O Estado de S. Paulo
[As vítimas: Moro e procuradores e demais autoridades hackeadas;
O criminoso: verdevaldo, comandante do intercePTação]
Agosto, mês das bruxas na política, vem aí com o País, Moro e Greenwald na fogueira
Ao trocar a condição de juiz pela de ministro da Justiça de Bolsonaro,
Sérgio Moro transformou a própria vida num inferno e agora combina,
perigosamente, as condições de vítima, suspeito e chefe das
investigações sobre o ataque aos celulares de autoridades dos três
Poderes da República. A competição é macabra: quem é mais vítima, quem é
mais criminoso. oro, PF, MP e governistas descarregam as baterias em Glenn Greenwald,
que divulga os diálogos no site The Intercept Brasil, mas miram mesmo é
nos responsáveis políticos e estão se aproximando do PT, principalmente
com a revelação de que Manuela D’ Ávila (PCdoB), vice de Fernando Haddad
(PT) em 2018, foi a intermediária entre hackers e Greenwald.
Já o PT, o PDT, boa parte do Congresso e até ministros do Supremo
aumentam a pressão sobre Moro, seja pelo “Lula livre”, por serem eles
próprios alvos da Lava Jato ou simplesmente por terem uma visão mais
rígida da Justiça, contrária aos métodos da operação. Eles, que já condenam os diálogos vazados entre Moro e Deltan Dallagnol,
ganharam munição pesada com três erros formais do ministro: demonstrar
que teve acesso a informações sigilosas da Polícia Federal, ao avisar os
atingidos; anunciar que o material hackeado seria destruído, o que
seria em seu próprio benefício; endurecer o processo de expulsão de
estrangeiros justamente no meio da tempestade envolvendo o americano
Greenwald. Há justificativas para esses erros. Afinal, é hipocrisia do PT e do PDT
considerar “espantoso” Moro ter acesso a dados de investigação da PF,
vinculada à Justiça. O ex-ministro José Eduardo Cardozo, do PT, não
tinha? Além disso, Moro diz que não viu a lista nem os diálogos
hackeados, só soube das principais autoridades atingidas e cumpriu seu
dever de avisá-las, a começar do presidente da República.
Ao falar em destruição das conversas, a sensação que passou foi de que
ele está louco para incinerar seus próprios diálogos, quando era juiz e
ícone da Lava Jato. Como a PF tratou de corrigir, só a Justiça pode
destruir material que possa servir de prova em processos. Em favor de
Moro, pode ter sido só um escorregão, uma fala impensada.
[há espaço para prosperar o entendimento de que o material que serve como prova é o que foi divulgado pelo intercePTação, o material arquivado nos celulares haqueados ou nos servidores do Telegram, não constitui prova, visto nada sustentar qualquer interpretação de que sejam produto de crime.
[há espaço para prosperar o entendimento de que o material que serve como prova é o que foi divulgado pelo intercePTação, o material arquivado nos celulares haqueados ou nos servidores do Telegram, não constitui prova, visto nada sustentar qualquer interpretação de que sejam produto de crime.
- Periciar os celulares para constatar a invasão - a publicação como 'conversas' entre os donos dos celulares, já constitui prova indiscutível dos crimes de invasão, formação de quadrilha, receptação entre outros delitos - portanto, independe da preservação das conversas - exceto se os celulares tiverem sido apreendidos como prova e no caso colocados sob uma cadeia de custódia - não tendo sido apreendidos podem ser usados a vontade por seus donos, inclusive para deletar qualquer conteúdo;
periciar o material eventualmente entregue pelos hackers ao intercept, depende da perícia do meio de transmissão do material dos invasores até os receptadores. ]
Quanto ao processo contra estrangeiros, a primeira reação foi fortemente
negativa, no pressuposto de que visaria a deportação de Greenwald, o,
digamos, algoz do ministro. Mas, como Moro diz, e comprova com os termos
da decisão, ela não tem nada a ver com o americano, que, segundo ele,
“nem é investigado”. Os alvos, alega, são os suspeitos de terrorismo e
de tráfico de drogas. Mas podia ficar para depois, ministro. Evitaria
mais lenha na fogueira. [parar um endurecimento de uma legislação apenas para evitar que um estrangeiro seja considerado, devido uma interpretação equivocada, alvo da mesma, chega a ser ridículo.]
O fato é que o Brasil não está dividido só entre direita e esquerda, mas
entre os que querem crucificar Moro e os que tentam trucidar Greenwald e
chegar ao PT. Quem não pretende nem uma coisa nem outra, só quer a
verdade, deve ver, ouvir, ler e refletir sobre tudo com muita atenção.
Por trás de cada grupo, há interesses e intenções muitas vezes
políticas, outras tantas ainda mais complexas. Como fato, a oposição a Moro está a mil por hora. No Congresso, alvos da
Lava Jato ou amigos de Lula armam a convocação do ministro para depor e
há quem fale até em CPI. No Supremo, os “garantistas” avessos aos
métodos do juiz Moro e agora críticos às ações do ministro Moro têm um
instrumento à mão: o pedido de suspeição dele em processos contra Lula.
Agosto vem aí fervendo.
O Planalto, que mantinha prudente distância até ontem, quando Bolsonaro
previu “cana” para Greenwald, defende enquadrar os hackers na Lei de
Segurança Nacional, ou seja, tratá-los como terroristas e espiões que
ameaçam a República. Eles, porém, são peixes miúdos nessa guerra. [o assunto envolve a Segurança Nacional e a punição adequada a todos os culpados, inclusive o crime de receptação.]
Eliane Cantanhêde, jornalista - O Estado de S. Paulo