O
maior partido do país tem o poder em Brasília e 1,7 milhão de filiados, mas não
sabe o que fazer com eles
Começa amanhã e vai até dia 14 o V Congresso do
Partido dos Trabalhadores. Ele
junta um cacique, uma dúzia de tendências e três grandes grupos: a turma dos eventos, que poderão ser apreciados no
show da cerimônia de instalação do encontro; a turma
que se aninhou no aparelho do Estado e pessoas
que procuram pensar o que esse partido é ou o que poderá ser. O que foi, ou quis ser, esqueça-se. As
três turmas se superpõem, pois todos gostam de eventos, poucos se expressam sem
blá-blá-blá e dezenas de milhares aninharam-se (um petista que foi levado para a administração
da prefeitura de São Paulo em 1989 e pulou de cargo em cargo já completou 26 anos de carteira assinada.)
O
presidente do partido, Rui Falcão, garante que não há crise e mostra um número:
o PT tem 1,7 milhão de filiados, só neste ano abrigou
171 mil novos inscritos e há 47 mil pessoas na fila. O significado
desses números é indiscutível. A qualidade das adesões
é bem outra coisa.
Outra
estatística informa o seguinte: dois presidentes do partido e dois dos seus tesoureiros foram
para a cadeia.
A maior crise do PT
está na sua exaustão intelectual e a prova disso é o reerguimento da sua bandeira
pela criação de um imposto sobre grandes fortunas. Deixe-se de lado a questão
técnica. Pode ser uma boa ideia, até porque a imensa
maioria dos milionários brasileiros é mão de vaca. O PT defende esse imposto desde sua criação, está no poder desde 2003 e fez
rigorosamente nada. Pelo contrário. Lula corre o mundo em jatinhos de milionários, a
consultoria José Dirceu assessorou a empresa de três bilionários (em dólares) da lista da revista “Forbes”.
Já a firma do ex-ministro Antonio Palocci assessorou outro.
O PT pode não ter descoberto a maneira de arrecadar impostos dos afortunados,
mas mostrou-lhes como mimar petistas. A consequência
perversa desse contubérnio já foi vista nos episódios em que ex-ministros foram vaiados em restaurantes onde raramente iam
antes da vitória eleitoral de 2002. Depois
veio o prazer do poder e mudaram costumes e gostos. O casal Lula achou razoável fazer um canteiro
de flores vermelhas com forma de estrela nos jardins do Palácio da Alvorada.
Quando o
PT estava na oposição e levantava a bandeira do imposto sobre grandes fortunas,
isso poderia ser um projeto, ou mesmo demagogia. Hoje, é simples hipocrisia política de um partido que governa com a receita
econômica defendida pelo candidato Aécio Neves. Petista gritando “fora Levy” faria melhor se murmurasse “fora eu”.A rendição petista ao programa
de Levy é um reflexo da exaustão intelectual do partido. Fernando Henrique Cardoso fez um arrocho para consertar
estragos de governos anteriores.
Roberto
Campos, 30 anos antes, também. Levy tenta consertar estragos do mandarinato
petista, potencializados no primeiro mandato da doutora Dilma. Ela
pedalava as contas públicas, agora pedala uma bicicleta americana. Numa das suas recentes propagandas de
televisão, o PT informou: “Vamos para as
ruas defender nossas bandeiras e nossas ideias.” Noves
fora a bandeira vermelha, não se sabe de outras. Ideias novas e boas, nenhuma.
Fonte:
O Globo - Elio Gaspari, jornalista