Diferentemente do que acontece com os socialismos e com o comunismo, as
liberdades econômicas não tiveram um fundador, não tiveram um Marx com
sinal trocado para concebê-las. Ninguém apareceu na humanidade para
excitar, na mente da plebe, legítimos anseios de realização pessoal por
meios próprios. Ninguém preconizou: "Monta tua empresa, cria teu
negócio, põe tua criatividade em ação, persegue teus ideais!". No Rio
Grande do Sul, 188 mil pessoas assim pensaram e decidiram nos primeiros
nove meses do ano passado. Tais bens da civilização foram conquistas dos
indivíduos, no mundo dos fatos, na ordem da natureza, e têm sido o
eficiente motor do progresso econômico e social.
Autores
esquerdistas querem fazer crer que a miséria de tantos no mundo de hoje é
produto ou subproduto inevitável da economia de empresa. Deve-se supor,
então, que os miseráveis da África e da Ásia viviam na abundância, na
mesa farta e na prodigalidade dos frutos da natureza, até que o
famigerado capitalismo aparecesse para desgraçar suas vidas. O fato de
que nas regiões do mundo onde se perenizam as situações descritas não
exista uma economia livre, não haja empresas, nem empregos, parece
passar ao largo de tais certezas ideológicas. Vale o mesmo para a
inoperância, nessas regiões, do braço do Estado, que o comunismo
apresenta como sempre benevolente e eficiente.
São
realidades esféricas, identificáveis sob qualquer ponto de observação:
1) a fome era endêmica na Europa até meados do século passado e foi a
economia de mercado que criou, ali, a prosperidade;
2) sempre que os
meios de produção viraram propriedade do Estado a fome grassou mesmo
entre os que plantavam;
3) enquanto as experiências coletivistas
conseguiram, como obra máxima, nivelar a todos na miséria, a China, com o
capitalismo mais rude de que se tem notícia, em poucas décadas,
resgatou da pobreza extrema mais de meio bilhão de seres humanos;
4) não
é diferente a situação no Leste da Ásia, inclusive no Vietnã
reunificado e comunista, no Camboja do Khmer-Vermelho, no Laos e na
Tailândia;
5) quem viaja pelo Leste Europeu sabe quanto as coisas
melhoraram por lá desde que as economias daqueles países, infelicitados
pelo dogmatismo comunista, se libertaram do tacão soviético.
A história
mostra, enfim, que o comunismo é imbatível quando se trata de gerar
escassez, miséria e aviltamento da dignidade humana. A nossa
Ibero-América, onde as prescrições políticas e econômicas do Foro de São
Paulo ditam regras para muitos países, parece nada aprender das
constatações acima.
Consequentemente, as coisas andam mal e é preciso
botar a culpa em qualquer um que não nos vendedores de ilusões, nas
utopias que se requebram como odaliscas, nos delírios do neocomunismo,
nos corruptos e nos corruptores.
Decreta-se,
então, para todos os males, a responsabilidade da economia de empresa,
do capitalismo e, sim, claro, dos Estados Unidos.
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de
dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil. Integrante do grupo Pensar+