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segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Os ‘liberais’ de Lula - Revista Oeste

Pedro Henrique Alves

O esquizofrênico caso dos defensores da diminuição do Estado que votam em um tradicional estatista para subjugar o presidente que mais diminuiu a máquina pública nas últimas décadas 

Um dos pontos bons de ser um editor é poder participar de certos círculos intelectuais e jantares com pessoas importantes que naturalmente estariam fechados a mim se não fossem minha função e meus deveres de livreiro. Nesses jantares, regados a vinhos caros que vêm de algum superlugar de alguma supersafra, pautados por costumes degustativos que minha origem de classe média definitivamente não me preparou para abarcar, os debates políticos correm à solta na mesma velocidade com que os garçons passam para atender os engravatados. Depois da segunda taça, até mesmo o mais ermitão dos empresários tem opiniões políticas urgentes a serem expressas, acredite.  
A principal tribuna de um bom liberal quieto é uma garrafa de vinho. 
Em alguns desses jantares, parecia existir uma dúvida realmente recorrente entre alguns empreendedores sobre se Bolsonaro seria de fato o melhor candidato para um liberal votar no segundo turno.
 Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

Dividindo espaço na mesa com salmões e saladas tão caros que eu sinceramente me perguntava de que terra sagrada vinham aqueles alfaces e repolhos, os argumentos e as críticas ao governo vocalizados por aqueles senhores realmente me assustavam, não pelas críticas em si, mas porque geralmente giravam em torno dos subsídios de Bolsonaro aos caminhoneiros e suas caneladas morais e políticas no percurso de seu governo. Não sei se em decorrência da já terceira ou quarta taça de vinho, a amnésia política daqueles autodenominados liberais era evidente e agravante, ao ponto de esquecerem-se que Lula deu subsídios até para a Nicarágua e Cuba via BNDES sem nenhuma expectativa de retorno desse dinheiro, que a política monetária do governo petista partia, literalmente, dos cofres da União, e não de qualquer estratégia para o mercado, que favores a empreiteiras, conluios com bancos e caixas suspeitos foram a ortodoxia em seus anos áureos.

Até mesmo na Faria Lima, ao que tudo indica, o STF conseguiu extirpar das mentes populares as corrupções do ex-presidente petista, pois, ali, naquela mesa, falávamos de Lula tal como se estivéssemos falando de qualquer outro político sem nenhum histórico podre de corrupção, como se o petista fosse amigo dos empresários e do livre mercado. Ou, pior, como se já não o tivéssemos testado no poder e não soubéssemos no que deu.

É quase grotesco existirem dúvidas reais sobre se Bolsonaro seria ou não uma melhor opção que Lula, segundo os valores e os princípios liberais

Talvez por ser o único plenamente lúcido naquela mesa tomei Coca zero, em decorrência da minha nona tentativa de regime neste ano —, pude constatar com um espanto comedido que aqueles liberais realmente estavam em dúvida se, ante seus sempre imponentes valores e princípios, Bolsonaro de fato era mais liberal que o sindicalista de São Bernardo. E, vejam, não havia nenhum banqueiro na mesa, isto é, não se tratava dos já conhecidos “burgueses do Kremlin”. Falávamos com empreendedores e investidores comuns. Fato é que, excetuando o valor da minha parmegiana de frango, nada mais me assustou naquela noite do que aquele debate.

Ora, eu sei. Realmente seria muito iludido se chamasse Bolsonaro de “liberal” pura e simplesmente. Com quase toda certeza, Bolsonaro nunca leu nenhum clássico do liberalismo — aliás, se este texto chegar a ele, leia A Lei, de Bastiat —, sua labuta pró-mercado me parece ser mais uma crença baseada nas convicções daqueles que ele admira, como Paulo Guedes e sua equipe. 
No entanto, independentemente de onde uma arqueologia das ideias liberais de Bolsonaro nos levará, parece-me um tanto quanto indiscutível que seu governo talvez tenha sido o mais liberal e pró-mercado das últimas décadas neste país. O mercado, o melhor analista político de qualquer governo, nos mostra isso. E, caso sejamos inteligentes o suficiente para não acreditarmos que a mão invisível seja bolsonarista, temos de concordar que existe algum casamento de princípios entre o claudicante liberalismo do governo Bolsonaro e os princípios do livre mercado.

