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quinta-feira, 11 de agosto de 2022

É difícil errar mais do que as previsões sobre inflação - O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo

País registra ‘deflação’ e não aumento de preços ‘fora de controle’, ao contrário do que os especialistas diziam

Os professores de economia da universidade, os jornalistas econômicos e os analistas dos grandes bancos, mais o aglomerado de fornecedores de opinião que normalmente são escolhidos para dar entrevistas sobre o assunto, passaram o ano inteiro garantindo que a inflação estava “fora de controle” no Brasil. 
Caso perdido, diziam todos. Em 2022 o Brasil iria ter inflação de “dois dígitos”, pelo menos, ou só Deus sabe lá quanto; estava tudo em ruínas, por causa de erros imensos na gestão da economia nacional e outras desgraças. 
O tempo passa, o mundo gira e quando chega o mês de julho constata-se, no universo das realidades, que está acontecendo exatamente o contrário do que os “especialistas”, os seminários e as mesas redondas anunciavama inflação, no mês, recuou 0,7%. Quer dizer: houve deflação, e não inflação “fora do controle”. É difícil errar mais do que isso.
 
Fora de controle, realmente, estão os economistas que são tratados como “formadores de opinião” e vivem por aí falando na mídia que o fim do mundo chegou, e a culpa é do governo. Não fazem, na verdade, nenhum tipo de análise que valha alguma coisa; apenas praticam macumba ideológica em suas previsões de desgraça. 
O resultado é a apresentação ao público de um mundo que não existe. 
O Brasil deve fechar o ano de 2022, de ponta a ponta, com a inflação pouco acima dos 7% anuais. 
 
Não é a calamidade que foi prometida – é, ao contrário, um dos melhores índices mundiais no controle à doença inflacionária, especialmente quando se leva em conta as pressões extraordinárias de dois anos de covid e da guerra entre Rússia e Ucrânia
O fato é que o Brasil terá em 2.022 uma inflação menor que os Estados Unidos: lá, serão pelo menos 8,5%, podendo ser mais. [atualizando: a inflação dos últimos doze meses nos Estados Unidos, atingiu 8,5%. Portanto, o "serão pelo menos",  inserido pelo competente Guzzo pode ser substituído por " é DE" = FATO.] A mesma coisa vai acontecer na Alemanha e outros santuários das “boas políticas” econômicas. Alguém, alguma vez, já ouviu falar uma coisa dessas – que a inflação no Brasil é menor que a inflação nos Estados Unidos ou na Alemanha?

Cancelam-se os fatos – ou se aprofundam os esforços, cada vez mais cômicos, para embaçar os números que os comunicadores e seu entorno consideram antidemocráticos.

Cancelam-se os fatos – ou se aprofundam os esforços, cada vez mais cômicos, para embaçar os números que os comunicadores e seu entorno consideram antidemocráticosFoto: Tiago Queiroz/Estadão

O anúncio da calamidade inexistente era feito nas manchetes e no horário nobre
O fato real da inflação em recuo é sepultado nos confins mais distantes do noticiário. 
É a história de sempre: os “especialistas” acham que o mundo se comporta conforme eles desejam, e não como as coisas são na realidade objetiva. Pior, então, para a realidade objetiva.  
Cancelam-se os fatosou se aprofundam os esforços, cada vez mais cômicos, para embaçar os números que os comunicadores e seu entorno consideram antidemocráticos. 
É por isso que anunciam: “A inflação caiu, mas ainda está alta, ou “caiu, mas pode subir de novo”, ou “caiu, mas foi por sorte, e por aí afora, com esse “mas” eterno. [a INFLAÇÃO DO "MAS", mais uma criação exclusiva do Brasil, que se junta às 'jabuticabas', à 'prisão perpétua à brasileira', às justiças eleitoral e do trabalho, obras que só existe no Brasil.]  Não adianta nada, mas todos acham, ao fazer essas piruetas, que estão cumprindo os seus deveres com a resistência” à extrema-direita. Vamos continuar assim, é claro.

J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo



Gráfico transcrito do Poder 360, pelo Blog Prontidão Total.






terça-feira, 23 de março de 2021

Quem estica a corda? - Merval Pereira

O Globo

Ameaças de Bolsonaro

Do jeito que a coisa vai, o Exército brasileiro será colocado à prova muito em breve, quando o presidente da República resolver decretar o estado de sítio, ou estado de defesa, ou qualquer medida emergencial para calar os que o criticam e controlar as instituições.

