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quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

A LUZ NO FIM DO TÚNEL



O recesso de fim de ano, que esvazia Brasília, não paralisou a Lava Jato, que continua a colher depoimentos preciosos para a elucidação do projeto criminoso de poder do PT.   Soube-se, neste período, entre outras informações, que a construtora Andrade Gutierrez doou R$ 100 milhões do que roubou da Petrobras à campanha de 2014 de Dilma Roussef.

Isso, segundo a delação – que, para ser aceita, vem acompanhada de documentação -, teria ocorrido por intermédio do hoje ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, tesoureiro da campanha, e de seu hoje principal assessor, Giles Azevedo, ambos mantidos em seus respectivos cargos. Os dois, diz a delação, teriam condicionado a doação à continuidade da participação da empreiteira na farra do Petrolão. E a empreiteira, como se sabe, continuou na farra, o que demonstra que efetivamente colaborou. Antes dessa delação, o empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, já havia descrito o mesmo quadro. 

Num país normal, bastaria essa informação para pôr abaixo o governo. Mas o país acostumou-se a conviver com aberrações como essa, que ainda encontra defensores no meio intelectual, cujo argumento, em ruidosos abaixo-assinados, é investir contra os fatos e acusar os que os revelam: fascistas, reacionários, “de direita”.

Já os ladrões do que é público, Robin Hood às avessas (roubam dos pobres para ficar ricos), transmutam-se em heróis da pátria, “guerreiros do povo brasileiro”, saudados por uma elite artístico-intelectual, beneficiária de verbas públicas. Há poucas semanas, numa operação da Polícia Federal em Recife, para apurar desvio de dinheiro na Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás) - vinculada ao Ministério da Saúde, para produzir hemoderivados a pacientes do SUS -, os investigados, para livrar-se do flagrante, arremessaram maços de dinheiro pela janela do prédio.   

Os delitos ali constatados não diferem dos da Petrobras, Eletrobras e de outras estatais: corrupção passiva, infringência da lei de licitação, peculato, evasão de divisas, lavagem de dinheiro - e, em síntese, organização criminosa.  Ocorreram ao longo da gestão de diversos ministros da Saúde, inclusive do atual. E daí? A vida segue.

A indignação é seletiva. Eduardo Cunha, presidente da Câmara e titular de dólares profanos na Suíça -, provoca a ira da esquerda, mas Lula e seus filhos, com seus apartamentos de luxo, fazendas de origem irregular e medidas provisórias vendidas à indústria automobilística, não; Dilma e seus ministros achacadores, não; os ministros da Saúde, que roubaram o sangue do SUS, não.

O que se constata é que, em nome da luta pelo poder – e a pretexto da causa ideológica -, tolera-se o crime. O que está em pauta, todo mundo sabe, não é ideologia. Lula não está sendo acusado por suas ideias (se é que as tem), mas por atos capitulados no Código Penal. Idem Dilma e seus ministros. O pedido de impeachment, que é moderadíssimo diante do que a Lava Jato vem revelando, diz respeito a crimes contra a economia.

O governo, ao se dispor a cobrir o rombo das pedaladas fiscais, não se exime do crime. Ao contrário, confessa-o. Se alguém assalta um banco e, ao ser flagrado, devolve o dinheiro, não desfaz o delito. Não se desfrita um ovo; o crime está cometido. No caso das pedaladas “consertadas”, o efeito nocivo não se apaga, já que o dinheiro que as cobrirá é igualmente público – e o cobertor das finanças do Estado é curto: o que cobre um rombo descobre o outro e a economia continua no brejo.

A crise, diante do empenho do governo em manipular as instituições com cargos e verbas públicase até o STF contribui com as manobras -, promete se arrastar pelos próximos meses, fragilizando ainda mais.  O  delito da gastança irresponsável, para iludir o eleitor e ganhar as eleições de 2014, é o cerne da acusação e está mantido.
Quem é Eduardo Cunha diante de tais descalabros? Um aprendiz de infrator, que construiu sua fortuna na Era PT, na qual figurou como aliado e coadjuvante até há pouco. 

Tornou-se adversário recente - e não por questões morais, mas de mera disputa de espaços de poder. Se tivesse aceitado os termos de acordos que lhe foram encaminhados por Dilma e Lula, voltaria às graças do sistema que hoje pretende apresentá-lo como detentor do monopólio das falcatruas.economia. A elite falante de esquerda, que detém a hegemonia dos meios de comunicação, não se choca com nada e busca tudo justificar, para evitar “a direita”.

Os argumentos de ordem moral contra Cunha verdadeiros, sem dúvida – não se aplicam a mais ninguém, nem a quem os ultrapassou em larga margem, lambuzando-se (para citar o ministro Jacques Wagner, ele mesmo um lambuzado, segundo delações da Lava Jato) na roubalheira do dinheiro público.

