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segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Militares voltam à cena política

Que sinais há do fim de um ciclo?


A acomodação das placas tectônicas após o terremoto eleitoral permite distinguir traços fortes na paisagem institucional. Um dos mais visíveis é o fechamento do ciclo da redemocratização, que começou em meados dos anos 80. A era Sarney escancarou a locução política, destravando os nós apertados na garganta dos brasileiros. O ancoradouro das demandas reprimidas nos tempos de chumbo foi a Constituição de 88, que completou 30 anos. Que sinais há do fim de um ciclo?

A eleição de um militar reformado é o primeiro grande sinal. A escolha puxa para a política o maior grupo de militares de nossa contemporaneidade, além de generais da reserva que ingressam no governo. Um feito e tanto, uma vez que a índole militar requer agir com discrição sob o rito hierárquico, colaborar em postos-chave das Forças Armadas e afastamento da política. Essa é sua cultura.

As curvas que tiraram o país do prumo ensejaram as crises econômica, política e ética, despertando o animus animandi da caserna e motivando quadros estrelados a adentrar o Executivo, caso dos generais Mourão (o vice) e Heleno, com históricos de comandos importantes. Eles ascendem não por intromissão indevida, mas em função do redesenho institucional, da indignação contra os nossos representantes e da intensa vontade popular de fazer o país caminhar.

Bolsonaro representa esse anseio. Parcela ponderável do eleitorado, principalmente segmentos à esquerda, o considera um retrocesso. Ocorre que seus quase 58 milhões de eleitores o credenciam como o ancoradouro da vontade da maioria. Seu discurso, incluindo tiradas de mau gosto, se não recebe endosso popular, também não é motivo para sua rejeição.

Outros sinais foram dados, como a derrocada dos paradigmas do marketing político, a partir do tempo de rádio e TV (duração maior não ajudou candidatos), dinheiro (não elegeu aqueles com maiores recursos), escolha de representantes na cola do candidato presidencial (PSL fazendo uma bancada de 56 nomes). O pleito exibiu um parâmetro novo: a autogestão eleitoral. O eleitor votou sem influência de amigos, familiares ou partidos, marcando até quadros de esquerda e da direita no mesmo voto.

Essa disposição do eleitor mostra desejo de direcionar o país para a direita, significando desaprovação aos governos do PT. Pode-se dizer, então, que o jogo está empatado. A era da redemocratização abriga uma vitória de Collor, duas de FHC e, agora, a de Bolsonaro; e quatro vitórias dos contrários, duas de Lula e duas de Dilma.

Parcela ponderável dos eleitores de Bolsonaro, convém frisar, frequenta espaços do meio, como contingentes de classes médias, profissionais liberais, setores da produção etc. Se o capitão exprime posicionamentos extremados, não significa que tem apoio de alguns de seus bolsões eleitorais. Jogar todos na extremidade é um erro. O mesmo se pode dizer do eleitorado de FHC e mesmo de Lula e Dilma.

A democracia brasileira passou em mais um teste. Se a opção de 2018 estiver errada, o eleitor poderá consertá-la em 2022. Urge não adiantar previsões.

Gaudêncio Torquato é jornalista, professor titular da USP e consultor político twitter@gaudtorquato 

Blog do Noblat - Veja

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Mano Brown pôs o dedo na ferida do PT - Votar no PT, impossível! #PTNão #HaddadNunca

Mano Brown pôs o dedo na ferida do PT

Em ato pró-Haddad, o líder dos Racionais disse que o petismo ‘deixou de entender o povão’. O rapper cresceu no Capão Redondo, que já abandonou a sigla na eleição de 2016


Num palanque com Chico e Caetano, o centro das atenções foi Mano Brown. O rapper fez o discurso mais forte do ato dos artistas com Fernando Haddad. A fala surpreendeu o candidato e a plateia, que encheu a Lapa na noite de terça-feira.  O líder dos Racionais começou reclamando do clima de festa. “Não tá tendo motivo pra comemorar”, disse. Na contramão dos petistas que prometiam uma “virada”, ele admitiu que não acreditava em vitória no domingo. “Não estou pessimista. Sou realista”, justificou.

Brown criticou quem estigmatiza os eleitores de Jair Bolsonaro, que recebeu 49.276.990 milhões de votos no primeiro turno. “Não consigo acreditar que pessoas que me tratavam com tanto carinho se transformaram em monstros”, disse. Ele também detonou a comunicação da campanha do PT. “Se não tá conseguindo falar a língua do povo, vai perder mesmo”, sentenciou.