 
O ex-comandante do Exército e general Eduardo Villas Bôas revelou em entrevistas que a instituição foi sondada por emissários petistas para apoiar a decretação de estado de defesa durante a tramitação no Congresso do processo de impeachment que acabou tirando Dilma Rousseff da Presidência da República. O general disse que assessores militares no Congresso foram procurados, mas o Exército rechaçou a sondagem.

[o esticamento da corda tem vários atores, mas o mais acintoso é o que vez ou outra o Supremo promove = em decisões monocráticas, que representam,  pelo menos naquele momento,  a vontade do STF.
Ano passado, foi determinado pelo então decano do STF a condução de oficiais-generais, se necessário debaixo de vara - e se eles decidem 0or não comparecer, dado o caráter ofensivo da condução.
O mesmo ministro determinou que o presidente da Repú7blica comparecesse à Policia Federal para prestar depoimento.
Se o assunto tem curso, porém, no dia da audiência o presidente decide não comparecer.
E o então ministro emite ordem para que a Polícia Federal prenda o presidente onde se encontre - uma versão tipo flagrante perenemente possível na prática do crime de desobediência.
Viaturas da Polícia Federal tentariam entrar no Palácio da Alvorada - residência do presidente da República e sob a guarda do Exército Brasileiro. 
Por óbvio não conseguiriam efetuar a prisão por : 'obstrução de Justiça?' . Cometida pelo EB sob o comando do seu Comandante?
Tem vários outros exemplos, com destaque para o Poder Judiciário.
Situações que sempre ao alvo da medida contestável a perguntar: "se eu resolver não obedecer?"]


A ex-presidente negou ter acontecido tal episódio e desafiou Villas Bôas a revelar quem foi o emissário petista, mas não obteve resposta. De qualquer maneira, no relato do general, um ícone do Exército, autor de um famoso tuíte, às vésperas do julgamento de um habeas corpus para Lula no Supremo Tribunal Federal (STF), interpretado como pressão sobre os ministros para que não soltassem o ex-presidente, o Exército brasileiro rejeitou uma tentativa de golpe, o que seria uma atitude em defesa da democracia e do estado de direito.

O que se coloca hoje é qual seria a atitude do Exército, do qual Bolsonaro é oriundo e de cujo governo diversos militares, inclusive da ativa, fazem parte, se o presidente tentasse recorrer a uma regra constitucional excepcional para impedir que seus adversários políticos se pronunciem ou que manifestações a favor do impeachment prosperassem?

O presidente Bolsonaro usa o que chama de “meu Exército” [O Exército Brasileiro,
o Exército de Caxias,  o nosso Exército, o meu Exército,  o Exército de todos os brasileiros - o que inclui o colunista - é também o Exército do Presidente da República, tão 'dono' da Força Terrestre, quanto os demais 'donos', sendo também o seu comandante supremo]   que é também o seu comandante  para respaldar suas sandices, como fez domingo, em frente ao Palácio da Alvorada, saudado por centenas de apoiadores. Voltou a chamar os governadores e prefeitos que estão decretando medidas de restrição social, e em alguns casos lockdown, de “tiranetes ou tiranos” que, segundo ele, “tolhem a liberdade de muitos de vocês”.

Anteriormente, ele já dissera que estava chegando o momento “de tomar medidas duras” e comparou o fechamento de comércio e outros estabelecimentos a uma medida de exceção como o estado de sítio. Mais uma vez, fazendo prognósticos sombrios sobre fome dos cidadãos, perguntou: “Será que o governo federal vai ter que tomar uma decisão antes que isso aconteça? Será que a população está preparada para uma ação do governo federal dura no tocante a isso?”.

No domingo, retomou o tema, afirmando que poderiam contar “com as Forças Armadas pela democracia e pela liberdade”. O presidente voltou a advertir que “estão esticando a corda” e que faria qualquer coisa “pelo meu povo”. Esse discurso delirante leva novamente à discussão sobre a tendência de Bolsonaro usar o Exército como arma de ataque aos que considera seus inimigos, agora sendo a vez de governadores e prefeitos. Tendo entrado no Supremo contra medidas de isolamento social adotadas no Distrito Federal e nos estados da Bahia e do Rio Grande do Sul, o presidente Bolsonaro faz uma pegadinha com os ministros.

