no preço dos alimentos nos supermercados chineses. Em média, eles estão 10% mais caros em comparação ao mesmo período de 2019. A carne de porco, importante ingrediente da dieta chinesa, está custando 86% mais do que no ano passado.

A situação é tão séria que o presidente Xi Jinping precisou convocar a população para aderir a uma campanha contra o desperdício de alimentos. Chamada de “Prato limpo”, a ação é um esforço para evitar o racionamento de comida. E sendo fiel ao mais genuíno estilo ditatorial comunista, a TV estatal CGTN divulgou o seguinte: “Embora a China tenha colhido grãos suficiente por anos, ainda é necessário ter a consciência de uma crise de segurança alimentar. O impacto da pandemia de Covid-19 este ano soou o alarme para nós.” Nem quando precisa assumir um problema grave, Xi não abre mão de mentir.

Essa foi a segunda vez que o líder chinês falou sobre a necessidade de economizar alimentos. A primeira foi na última semana de julho, quando as enchentes sequer haviam atingido o seu pico. “Quanto mais riscos e desafios enfrentamos, mais precisamos estabilizar a agricultura e garantir a segurança dos grãos e dos principais alimentos não básicos”, disse Xi. Os números das importações chinesas no Brasil são evidentes. Eles não veem o gigante sul-americano como um parceiro comercial. O Brasil (e não falo da soja) é um grande recurso estratégico.


Transcrito do Ataque Aberto - Gazeta do Povo - Luciano Coutinho

sábado, 23 de fevereiro de 2019

‘Hoje, o maior latifundiário do País é o índio’, diz Nabhan

Secretário especial de Assuntos Fundiários diz que governo terá de enfrentar ‘maldição de viés político e ideológico’

[fácil para índio se tornar maior latifundiário - com reservas de 50.000 hectares para doze índios, fica tudo fácil.

Veja aqui o absurdo: 50 mil hectares para 12 índios; significa 4.165hectares para cada índio = 4.165 campos de futebol para sob os cuidados de umúnico índio. Só no Brasil mesmo.

também aqui]

 O secretário especial de Assuntos Fundiários, Luiz Antonio Nabhan Garcia, afirmou ontem que o governo de Jair Bolsonaro precisa enfrentar uma espécie de “maldição de viés político e ideológico”, arraigada nas instituições, se não quiser fracassar. Nabhan citou como decisão ideológica a desapropriação de uma área de 500 mil hectares, em Mato Grosso, com base em estudo antropológico que indicava a presença de “seis a dez índios” no local.  [esse exemplo, fornecido pelo ministro, tornou os acima linkados obsoletos - afinal agora se trata de 50.000 hectares para cada índio - considerando dez índios.]
“Tem muita gente que critica o grande latifundiário, mas hoje o maior latifundiário do País é o índio”, disse ele ao Estado. Presidente licenciado da União Democrática Ruralista (UDR), amigo de Bolsonaro e responsável pela reforma agrária, Nabhan foi alvo de críticas, recentemente, por ter recusado pedidos de parlamentares para nomeações no Incra, mas afirmou não acreditar em retaliação no Congresso por causa de cargos. “Não pode haver essa picuinha entre Executivo, Legislativo e Judiciário”, argumentou. 

O governo decidiu reabrir nomeações do segundo escalão, que haviam sido suspensas após problemas no Incra. Como assegurar agora que essas indicações sejam técnicas?

Quando aceitei o convite para estar aqui à frente da secretaria, deixei claro que nunca fui político. Minha função aqui é tentar reverter, de forma técnica, o que há de pior nessas situações fundiárias, que foram resultado de governos anteriores. Havia aqui forte influência política e ideológica, principalmente no Incra.

Mas partidos que podem vir a compor a base aliada ameaçam votar contra propostas consideradas prioritárias para o ajuste fiscal, como a reforma da Previdência, se não conseguirem cargos. O sr. acha mesmo possível conter esse “toma lá, dá cá”?

A gente tenta conciliar as indicações políticas, porque os parlamentares fazem parte de todo esse processo. Nós dependemos do Congresso para as mudanças. Então, é evidente que precisamos ter uma boa relação. Mas as nomeações não podem ter um viés ideológico.

A reforma da Previdência também traz mudanças para o trabalhador do campo. Isso não pode forçar o êxodo rural?
Não. A proposta é muito boa e o País precisa ter uma política previdenciária que traga equilíbrio. Não dá para brincar com o cofre público. Há uma espécie de maldição de viés político e ideológico, que existe no Brasil há séculos, de interferir em um processo de administração do País. Isso é muito ruim e prejudicial. 