Em ritmo de “despiora”
Só para ilustrar um pouco este artigo: o agronegócio brasileiro cresceu como nunca nos últimos quatro anos, fazendo a OMC (Organização Mundial do Comércio) pedir encarecidamente que o país sustentasse e expandisse seus plantios como uma forma de humanismo em tempos de desabastecimentos alimentícios
Já somos o quarto maior país na produção de arroz, milho e cevada e o primeiro em exportação de café e soja; somente em 2021, exportamos mais de 80 milhões de toneladas em grãos de soja, e, no segundo semestre, foi o agronegócio que liderou a alta do PIB brasileiro
Em paralelo, a exportação de proteína animal jamais esteve tão grande, e, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), os produtores ainda guardam fortes expectativas de abertura de novos mercados de carne suína com o Japão, a China e a Coreia do Sul. 
 
Ou seja, os dados de exportação de proteína animal da segunda metade deste ano podem melhorar ainda mais. Por sua vez, a construção civil, que puxou a derrocada brasileira em 2020 e 2021, vem aumentando suas expectativas de crescimento em 2022. Em fevereiro, a projeção girava em 2%, agora está no patamar de 3,5%, com possibilidade para novas revisões para cima. 
Até o mercado de biscoito, nos últimos seis meses, cresceu 40% em exportações. O desemprego vem caindo de forma acentuada e, somente em maio, o Brasil gerou mais de 280 mil vagas diretas de emprego. Em abril, foram 200 mil vagas. O FMI, em relatório divulgado na terça-feira 26 de julho, revisou o crescimento do Brasil de 0,8% para 1,7%, mostrando que o país está em ritmo de crescimento realmente forte e seguro.

Vejam, esses são apenas alguns dados expostos nos últimos 60 dias. Escolhi coletá-los só para ilustrar que, economicamente, apesar dos resquícios da pandemia, da guerra na Ucrânia, da inflação mundial, dos populismos recorrentes de certos setores governamentais, da torcida contrária da velha mídia e dos entraves da oposição, o país parece estar de fato sob uma agenda liberal de crescimento sustentável ou, como essa imprensa gosta de dizer, em forte ritmo de “despiora”. 

Mas ainda há aquela velha questão da liberdade para além dos termos econométricos e das tabelas de Excel, falo da liberdade enquanto respiro social. E por ser demasiado óbvio — até mesmo para os mais ingênuos — não me demorarei nesse aspecto, apenas reafirmarei que é inconcebível, desde os tempos estranhos dos protoliberais John Locke e Adam Smith, que algum dito liberal apoie alguém que abertamente defendesse a regulamentação da mídia, o financiamento de ditaduras e outras mil pautas parecidas. Sabe como chamamos um “liberal” que apoia tudo isso? Socialista.

Por fim, filosófica e economicamente falando, é quase grotesco existirem dúvidas reais sobre se Bolsonaro seria ou não uma melhor opção que Lula segundo os valores e os princípios liberais, mas, acredite, há aqueles que querem inventar uma isenção sofisticada a fim de votar em um candidato socialista e em sua bizarra agenda quase soviética. Por exemplo, segundo o dito “liberal” Pedro Menezes, é melhor votar no Chávez brasileiro do que em Bolsonaro, a fim de evitar um golpe. Olho para a atual Venezuela miserável e só consigo imaginar que, em outros tempos, liberais como Menezes facilmente encontrariam em Stálin bons motivos humanistas para defendê-lo ante os seus opositores

O esquizofrênico caso do defensor da diminuição do Estado que vota em um tradicional estatista para subjugar o presidente que mais diminuiu a máquina pública e promoveu a liberdade individual nas últimas décadas. 

Somente nós, brasileiros, conseguimos produzir espécimes liberais como essa, justificando-a sob um retalhado véu argumentativo de isenção e imparcialidade.

