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sábado, 10 de agosto de 2019

Agente provocador - Merval Pereira

O  Globo

Que Bolsonaro é um provocador, não há dúvida

Ele mesmo já admitiu em entrevista a Jô Soares que, se não dissesse barbaridades como que o então presidente Fernando Henrique deveria ser fuzilado, ou que o golpe de 64 deveria ter matado mais gente, ele não estaria sendo entrevistado.

[Muitas vezes o que é considerado provocação por ser provocação; por não ser e sim ser ingenuidade; teimosia; boçalidade e muitas outras alternativas.]



Foi como agente provocador que foi preso quando ainda estava no Exército,
por ter planejado ataques com bombas em locais estratégicos, para protestar contra o soldo militar. Foi absolvido por falta de provas, mas teve que sair do Exército como capitão, e começar uma carreira política exitosa, que o levou à presidência da República, sempre na base da provocação política.  

[Bolsonaro não foi expulso do Exército, para ser expulso, teria que ser declarado indigno para o oficialato, o que não ocorreu e foi absolvido pelo Superior Tribuna Militar, instância máxima da Justiça Militar da União, de todas as acusações.

Convenhamos, se a absolvição por falta de provas, for indício de culpa, uma simples acusação passa a ter efeito de condenação.

Se for absolvido pela retirada da acusação, vão sempre dizer que foi absolvido devido as acusações terem sido retiradas, deixando até a insinuação de que o acusador foi coagido a desistir.

Queiram ou não, o acusado ABSOLVIDO,  foi absolvido e acabou.

é o mesmo caso de contestar que Bolsonaro foi eleito por isto ou por aquilo. O fato é que Bolsonaro foi eleito presidente da República por quase 60.000.000 de eleitores e ACABOU.

 Foi eleito para governar o Brasil para os brasileiros, apesar de tudo indicar que pretende governar contra os brasileiros - comentário adiante justifica a hipótese aqui levantada.] 

Agiu como provocador quando, ao votar a favor do impeachment da então presidente Dilma, exaltou o torturador Brilhante Ustra, a quem chamou de “herói”. A questão agora é saber onde o presidente quer chegar com as provocações quase diárias. O “agente provocador” é um player político tradicional, que radicaliza posições para levar um grupo, ou uma pessoa, a atitudes extremas que lhe serão prejudiciais, ou provocarão reações desestabilizadoras.

Os Black blocks são exemplo de grupo de ação política radical que, pelas manifestações de vandalismo, são, ou favorecem, a atuação dos “agentes provocadores”. Em nossa história política recente, temos o exemplo do Cabo Anselmo, que atuou a favor da Revolta dos Marinheiros, um dos estopins do golpe de 1964. Anselmo era um “agente provocador” a serviço dos golpistas. Quererá o presidente Bolsonaro criar um clima de instabilidade, ou será apenas um irresponsável que usa uma metralhadora giratória (loose cannon, na expressão militar)?  

[que está prestes a sepultar sua carreira política, também não há dúvidas;

que a reforma tributária precisa ser efetuada também não há dúvidas.

Mas, Bolsonaro, de forma incompetente - se for estratégia é a do suicídio político - pretende trazer de volta a CPMF e ainda debocha dos brasileiros.

Perguntado se a CPMF vai voltar, diz, pensando que está falando para ingênuos (apesar das besteiras que os eleitores brasileiros fizeram nas eleições de 2002 a 2014) ou por ingenuidade ou deboche, diz que a CPMF não vai voltar.

A mais simplória estratégia  de tentar apresentar um novo imposto com TODAS as característica da maldita CPMF - diferente apenas no nome e na alíquota que pode chegar ao triplo da anterior = 0,6% = - como não sendo CPMF, pode e deve ser considerada como deboche.

E aos que pensam que o Congresso não vai aprovar, lembro apenas que VAI SIM; existe uma grande orquestração para  derrotar Bolsonaro, até agora ele tem driblado as armações dos inimigos do seus governo e das ideias conservadoras, moralizadoras que são também dos seus eleitores. 

Mas, ao aprovar uma 'nova' CPMF, Bolsonara estará criando mais um imposto, em cascata, que alcança a todos - até o desempregado que tiver a 'infelicidade' de receber um crédito em sua conta corrente ou de poupança (ainda que o crédito seja uma pequena ajuda de algum parente, ainda empregado) - e que não resolverá a situação do país, mas, sepultará de vez, politicamente, Bolsonaro.

Em 2022 seus inimigos o apresentarão como o presidente que trouxe a CPMF de volta - imposto que nem o presidiário petista conseguiu manter - e para terem a chance de fazer tal acusação vale aprovar a CPMF.

Ninguém vai lembrar que Bolsonaro para trazer a CPMF precisou dos votos dos parlamentares, do aval do Congresso, e sim que foi no segundo ano de governo de JAIR BOLSONARO que a CPMF voltou.]

Quando se referiu ao pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, como um terrorista que foi justiçado pelos companheiros guerrilheiros, estava provocando um debate que já estava enterrado, sobre a ação da esquerda armada contra a ditadura militar. O Estado brasileiro já admitiu sua culpa na morte e desaparecimento de prisioneiros políticos, e assumiu a obrigação de indenizá-los, ou suas famílias. Também se criou um mecanismo de compensação financeira para os que conseguem provar que foram prejudicados em suas carreiras pela perseguição política que sofreram no período da ditadura militar.

Mesmo um presidente da República de extrema direita, como Bolsonaro, não tem o direito de querer trazer de volta o país a uma confrontação que já está superada pela História. Mas o presidente parece ter prazer em confrontações, não sabe viver em uma sociedade pacificada. Ontem, recebeu Maria Joseíta, viúva do Coronel Brilhante Ustra, e voltou a chamá-lo de “herói nacional que evitou que o Brasil caísse naquilo que a esquerda hoje em dia quer”. Poderia ter recebido a viúva do seu “herói” em sua casa, no Palácio da Alvorada, mas recebeu-a no Planalto, dando ares oficiais ao encontro. [ainda que Ustra fosse torturador, ainda que tivesse sido condenado, a pena não pode passar da pessoa do condenado;

ou será que no mesmo país em que o terrorista Marighella vira nome de escola pública, os familiares dos que combateram os terroristas que eram dezenas de outros 'marighelas' = foram também condenados? no mínimo, ao ostracismo? ou deverão ter suas casas demolidas e o terreno salgado?]