A presidente, em vez de renunciare não apenas em função dos delitos que a envolvem, mas pela incapacidade política e moral de gerir o país em meio a eles -, prefere responsabilizar a Lava Jato pela crise que ela própria construiu; quer responsabilizar o termômetro pela febre.

Em nome da crise, reduziu a verba da Polícia Federal para deter as investigações, agravando o passivo criminoso que seu governo acumulou. A Lava Jato é a luz no fim do túnel da política brasileira - que, pelas mãos do PT, viaja hoje de camburão.

Fonte: Ruy Fabiano

 

sábado, 9 de janeiro de 2016

Dilma garantiu empréstimo camarada do BNDES para ditador de Moçambique

Dilma garantiu empréstimo camarada do BNDES para Andrade Gutierrez em Moçambique

Documentos revelam que o governo atuou em favor da Andrade Gutierrez na contratação de um financiamento de US$ 320 milhões do banco estatal, com condições especiais, na véspera da eleição de 2014 

Em março de 2013, a presidente Dilma Rousseff se reuniu com o presidente de Moçambique, Armando Guebuza, em Durban, na África do Sul, durante um encontro de países subdesenvolvidos. O assunto era urgente: um empréstimo de US$ 320 milhões do BNDES. Guebuza, segundo relato que fez a seus ministros, disse que as exigências impostas para a liberação do crédito estavam travando as obras de infraestrutura em seu país. Depois de ouvir atentamente, Dilma se colocou à disposição para “resolver o assunto”. 

O teor da conversa foi transmitido por uma das diretoras da Andrade Gutierrez na África Adriana Ribeiro à então embaixadora do Brasil em Maputo, Lígia Maria Scherer. As negociações, porém, não avançaram. Para receber o dinheiro do banco estatal brasileiro destinado à construção da barragem de Moamba Major, em Moçambique, o país africano deveria topar abrir uma conta bancária numa economia com baixo risco de calote. Esse é um procedimento comum nos financiamentos à exportação do BNDES.

>> Saiba mais: Acordo da Andrade Gutierrez com MPF também prevê delação de executivos

Guebuza, porém, recusava-se a aceitar essa condição. Contrariado, em agosto de 2013, o ministro das Finanças de Moçambique, Manuel Chang, encaminhou uma carta oficial ao governo brasileiro. A correspondência tratava das dificuldades políticas em abrir uma conta em moeda estrangeira no exterior para pagar dívidas com o Brasil enquanto recebia doações de outros governos para projetos sociais.Pegaria mal. A ideia era abrir uma conta no país africano. Essa mensagem foi acompanhada de um recado claro da Embaixada do Brasil em Maputo, capital de Moçambique: caso os recursos do BNDES não fossem liberados, dificilmente a construtora Andrade Gutierrez seria escolhida para construir a barragem. Haveria indícios de que o Brasil perderia o projeto para empresas de outros países se a questão do financiamento pelo BNDES não pudesse ser solucionada”, afirma a mensagem.

O alerta surtiu efeito em Brasília. Um mês depois, no dia 9 de setembro de 2013, foi realizada a 97ª reunião do Conselho de Ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex), órgão ligado ao Conselho de Governo da Presidência da República, formado por sete ministérios e presidido naquele momento pelo petista Fernando Pimentel, então ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), fiel escudeiro de Dilma e, atualmente, governador de Minas Gerais. A ata sigilosa, obtida por ÉPOCA, relata uma discussão sobre o pedido de Moçambique de dispensa da exigência da garantia da conta no exterior para a liberação do empréstimo do BNDES. O representante do Ministério da Fazenda, Dyogo Oliveira, reforçou que a abertura de uma conta era muito importante e ainda ressaltou que caso essa premissa fosse descartada surgiriam outros dois problemas. 

Primeiro, seria difícil controlar a conta dentro de Moçambique. Segundo, o país africano não possuía limite de crédito no Fundo de Garantia à Exportação (FGE), responsável por cobrir um eventual calote. Pimentel discordou e votou pela flexibilização das garantias, abrindo uma clara exceção para Moçambique. Essa opinião foi endossada por representantes da Casa Civil, comandada por Gleisi Hoffmann, e do Ministério das Relações Exteriores, sob a gestão de Luiz Alberto Figueiredo, além do ministro interino do Desenvolvimento Agrário, Laudemir André Müller. Com a aprovação da maioria, a posição defendida por Pimentel prevaleceu.
 Fernando Pimentel, Governador Estado de Minas Gerais, durante visita ao jornal Valor Economico (Foto: Silvia Costanti/Valor)


Depois de destravado o empréstimo para a obra em Moçambique, a operação passou por ajustes jurídicos no BNDES. Em 16 de julho de 2014, dez meses depois da reunião da Camex e já durante a campanha para a eleição presidencial, foi assinado um contrato entre o banco, o país africano e a Andrade Gutierrez, ao qual ÉPOCA teve acesso. O acordo, selado pelo ministro das Finanças moçambicano, prevê uma linha de crédito de até US$ 320 milhões. Esse dinheiro foi endereçado a um consórcio formado pelas empreiteiras Zagope Construções e Engenharia, controlada pela Andrade Gutierrez, e Fidens Engenharia, responsáveis pelo projeto de construção da barragem no país africano. A Zagope é uma empresa conhecida pelos procuradores que investigam corrupção no Brasil.