Ele sabe que a tendência é negarem seu pedido, ou simplesmente nem o examinarem, pois o Supremo já decidiu sobre o assunto, dando poderes aos estados e municípios para tomar as medidas necessárias, sem retirar do Executivo qualquer iniciativa que deva ser adotada. [resultando implícito que qualquer decisão do Executivo,  que contrarie medida considerada necessária por prefeitos e/ou governadores, é abatida no nascedouro.  
O fato  - que agora,  inutilmente,  procuram apagar - é que os  ministros do Supremo em abril passado, decretaram que o protagonismo das ações de combate ao coronavírus seria dos governadores e prefeitos = qualquer medida do presidente contrariando o decidido não teria validade.  
Nasceu aberrações como uma rua de BH de um lado ficou fechada e no do outro - pertencente a um município da área metropolitana da capital mineira - podia abrir tudo. O belo-horizontino interessado em se aglomerar, atravessava a rua, aglomerava, voltada a BH com alguns vírus de carona e nada era feito. Ficasse a coordenação central, o comando central com o Poder Executivo da União este poderia decidir o melhor para a região/situação.Ainda que o decidido contrariasse a vontade de um dos prefeitos.
Em São Paulo ocorreu de em um shopping ser permitido as lojas de um lado do corredor abrirem e no outro lado era proibido abrir. No Distrito Federal e no Entorno tais situações de tornaram rotineiras. Tanto que Ibaneis Rocha, governador do DF, impôs o uso de máscara (por sinal, necessário) no DF e viajara para cidade vizinha para se aglomerar sem máscara.
A situação do Supremo é que qualquer que seja a decisão que profira, estará confirmando de forma  direta ou tácita da decisão tomada em abril passado. Vejamos:
- Se nega a examinar o processo = a negativa expressa tacitamente a concordância com a situação atual - prefeitos e governadores no assunto tem prioridade sobre o presidente da República; 
- Rejeita a petição do presidente =  expressando que ratificam a situação vigente, estabelecida pelo STF em março passado.
- Aceitam o requerido pelo presidente.]

Quer simplesmente Bolsonaro reafirmar sua tese de que o STF e os governadores não o deixam governar, uma tese mentirosa e perigosa, pois pode embasar a tentativa de golpe que ameaça sempre.   fato é que Bolsonaro, com o desastre que patrocina no combate à Covid-19, está perdendo apoio, o que demonstra a carta dos economistas divulgada na coluna de domingo, que desmascara a tese de que é a esquerda que está contra seu governo. E também apoio político, pois até mesmo o Centrão já está temeroso de continuar uma aliança acriticamente, só pensando nas benesses imediatas, sem medir as consequências de longo prazo de estar abraçado a um presidente que pode naufragar nessa travessia.

Merval Pereira, jornalista - O Globo 

 

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Vírus tendem a ser inflexíveis - Folha de S. Paulo

Hélio Schwartsman

Quarentena meia-boca não basta para reduzir substancialmente a circulação do Sars-CoV-2

Não é que os planos de reabertura econômica dos governadores sejam irracionais. Eles se baseiam nos parâmetros cientificamente relevantes, como a evolução do contágio e a ocupação dos leitos hospitalares, e, mais importante, preveem a possibilidade de volta do isolamento social, caso os números piorem. Receio, porém, que eles tenham deixado de levar em conta aspectos menos racionais do comportamento humano.

Num mundo ideal, em nome da previsibilidade, as discussões sobre como sair da quarentena precederiam a própria quarentena. 
Só que não vivemos num mundo ideal, mas sim em um no qual a simples menção a uma abertura futura faz com que muitas pessoas passem a comportar-se como se já tivéssemos voltado à normalidade, sabotando os esforços de distanciamento social.

 Dada essa idiossincrasia humana, que é bem conhecida de psicólogos, psiquiatras e economistas comportamentais, não sei se foi muito inteligente falar em retomada num momento em que, em grande parte dos estados, ainda é forte a circulação comunitária do vírus. O risco é vermos as curvas voltarem a subir antes mesmo de as termos estabilizado.
[Concordamos que não vivemos em um mundo ideal. Não em um mundo administrado, por suprema decisão, pelos 'competentes' governadores e prefeitos do Brasil. 

Entraram na quarentena e agora não sabem como sair - planejamento para sair? para que este gasto de energia criativa? (a pouca que dispõem é para ser usada na tentativa de derrubar um presidente eleito com quase 60.000.000 de votos.

Tomando como exemplo a maior cidade do Brasil, o digno prefeito não atentou para a impossibilidade de liberar a capital, cercada por municípios com bloqueio em vigor.
E centrou suas ações em três pontos:
- criar engarrafamentos para forçar as pessoas a deixarem os carros e se amontoarem no transporte público.]
- reativar o rodízio de forma a manter todo dia um engarrafamento; e,
- adquirir mais de 30.000 urnas funerárias.
As duas primeiras abandonou e a terceira, devido a incompetência notória, infelizmente, continua sendo utilizada.
E o governador, anda em círculos, esperando o achatamento de uma curva que, infelizmente, tende a ser por alguns dias, um platô.]