Deu, no dizer do advogado Miguel Realli Jr., “um tapa na cara da civilização” ao elogiar alguém acusado pelo Estado brasileiro de torturador.  Mas nem só de provocações políticas vive o presidente. Para justificar a indicação de seu filho Eduardo para embaixador em Washington, disse que um filho de alguém será indicado, “e por que não o meu?”.  Ao anunciar a medida provisória que acaba com a obrigatoriedade de empresas publicarem seus balanços em órgãos de imprensa de veiculação nacional, ele não escondeu a intenção de afrontar os jornais que considera seus inimigos, “essa imprensa que eu tanto amo”.

Referiu-se a uma reportagem do Globo sobre 102 parentes entre si, ligados à sua família, que foram contratados ao longo dos anos pelos gabinetes dele próprio e de seus filhos, e ao jornal Valor Econômico, editado pela Infoglobo, especificamente, para, aos risos, dizer irônico que estava tomando aquela decisão “para ajudar a imprensa de papel”. Enfraquecer as instituições democráticas é um objetivo de todo governo autoritário.


Merval Pereira, jornalista - O Globo


quarta-feira, 7 de agosto de 2019

'Nem era para ter', diz Bolsonaro sobre contrato de escritório de presidente da OAB - O Globo

Para o presidente, a Petrobras não precisa 'dar dinheiro' para quem 'recebe recursos milionários e não é auditado'

O presidente Jair Bolsonaro comentou nesta quarta-feira a decisão da Petrobras de cancelar , na terça, o contrato que tinha com o escritório de advocacia do presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) , Felipe Santa Cruz . Bolsonaro disse que "nem era para ter esse contrato", mas não respondeu se partiu dele a ordem para o cancelamento do vínculo entre a estatal e o escritório. - Eu havia falado já, nem era para ter esse contrato. Não é porque era ele. A Petrobras não precisa disso, dar dinheiro para um cara da OAB que recebe recursos milionários e não é auditado por ninguém- declarou o presidente, na saída do Palácio da Alvorada, ao ser questionado se foi ele que pediu que a empresa cancelasse o contrato.
Quando um repórter repetiu a pergunta, Bolsonaro disse que poderia falar e que não tem "que esconder nada não". - Qualquer contrato de qualquer empresa tem que ser visto e revisado. E esse contrato é antigo, é de alguns anos. Não precisa disso - disse o presidente.

O comunicado sobre o cancelamento foi feito por carta. A assessoria de Santa Cruz não informou o motivo da rescisão do contrato, nem o valor. O escritório atuava em causas trabalhistas da estatal. Santa Cruz avalia entrar com uma ação de reparação de danos contra a Petrobras. A estatal não quis comentar o caso.  Na semana passada, ao reclamar sobre a participação da OAB na investigação do ataque a faca sofrido durante a campanha eleitoral no ano passado,  Bolsonaro disse que poderia contar a Felipe Santa Cruz como o pai dele, Fernando, desapareceu durante a ditadura militar. O presidente afirmou, em um segundo momento, que o militante teria sido morto por colegas da organização revolucionária da qual fazia parte, versão que não condiz com  documentos da época e nem com o resultado da investigação da Comissão Nacional da  [mentira = INVerdade.]    Ao declarar o episódio como encerrado, Bolsonaro também  disse que não houve quebra de decoro nas próprias falas. [o próprio presidente da OAB reconheceu que a fala do presidente Bolsonaro não caracterizou falta de decoro.]

Depois da declaração de Bolsonaro, o presidente da Ordem foi ao Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir esclarecimentos a ele, que tem duas semanas para explicar sua afirmação, se quiser.

O escritório Stamato, Santa Cruz e Saboya Advogados firmou dois contratos com a Petrobras no governo Dilma Rousseff.  Ambos sem licitação, mas um decreto editado no governo Fernando Henrique Cardoso estabelece que nesse tipo de contratação não é necessária a concorrência pública. O primeiro deles, de R$ 1 milhão, foi assinado em maio de 2013 e tinha validade até janeiro do ano que vem. Já o segundo, no valor de R$ 1,5 milhão, começou em julho de 2014 e durou até junho deste ano. Santa Cruz foi filiado ao PT e candidato a vereador do Rio pelo partido em 2004. 

Brasil - O Globo

domingo, 23 de setembro de 2018

Gleisi Hoffman é um gênio!

Ela jamais decepciona

Sem votos para se reeleger senadora, candidata a deputada federal, Gleisi Hoffman (PR), presidente do PT, inconformada por Lula não ser ela embora ela seja Lula, fez mais uma das suas – atacou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), eleitor de Fernando Haddad se ele enfrentar Bolsonaro no segundo turno.

Foi mais um erro político de Gleisi e não será o último. O ataque se deveu ao fato de Fernando Henrique ter divulgado uma carta onde pede união dos candidatos “que não se aliam a visões radicais”. Geraldo Alckmin também não gostou da carta porque o ex-presidente não pediu a união em torno do seu nome.

Haddad não gostou do ataque de Gleisi a Fernando Henrique, seu amigo, mas por ora tem mais com o que se preocupar.

Blog do Noblat - VEJA

sábado, 22 de setembro de 2018

Ciro diz que vai se vingar nas urnas de fake news envolvendo Patrícia Pillar

Candidato debochou de carta de Fernando Henrique: 'mais fácil um boi voar de costas'

O candidato à Presidência do PDT, Ciro Gomes, voltou a agradecer nesta sexta-feira à ex-mulher Patrícia Pillar por ter o defendido nas redes sociais diante de fake news em que ela aparecia em uma foto dizendo que tinha apanhado dele. O presidenciável disse que vai se vingar desse episódio protegendo a sociedade do "nazifascismo" que o Jair Bolsonaro (PSL) representa. 
 "O povo brasileiro precisa se vacinar, porque esse é o momento em que parte da sociedade brasileira está infelizmente sendo vitimizada e ao mesmo tempo sendo algoz. É uma coisa extremamente vergonhosa que você pegue uma senhora, apesar de muito jovem, e a envolva. Tendo sido minha ex-mulher, uma pessoa que tem toda a respeitabilidade do Brasil inteiro e de quem sou separado e em quem me transformei num melhor amigo há mais de 15 anos, e desrespeitá-la na sua vida pessoal, que nada tem a ver com a política — disse Ciro, que continuou:Eu vou resolver isso, eu vou me vingar disso protegendo o povo brasileiro, especialmente as mulheres, contra o nazifascismo que o senhor Bolsonaro representa.

