As
coisas não andavam nada bem naquele clube. Numa eleição tumultuada,
voltara à presidência um sócio com “ficha suja”, na gíria corrente, por
ter sido condenado por envolvimento em desfalque na tesouraria, num
inquérito depois anulado por falhas processuais.
Pior de tudo era a
atuação da Diretoria Jurídica, a responsável pelo atendimento ao
Estatuto Social, cujo titular parecia ensandecido com o poder e passara a
fazer gato e sapato dos direitos dos associados. Era um tal de multar,
suspender e até expulsar sócios, sem obedecer aos procedimentos exigidos
pelos estatutos, numa escalada de arbitrariedades e ameaças de
endurecimento ainda maior.
Foi então
que, em mais de um departamento do clube, sócios passaram a fazer
manifestações, reclamando do Presidente e esperando que a Assembleia
Geral tomasse as devidas providências. De nada adiantou e os grupos,
como último recurso, resolveram “acampar” defronte às salas do Conselho
Fiscal, portando faixas de protesto, gritando palavras de ordem e até
cantando o hino do clube. Tudo pacificamente, respeitando todas as
disposições do regimento interno, tanto que o próprio Conselho Fiscal
autorizou a continuidade dos acampamentos.
A tensão já
dava mostras de alcançar seu limite, quando um pequeno grupo, difícil
de se identificar, perdeu a paciência e invadiu as dependências
administrativas, passando a depredar móveis, utensílios e até alguns
troféus históricos. Num comportamento de manada, os sócios acampados por
ali se juntaram à invasão, mas não à violência, muitos até tentando
acalmar os predadores, uma vez que os vigilantes de plantão a tudo
assistiam, sem ação.
Foi um fato
histórico, ainda que não inédito, na história do clube. Mas o mais
interessante ocorreu depois. Associados de vários departamentos, os
quais até então se mantinham inertes ou perplexos diante dos desmandos
da Jurídica e da omissão das demais diretorias, passaram a pregar
manifestos no quadro de avisos do clube. Entretanto, essas mensagens
quase sem exceção, “pisando em ovos” para não se indisporem com a
Diretoria,recitavam louvores aos princípios de civilidade consagrados
nos estatutos, limitando-se a condenar os invasores, sem distinguir os
vândalos dos ingênuos.
Pretendiam, talvez, redimir-se das passadas
omissões diante dos fatos que deram origem às invasões.
Mas, na verdade,
ao não fazerem qualquer menção às ofensas aos mesmos estatutos desde
muito tempo praticadas pela administração, usaram a meia-verdade e
produziram manifestos facciosos, prontamente interpretados pela
Diretoria como gestos de apoio e assim divulgados pelo jornal do clube e
enviados como “press releases” aos órgãos de comunicação da cidade.
Manifestantes
foram punidos indiscriminadamente, desprezados quaisquer trâmites
estatutários; o presidente saiu fortalecido; a Diretoria Jurídica, ainda
mais empoderada; e os associados... Bem, os associados que se lixem!
Dagoberto Lima Godoy