A militância começou a vaiar, mas o rapper não se intimidou. “Não vim aqui pra ganhar voto, porque eu acho que já tá decidido”, disse. Enquanto os políticos tentavam disfarçar o constrangimento, ele concluiu: “Deixou de entender o povão, já era. Se nós somos o Partido dos Trabalhadores, o partido do povo tem que entender o que o povo quer. Se não sabe, volta pra base e procura saber”.

O rapper cresceu no Capão Redondo, um dos bairros mais violentos de São Paulo. A região já foi reduto eleitoral do PT. Em 2016, abandonou a sigla e ajudou a eleger o tucano João Doria. No último dia 7, deu 36,6% dos votos para Bolsonaro e apenas 28,4% para Haddad.  Se quiser sobreviver, o petismo terá que seguir a receita de Brown.

No ano passado, a Fundação Perseu Abramo fez uma pesquisa em busca de respostas. O estudo afirma que o eleitor da periferia “passou a se identificar mais com a ideologia liberal”. Comprou a ideia de que o Estado atrapalha e abraçou o discurso que prega a meritocracia e a redução dos impostos. Na disputa presidencial, estas bandeiras foram empunhadas pelo candidato do PSL. Ontem Haddad deu razão ao rapper e começou a reconhecer o problema. “A periferia das grandes cidades não votou conosco no primeiro turno. Nós temos que reconectar com este povo”, disse.

Bernardo Mello Franco - O Globo

Mas, cá entre nós, quem conhece o PT, testemunhou seus erros e malfeitos (termo que alguns preferem para atenuar a ação da bandidagem que assaltou os cofres públicos), presenciou a arrogância de seus líderes e a tentativa de monopolizar o pensamento de esquerda (que acabou enxovalhando todo o campo democrático), não tem como, em sã consciência, votar no PT outra vez.

Mano Brown fala na cara o que todo petista precisa escutar


Será que é de um lado só que está a semente do autoritarismo? Fake news, bravatas, ameaças à independência dos três poderes, ataques a juízes e instituições, defesa de corruptos, demagogia, hipocrisia, ideias para controlar e censurar a imprensa, fanatismo, violência, ódio, intolerância?  Vamos fechar os olhos agora para os erros do PT? Vamos eleger um presidente petista para endossar tudo o que vocês praticaram e pregaram nos últimos anos, como se estivesse tudo bem no Brasil?

Então, como apelar para o bom senso, a moral e a ética, ou mesmo para um espírito democrático ou os princípios republicanos e votar no Haddad? Impossível!
Curioso é como o PT ataca os eleitores de Bolsonaro, como se a maioria dos brasileiros que vota no adversário petista neste 2º turno fosse um bando de fascistas ou ignorantes. Ora, fiéis do lulismo do meu Brasil, o eleitorado que hoje vota neste candidato boçal da direita mais chucra é o mesmo que elegeu Lula presidente duas vezes e Dilma outras duas. [grande parte dos eleitores de Bolsonaro foram eleitores do PT e inclusive votaram nas duas coisas citadas;
mas que de tanto verem líderes aquele partido roubando,  produzindo desemprego, sendo incompetente optaram por Bolsonaro - mesmo que alguns, usando do livre direito de opinião, sejam desairosos quando se referem a JAIR MESSIAS BOLSONARO, futuro Presidente do Brasil, a partir do próximo dia 28.]
 
Mudou o eleitor ou mudou o PT, traindo a confiança e a esperança que os brasileiros depositaram quatro vezes na urna, democraticamente? A ausência dessa autocrítica é que estimula muito democrata, de saco cheio do PT e igualmente avesso ao salto no escuro com Bolsonaro, a optar pelo voto nulo neste 28 de outubro.

Portanto, não busquem fora a culpa pela derrota. Assumam seus erros e responsabilidades. E, por favor, dessa vez aprendam alguma coisa (Ah, detalhe: ouçam mais o Mano Brown, meus caros petistas. Em dois minutos, ele falou na cara o que vocês não ouviram em 20 anos). PT, saudações.