Nessa semana, Patrícia Pillar destacou em suas redes sociais que teve a imagem usada para divulgar notícias falsas e favorecer um candidato em quem "jamais" votaria, em referência a Bolsonaro. A atriz frisou que nunca foi alvo de qualquer tipo de violência. Em outro vídeo, Patrícia também declarou voto no ex-marido. Em ato de campanha no Núcleo Bandeirante, região administrativa do Distrito Federal, Ciro ainda debochou da carta de Fernando Henrique Cardoso, em que o ex-presidente defende unidade contra partidos, dizendo que é "mais fácil um boi voar de costas do que Geraldo Alckmin receber o apoio dos demais candidatos" em prol de um caminho conciliatório nas eleições, como sugeriu o ex-presidente tucano em carta, ontem. Para Ciro, FH está na verdade já se preparando para votar em Fernando Haddad (PT), com quem mantém relação amistosa.
"— É muito mais fácil um boi voar de costas. O FHC não percebe que ele já passou. A minha sugestão para ele, que ele merece, é que troque aquele pijama de de bolinhas que está meio estranho por um pijama de estrelinhas. Porque, na verdade, ele está preparando o voto no Haddad, porque ele não tem respeito a nada e a ninguém, a não ser ao seu próprio ego —" disse aos jornalistas.


Ciro também aproveitou para alfinetar outros dois oponentes: Haddad e Jair Bolsonaro (PSL), líderes das pesquisas. Sobre Bolsonaro, o presidenciável afirmou que tem que ser muito inocente para acreditar que, se o ex-capitão do Exército for eleito, ouvirá o economista Paulo Guedes — principal conselheiro de Bolsonaro na área econômica — por mais de 15 dias.  — Tinha uma propaganda no interior do Ceará que era feita pelo Nezinho do Jegue que dizia assim: só burro não toma Castaniodo. Só uma pessoa muito inocente, doida pra ser enganada, acredita que o Bolsonaro vai dar 15 dias de atenção ao Paulo Guedes. Paulo Guedes é um ultraliberal, entreguista completo, e não é que o Bolsonaro não seja também. O Bolsonaro simplesmente não tem coragem para confrontar a onda de repulsa que a sociedade brasileira levantaria contra a entrega aos estrangeiros da Petrobras — afirmou.


Em seguida, quando perguntado por um jornalista sobre sua estratégia para tentar "roubar" os votos de Haddad, brincou que essa era uma palavra "forte" em se tratando do PT. Ciro se posiciona no mesmo campo político de Haddad, mas no último Datafolha apareceu em terceiro lugar, com 13%, atrás de Bolsonaro, com 28% e Haddad, com 16%. O candidato pontuou que quer se apresentar ao eleitorado como alguém que pode "salvar o Brasil" da "radicalização odienta".
— Olha, roubar é uma palavra muito forte, especialmente falando do PT, então eu não posso concordar com essa sua palavra. Fiz uma ironiazinha legal aqui. Foi danadinha, né? Porque eu botei na sua boca e tal. Agora, francamente eu não acho que o voto pertença a ninguém. Eu estou tentando mostrar para as pessoas que aquele que acumulou a experiencia, a ficha limpa a proposta e o projeto e a condição de encerrar essa radicalização odienta que não deixa o Brasil trabalhar e machuca os mais pobres sou eu — disse.

Em seu discurso na praça central do Núcleo Bandeirante, onde se aglomeraram militantes, Ciro também foi nessa linha, afirmando que entende os que sentem ódio e revolta, mas se apresentando como um ficha limpa que quer encerrar o ciclo de brigas entre amigos e familiares. Em contraponto com as opções que representam o extremismo. Dessa vez ele não citou o nome de nenhum oponente.
— Revolta sem causa só gera ódio, só gera violência e isso é o que temos assistido no Brasil. Amizades se desfazendo, jovens brigando, famílias se desunindo e isso não podemos aceitar a resposta da radicalização, do militarismo, da segregação das mulheres, do preconceito contra os negros, ou com quem tem outro tipo de religião. Vamos oferecer ao Brasil, com alegria, com entusiasmo, uma saída que liberte o nosso povo dessa dança perigosa que os extremistas estão nos convidando a dançar na beira do abismo — discursou.

Ele estava acompanhado do governador do DF, Rodrigo Rollemberg (PSB), que tenta a reeleição. [Rollemberg, o pior governador que o DF já teve = acabou com a Segurança Pública, com a Educação, com a Saúde Pública, transporte, trânsito e tudo o que ainda existia no DF, que se transformo, no governo Rollemberg na única cidade do Brasil - que vale sempre lembrar é também a Capital da República - em que as delegacias (com raras exceções) funcionam em horário comercial = segunda  a sexta, das 8h as 12h e das 14h as 118h - por falta de efetivo.

Rollemberg é o campeão em simular realização de concurso público, porém, os aprovados nunca são contratados.
O efetivo da Polícia Civil e também da Militar, é menor do que o dos anos 90.]

O Globo
 

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Mentira eleitoral tem preço alto

Collor e Dilma foram os que mais contaram mentiras em campanha. Pagaram um preço elevado por dizer uma coisa e fazer o contrário


Em época de eleição, a verdade sobre a economia é negada na maioria das campanhas. O Brasil enfrenta, como sabem todos os que seguem o noticiário, uma grave crise fiscal. Ela não será resolvida em um passe de mágica, ou em um ano. Ela não poderá ser superada com a repetição das mesmas decisões que nos levaram à crise. O discurso demagógico, o apelo ao sentimentalismo, o ataque a adversários são as armas mais usadas na propaganda política. E é exatamente no marketing eleitoral que morre a verdade sobre a economia.

