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quarta-feira, 21 de setembro de 2022

A energia solar aquece o Brasil - Revista Oeste

Bruno Meyer

E o país da cerveja se rende ao vinho 

 
Placas solares no telhado de um edifício residencial em dia ensolarado | Foto: Shutterstock
Placas solares no telhado de um edifício residencial em dia ensolarado | Foto: Shutterstock

O setor de energia solar tem crescido anualmente de 80% a 100% nos últimos sete anos no Brasil. 
 A dimensão continental e o grande potencial de geração de energia solar do país têm atraído empresas estrangeiras para aproveitar o que já é chamado de boom do mercado. “O Brasil é um dos maiores países do mundo, com grande mercado consumidor e uma demanda crescente por energia elétrica”, diz André Gellers, CEO da operação brasileira da SMA, líder global em energia solar, com sede na Alemanha. “É óbvio que a energia solar é atraente para o Brasil, à medida que a gente pode suprir as demandas futuras por energia limpa.” Desde 2016 no país, a empresa alemã e outras estrangeiras chegam e olham o avanço do setor por aqui: em julho, a energia solar fotovoltaica se tornou a terceira maior fonte na matriz elétrica nacional, com 8,1% de participação, atrás das hidrelétricas e da energia eólica, segundo a Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica).
A energia atrai dinheiro…
O setor atraiu R$ 35 bilhões em investimentos no primeiro semestre, depois de um 2021 considerado glorioso para o mercado, quando foram investidos R$ 93 bilhões em solos brasileiros. Com isso, o país se tornou a quinta economia que mais atraiu investimentos na área no mundo. Com mais aportes, surgiu uma infinidade de novas posições de trabalhos.

…e gera contratações
Atualmente, existem 540 mil empregos qualificados no país ligados ao setor de energia solar: de engenheiros e eletrotécnicos responsáveis por projetos e instalações passando pela turma da pesquisa e desenvolvimento até o time de logística, marketing, seguros e recursos financeiros. E a demanda atual pede mais gente. “Buscamos desde a formação em ciências humanas e exatas, como também o pessoal de nível técnico”, diz Gellers. “Queremos profissionais talentosos e principalmente com capacidade de crescer. Estamos contratando.”
O sol do agro
O agronegócio brasileiro é um dos mais beneficiados e com maior potencial de vantagens com o crescimento da energia solar. 
Projetos ligados à irrigação de colheitas ou a secadores de grãos são algumas das formas pelas quais o agro pode mudar com a nova matriz energética. “No campo, muito do seu business depende de geradores a diesel. Estamos trabalhando para substituí-los. O principal é garantir a disponibilidade de energia sem produzir carbono”, diz Gellers. Atualmente, 8% das usinas rurais usam energia solar.
O melhor dia é hoje
Quem trabalha na área tem uma máxima: “O melhor dia para colocar energia solar é hoje e o segundo melhor é amanhã. A cada dia que o sol brilha, você pode converter energia e economizar”. O preço mínimo de entrada nesse mercado não é trivial: está em cerca de R$ 20 mil. Mas o mercado garante que o retorno sobre o investimento é mais rápido do que se espera, numa média de três a seis anos. “O consumidor pode economizar 100% da energia usada e vai ter de pagar apenas a tarifa de conexão com a sua concessionária de distribuição de energia”, diz Gellers.
(...)
Vinho digital: 51 milhões de brasileiros têm interesse no tema 
no ambiente digital | Foto: Shutterstock

O clique da bebida
As empresas Wine e Evino concentram 10% da audiência dos maiores sites de bebidas alcoólicas do Brasil. São 800 mil visitas mensalmente. Os cinco maiores sites de vinhos do Brasil recebem 1,5 milhão de visitas todos os meses. E 59% do tráfego desses sites têm origem em aparelhos móveis, sobretudo os celulares.
(.....)
50 milhões de bebedores
O mercado consumidor de vinho no Brasil praticamente dobrou de tamanho entre 2010 a 2021, segundo a consultoria Wine Intelligence, alcançando 36% dos adultos, perfil semelhante ao dos Estados Unidos. Foram mais de 50 milhões de brasileiros consumindo vinho em 2021, contra 39 milhões em 2020.

bruno@revistaoeste.com

Leia também “O Mercado Livre, o Mercado Pago e os pneus japoneses”