Eu mesmo não votei em Bolsonaro no primeiro turno de 2018, e como liberal tenho um baú lotado de críticas e “poréns” ao seu governo, mas a hipocrisia de coçar a nuca e fingir dúvida entre Bolsonaro e Lula, sinceramente essa desfaçatez não consigo ter. Não vou caçoar da racionalidade e do bom senso social para defender um ex-presidente que representa quase tudo aquilo que política e economicamente eu rechaço. É claro que não estou falando que empresários e demais liberais devam fazer campanha para Bolsonaro, poucas coisas são tão bregas atualmente quanto qualquer adoração política.

O que Russell Kirk realmente ensinou em seu livro A Política da Prudência foi isso: quando só temos nabos para o jantar, dormir sonhando com picanhas é burrice, por isso acordem, liberais de Lula, desçam, nem que seja por um instante, das suas nuvens ideárias e de seus castelos contratualistas a fim de observar o que temos para agora entre as opções que se apresentam. Percebam, meus caros, que os EUA não se tornaram o maior país capitalista do mundo somente debatendo no Salão Oval as curvas e as linhas de um calhamaço filosófico de Mises ou Friedman, mas, sim, optando pela melhor via que existia naquele instante. O famoso pragmatismo do Tio Sam fez daquele país a maior expressão de democracia e liberdade do Ocidente, e fez isso com fatos, e não com marshmallows de ideias.

Leia também “A seita da urna eletrônica”

Pedro Henrique Alves, colunista - Revista Oeste

 

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Ex-presidente petista, ex-condenado, ex-presidiário, inventou o impostour - Revista Oeste

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em viagem pela Europa | Foto: Divulgação
Ex-presidente [ex-condenado, ex-presidiário]  Luiz Inácio Lula da Silva em viagem pela Europa -  Foto: Divulgação [Não pode ser esquecido: o europeu não vota nas eleições do Brasil e tem uma tara para comparecer a eventos com personagens exóticos, desorientados, desonestos e com experiência em puxar cadeia.]
 
Caso fosse submetido ao Teste da Paulista, como se sairia o homem que o PT promoveu a maior líder popular surgido no País do Carnaval desde a chegada das primeiras caravelas? 
Lula não conversa com jornalistas independentes desde novembro de 2005, quando protagonizou um fiasco de bom tamanho no programa Roda Viva, em que foi interpelado por alguns entrevistadores sobre a história muito mal contada do escandaloso Mensalão. 
 
Ele passou a discursar apenas para plateias amestradas em julho de 2007, depois que a lendária vaia do Maracanã o impediu de fazer o discurso de abertura dos Jogos Pan-Americanos do Rio. (Deveria ter dito, como Nelson Rodrigues, que o Maracanã vaia até minuto de silêncio. Aturdido, preferiu imaginar que tudo fora orquestrado pelo prefeito César Maia.) E deixou de dar as caras na rua sem esquema de segurança desde a devassa, consumada pela Operação Lava Jato, do colosso de bandalheiras que o transformou no primeiro presidente da República condenado em duas instâncias pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

Descrito pela imprensa velha, o giro pela Europa do candidato a uma terceira temporada no Planalto informa que o país que esquece a cada 15 anos o que ocorreu nos 15 anos anteriores já esqueceu tudo isso. Não há motivos, portanto, para a vida de ermitão que o mantém enfurnado no apartamento em São Bernardo, ou escondido no Instituto Lula, ou cochichando com devotos em hotéis de Brasília. 

Quem leu as primeiras páginas de jornais agonizantes pode acreditar que a viagem internacional do ex-presidente foi um sucesso. 
Recepcionado como estadista por governantes de fina linhagem, todos democraticamente eleitos, Lula teria escancarado o isolamento do atual chefe de governo, obrigado a conformar-se com audiências concedidas por déspotas de filme de horror na visita aos Emirados Árabes. 
Haja cinismo, constata quem examina a agenda de Lula e sua comitiva, formada pela companheira Janja, pelo senador Humberto Costa (codinome Drácula na lista da Odebrecht), pelo ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (codinome Grisalho), pelo ex-ministro Aloizio Mercadante (codinome Aracaju) e pelo ex-chanceler Celso Amorim, um dos parteiros da política externa da canalhice. 
Ao lado do quinteto, e com a indispensável contribuição do jornalismo de cócoras, o farsante patológico acabou de inventar o impostour.