Mauricio Huertas - FAP

domingo, 21 de outubro de 2018

Como melar uma eleição

“O PT subiu o tom dos ataques a Bolsonaro, que enfrenta o pedido de cassação de sua candidatura feito pela campanha de Haddad, por suposto abuso de poder econômico nas redes sociais”


O pedido de impugnação da candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) por abuso de poder econômico e uso de caixa dois no primeiro turno, tendo por base o seu suposto envolvimento com empresas privadas que financiaram o impulsionamento de fake news contra o candidato do PT, Fernando Haddad, tem o objetivo de melar a eleição. Bolsonaro tem 18 pontos de vantagem em relação ao petista e somente um fato novo, como o que está sendo criado pelo PT, poderia produzir condições para reversão dessa dianteira. [só que o fato novo criado pelo PT se limita ao pedido apresentado ao TSE, que produziu uma investigação que não vai apresentar nenhum resultado - qual seja provar a existência do que foi denunciado (provas da existência do fato, do crime, poderia surgir  o fato novo com possibilidades de atrapalhar a esmagadora vitória de Bolsonaro sobre o poste petista) pelo simples fato da não existência de provas, como demonstramos:
- a reportagem é meramente informativa, sem citação de nenhum tipo de provas, ou mesmo indícios, de que o descrito na reportagem foi executado;
- os supostos disparos ocorreriam na próxima semana (fosse verdadeira a suposição, existisse o plano dos disparos na próxima semana, a matéria fez que que não mais seja realizado), assim, não se pode provar o que não ocorreu.]

O PT fez uma jogada muito comum no movimento sindical, onde as eleições costumam ser “judicializadas” quando uma chapa se vê em grande desvantagem às vésperas do pleito. Aproveitou-se de uma denúncia do jornal Folha de S. Paulo para deslegitimar os 49,2 milhões de votos obtidos por Bolsonaro no primeiro turno, com argumento de que houve fraude na utilização do WhatsApp como ferramenta de campanha. Com isso, submeteu o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a uma tremenda saia justa, pois cabia à Justiça fiscalizar o pleito e detectar as supostas irregularidades, o que não aconteceu. [sempre oportuno destacar de forma enfática qued o TSE não tem poderes para detectar o que não ocorreu.]
 
O ministro Jorge Mussi, corregedor do TSE, não teve outra alternativa a não ser dar prosseguimento à ação apresentada pela campanha do petista, mas rejeitou todos os pedidos de investigação e quebra de sigilo feitos pelo PT. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que também é a procuradora eleitoral, foi igualmente instada a tomar providências, no caso, solicitou uma investigação da Polícia Federal.  O pleito principal do PT é a cassação dos direitos políticos de Bolsonaro por oito anos e a anulação dos seus votos, o que traria para a disputa de segundo turno o terceiro colocado, Ciro Gomes (PDT), que obteve 13,3 milhões de votos. O pedetista entraria na disputa uma semana antes da votação, prazo exíguo para tirar a diferença 18 milhões de votos que o separa de Haddad, que foi votado por 31,3 milhões de pessoas. Esses números são relevantes porque revelam as intenções dos respectivos eleitores, que não podem ser desconsideradas pela Justiça Eleitoral. [a legislação eleitoral determina a realização de nova eleição, o que derruba a tese que automaticamente o segundo turno passaria a ser entre Haddad e Ciro Gomes;
a chapa Dilma-Temer também foi contestada pelo PSDB em 2014 e a matéria só foi a julgamento conclusivo em 2017 - prazo para contestação existe até 15 dias após a diplomação, mas, não existe limite temporal para a realização das investigações.]
Se a denúncia tivesse sido feita antes do primeiro turno, quando os fatos supostamente ocorreram, seria mais factível a impugnação da candidatura ou a anulação do pleito. Depois da contagem dos votos, é muito difícil reverter uma situação como a descrita na denúncia. Nenhum eleitor admitirá que votou manipulado num pleito em que ninguém sofreu coerção nas seções eleitorais e o voto foi secreto.

O melhor exemplo é o julgamento da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, acusada de abuso de poder por Aécio Neves (PSDB), o tucano derrotado pela ex-presidente nas eleições de 2014. Mesmo com “abundância de provas”, segundo o relator, a maioria do TSE, então presidido pelo ministro Gilmar Mendes, rejeitou o relatório que pedia a cassação da chapa. Como Dilma já havia sido afastada do poder pelo impeachment; nesse caso, quem poderia ser cassado era o presidente Michel Temer.