Quando entrevistei os candidatos, seus vices e os economistas indicados pelas campanhas ficou claro para mim que há graus diferentes de ambiguidade quando se pergunta sobre como enfrentar a crise econômica. Alguns mentem, negam problemas que sabem que existem ou propõem caminhos inviáveis. Há os que são mais sinceros, e esses costumam perder voto.  Candidato sempre foge de assuntos incômodos. Fernando Henrique adiou o ajuste do câmbio para depois das eleições de 1998, e a Carta aos Brasileiros foi escrita em linguagem cifrada, que o mercado entendeu, mas os eleitores que acreditaram no programa econômico do partido em 2002 foram enganados. As duas eleições com taxa de mentira mais elevada foram as de 1989 e 2014. A ex-presidente Dilma, nas entrevistas, negou as evidências de que o país estava entrando em recessão e que as tarifas de energia estivessem defasadas. Ao ganhar a eleição, mudou totalmente a conversa.

Admitiu que havia crise e aprovou um tarifaço que elevou a conta de luz em mais de 50%. A recessão que estava latente apareceu e, com ela, o desemprego disparou. Estava claro para quem cobria aquela campanha que isso aconteceria, mas a ex-presidente foi reeleita dizendo que faria o oposto do que fez. Na campanha de 1989, Collor de Mello acusou Lula de preparar um plano secreto para tomar a poupança dos brasileiros. E seu primeiro ato foi sequestrar todas as aplicações financeiras e contas bancárias dos brasileiros. Dilma e Collor ganharam, e isso parece indicar que mentir vale a pena. Os dois sofreram impeachment, isso deveria ser um alerta para os candidatos.

Os números mostram que não será possível superar esta crise sem a reforma da previdência, para ficar apenas em um ponto. Isso é admitido por Geraldo Alckmin, Marina Silva e Ciro Gomes. Mas a campanha de Ciro propõe uma mudança para o modelo de capitalização, em que cada pessoa passa a ter a sua própria conta. Afirmar que pode haver uma mudança de modelo, e não dizer quanto custa e como financiará a transição, é vender terreno na lua. A atual previdência continuará tendo custos crescentes. O PT diz que se o país voltar a crescer tudo será resolvido. Com crescimento fica mais fácil resolver qualquer problema, óbvio, mas negar o desequilíbrio da previdência é enganar. E o partido sabe disso porque já governou o país.

Na campanha de Bolsonaro não há relação entre o que diz o candidato e o que está no seu programa econômico. A afirmação de Bolsonaro, na entrevista que deu à Globonews, de que vai recuperar em valor do salário mínimo os benefícios previdenciários é uma bomba fiscal de vários megatons. E é o oposto do ajuste em um ano que o economista Paulo Guedes promete. O que Bolsonaro disse é inviável, porém em todos os seus votos como deputado ele demonstrou não ter qualquer preocupação com as contas públicas. E essa proposta é inviável. Isso porque desde o Plano Real houve uma recuperação do valor do salário mínimo. Nos governos Fernando Henrique, o salário mínimo subiu em termos reais 44%, nos governos Lula, 54%. O piso da previdência acompanhou, mas os outros benefícios, não. Se todos fossem agora corrigidos pelo múltiplo do salário mínimo da época em que foram concedidos, as despesas explodiriam. O economista de Bolsonaro sabe disso, mas Bolsonaro sequer entende do que está se falando. Só que ele é que tomará as decisões se vencer as eleições.

Há candidatos que admitem a gravidade da crise como Marina e Alckmin. Ciro Gomes também admite, mas tem propostas de solução que podem agravar o problema. O PT em 2002 fez um programa e governou com outro. Agora voltou às mesmas ideias do programa de 2002. Se mudar de rumo, sem avisar antes, será estelionato. Bolsonaro é a mais pura incerteza na economia. Ninguém sabe o que ele faria na eventualidade de ser eleito. Nem ele.

Miriam Leitão - O Globo
 

quarta-feira, 27 de junho de 2018

“A misteriosa palavra da lei” e outras notas de Carlos Brickmann

O Brasil tem outro precedente: muitos réus escolhem quem irá julgá-los. Alguns dos condenados por tribunais regionais federais recorrem direto ao Supremo


Um grande político baiano, Otávio Mangabeira, dizia que, por mais que um fato fosse estranho, na Bahia havia precedente. No Brasil também: o único país do mundo a ter Justiça do Trabalho e Justiça Eleitoral criou também três Supremos Tribunais Federais

Um está na cabeça do ministro a quem o caso é entregue, e que prende e solta a seu critério. Outro é o do plenário, com os onze ministros que a Constituição determina. O terceiro é o das turmas, cada uma com cinco ministros. Sabe-se que o ministro Edson Facchin, ao ver que Lula seria solto pela Segunda Turma, decidiu levar seu caso ao plenário, que o julgará depois das férias. Lula fica preso até agosto ou setembro. Mas a Segunda Turma decidiu ontem soltar seu braço direito, José Dirceu, que Lula chamava de “capitão do time”. 

O que um fez, o outro sabia. Os recursos de ambos tinham o mesmo fundamento: o STF autorizou a prisão de condenados em segunda instância, mas não a tornou obrigatória. Dirceu foi solto; e Lula, se o recurso fosse julgado pela Segunda Turma, talvez estivesse na rua em campanha, embora inelegível, pois é ficha suja. Com Dirceu, foi libertado também João Cláudio Genu, ex-tesoureiro do PP.

O Brasil tem ainda outro precedente: muitos réus escolhem quem irá julgá-los. Alguns dos condenados por tribunais regionais federais recorrem direto ao Supremo, sem passar pelo STJ. Mas não se pode dizer que sempre ganharão por 3×2. Ontem, por exemplo, Celso de Mello faltou. E foi 3×1.

O nosso Cristiano
Geraldo Alckmin é contestado por Fernando Henrique, Aécio, Temer, Rodrigo Maia. Pode se aproximar do DEM, mas não terá, por exemplo, o apoio de Ronaldo Caiado, porque preferiu se aliar a Marconi Perillo, que Caiado conhece e prefere ver longe. É contestado por Doria, que gostaria de ser o candidato; é contestado por causa de Doria, já que tinha prometido apoio à candidatura de seu vice, Márcio França, do PSB, mas se vê forçado a acompanhar o candidato do PSDB. Corre o risco de disputar sozinho, ou com o apoio de Marconi Perillo. E até nisso o Brasil tem precedente: em 1950, o candidato oficial Cristiano Machado foi abandonado pelo PSD, o seu partido, o maior do país, que fez campanha pela volta do ex-ditador Getúlio Vargas. Quando disserem a Alckmin que está sendo cristianizado, talvez pense que o estão transformando em Cristiano Ronaldo. Mas estarão pensando em Cristiano Machado e em sua campanha que não foi.

