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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Coringa, Parasita e Desemprego - VEJA - Blog do Noblat

Por Joaquim Falcão

É como se um empregado valesse dois terços

A  pergunta é simples e decisiva. A resposta deveria ser simples e precisa. Quantos brasileiros estão, a cada mês, empregados, recebendo seus plenos direitos trabalhistas? 
E vice-versa?
Quantos brasileiros estão, a cada mês, desempregados, sem receber seus plenos direitos trabalhistas?
Interessa saber a todo brasileiro, empresas, sindicatos, partidos, Banco Central. Sem o que não se pode avaliar se a política econômica do governo faz bem ou mal ao país. Espera-se que bem.

O sucesso da política financeira não se mede apenas por inflação e juros baixos. Quanto mais baixos, melhor.  Vejam a dura crítica social, indignação, mesmo criminosa, do povo, nos filmes “Coringa” e “Parasita”, ao atual sistema financeiro que gera desemprego. Países adotam juros negativos. Outros querem subir juros e não conseguem. Outros querem baixaraté onde? – e conseguem. O doente econômico ficou sem remédio unívoco e eficaz. O normal seria comparar o índice de emprego deste mês com o índice de emprego do mês passado, dentro da mesma métrica. Simples assim.

Mas não somente cada instituição tem seu índice. OIT, IBGE, CAGED etc. Como cada índice tem sua métrica. Cada métrica tem conceitos diferentes de emprego e desemprego.  Em nome de buscar a transparência total da realidade do emprego – o que é bom – criaram-se tantos conceitos, preconceitos, distintas realidades econômicas, especificidades, que a confusão é geral. Pura Babel. Vejam só. Começam conceituando “força de trabalho” como todos os trabalhadores acima de 14 anos. Podem ser do setor privado, do setor público, empregadas domésticas. Com ou sem carteira assinada. Dividem-se depois em “ocupados” e “desocupados”. Mas nem todos os ocupados estão empregados. Ocupados podem fazer bicos, trabalhar por conta própria; podem ter ou não a carteira assinada; uns estão procurando emprego, outros já desistiram, desesperados.

Tem os desalentados. Existem os empregadores do “bloco do eu sozinho e os empregadores com mais de dois empregados”. Existem os que estão no setor formal, e os que estão no setor informal, o subemprego, e por aí vamos. Na ânsia de dar boas notícias, o governo aumenta a confusão. Canta como vitória da política econômica o maior número de ocupados naquele mês, quando decaiu, no mesmo mês, o número de empregados com direitos plenos. É como um empregado valesse dois terços.

Cheguei mesmo a procurar autoridades do IBGE, doutores de think tanks econômicos, professores de economia de escolas acima de qualquer suspeita. Nada. Não consegui as respostas simples e precisas que procurei. Aumentou-me a confusão.  No máximo, sabem que a produtividade do PIB continua diminuindo. Precisamos de mais horas de suor do trabalhador para fazer o mesmo. Ou menos.
Exemplo? Antes, precisávamos de oito horas de trabalho de um trabalhador para fazer o produto X. Hoje, precisamos de 9 horas para fazer o mesmo produto.
Para entender é preciso um doutorado em economia. E não apenas um título de eleitor.

Não são poucos os que acham que a queda de juros, em vigor há três anos – desde Temer -, não trouxe mais e melhor emprego para nossos trabalhadores e empresas. A moda econômica é dizer que este é problema global. Ou culpar o UBER e os diversos aplicativos de entrega. Ocupam, mas não empregam. Se chegarmos assim em 2022, vai ter problema. Ou mesmo antes.  Quando anunciam que a taxa Selic está em 4.5, são precisos e concordes. Quando dizem que o Banco X lucrou vinte bilhões no semestre, também. Mas com o número de empregados e desempregados com plenos direitos, não. Às vezes fico pensando que os economistas, financistas e estatísticos, em vez de entrarem em acordo, viraram advogados e juízes.
Se continuarem assim, vão todos acabar no Supremo. Onde, às vezes, a vítima, o Brasil, vira o culpado, o Brasil.

Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA

Joaquim Falcão é sociólogo, diretor da Fundação Getúlio Vargas e membro da Academia Brasileira de Letras.  