Nesse quesito, o Brasil não está se saindo muito bem. Acho que nosso relativo fracasso tem algo a ver com o tão celebrado jeitinho brasileiro, definido como flexibilidade criativa em relação a regras. Um bom exemplo é o do empresário que, para poder abrir suas lojas de eletrodomésticos, passou a vender também arroz e feijão. Não digo que o jeitinho seja sempre ruim. Há muitas situações em que jorros de flexibilidade são desejáveis. Mas a contenção de uma epidemia não é uma delas. Vírus tendem a ser inflexíveis. O resultado disso são quarentenas meia-boca, que não bastam para reduzir substancialmente a circulação do Sars-CoV-2 e, justamente por isso, vão prolongando os dolorosos efeitos da inatividade econômica. É uma espécie de pior dos mundos pandêmico.

Hélio Schwartsman, jornalista - Folha de S. Paulo



domingo, 22 de março de 2020

Três cenários para a crise - Merval Pereira

Eleições adiadas?

Diante da crise desencadeada pela pandemia da Covid-19, o economista Claudio Porto, fundador da Macroplan, consultoria especializada em análise prospectiva e estratégia, realizou na segunda semana de março sondagem junto a um grupo de 150 pessoas de todo o país, entre eles economistas, sociólogos, cientistas políticos, engenheiros, gestores sênior de empresas pesquisadores e professores de universidades.

O propósito era detectar a percepção sobre a situação da economia e da política brasileiras para este ano. O cruzamento das respostas propiciou à Macroplan a criação de três cenários. No denominado  “A reconquista da normalidade”, o melhor, mas de menor probabilidade, em face da intensidade da crise, o Governo assumiria um comportamento cooperativo como seu novo padrão de relacionamento político-institucional, uma reviravolta surpreendente, mas positiva, no que tem pronta resposta dos principais atores políticos. 

Impactos positivos diretos são produzidos nos graus de acerto, nos níveis de confiança e na melhoria e aceleração das medidas de combate às crises da saúde pública, da economia e das maiores vulnerabilidades sociais. A melhoria do cenário externo também ajuda. Na visão da Macroplan, aceleram-se a velocidade e intensidade das boas respostas sanitárias e aos estímulos econômicos com propagação global. Como resultado, os impactos da crise na economia brasileira são intensos, mas de duração moderada. O segundo semestre é de ampla recuperação. 

Aos trancos e barrancos, clique aqui ou aqui
O cenário mais provável é o que foi denominado  “Aos trancos e barrancos”, cuja probabilidade, que era de 35% no inicio da sondagem, passou ao final para 60%, à medida que a situação se agravava.   Esse cenário mostra uma continuidade do Brasil atual. A realidade finalmente se impõe, mas “à brasileira”, como define o estudo, isto é, pela metade, alternando momentos mais ou menos preocupantes. A mudança de comportamento dos principais atores do Governo Federal, o chamado “núcleo duro”, incluindo o próprio presidente Bolsonaro, é apenas temporária. [entendemos não ser conveniente unir fatores políticos a uma crise econômica produzida na quase totalidade por uma PANDEMIA - o novo coronavírus e a doença que causa prevalecem sobre todo e qualquer condição política.
A prova é que a China - autoritária - sofreu, proporcionalmente a sua população, menos efeitos danosos que a Itália - modelo de democracia - sofreu e continua sofrendo.]

No princípio mais cooperativo, a previsão da Macroplan é que haverá sucessivas recaídas de confrontação, com resposta semelhante dos políticos. A instabilidade do relacionamento continua como “o novo normal”. Os impactos imediatos são positivos - mas não se sustentam por muito tempo.  Os níveis de confiança se mantém baixos, e as medidas de combate às crises da saúde pública e da economia são insuficientes, deteriorando vulnerabilidades sociais. 

Externamente, não há novidades, especialmente no relacionamento com a China, com tensão permanente, que varia apenas nos níveis de ‘esticamento da corda’. Isso ocorreria mesmo com a melhoria do cenário global. Como resultado, os impactos da crise na economia brasileira são intensos e de duração prolongada. 2020 é mais um ano perdido. O pior cenário, que Claudio Porto considera improvável, é “A marcha da insensatez”. Uma ruptura em relação ao Brasil atual, com uma escalada desenfreada de autoritarismo populista. Os laços de coesão social, já enfraquecidos, se rompem numa espiral ascendente de polarização. As lideranças mais conservadoras e suas bases de apoio acentuam seu comportamento de confrontação e a tensão crescente – política e social – caminham para tornar-se “o novo normal” com impactos negativos no combate às crises da saúde pública e da economia.