O sr. foi acusado de ter destratado deputados que estiveram aqui pedindo a revisão de exonerações de seus afilhados políticos no Incra. Como responde?
Eu aprendi a ter educação de berço e nunca destratei ninguém. É evidente que alguns parlamentares querem impor uma nomeação ou revogar alguma exoneração. Nós sabemos que existe um ranço muito retrógrado dentro do Incra, com nomeações feitas por governos que tinham até conivência com os próprios invasores de propriedades e relação muito harmônica com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Agora, vêm aqui dez, vinte parlamentares querendo indicar um nome para a superintendência do Incra. Nós só temos uma por Estado. Como atender? É impossível. Precisamos fazer uma avaliação técnica. Tenho humildade de dizer que não estou muito habituado com essa questão política. 

O governo vai nomear militares da reserva para superintendências do Incra?
Se eu tiver aqui um general, um coronel ou qualquer oficial que preencha todos os requisitos e as necessidades para ocupar um cargo à frente dessa gestão, que é técnica, não tenho nenhuma objeção. Ao contrário, tenho até uma admiração muito grande pelos militares e pela capacidade que têm. 

Deputados e senadores têm se queixado muito da articulação política do governo com o Congresso. Como melhorar isso?
Olha, um governo que tem 50 dias, que entrou agora e vê tantos vícios, com uma herança ruim que foi deixada, sempre tem coisas a aprimorar. Muito em breve haverá sintonia quase que perfeita entre o governo e o Congresso. Eu acompanhei o presidente Bolsonaro durante a campanha e sempre o vi com muita vontade de acertar. Agora, se o Legislativo e o Judiciário vão colaborar, é outro problema. Não pode haver essa picuinha entre Executivo, Legislativo e Judiciário.

A saída do ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, não terá impacto negativo nas negociações com o Congresso?
Acredito que não. Quando o casamento não dá mais certo, se promove uma separação. Não quero fazer crítica ao Bebianno, que, por sinal, é meu amigo. Mas só porque você casou e separou, passa a ser ruim? Claro que não. Se não deu certo, bola para frente.

Mas é que, nesse caso, houve uma queda de braço com o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente. Os filhos dele estão interferindo muito no governo?
Não. Os filhos talvez não estejam habituados a essa situação. São coisas decorrentes de uma família muito ligada. Se houve falhas e equívocos, serão prontamente corrigidos. É aquela história: em briga de marido e mulher, não se mete a colher. Eu presenciei o Carlos Bolsonaro ajudando muito o pai na campanha. Então, isso é natural, as coisas vão se ajustando no decorrer do tempo. Agora, eu achei um desrespeito muito grande o vazamento daquela conversa íntima entre o Bebianno e o presidente.

O sr. defende uma revisão na demarcação de terras indígenas, como a Raposa Serra do Sol?
O que puder ser revertido na forma da lei, talvez a gente possa reverter. Não podemos permitir que um Estado fique quase 90% à mercê de políticas ideológicas. Há interferência ideológica no Executivo, no Legislativo e no Judiciário. Decisão judicial se respeita, mas, no meu entendimento, houve equívoco do Supremo Tribunal Federal na questão da Raposa Serra do Sol. Quer ver outro exemplo? Lá na Amazônia Legal, no noroeste de Mato Grosso, houve um laudo antropológico dizendo que existe a possibilidade de ter ali de seis a dez índios isolados. Aí vem o governo com toda aquela parafernália e decreta a desapropriação de 500 mil hectares. O que é isso? Tem muita gente que critica o grande latifundiário, mas hoje o maior latifundiário do País é o índio. Não podemos transformar o índio em megalatifundiário. 

E por que o Incra agora vai romper o diálogo com o MST?
Durante décadas, nós assistimos ao Incra ser comandado por invasores de propriedade, pelo MST e um emaranhado de siglas. A legislação determina que qualquer entidade de defesa de classe precisa ter personalidade jurídica e um estatuto, além de ata registrada em cartório. Aí, sim, se torna legal. Uma sigla vai lá, destrói, ateia fogo, faz vandalismo, terrorismo e fica por isso mesmo? Isso não é movimento social. Invasão é crime. Não podemos manter diálogo com foras da lei nem nos submeter a pressões. O MST ameaça desestabilizar toda a ordem e depois é recebido? Nós não podemos brincar e levar nesse deboche o dinheiro do contribuinte. 

O governo vai rever a política de reforma agrária? 
Sem dúvida. Fará uma revisão ampla, total e irrestrita. Não podemos compactuar com a indústria da invasão. Se o governo Bolsonaro ceder e entrar nesse viés político e ideológico, ele também estará fadado ao fracasso. E nós temos a convicção de que o presidente fará um governo com soluções administrativas. Há assentamentos que são favelas rurais. Se há propriedade rural improdutiva, que não cumpre função social, será desapropriada. Agora, o governo não encontra essas terras. É certo que existem entidades que querem fazer a reforma agrária dentro da lei. Não dá para ter mais a farra de algumas ONGs que estão ali com interesses escusos. 

 Política - O Estado de S. Paulo