 

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Sinais de melhora. Mas é cedo para comemorar - O Estado de S.Paulo

Celso Ming

Espraia-se a sensação de que o País passa por uma recuperação econômica, depois de longa temporada de baixo-astral na economia

Há boas indicações que justificam esse estado de espírito. Um dos medidores da pulsação, o Monitor do PIB, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas, mostrou que, até setembro, o ritmo dos negócios em 12 meses aumentou 0,9%, graças ao “bom desempenho na agropecuária, indústria (exceto transformação) e serviços (exceto transportes e intermediação financeira)”.

O consumo das famílias avançou 1,9% no terceiro trimestre em comparação com o terceiro trimestre de 2018. As projeções do mercado, medidas pela Pesquisa Focus, do Banco Central, indicam avanço da renda de 0,92% em 2019. Há uma apreciável melhora no crédito, cujo estoque na rede bancária cresceu 5,8% em 12 meses (dados de setembro). Até mesmo os caminhoneiros, há alguns meses tão insatisfeitos com o comportamento de sua renda, mostram coniança com o aumento da procura por transporte de carga, meses antes do início das safras de grãos.

O agronegócio é o setor produtivo mais dinâmico. Deve entregar aumento de cerca de 1,8% nas safras de grãos, como atestam os últimos levantamentos da Conab. E, apesar do fiasco dos dois últimos leilões de áreas do pré-sal, o setor do petróleo aponta para forte aumento da produção em 2020, dos atuais 2,9 milhões de barris diários para alguma coisa em torno dos 3,7 milhões. São sinais gratificantes que ganham bom reforço com a queda consistente da inflação e dos juros, mas que ainda não garantem firmeza porque sobre ele ainda pesam fatores contra.

A indústria de transformação, por exemplo, continua endividada e patina no negativo, tanto porque a Argentina, importante parceiro comercial do Brasil, está mergulhada na crise, como porque a economia mundial vem sendo esgarçada pela guerra comercial. Como mostram os dados do Ibre, o investimento interno aumentou 2,5% em bases anuais do terceiro trimestre, em todos os seus segmentos, principalmente em máquinas (+3,7%) e construção (+1,3%). Mas continua de breque puxado pelas incertezas.

O mercado do trabalho emite certos sinais de melhora. Mas ainda há 25 milhões de brasileiros atolados no desemprego, no subemprego e no desalento, um passivo econômico que emperra o crescimento. [deve ser dado especial atenção a composição desse total de 25 milhões - ou qualquer outro número substituto - dado o risco da contagem dupla ou mesmo tripla.
O desalentado é antes de tudo um desempregado, quem está empregado não vai para a categoria de desalentado - por não estar encontrando emprego, situação que só se aplica ao desempregado.
Assim, o número total não pode ser superior ao de desempregados (atualmente, abaixo dos 13 milhões)  - se o cidadão passa à condição de desalentado continua antes de tudo um desempregado.]  É um universo que tolhe o aumento de renda, o consumo e, na ponta da corda, a produção.

Os prognósticos de quem põe a mão na massa são de que em 2020 o avanço do PIB será superior a 2,0%, como também indica a Pesquisa Focus. Mas é preciso cuidado. Os quatro últimos anos, inclusive este, começaram com promessas alvissareiras logo desidratadas porque a economia não entregou o prometido. E isso pode acontecer de novo. É que investimentos e avanço nos negócios exigem um mínimo de previsibilidade, artigo hoje escasso. A economia mundial evolui muito devagar. As tensões entre as maiores potências do mundo podem refluir em alguma coisa graças ao início da temporada eleitoral nos Estados Unidos, mas apontam mais para acirramento do que para solução dos conflitos.

É verdade que por aqui algumas reformas andaram, como a da Previdência, o que não deixa de ser um alento para as contas públicas no longo prazo. Mas outras, como a tributária e administrativa, estão emperradas por falta de coordenação ou por excesso de protagonismo. E há o esparramo produzido pelas incertezas da política. Sobram dúvidas sobre a sustentabilidade do governo Bolsonaro, que tem uma agenda confusa e não consegue definir prioridades. Por isso, um brinde e mais outro aos fatores que têm ajudado na recuperação. Mas cuidado com comemorações antecipadas.
 
Celso Ming, colunista - O Estado de S. Paulo