Externamente, a novidade é uma piora progressiva no relacionamento do  Brasil com a China, a Europa e alguns países ‘inimigos’ nas Américas. Isso ocorre mesmo com a progressiva melhora do cenário global. Como consequência, teríamos a saída dos ‘liberais de raiz’ da equipe econômica, fazendo com que os impactos da crise brasileira tornem-se intensos e de duração prolongada, com uma ruptura progressiva nas instituições políticas. As eleições municipais de 2020 poderiam ser adiadas a pretexto de defesa da saúde pública, enquanto uma minoria ativa da população segue nas ruas pedindo “intervenção militar já”. [Intervenção Militar com fulcro no artigo 142 da Constituição Federal e na forma da LC 97, de 1999.] 

Merval Pereira,  jornalista - O Globo


quarta-feira, 18 de março de 2020

Governo estuda como criar uma rede de proteção aos informais - Míriam Leitão

Não haverá mudança no teto de gastos para socorrer a economia. Isso não é necessário, por ora, me disse um integrante da equipe econômica. O déficit vai aumentar, pelo menos em R$ 60 bilhões. Esse é o número com o qual o governo trabalha, mas ele pode crescer. O decreto de calamidade vai aumentar os gastos com saúde e em socorro à economia. Uma vertente será para socorrer o pobre que está fora do cadastro do Bolsa Família. 
Um exemplo: o vendedor ambulante que ia para o Centro do Rio e agora não pode mais. Ele está fora do programa, gerava a sua própria renda, e agora a sua renda vai sumir. O que vai acontecer com ele? 
A diarista, também? O governo ainda não sabe, mas estuda como fazer uma rede de proteção aos informais.

Há empresas que vão ter um colapso na sua receita. A começar pelo setor aéreo, que já tem um pacote quase pronto. Há muita demanda por aumento de gastos públicos, e o governo tenta separar o que é o problema da crise de agora, e o que já era problema anterior. É preciso proteger a vida humana, mas também a economia. O governo terá que ter recursos para as duas coisas.

O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga me disse na segunda-feira que era hora de acionar os mecanismos que já estão nas leis, como o A Lei de Responsabilidade Fiscal e o Teto de Gastos, porque todas elas têm recomendações para o que fazer em momentos de calamidade. Então é isso que o governo está fazendo agora. Até os economistas preocupados com as contas públicas sabem que esse é um momento diferente, por conta do coronavírus.

O governo quer ter bom diálogo com o Congresso para conseguir avançar com esses projetos em tempos de emergência. A área técnica quer construir pontes, embora o presidente Jair Bolsonaro a todo momento agrave a crise política. [Não é possível se aceitar que o Congresso para complicar o êxito do governo Bolsonaro, prejudique milhões de brasileiros, rejeitando ou retardando a aprovação da legislação necessária para transformar a ameaça de um CAOS CAÓTICO em um CAOS temporário - não foi o presidente Bolsonaro quem criou o coronavírus.]


Míriam Leitão, jornalista - O Globo




domingo, 22 de janeiro de 2017

Os 8 homens mais ricos do mundo…têm tanto dinheiro quanto 3,6 bilhões de pessoas

O capitalismo ainda é o melhor sistema econômico, mas produz distorções como essa. Concentração de renda preocupa líderes globais, suscita debates no Fórum Econômico de Davos e pode levar o planeta a uma nova era de extremismos

Preste atenção nos números que aparecem em destaque nesta reportagem. Eles incomodam, ofendem, provocam indignação. Por mais que a lista dos oito homens mais ricos do mundo seja formada por bilionários reconhecidamente decentes (todos os anos, Bill Gates doa centenas de milhões de dólares para combater a miséria e mais de uma vez Warren Buffett reclamou por pagar poucos impostos), é uma aberração, sob qualquer ponto de vista, que alguns iluminados detenham tantos recursos quanto 3,6 bilhões de pessoas, o equivalente à metade da população global. Você pode afirmar que a riqueza gera empregos, traz investimentos, alimenta a economia. Isso é verdade, mas esses argumentos não esgotam todos os lados do problema. O impressionante aumento da concentração de renda – há um ano, eram os 62 mais ricos que possuíam tanto dinheiro quanto 50% dos habitantes do planeta – é uma perversidade que, cada vez mais, joga milhões de pessoas para as sombras da sociedade.