Bruno Meyer, colunista - Revista Oeste 

 

sexta-feira, 12 de junho de 2020

A caminho da reserva - Merval Pereira

O Globo


Militares no governo

[Teorias de Maquiavel, especialmente as que podem fundamentar ilações, começam a fazer escola.]
A autocrítica do General Mark Milley, chefe do Estado Maior Conjunto, principal autoridade militar dos Estado Unidos, por ter participado de uma caminhada com o presidente Donald Trump de cunho político, vem a calhar diante da incorporação de militares, da ativa e da reserva, no governo do presidente Bolsonaro“Minha presença naquele momento, e naquele ambiente, criou uma percepção de envolvimento dos militares na política interna”, disse o general Milley. O mesmo desconforto sentiu o General de Exército da ativa Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo, ao participar de uma manifestação política em frente ao Palácio do Planalto no domingo dia 17.

Convocado pelo presidente Bolsonaro, assim como outros ministros, o General Ramos compareceu “disfarçado”, com um boné da Harley Davidson e óculos escuros, e ficou no alto da rampa, sem participar da manifestação. Mas naquele dia o presidente resolveu chamar todos os ministros para próximo dele, e apresentou um a um à multidão, levantando seus braços. Sua presença na rampa do Planalto tinha um inescapável sentido político e foi muito criticada pelo fato de ser um General da ativa. Foi a última vez em que Ramos participou de uma manifestação, e começou a pensar [?] em ir para a reserva.

Vem conversando com o presidente Bolsonaro desde então, e diz que sua decisão pessoal já foi tomada, mas está na “fase de possibilidade de ir para a reserva”, pois ainda não se acertou com o presidente. Ele prefere continuar ajudando no Governo, mas estar na reserva. O General americano Mark Milley gravou um vídeo para ser exibido na abertura do ano letivo da Universidade Nacional de Defesa onde diz: “ Como oficial da ativa, foi um erro com o qual aprendi, e espero sinceramente que todos nós aprendamos com ele. Nós, que usamos as insígnias de nossa Nação, que viemos do povo, devemos sustentar o principio das Forças Armadas apolíticas, que tem raizes firmes na base da nossa República”.  
O governo Bolsonaro tem cerca de 3 mil militares, da ativa e da reserva, em seus quadros, oito militares como ministros efetivos e um interino, o General Eduardo Pazuello, há quase um mês à frente do ministério da Saúde. General da ativa, Pazuello só não foi efetivado porque os ministros militares que têm gabinete no Palácio do Planalto aconselharam o presidente a não fazer isso, pois os problemas da pandemia de Covid-19 cairiam no colo dos militares. Bolsonaro encontrou uma maneira indireta de fazer o que quer, transformando essa interinidade em atividade permanente. Os militares sempre defenderam a tese de que não existem ministros militares, mas ministros que têm origem militar, assim como outros são engenheiros, advogados, ou mesmo políticos.

Mas o fato é que, assim como o PT aparelhou o governo nos seus 15 anos com sindicalistas e políticos fisiológicos do centrão, Bolsonaro está aparelhando o seu com o mesmo tipo de políticos e militares. O ministério da Saúde passou a ser exemplar dessa “militarização” do governo, tendo sido nomeados nesse último mês cerca de 30 assessores militares, alguns em postos chaves do ministério, que perdeu muitos técnicos de qualidade nesse período. O General Luiz Eduardo Ramos é o encarregado dos contatos políticos do Governo e tem um bom relacionamento com eles desde que, como Comandante Militar do Leste, com sede em São Paulo, mantinha encontros periódicos com parlamentares da região. Hoje, atua diretamente em negociações politicas, inclusive com governadores.

A última “missão” de peso de que participou foi organizar a reunião de Bolsonaro com os governadores que marcou um breve interregno no conflito entre Brasília e os Estados. Na ocasião, ele comemorou o sucesso do encontro classificando-o de “histórico”. O General Ramos concorda em tese com o General americano Mark Milley, por isso está trabalhando junto ao presidente Bolsonaro para ir para a reserva sem deixar suas funções na Secretaria de Governo. Ele é amigo de Bolsonaro há décadas, diz que considera importante estar no governo neste momento, mas acredita que, indo para reserva, preserva o “meu Exército, que tanto amo e s
ervi”.



domingo, 22 de março de 2020

Três cenários para a crise - Merval Pereira

Eleições adiadas?