>> Saiba mais: Documentos secretos revelam: Lula fez lobby para Odebrecht em licitação na Guiné

De acordo com uma denúncia apresentada pela força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) contra executivos da Andrade Gutierrez, que foi aceita pelo juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, a Zagope usou uma de suas subsidiárias como veículo de pagamento de propina. O dinheiro saía da conta da Zagope Angola para uma empresa sediada no Panamá, administrada pelo operador Mario Goés – que, segundo o MPF, repassava pixulecos para Pedro Barusco e Renato Duque, respectivamente ex-gerente e ex-diretor da Petrobras. As operações da Andrade Gutierrez na África e em Portugal continuam na mira de investigadores da Lava Jato, que fizeram um acordo de cooperação internacional para buscar mais informações sobre as transações financeiras da empreiteira no exterior.

No mês seguinte à assinatura do contrato com o BNDES, no dia 20 de agosto, às 8h54, Edinho Silva, então tesoureiro da campanha presidencial à reeleição de Dilma, visitou Otávio Marques de Azevedo no escritório da Andrade Gutierrez, em São Paulo. A conversa durou quase uma hora. Nove dias depois desse encontro, a empreiteira realizou uma transferência no valor de R$ 10 milhões para a campanha de Dilma. Em seguida, do dia 23 setembro a 22 de outubro de 2014, a construtora doou ao todo mais R$ 10 milhões, em três parcelas. Entre as empreiteiras brasileiras, a Andrade foi a principal contribuidora da reeleição de Dilma, desembolsando quase o triplo do total repassado pela UTC.

>> Exclusivo: Agência ligada ao PT e mulher de Fernando Pimentel faziam lobby no BNDES, diz PF

O responsável por receber essa bolada era Edinho, atual ministro da Secretaria de Comunicação Social e também investigado na Lava Jato em inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF) sobre doações de campanha em 2014. A Procuradoria-Geral da República apura se Edinho achacou empreiteiros como Azevedo, que tinham contratos com o governo. No fim do ano passado, executivos da Andrade, entre eles Azevedo, presos em Curitiba, fecharam um acordo de delação premiada, em que deverão revelar, entre outras coisas, o esquema de corrupção por trás dos financiamentos de campanhas eleitorais. Policiais e procuradores acreditam que, ao percorrer o caminho do dinheiro movimentado pelas construtoras como a Andrade Gutierrez, poderão, mais cedo ou mais tarde, deparar com os empréstimos liberados pelo BNDES.

Questionada por ÉPOCA a respeito da negociação, a Presidência da República informa, por meio de sua área de comunicação, que o governo Dilma Rousseff sempre teve como estratégia expandir as exportações de produtos manufaturados e bens e serviços para os mercados da África e América Latina. “Seguindo essa diretriz, com total autonomia e sem nenhuma ingerência de qualquer instituição do governo, o Cofig (Comitê de Financiamento e Garantia das Exportações, colegiado responsável por avaliar as condições de financiamentos do governo federal a operações de exportação) e a Camex tomam suas decisões”, afirma a Presidência, por escrito. “Cabe ainda ressaltar que as doações feitas à campanha de 2014 não tem nenhuma relação com as ações de governo.”

Em nota, o BNDES afirma que o controle na concessão dos créditos à exportação se baseia em critérios técnicos e tem permitido apoio às empresas brasileiras com uma inadimplência extremamente baixa. E também que “não é incomum que uma operação seja aprovada na Camex e depois transcorra, até a contratação, um prazo similar ao observado na operação”. O banco não divulga o fluxo de desembolsos dos financiamentos à exportação.

Para a Andrade Gutierrez, o procedimento todo foi regular. “A Andrade Gutierrez reitera que todos os financiamentos contratados junto ao BNDES obedecem à legislação brasileira e seguem avaliação técnica rigorosa do banco”, afirma a empresa, numa nota. A empreiteira informa, na mesma nota, em relação ao empréstimo do BNDES para a construção da barragem, que o valor de US$ 320 milhões foi contratado em julho de 2014 e não foi liberado naquela data. A empresa não respondeu às questões envolvendo as doações da campanha de 2014. Caberá aos investigadores da Lava Jato esclarecer se há relação entre o empréstimo do BNDES e a doação à campanha de Dilma.

Fonte: Época