O capitalismo chegou agora a uma encruzilhada. Se não mudar para distribuir melhor a sua riqueza e aprimorar a sua eficiência, ele próprio estará morto em alguns anos. A questão é tão grave que, pela primeira vez na história, a desigualdade social foi um dos focos do Fórum Econômico Mundial de Davos, que reúne a elite financeira global e é conhecido por um certo reacionarismo. “Não sei por que as pessoas não escutaram a mensagem de que a desigualdade é nociva e porque os economistas achavam que isso não era problema deles”, disse, no evento, a francesa Christine Lagarde, diretora do Fundo Monetário Internacional. “É necessário estudar a desigualdade e promover políticas em resposta a ela.” Coordenador da Base de Dados Mundial de Riqueza e Renda (WID.world), o cientista social Lucas Chanel traz outro raciocínio. “As discussões em Davos mostram que agora há o reconhecimento de que o sistema econômico vigente está produzindo níveis extremamente altos de desigualdade”, disse ele a ISTOÉ. “Mas não por benevolência, e sim porque finalmente perceberam que esse processo é uma ameaça à própria economia”.

Não é de hoje que pesquisadores alertam sobre como a desigualdade econômica pode levar ao colapso social e ser prejudicial para a economia. O economista britânico Tony Atkinson, que morreu no início do mês, passou a vida tentando demonstrar como o problema poderia se solucionado e até criou um índice que leva o seu nome para comprovar melhor o fenômeno. Mais recentemente, o francês Thomas Piketty ganhou fama com o livro “O Capital no Século XXI”, no qual descreve o estudo que fez ao longo de 15 anos sobre o tema . Entre outras conclusões, Piketty comprova que, no longo prazo, o capitalismo tende a criar um círculo vicioso de desigualdade. “De fato, dentro dos países ricos ela vem aumentando muito”, diz o diretor do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, Marcelo Neri. “Os Estados Unidos, por exemplo, viram sua produtividade crescer nos últimos 30 anos, mas a renda do americano médio ficou estagnada”.

MAIS EXTREMISMO
O desequilíbrio resulta em níveis de revolta que podem levar à ascensão de líderes como Donald Trump. Perspicaz, Trump identificou a indignação dos que se veriam excluídos do processo de globalização e direcionou sua campanha para essa turma. Na Europa, o que se observa é o avanço de extremistas. “A desigualdade quebra o tecido social”, resume Graciela Chichilnisky, economista da Universidade de Columbia. “Ela produz instabilidade, dissolução de blocos econômicos e reacionarismo, além de fortalecer partidos políticos de extrema direita e espalhar uma onda populista no mundo”, diz Gayle Allard, professora de Economia na IE Business School, de Madrid. O que já está ruim pode piorar. Na França, que está a apenas três meses da eleição presidencial, há o risco real de Marine Le Pen, representante da direita nacionalista, ocupar o Palácio do Eliseu. Segundo pesquisas recentes, Le Pen lidera as intenções de voto. “Esse é um dos reflexos negativos da desigualdade nas democracias modernas que proclamam, pelo menos até certo ponto, que a justiça social é um objetivo-chave”, diz Chancel, da Escola de Economia de Paris. “Quando os níveis de desigualdade se tornam muito altos, as democracias se fragilizam porque não conseguem cumprir esse objetivo central e o populismo surge como resposta à sensação de abandono das pessoas”.


A Europa tem no futuro próximo um desafio hercúleo. Até agora, o continente não encontrou uma solução capaz de resolver a crise dos imigrantes. A chegada de milhões de refugiados, que escaparam da guerra ou da miséria principalmente no Oriente Médio, tende a aumentar a já ascendente desigualdade – e, com ela, surgirá mais revolta e indignação responsáveis pelo fortalecimento de líderes extremistas. Nesse contexto, a desglobalização e o protecionismo ganham força a partir da ideia de que, se reerguermos os muros e fecharmos as fronteiras, estaremos protegidos de ameaças externas e fora do alcance das mazelas sociais. “A política de divisão e desespero está se alastrando pela Europa”, disse a primeira -ministra do Reino Unido, Theresa May, no primeiro dia do Fórum de Davos. “Quando as pessoas perdem seus empregos ou seus salários ficam estagnados, os seus sonhos parecem longe de serem atingidos e elas culpam a globalização como algo a serviço do privilégio de poucos”.