Surpresa!
O apresentador José Luiz Datena, astro da Rede Bandeirantes, se dispõe a ser candidato ao Senado pelo DEM paulista. Mas há no partido quem o queira mais alto: como Luciano Huck, é bem visto pelo público, tem o dom da comunicação, junta a condição de nome conhecido à de alguém que nunca participou da política ─ em bom politiquês, a língua preferida dos especialistas no setor, um outsider. Não tem escândalos. Por que limitar-se ao Senado? Considerando-se que a grande estrela dos partidos de centro é Alckmin, que não sensibiliza nem o presidente de honra de seu partido, há em Datena um possível candidato à Presidência, com força em São Paulo, Goiás, Bahia; capaz de atrair apoios que lhe deem tempo de TV e presença na maior parte dos Estados; e de comandar um poderoso horário eleitoral.

O som do silêncio
A eleição está próxima, mas os candidatos podem mudar. Bolsonaro, em marcha ascendente, terá pouquíssimo tempo de TV. Marina até poderia ser forte, mas não montou estrutura para seu partido, a Rede. E também não tem tempo de TV. Álvaro Dias, com base no Paraná, tem quase a mesma intenção de voto de Alckmin; mas também tem pouco tempo de TV e pode preferir se aliar a outro candidato. João Amoedo, do Novo, poderia ser a novidade na eleição ─ mas como mostrar a cara, sem tempo de TV e com campanha curta? Há o PT: quem sai no lugar de Lula, Jaques Wagner, Haddad? Ciro é difícil: Lula não passaria a liderança a outro partido. E Ciro tem tradição de começar bem, impressionar bem e falar demais. A pergunta é: quem conseguirá transformar-se na voz da maioria silenciosa?

Aqui, tudo igual
No Congresso nada muda: apesar dos escândalos, deve haver muita reeleição. Não há tempo (nem dinheiro) para fazer com que candidatos desconhecidos sejam lembrados. O não-voto (nulos, brancos e ausências) crescerá, mas candidato novo dificilmente conseguirá capturá-lo. Outra coisa que não muda é o sistema de trabalho: nesta semana, o Congresso vai parar hoje, por causa do jogo, e só volta a trabalhar na terça-feira que vem.

Tudo igual, também
Crise? Isso é para os fracos. Deputados estaduais do Rio descobriram um projeto há anos esquecido pelo qual 13 mil servidores da Justiça devem ter aumento extra de 5%. A PM do Rio está pedindo doações para colocar suas viaturas em ordem, mas não importa: que venha mais um aumento!


 Publicado na Coluna de Carlos Brickmann

 

sábado, 10 de março de 2018

O “operário” de FHC

Fernando Henrique redescobre um Lula que nunca existiu

O Lula que o ex-presidente Fernando Henrique deu para elogiar de uns tempos para cá é um homem imaginário. Até agora ninguém parece ter entendido direito o que ele está querendo dizer com essa súbita descoberta de virtudes no personagem que até outro dia, pelo menos em público, o tratava como o político mais desprezível do Brasil. Lula, na verdade, passou anos a fio cuspindo em Fernando Henrique. Jamais admitiu que o seu antecessor na presidência da República tivesse tido o menor mérito em nada do que fez durante os oito anos em que esteve no governo. Ao contrário: inventou a mentira de que tinha recebido dele uma “herança maldita”, responsável por tudo que havia de errado no Brasil. Dirigiu-lhe ofensas pesadas. Tratou-o sempre com rancor, despeito e inveja. Mais que tudo, Lula agiu no Palácio do Planalto de maneira oposta às ideias gerais de Fernando Henrique. Agora, sem que se saiba por que, tornou-se um líder político exemplar na opinião do adversário de sempre. Mudou Lula ou mudou FHC? Lula, com certeza não mudou nada ─ ou melhor, mudou para muito pior do que jamais foi em toda a sua carreira. 

Quem mudou, então, foi FHC. É melancólico. Mas a vida tem dessas coisascomo mostra tão bem a experiência, o cérebro humano não é necessariamente um lugar coerente.  Na falta de uma explicação capaz de fazer algum nexo, o que se pode imaginar, com base no “Manual de Psicologia Para Amadores”, é que Fernando Henrique está de volta aos seus sonhos de 40 anos atrás. Lembram-se dele? Era, então, o retrato acabado do intelectual de esquerda brasileiro enquanto jovem ─ ou, se preferirem, mais ou menos jovem. Trazia na alma e na mente as fantasias clássicas do socialista de Terceiro Mundo, armado de leituras europeias e à procura de um regime que até hoje só existiu na imaginação das salas de aula da universidade: o “socialismo com liberdade”. Ou, então, uma nova “ditadura do proletariado”, que viesse só com proletariado e sem ditadura.

 Na São Bernardo do final dos anos 70, FHC e seus pares se deslumbravam com a possibilidade de ver um operário de carne e osso, ou pelo menos um líder sindical, virar uma força política de verdade. Até então, como tantos dos intelectuais brasileiros, talvez nunca tivesse visto um operário ao vivo e a cores. De repente, não só vê, mas descobre que um “homem do povo” como Lula pode crescer num sistema de liberdades, com eleições, direitos individuais, separação de poderes, etc. Bom demais, não é mesmo? 

Encantada, a classe intelectual da época “pirou”, como se diz.  Depois, na vida real, Fernando Henrique esqueceu por completo a figura da fábula ─ ao constatar que Lula, o herói das massas populares que iria fazer a “passagem pacifica para o socialismo”, era apenas uma invenção. Pior do que um simples equívoco, Lula era uma falsificação, como ficou comprovado assim que passou a mandar. Junto com o PT, transformou o seu governo, e o da sucessora que inventou, numa caçamba de lixo a serviço de empreiteiras de obras públicas, fornecedores da Petrobras e outros marginais hoje na cadeia, réus confessos e condenados por corrupção em massa. Onde acabou caindo o líder operário? Foi apenas mais uma quimera desfeita ─ só isso.