Diante da crise desencadeada pela pandemia da Covid-19, o economista Claudio Porto, fundador da Macroplan, consultoria especializada em análise prospectiva e estratégia, realizou na segunda semana de março sondagem junto a um grupo de 150 pessoas de todo o país, entre eles economistas, sociólogos, cientistas políticos, engenheiros, gestores sênior de empresas pesquisadores e professores de universidades.

O propósito era detectar a percepção sobre a situação da economia e da política brasileiras para este ano. O cruzamento das respostas propiciou à Macroplan a criação de três cenários. No denominado  “A reconquista da normalidade”, o melhor, mas de menor probabilidade, em face da intensidade da crise, o Governo assumiria um comportamento cooperativo como seu novo padrão de relacionamento político-institucional, uma reviravolta surpreendente, mas positiva, no que tem pronta resposta dos principais atores políticos. 

Impactos positivos diretos são produzidos nos graus de acerto, nos níveis de confiança e na melhoria e aceleração das medidas de combate às crises da saúde pública, da economia e das maiores vulnerabilidades sociais. A melhoria do cenário externo também ajuda. Na visão da Macroplan, aceleram-se a velocidade e intensidade das boas respostas sanitárias e aos estímulos econômicos com propagação global. Como resultado, os impactos da crise na economia brasileira são intensos, mas de duração moderada. O segundo semestre é de ampla recuperação. 

Aos trancos e barrancos, clique aqui ou aqui
O cenário mais provável é o que foi denominado  “Aos trancos e barrancos”, cuja probabilidade, que era de 35% no inicio da sondagem, passou ao final para 60%, à medida que a situação se agravava.   Esse cenário mostra uma continuidade do Brasil atual. A realidade finalmente se impõe, mas “à brasileira”, como define o estudo, isto é, pela metade, alternando momentos mais ou menos preocupantes. A mudança de comportamento dos principais atores do Governo Federal, o chamado “núcleo duro”, incluindo o próprio presidente Bolsonaro, é apenas temporária. [entendemos não ser conveniente unir fatores políticos a uma crise econômica produzida na quase totalidade por uma PANDEMIA - o novo coronavírus e a doença que causa prevalecem sobre todo e qualquer condição política.
A prova é que a China - autoritária - sofreu, proporcionalmente a sua população, menos efeitos danosos que a Itália - modelo de democracia - sofreu e continua sofrendo.]

No princípio mais cooperativo, a previsão da Macroplan é que haverá sucessivas recaídas de confrontação, com resposta semelhante dos políticos. A instabilidade do relacionamento continua como “o novo normal”. Os impactos imediatos são positivos - mas não se sustentam por muito tempo.  Os níveis de confiança se mantém baixos, e as medidas de combate às crises da saúde pública e da economia são insuficientes, deteriorando vulnerabilidades sociais. 

Externamente, não há novidades, especialmente no relacionamento com a China, com tensão permanente, que varia apenas nos níveis de ‘esticamento da corda’. Isso ocorreria mesmo com a melhoria do cenário global. Como resultado, os impactos da crise na economia brasileira são intensos e de duração prolongada. 2020 é mais um ano perdido. O pior cenário, que Claudio Porto considera improvável, é “A marcha da insensatez”. Uma ruptura em relação ao Brasil atual, com uma escalada desenfreada de autoritarismo populista. Os laços de coesão social, já enfraquecidos, se rompem numa espiral ascendente de polarização. As lideranças mais conservadoras e suas bases de apoio acentuam seu comportamento de confrontação e a tensão crescente – política e social – caminham para tornar-se “o novo normal” com impactos negativos no combate às crises da saúde pública e da economia.

Externamente, a novidade é uma piora progressiva no relacionamento do  Brasil com a China, a Europa e alguns países ‘inimigos’ nas Américas. Isso ocorre mesmo com a progressiva melhora do cenário global. Como consequência, teríamos a saída dos ‘liberais de raiz’ da equipe econômica, fazendo com que os impactos da crise brasileira tornem-se intensos e de duração prolongada, com uma ruptura progressiva nas instituições políticas. As eleições municipais de 2020 poderiam ser adiadas a pretexto de defesa da saúde pública, enquanto uma minoria ativa da população segue nas ruas pedindo “intervenção militar já”. [Intervenção Militar com fulcro no artigo 142 da Constituição Federal e na forma da LC 97, de 1999.] 

Merval Pereira,  jornalista - O Globo