Como frear o terrível ciclo? O baixo crescimento econômico mundial só tende a piorar o problema. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, já são 201,1 milhões de desempregados no mundo – ou um Brasil inteiro. O avanço tecnológico, que rouba postos de trabalho principalmente de profissionais de baixa qualificação, é outro entrave que impõe enormes desafios ao capitalismo. Claro, ninguém está defendendo aqui o fim dos processos de inovação, mas o mundo precisa discutir como incluir pessoas que têm sua renda ameaçada pela ciência, um competidor impossível de ser batido.


FOME Enquanto mais da metade da riqueza mundial de US$ 255 trilhões fica nas mãos de apenas 1% mais rico da população, imigrantes se amontoam em campos de refugiados (como este, no Iraque) em condições desumanas: o preço da concentração de renda

A desigualdade de renda está em alta em quase todos os países e isso é uma ameaça ao futuro do capitalismo


(...) 

 

NÚMEROS DO DESEQUILÍBRIO

1%
dos mais ricos do mundo detém a mesma riqueza que todo o resto do planeta

1.810
bilionários existem no mundo (89% são homens)

182
vezes maior foi o aumento na renda do 1% mais rico em relação aos 10% mais pobres entre 1988 e 2011

1
em cada 10 pessoas no mundo sobrevive com menos de US$ 2 por dia

 Ler íntegra na IstoÉ

sábado, 23 de maio de 2015

Dilma e a classe média na penúria - acabou a festa da classe C

A classe média na penúria

Produtos e serviços com elevação de preços maior que a inflação oficial destroem o poder de compra e obrigam milhões de brasileiros a mudar os hábitos de consumo

Enquanto a crise econômica não chega ao bolso das pessoas, elas tendem a achar que os problemas anunciados pelos especialistas não passam de miragem. O PIB empacou? Os investimentos caíram? O governo trabalha sem superávit? Se isso não afeta a vida ou trabalho de alguém, provavelmente não vai significar coisa alguma. Mas as questões financeiras dos brasileiros passam por um momento singular. A inflação, aquela velha senhora que parecia domada pelo Plano Real, está de volta. Junto dela, ressurgem lembranças ruins e os temores que pareciam confinados a um passado distante. Para quase todo mundo, não há nada mais chocante e verdadeiro no campo econômico do que a descoberta de que os preços estão em forte disparada. Isso não só escancara a crise – sim, ela está aí e desta vez veio com força – como causa impactos financeiros imediatos. 

DE SAÍDA
Paolina Pin, 21, trancou a faculdade para estudar nos EUA. “Mesmo com o dólar
a R$ 3, sai mais em conta viver lá do que morar sozinha em São Paulo”, diz.
Paolina mora com a mãe, a empresária Catia, 43, e o irmão, Levi, 2.
Para economizar, Catia tem cortado o cabelo do filho em casa

Para a classe média, essa realidade é ainda mais cruel. A conta para esse grupo de brasileiros está pesada. Entre janeiro e abril, as mensalidades escolares subiram, em média, 10%. No supermercado, alguns alimentos ficaram, neste ano, 40% mais caros. O preço da gasolina acelerou 9%. Nos cursos de idiomas, a alta superou 11%. Tudo isso para uma inflação oficial de 4,56% nos quatro primeiros meses de 2015. Está caro demais viver no Brasil – e, se o governo não agir com tenacidade, vai ficar ainda mais.

O estouro inflacionário deixou a classe média no sufoco e vem provocando mudanças nos hábitos de consumo. A publicitária e blogueira Loreta Berezutchi, 32 anos, está acostumada a fazer contas para encaixar as necessidades e caprichos dos filhos Pedro, 7, e Catarina, 5, no orçamento que divide com o marido, o engenheiro civil Flávio, 37. No começo do ano, quando viu que as mensalidades da escola subiriam cerca de 15%, Loreta passou um pente fino na imensa lista de materiais pedidos e reciclou lápis, pastas e cadernos. Ao perceber que o avanço dos preços era generalizado, sobretudo o do leite, que praticamente passou a custar o dobro, a blogueira tomou medidas ainda mais radicais. Cortou os R$ 300 que ela e o marido gastavam na academia e dividiu um professor com outros moradores do prédio onde mora, ao custo de R$ 70 por pessoa. Na mesma época, o plano de celular e internet, que antes custava R$ 99, aumentou para R$ 135. “Não dava para manter como estava”, diz Loreta. “Então reduzi meu tempo de ligação e dados de internet. Continuei pagando o mesmo valor, mas por um serviço pior.”