Liminares
Não foi à toa, portanto, que o ministro Jorge Mussi rejeitou o pedido de liminares antes de se ouvir a outra parte, anunciando que agirá com cautela para não influenciar os rumos da eleição. Baseado em reportagens jornalísticas, segundo o ministro, os fatos apontados não permitem neste momento demonstrar a veracidade das suspeitas. Em tese, os impulsionamentos pagos por empresas podem ser considerados doações ilegais. Mussi pretende examinar a questão em “momento próprio” e deu um prazo de cinco dias para que Bolsonaro preste esclarecimentos. [até o presente momento não surgiu nenhuma prova contra a candidatura Bolsonaro;
ironicamente, Haddad pode além da derrota ter sua candidatura anulada, visto que por determinação de Raquel Dodge a Polícia Federal está investigando as DUAS campanhas e nada impede que surjam provas de que o petista é quem andou mentindo.
Um fato que deve preocupar a agonizante campanha do poste petista é que o TSE mandou suspender anúncios na TV nos quais Haddad acusava Bolsonaro de ligações com a tortura.]
 
Com a denúncia, o PT ganhou novo ânimo e subiu ainda mais o tom dos ataques a Bolsonaro, elevando a temperatura. A rigor, a denúncia passou a ser um novo divisor de águas da campanha, que possibilita a “vitimização” de Haddad e a retomada da narrativa de que o país está em risco de assistir à derrocada da democracia e a ascensão, pelo voto, do fascismo. Nas redes sociais, essa ofensiva é fundamental para neutralizar Bolsonaro: primeiro, porque inibe sua campanha nas redes; segundo, por dar mais moral à militância petista. [Lula também tentou a tática da vitimização e se tornou o campeão da rejeição, o que conseguiu foi se f ... e ao Haddad.] que se tornaram campeões da rejeição.]
 
O problema dessa estratégia é que ela exacerba os setores mais radicalizados da campanha de Bolsonaro, que revidam os ataques do PT com igual ou maior truculência. Esse clima de radicalização não é nada bom para a democracia, porque abre espaço para a contestação futura da legitimidade do presidente que vier a ser eleito. É óbvio que essa avaliação parte do pressuposto de que a denúncia morrerá na praia; se isso não ocorrer, e Bolsonaro for cassado, o que é muito improvável, o país corre risco de convulsão, porque os eleitores de Bolsonaro não são fake e se indignarão.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB  



quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Movimento do centrão mostra que partidos já ganharam a eleição

Aspecto gelatinoso do bloco permitirá adesão tanto a Haddad quanto a Bolsonaro

Os movimentos da quinzena final de campanha dão uma certeza a esta eleição imprevisível: o centrão já ganhou. No dia 1º de janeiro, parlamentares do bloco estarão no plenário da Câmara para aplaudir o presidente empossado. Por ora, tudo indica que esse cidadão não será Geraldo Alckmin, candidato apoiado pelo grupo. Os sorrisos dos deputados estarão largos mesmo assim.

O desempenho fraco do tucano ao longo de toda a disputa precipitou as deserções e os flertes públicos de muitos políticos de sua chapa com Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Alckmin foi confrontado com articulações constrangedoras, feitas à luz do dia, por alguns de seus aliados com os adversários.

Dirigentes do centrão passaram a discutir internamente o caminho que deverão seguir no segundo turno entre o PT e o PSL. O formato gelatinoso do bloco, sem orientação ideológica clara, permite que as siglas se alinhem a qualquer um dos lados. Os petistas, embora traídos no impeachment de Dilma Rousseff, sabem que precisarão de musculatura no Congresso. O partido mostrou, em seus 13 anos no poder, que topa seguir a tabela de preços do presidencialismo de coalizão.

Boa parte do centrão, no entanto, quer mesmo apoiar Bolsonaro, o político que promete não formar um governo político. Ressalvada a proposta absurda de sua equipe para impor obediência obrigatória às bancadas, o candidato do PSL também sabe que precisará construir uma maioria no Congresso. Os deputados já começam a treinar o sorriso.

Alguns eleitores de Bolsonaro acreditam que há uma maquinação internacional contra o candidato. Alegam nas redes sociais que o Itamaraty mentiu no telegrama, revelado pelos repórteres Marina Dias e Rubens Valente, que reproduz um relato de ameaça de morte feito por uma ex-mulher do deputado.[ameaça desmentida de forma espontânea e inequívoca pela própria 'ameaçada', que ainda elogiou o fato de Bolsonaro ser um bom pai.] 


Bruno Borghossian - UOL