No percurso entre São Bernardo e a 13ª. Vara Criminal de Curitiba rolou uma vida inteira. Lula e FHC passaram a ser inimigos ─ os mais extremados da política brasileira moderna. Agora, aos 87 anos de idade, Fernando Henrique faz um salto espetacular rumo ao passado ─ e passa a orar para um herói que nunca existiu, nem na época e muito menos agora. Justamente agora, aliás, Lula está no seu ponto mais baixo ─ condenado como ladrão em três instâncias, por nove magistrados diferentes, abandonado pelas “massas” e necessitado de um golpe no Supremo Tribunal Federal para não acabar na cadeia. O ex-presidente, ex-sonhador e ex-inimigo migrou para o seu lado, é verdade, mas nenhum dos dois parece ter grande coisa a ganhar com isso. Se Lula se livrar da penitenciária, ninguém do PT e da “esquerda”, e muito menos o próprio Lula, vai dizer uma única palavra de agradecimento a FHC. Se não se livrar, o seu apoio não terá servido para coisa nenhuma. Esse mundo é mesmo injusto.

 J.R.Guzzo - VEJA

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Tripla proeza de FHC

Ao defender desembarque de tucanos, FHC enfraquece Temer e PSDB e fortalece PT

Fernando Henrique Cardoso é um dos raros líderes a sobreviver nessa terra arrasada da política brasileira. Até por isso, e por ser um ex-presidente bem-sucedido e um intelectual com conhecida lucidez, que ele deve ter cuidado redobrado com o que diz e escreve. Milhões de órfãos de ideias e referências não têm muitas outras estacas para se agarrar.

Dito isso, uma dúvida: Fernando Henrique tem o direito de pensar e se manifestar apenas como líder de um partido, o PSDB? Ou ele tem o dever e a obrigação de agir como um estadista, um líder que se preocupa antes de tudo com o País? [a segunda pergunta só tem uma resposta: NÃO; para agir como estadista o individuo tem que ser um  estadista e uma dos pressupostos básicos é se preocupar antes de tudo com o País;
FHC não está entre os que se preocupam  ou se preocuparam com o futuro do Brasil.
FHC nos últimos tempos só tem se preocupado em não ser esquecido - por isso dana a escrever e muitas vezes escreve coisas sem nexo.]

A Constituição prevê que o impeachment de um (ou uma) presidente não é votado por juristas, mas por políticos, e determina que o (ou a) presidente só pode ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal depois do aval da Câmara dos Deputados. Por quê? Porque juristas, em geral, e ministros do STF, em particular, julgam com base unicamente na lei, enquanto políticos votam, em tese, refletindo o que é melhor para o País naquele momento.

Foi assim que Dilma Rousseff caiu. Além das “pedaladas”, tecnicamente comprovadas, houve um consenso de que o Brasil não resistiria a mais dois anos de erros crassos na economia e na condução política. E foi assim que Michel Temer assumiu e venceu (ou adiou) duas denúncias da PGR. Além de estar escrito na Constituição que o vice assume, seja ele João, Maria ou Michel, há um consenso de que derrubar Temer seria jogar o Brasil num buraco ainda mais profundo.

Ele tem um encontro marcado com a Justiça ao deixar a Presidência, mas até lá a prioridade do País é recuperar a economia e os empregos. Bem ou mal, Temer está conseguindo. Afora o rombo fiscal, que continua aumentando, há alívio com inflação, juros, arrecadação, empregos, contas externas e previsão de crescimento em 2017 e 2018.

Em seu texto de anteontem no Estado, Fernando Henrique falou do “clima de descrença e desânimo” e que as melhoras na economia só serão sentidas pelo “povo” quando baterem “em seu bolso”. Então, decretou: “Daqui por diante, contudo, o capítulo é o futuro”. Futuro do quê? Ou de quem?  No artigo, aflito com o futuro do PSDB, das coligações e do candidato do partido em 2018, não há uma só palavra sobre o futuro do governo, da economia, dos empregos – do País, enfim. E termina com uma ameaça: ou os tucanos desembarcam do governo em dezembro, ou o bicho-papão vem pegar: “O peemedebismo dominante tornará o PSDB coadjuvante na briga sucessória”. Como, se é o PSDB que tem candidato, não o PMDB?

Só falar em desembarque do PSDB já fragiliza ainda mais a posição de Temer e as chances da reforma da Previdência, com o efeito colateral de aguçar a gula dos aliados. E, se consumado, vai paralisar o governo, o País e a recuperação. Significa piorar as condições para o próximo presidente, inclusive se for um tucano. Quem lucra?

O PSDB não é. Se o PT e seu grande líder Lula foram atingidos em cheio pela Lava Jato e pelo fracasso de Dilma, o PSDB não tem nada para se gabar, mas parece, por ora, menos ferido. A diferença, porém, é de postura. O PT segue Lula cegamente, usa Temer como escudo para seus erros, concentra energia contra adversários e exercita o “unidos na alegria e na tristeza”. O PSDB faz o oposto: não segue ninguém, gasta energia se autodestruindo e se divide na saúde e na doença. FHC consegue, assim, tripla proeza: aprofunda o racha do PSDB, enfraquece o governo e fortalece o discurso do PT de que fez tudo certo, a culpa de todos os males é de Temer e do PMDB. Jogar a troca de quatro ministros no centro da agenda política é, como diz o chanceler Aloysio Nunes Ferreira, um “desserviço ao Brasil”.
 
Por: Eliane Cantanhêde, O Estado de S. Paulo
 

domingo, 10 de setembro de 2017

Campeãs nacionais de corrupção

O depoimento de Antonio Palocci e as malas de dinheiro de Geddel Vieira Lima são voz e imagem do capitalismo de compadrio brasileiro. Como podemos nos livrar dele? 

O governo escolhe algumas empresas – as campeãs nacionais. Franqueia facilidades a essas empresas. Em geral, contratos milionários com estatais ou empréstimos camaradas de bancos do governo. Parte do dinheiro, invariavelmente, sai do Tesouro – do contribuinte. Em troca, as campeãs nacionais financiam as campanhas do governo, que assim se perpetua no poder. Em cinco frases, pode-se resumir assim o capitalismo de estado da era PT-PMDB. A academia americana já tem um nome para esse fenômeno: crony capitalism – em português, capitalismo de compadrio. Acrescentando-se a essa fórmula a vasta circulação de propinas, talvez os historiadores do futuro resumam a era Lula-Dilma-Temer em três palavras: capitalismo de compadrio corrupto.