A excursão que começou na Alemanha registrou na Bélgica a mais vistosa tapeação. LULA APLAUDIDO DE PÉ NO PARLAMENTO EUROPEU, mentiram em coro as primeiras páginas. Se assassinato da verdade desse cadeia, os editores estariam dividindo uma cela por noticiário fraudulento. Na escala em Bruxelas, o viajante desempregado foi aplaudido, sim. E de pé, é verdade. Mas não pelo Parlamento Europeu, e sim por integrantes de uma certa Conferência de Alto Nível da América Latina, que promoveu na sede do Parlamento Europeu um encontro denominado “Juntos durante a crise para uma nova agenda progressista”. Mais de 95% da agenda foi consumida em jogar conversa fora com personagens da série B. “Dia intenso de muito diálogo”, tuitou em Paris. “Me despedi da França com um reencontro com meu querido companheiro Jean-Luc Mélenchon, líder da França Insubmissa.” Os únicos chefes de governo em exercício que o receberam foram o francês Emmanuel Macron, sempre disposto a confraternizar com qualquer transeunte que grite “Fora, Bolsonaro” ao passar diante do Champs Élyséese o companheiro socialista Pedro Sánchez, presidente da Espanha.

Esses encontros invariavelmente precederam discurseiras delirantes. Numa delas, Lula explicou que reivindica um terceiro inquilinato no Palácio da Alvorada para acabar com a fome que até agora jurava ter erradicado em 2007, no segundo mandato, quando enxergou na descoberta do pré-sal a iminente nomeação do Brasil para a presidência de honra da OPEP. Noutro palavrório, garantiu que sempre manteve uma relação de “profundo respeito” com o ex-governador tucano Geraldo Alckmin, que qualificou de “corrupto” na campanha eleitoral de 2006. O ofendido revidou com a instalação de Lula no comando supremo da quadrilha do Mensalão. Felizes com o sucesso imaginário do giro, seguidores da seita que tem num larápio condenado seu único deus resolveram berrar que, enquanto isso, Bolsonaro só visitava ditadores. Má ideia, mostrou o troco imediato: adversários do inventor do impostour evocaram algumas das incontáveis demonstrações de admiração, simpatia, amizade incondicional ou amor profundo que homenagearam genocidas de verdade.

 Da esquerda para a direita, começando por cima: Lula ao lado de Yasser Arafat, Muammar Kadafi, Bashar al-Assad‎, Teodoro Obiang, Nicolás Maduro, Mahmoud Ahmadinejad, Hugo Chávez, Cristina Kirchner e Evo Morales -  Foto: Reprodução

Depois de uma visita ao Gabão, por exemplo, o palanque ambulante informou que circulara pelo país africano para aprender como se faz para desfrutar do poder por 37 anos consecutivos — e ainda por cima candidatar-se a outra reeleição. Numa reunião de governantes africanos, Lula caprichou na melosa saudação ao tirano líbio Muammar Kadafi: “Meu amigo, meu irmão, meu líder”. Naqueles tempos, o Datafolha e o Ibope atribuíam ao presidente índices de aprovação que ameaçavam chegar a 100% (ou 103%, se a margem de erro oscilasse para cima). Excitado com as façanhas sucessivas, Lula considerou-se capaz de pacificar o Oriente Médio e reaproximar dos Estados Unidos o Irã dos aiatolás atômicos. De lá para cá, as coisas mudaram. Confrontado com a ladroagem do Petrolão, por exemplo, Barack Obama rebaixou O Cara a delinquente comum. E mesmo os institutos de pesquisa andam evitando incursões pela estratosfera.

Pensando bem, Lula prova que não perdeu de todo o juízo ao rejeitar o Teste da Paulista. É improvável que consiga caminhar 5 metros sem começar a ouvir a reprise miniaturizada da vaia do Maracanã.

Leia também “Lula e a mulher-aranha

Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste