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sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Sinais de melhora. Mas é cedo para comemorar - O Estado de S.Paulo

Celso Ming

Espraia-se a sensação de que o País passa por uma recuperação econômica, depois de longa temporada de baixo-astral na economia

Há boas indicações que justificam esse estado de espírito. Um dos medidores da pulsação, o Monitor do PIB, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas, mostrou que, até setembro, o ritmo dos negócios em 12 meses aumentou 0,9%, graças ao “bom desempenho na agropecuária, indústria (exceto transformação) e serviços (exceto transportes e intermediação financeira)”.

O consumo das famílias avançou 1,9% no terceiro trimestre em comparação com o terceiro trimestre de 2018. As projeções do mercado, medidas pela Pesquisa Focus, do Banco Central, indicam avanço da renda de 0,92% em 2019. Há uma apreciável melhora no crédito, cujo estoque na rede bancária cresceu 5,8% em 12 meses (dados de setembro). Até mesmo os caminhoneiros, há alguns meses tão insatisfeitos com o comportamento de sua renda, mostram coniança com o aumento da procura por transporte de carga, meses antes do início das safras de grãos.

O agronegócio é o setor produtivo mais dinâmico. Deve entregar aumento de cerca de 1,8% nas safras de grãos, como atestam os últimos levantamentos da Conab. E, apesar do fiasco dos dois últimos leilões de áreas do pré-sal, o setor do petróleo aponta para forte aumento da produção em 2020, dos atuais 2,9 milhões de barris diários para alguma coisa em torno dos 3,7 milhões. São sinais gratificantes que ganham bom reforço com a queda consistente da inflação e dos juros, mas que ainda não garantem firmeza porque sobre ele ainda pesam fatores contra.

A indústria de transformação, por exemplo, continua endividada e patina no negativo, tanto porque a Argentina, importante parceiro comercial do Brasil, está mergulhada na crise, como porque a economia mundial vem sendo esgarçada pela guerra comercial. Como mostram os dados do Ibre, o investimento interno aumentou 2,5% em bases anuais do terceiro trimestre, em todos os seus segmentos, principalmente em máquinas (+3,7%) e construção (+1,3%). Mas continua de breque puxado pelas incertezas.

O mercado do trabalho emite certos sinais de melhora. Mas ainda há 25 milhões de brasileiros atolados no desemprego, no subemprego e no desalento, um passivo econômico que emperra o crescimento. [deve ser dado especial atenção a composição desse total de 25 milhões - ou qualquer outro número substituto - dado o risco da contagem dupla ou mesmo tripla.
O desalentado é antes de tudo um desempregado, quem está empregado não vai para a categoria de desalentado - por não estar encontrando emprego, situação que só se aplica ao desempregado.
Assim, o número total não pode ser superior ao de desempregados (atualmente, abaixo dos 13 milhões)  - se o cidadão passa à condição de desalentado continua antes de tudo um desempregado.]  É um universo que tolhe o aumento de renda, o consumo e, na ponta da corda, a produção.

Os prognósticos de quem põe a mão na massa são de que em 2020 o avanço do PIB será superior a 2,0%, como também indica a Pesquisa Focus. Mas é preciso cuidado. Os quatro últimos anos, inclusive este, começaram com promessas alvissareiras logo desidratadas porque a economia não entregou o prometido. E isso pode acontecer de novo. É que investimentos e avanço nos negócios exigem um mínimo de previsibilidade, artigo hoje escasso. A economia mundial evolui muito devagar. As tensões entre as maiores potências do mundo podem refluir em alguma coisa graças ao início da temporada eleitoral nos Estados Unidos, mas apontam mais para acirramento do que para solução dos conflitos.

É verdade que por aqui algumas reformas andaram, como a da Previdência, o que não deixa de ser um alento para as contas públicas no longo prazo. Mas outras, como a tributária e administrativa, estão emperradas por falta de coordenação ou por excesso de protagonismo. E há o esparramo produzido pelas incertezas da política. Sobram dúvidas sobre a sustentabilidade do governo Bolsonaro, que tem uma agenda confusa e não consegue definir prioridades. Por isso, um brinde e mais outro aos fatores que têm ajudado na recuperação. Mas cuidado com comemorações antecipadas.
 
Celso Ming, colunista - O Estado de S. Paulo
 
 

sábado, 8 de julho de 2017

O desalento, o desprezo e o desencanto

A putrefação do sistema político vem acompanhada de uma repulsa, quase revolta, dos brasileiros para com todo e qualquer assunto ou personagem curtido nas platitudes do poder. Abarca de líderes partidários, parlamentares em geral e ícones dos palanques a sindicalistas pelegos que tentam a qualquer custo badernar a rotina das cidades para chamar atenção. Nenhum senador, deputado, governador, ninguém da ala dos ditos de oposição, representantes dos intitulados “movimentos sociais”, agitadores contumazes – e mesmo os controladores do sistema – perceberam ainda: o povo cansou. 

Está enojado com o circo de horrores. Descrente. Desmotivado. Combalido pelo escracho da corrupção endêmica que tomou do Legislativo ao Executivo e comprometeu até algumas decisões do Judiciário. Vai daí, certamente, o rotundo fracasso da autoproclamada (sem nenhuma razão para assim ser chamada) greve geral convocada na sexta, 30, pelas centrais de sempre, CUT, MTST e quetais. Deprimente desempenho é quase um elogio diante do que se viu. Ruas vazias. A Esplanada dos Ministérios completamente às moscas, com um batalhão de 2.800 policiais a monitorar imagine só – contados 30 sindicalistas que faziam fuzarca sem plateia. Virou mero feriadão sem causa. A isso ficou resumida a indignação dos protestos. E a mais alguns amontoados de pelegos País afora, com seus carros de som a fazer barulho, pneus queimados, ônibus incendiados e quebra-quebras. Restou a prática da bandidagem por várias praças, tal qual nas plenárias do Congresso. Os líderes dão o exemplo. O mau exemplo. A imoralidade grassa com fervor por essas paragens e vem colocando de ponta-cabeça princípios e questionamentos de uma geração inteira. Muitos batem em retirada. 

Há um índice crescente de famílias deixando o País. Buscando outros destinos, novos ambientes, mais dignos, onde a lei, a retidão e o direito prevaleçam, como parâmetros a ajudar na criação de seus filhos e netos. Quem consegue educar decentemente no Brasil diante dessa cambada de salafrários odiosos? Ladrões de gravata tomaram Brasília, a Capital Federal, e arrotam cinismo e valentia, como se ainda pudessem impor uma nova ordem. Com que moral eles convocam o povo para reclamar de seus desígnios? 

Falta-lhes vergonha na cara. Sequer assumem erros ou culpa direta na cumbuca de malfeitos. Vagabundos sem redenção. Outro dia, no maleável conceito de defesa dos interesses públicos, um grupo de parlamentares sedento de desgraça ameaçou barrar as reformas estruturais e quaisquer outras medidas, mesmo que construtivas, enviadas pelo Executivo – como a dizer: vamos implodir com a governabilidade para nos fartar, de novo, mais adiante, nas sobras e carniça do Estado. Riem como hienas da tragédia que se abateu sobre os cidadãos, pagantes de impostos e verdadeiros financiadores (naturalmente a contragosto) da farra congressual. Os quase 14 milhões de desempregados deixados de legado por uma gestão petista tão estúpida como irresponsável não interessa a essa gente. O que conta, o que prevalece, é o retorno de cada um no esquema da vez. Larápios de carteirinha, mancomunados com um bloco de empresários da pior espécie – para quem a ideia de levar vantagem soa como mantra das orações -, os próceres de Brasília perderam o pudor. São quase dois mil corruptos na lista da propina de apenas uma empresa, a JBS, segundo revelou em delação o “rei do gado”, Joesley Batista. No curral dos irmãos Batista, o icônico ex-presidente Lula puxa o rebanho, alimentado por US$ 150 milhões em contas na Suíça. Dá para imaginar? Meio bilhão na moeda local para fartar as necessidades do petista e de sua cambada. 

Insuficiente, mesmo assim, diante do apetite de um réu detentor de folha corrida com cinco processos nas costas. Só no tresloucado ambiente dos políticos sem caráter um sujeito com tamanho plantel de ocorrências ainda sonha em voltar à Presidência. Seria a coroação dos desaforos à Nação. Assistir na TV, ouvir no rádio ou ler em jornais e revistas sobre os desmandos e desvios do dia já vem sendo um suplício interminável. Os políticos, a quase totalidade deles, depravaram o País. Sendo pragmáticos, os brasileiros irão notar que a solução plausível, real, factível encontra-se nas eleições de 2018. Ali, nas urnas, a depuração pode e deverá ser feita a contento. Como já ocorreu nos pleitos municipais do ano passado, quando se varreu do mapa dogmas sedimentados e ilusões com promessas vãs dos oportunistas. Para a reformulação da velha e carcomida política o papel de cada eleitor será fundamental. Não é o momento para omissões. Players tidos como outsiders começam a despontar e é bom prestar atenção neles e evitar, a qualquer custo, o retorno daqueles que fizeram do Estado um balcão de negócios insidiosos para as suas gatunagens.

Fonte: Editorial Isto É - José Carlos Marques