Nos primeiros anos, parecia que o governo Lula seria lembrado pelos historiadores como um ciclo modernizador. De um lado, preservava as conquistas do período anterior – estabilidade da moeda e responsabilidade fiscal. De outro, aperfeiçoava aquilo a que, na era Fernando Henrique, se chamava de “rede de proteção social”, tornando-a mais eficiente e mais focada. Tudo isso respeitando a democracia tão duramente conquistada. O que o filósofo Renato Janine Ribeiro definiu como o tripé modernizador do Brasil – democracia, inclusão social, estabilidade econômica – parecia um consenso nacional.

Em algum momento do segundo governo Lula começou o retrocesso. Talvez tenha sido, como sugeriu o ministro Antonio Palocci em seu depoimento esclarecedor na quarta-feira (6), na descoberta do pré-sal. O governo viu aí a oportunidade de gerar dinheiro não apenas para melhorar a situação social do país, mas também para se perpetuar no poder. A troca de favores entre poderosos, tão típica do Brasil antigo, voltou a ser prática corrente. As malas de dinheiro encontradas no apartamento de Geddel Vieira Lima – que ocupou cargos de confiança nos governos Lula, Dilma e Temer – são imagem simbólica do capitalismo de compadrio corrupto.

Poucas vezes as entranhas de tal sistema ficaram tão expostas quanto nesta Semana da Pátria, em que os nomes das campeãs nacionais de corrupçãoOdebrecht e JBS – voltaram às manchetes. Como o país pode se livrar dessa cultura perniciosa? A Operação Lava Jato, que pela primeira vez na história brasileira processa e pune os grandes corruptos, é um começo. Mas não se trata apenas de um caso de polícia. É preciso acabar com os mecanismos que possibilitam o capitalismo de compadrio corrupto. O governo não pode ter tantos instrumentos para fazer escambo com empresas, nem tanta facilidade para burlar pareceres técnicos. Menos campeões nacionais e mais foco na inclusão social com estabilidade econômica. Menos empresas estatais, menos bancos estatais, menos bolsa-empresário e mais educação, saúde e segurança para os cidadãos. Eis um bom tema de debate para a campanha presidencial do ano que vem.

Fonte: Revista Época
 

 

domingo, 13 de agosto de 2017

Ex-colegas de MP, Janot e Gilmar Mendes não se falam e abandonam clima cordial

Ministro e procurador-geral fogem de qualquer situação que torne um cumprimento inevitável

Quatro jovens procuradores, três deles recém-aprovados em concurso, se encontram em uma bela manhã de sol em Colônia, na Alemanha, e resolvem passar o dia juntos. Durante um passeio de barco pelo Reno, entre um gole e outro de um barato vinho Riesling alemão, conversam sobre o Ministério Público, a Constituinte, a redemocratização. Tudo em clima de camaradagem. Uma foto, gasta pelo tempo, registra a alegria e data da confraternização: 20 de agosto de 1988. 

Janot (de camisa rosa) e Gilmar (à direita, com copo na mão): relação amistosa da viagem à Alemanha é só uma lembrança - Agência O Globo

Três décadas depois, dois daqueles quatro jovens procuradores, Rodrigo Janot e Gilmar Mendes, tornaram-se protagonistas de um dos momentos mais conturbados da recente história do país, mas atuando em lados opostos. Na condição de procurador-geral da República, Janot lidera a Operação Lava-Jato em Brasília. Depois de corroer bases do governo da ex-presidente Dilma Rousseff, a investigação atingiu em cheio o presidente Michel Temer, oito ministros do governo e as mais brilhantes estrelas do PSDB, PMDB e PP, entre outros expoentes dos grandes partidos do país.

Com a visibilidade do cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Mendes lidera campanha aberta contra ninguém menos que o ex-colega Janot e as mais importantes ações dele na Lava-Jato. Na segunda-feira passada, como parte da sequência de ataques que vêm se multiplicando desde o ano passado, Mendes declarou que Janot é o mais desqualificado procurador-geral da história. No dia seguinte, advogados de Temer pediram ao STF o afastamento de Janot dos inquéritos contra o presidente.

NEM MESMO CONVERSA DE BASTIDOR
A tensão é tão grande entre o ministro e o procurador-geral que os dois não se falam, nem mesmo na sala de lanche do Supremo, onde ministros se descontraem antes, nos intervalos e depois das sessões no plenário. Eles mantêm distância e fogem de qualquer situação que torne um cumprimento inevitável. Em uma entrevista ao GLOBO, Mendes disse que no passado teve relação cordial com Janot. Nada além disso. Os dois passaram no concurso do Ministério Público em 1984, mas seguiram caminhos diferentes. — Nunca fomos amigos. Tínhamos uma relação cordial. Ado, ado, ado, cada qual no seu quadrado — sentenciou Mendes.

Janot, que já acusou Mendes de sofrer de “disenteria verbal”, disse não ter qualquer problema de natureza pessoal com o ministro. Ele lembra do amistoso encontro entre os dois em Colônia, mas prefere não fazer comentário sobre o clima de permanente beligerância. Janot argumenta que apenas faz o trabalho de procurador-geral e sustenta ainda que nunca partiu para o ataque contra Mendes. A iniciativa dos confrontos, segundo ele, teria sido sempre do ministro. — Nas poucas vezes em que fiz algum comentário, foi como resposta a uma crítica — disse Janot.

No barco com Mendes e Janot, no já distante 20 de agosto de 1988, estavam também os procuradores Wagner Gonçalves e Guilherme Magaldi, hoje já aposentados. Gonçalves toma partido de Janot. Acha que Mendes só passou a fazer críticas ao procurador-geral depois que a Lava-Jato bateu às portas de tucanos e peemedebistas. Advogado no Rio de Janeiro, Magaldi diz que só tem a lamentar as diatribes entre os dois ex-colegas. — A vida dá muitas voltas, e eu só queria que eles voltassem a se falar — diz o advogado.