A família de São Paulo mostra como a inflação, aliada à desaceleração da economia, tem reduzido o poder de compra da classe média nos últimos meses. Agora, esses brasileiros não só deixam de sair de casa para jantar, como prestam mais atenção às ofertas e batalham descontos, dão menos importância às marcas, frequentam menos os salões de beleza e evitam os passeios em shopping centers. Alguns chegaram a adiar a troca do carro e, a despeito dos protestos dos filhos, cancelaram a viagem das férias de julho. O cenário pessimista é compartilhado por empresários e economistas. Na semana passada, o mercado elevou suas projeções pela quinta vez consecutiva e a expectativa é que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, a medida oficial da inflação no Brasil) encerre o ano em 8,31%. Se o número provar-se verdadeiro, essa será a maior variação em 12 anos.
 
Embora os preços nos supermercados e restaurantes assustem, o que mais pesa para a classe média são as despesas com habitação. Nesse grupo social, as casas costumam ter mais equipamentos eletrônicos e lâmpadas. Por isso, gastam mais energia. Não por acaso, o recente reajuste nas tarifas elétricas atingiu em cheio a população. De janeiro a abril, segundo o IPCA, a conta de luz subiu 38%. Considerando só a classe média, esse item aumentou 19% apenas em abril e 47% neste ano, de acordo com o Índice do Custo de Vida da Classe Média (ICVM), elaborado pela Ordem dos Economistas do Brasil. O ICVM mede a variação dos preços de 468 itens na Grande São Paulo, mas, segundo seu coordenador, o economista José Tiacci Kirsten, tem alcance mais amplo, já que o comportamento não difere muito no interior do Estado.

Na hora de pagar as contas, o aumento sentido parece muito maior que as estatísticas oficiais. Parte dessa sensação pode ser explicada pela economia comportamental. O psicólogo israelense Daniel Kahneman, vencedor do prêmio Nobel de Economia em 2002, afirma que as pessoas tendem a dar mais importância aos eventos negativos que positivos. No livro “Rápido e Devagar – Duas Formas de Pensar”, Kahneman cita um experimento para comprovar sua tese. Segundo ele, uma única barata tira todo o apelo de um pote cheio de cerejas, mas uma única cereja é incapaz de tornar um pote de baratas mais atraente.

É fácil de entender como o raciocínio se aplica à economia. Basta colocar lado a lado três produtos com o mesmo peso: A, B e C. Se o valor de A subir 10%, o de B permanecer estável e o de C cair 10%, a inflação no período será zero. Contudo, para quem consome mais o produto A – item, portanto, que terá mais peso na cesta –, a sensação de que a inflação subiu é muito maior. “Na prática, famílias com crianças em idade escolar percebem uma inflação mais alta quando ocorrem aumentos nas mensalidades escolares e famílias com idosos a percebem com os aumentos dos remédios e planos de saúde”, diz André Braz, analista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas. “Já famílias de baixa renda, aquelas que recebem até 2,5 salários mínimos mensais, notam mais a inflação quando os preços dos alimentos e das passagens de ônibus urbano ficam mais caras.” Assim, para chegar a uma média nacional, o IPCA é medido em 13 regiões metropolitanas e abrange famílias com rendimentos de 1 a 40 salários mínimos.

Alguns economistas argumentam que um pouco de inflação não faz mal. Em países estáveis e com economia relativamente desenvolvida, uma taxa ao redor de 2% e 3% é até saudável para o crescimento do PIB. Isso porque estimula os investimentos, o aumento dos salários e o consumo – se um produto ficasse mais barato dia após dia, não haveria razão para comprá-lo agora, nem investir na compra de um equipamento, no caso de uma empresa. Mas a questão brasileira é bem diferente. Quando o índice ultrapassa o limite saudável, os efeitos são perversos. Segundo o próprio Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, essas distorções podem ser observadas “no encurtamento dos horizontes de planejamento das famílias, empresas e governos, bem como na deterioração da confiança de empresários.” Em resumo, corrói o poder de compra, o consumo e o potencial de crescimento da economia, o que afeta também a geração de empregos e a renda. É nesse pesadelo que o País está mergulhado.

Quando fizeram as contas de quanto gastariam numa noite de diversão no Rio de Janeiro, a produtora de eventos Raphaela Rodrigues, 32 anos, e o publicitário André Olive, 45, desistiram de sair na última hora. O valor do ingresso do show (R$ 80 para cada) mais o táxi (R$ 75) e os gastos com bebida seriam um exagero que não podem mais cometer. Optaram por fazer um jantar em casa. “Tinha preguiça de cozinhar, mas agora não tem outro jeito”, diz Raphaela.



(Com reportagem de Ludmilla Amaral e Luisa Purchio)
Fotos: Airam Abel/Ag. Istoé, Thiago Bernardes/Frame; Frederic Jean/Ag. Istoé