Após voltar de um mestrado na Alemanha, Mendes trabalhou no governo dos ex-presidentes Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso e, num intervalo entre os dois governos, assessorou o ex-ministro Nelson Jobim na Revisão Constitucional de 1993. Nunca mais voltou ao MP. Só saiu do governo para ocupar uma vaga no STF. Janot, que fez mestrado na Itália, se manteve na carreira, presidiu a Associação Nacional dos Procuradores da República e, como chefe da Procuradoria-Geral nos últimos quatro anos, lidera a Lava-Jato, a investigação que colocou sistema político do país em xeque.

Mendes ampliou as críticas a Janot por ele aceitar o acordo de delação do empresário Joesley Batista, um dos pontos de partida das investigações contra Temer, e por pedir prisão do ex-presidente José Sarney. Em março deste ano, numa reação aos ataques, Janot acusou o ministro de ser um “comensal palaciano”. Dois meses depois, Janot voltou a carga e pediu o impedimento de Mendes em processos relacionados ao empresário Eike Batista, porque a mulher do ministro é advogada num escritório contratado pela defesa do empresário.

As escaramuças também não pararam por aí. No mês passado, Mendes se reuniu com Temer em encontro fora da agenda oficial e sugeriu ao presidente a indicação da subprocuradora Raquel Dodge para o cargo de procuradora-geral na vaga a ser deixada por Janot a partir de 17 de setembro. Segunda colocada nas eleições internas do Ministério Público, Raquel se apresentava com a mais anti-Janot entre os candidatos. Com Raquel, diz Gilmar, a PGR finalmente voltaria ao curso normal.

Fonte: O Globo

domingo, 26 de março de 2017

A grande história de Tancredo Neves

Olhando-se para o enrosco da política de hoje, sente-se a falta que faz um Tancredo. O que ele faria? Sabe-se lá, mas ele saberia

Nas próximas semanas chegará às livrarias “Tancredo Neves, o príncipe civil”, do repórter Plínio Fraga. Uma biografia daquele mineiro miúdo, culto e conciliador é sempre algo mais do que uma visita ao passado. É também uma iluminação para o presente. Tancredo Neves (1910-1985) foi eleito presidente da República, adoeceu e só entrou no Planalto morto.
Arquiteto da grande conciliação de 1984, a única que partiu da oposição, Tancredo, um civil, foi a maior das figuras políticas do período em que o Brasil era governado por generais. Olhando-se para o enrosco da política de hoje, sente-se a falta que faz um Tancredo. O que ele faria? Sabe-se lá, mas ele saberia. Plínio Fraga reconstruiu a figura do político conservador que viveu numa oposição legal que abrigava a esquerda, o democrata intransigente, conciliador com lances de inesperada inflexibilidade. Depois da grande campanha pelas eleições diretas, ele se elegeu presidente pelo sistema indireto. O livro de Fraga mostra, aos poucos, como ele operava essa mistura.

O menino Tancredo teve um pajem, o negro Custódio, neto da cozinheira dos Neves, que continuou com a família depois da Abolição. Custódio ficou com os Neves até morrer, aos 90 anos, anexando o sobrenome dos velhos senhores. Sabendo-se disso, conhece-se a alma patriarcal de Tancredo. Fraga revirou arquivos da família, do Departamento de Estado e do Serviço Nacional de Informações, entrevistou dezenas de pessoas e produziu um cartapácio de 648 páginas, dividido em capítulos curtos.

Um trabalho desse tamanho carrega sempre imprecisões, felizmente pouco relevantes.
Juarez Távora não combateu com a Força Expedicionária Brasileira, e na fotografia da posse de Tancredo como ministro da Justiça, em 1953, o chefe da Casa Civil Lourival Fontes está na legenda, mas não está na cena.  “O príncipe civil” faz revelações relevantes de fatos que sempre circularam à boca pequena no andar de cima, desde que não fossem contados à turma de baixo. Segredos que os Polichinelos administraram por mais de 30 anos.

Fraga expôs a caixa da campanha de Tancredo. Maluf, seu adversário, era acusado de ser “o candidato do milhão.” A caixa de Tancredo foi gorda, abastecida por dezenas de endinheirados, entre eles o empreiteiro Sebastião Camargo e o industrial Jorge Gerdau.
Na equipe de coletores estiveram os empresários Sérgio Quintella e João Pedro Gouvêa Vieira, mais Tancredo Augusto, filho do próprio candidato, e José Hugo Castello Branco, que viria a ser chefe da Casa Civil do novo governo. Lá estava também o banqueiro Ronaldo Cezar Coelho, que hoje é freguês da Lava-Jato.

Estima-se que a caixa de Tancredo tenha amealhado o equivalente a US$ 45 milhões em dinheiro de hoje. A maior parte desse dinheiro foi gasta. Talvez tenham sobrado uns US$ 10 milhões. Cadê? Teriam ido para instituições de caridade ou para Risoleta, viúva de Tancredo.  “Conversa fiada”, disse Tancredo Augusto a Plínio Fraga. Ele acrescenta, referindo-se a um depositário das “sobras”: “Filho da puta.”

Uma pessoa devolveu um cheque dessa caixa. Foi Antônia Gonçalves de Araújo, a poderosa secretária de Tancredo. Essa é a segunda exposição de Fraga.  “Dona Antônia”, uma bonita morena, era funcionária do Congresso quando conheceu Tancredo em 1971. Ela tinha 38 anos, ele 61. A relação dos dois durou até 1985. Foi um romance diferente daqueles que Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Fernando Henrique Cardoso tiveram fora de seus casamentos.

“Dona Antônia” era também a chefe de gabinete do “Doutor Tancredo” e, por alguns meses, foi a mulher mais poderosa da República. Mencionar seu nome demonstrava prestígio, revelar sua condição, suicídio. Fraga entrevistou “Dona Antônia”. Aos 84 anos, ela tem na parede de sua sala o ato de Tancredo nomeando-a secretária do presidente da República.  Antônia fala ao longo de sete páginas emocionantes, sobretudo quando conta como conseguiu entrar no hospital, à sorrelfa, para se despedir de Tancredo.

Fonte: Elio Gaspari, jornalista - O Globo




sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Juiz Sérgio Moro não aceite provocações de advogados de clientes que fatalmente serão condenados e encarcerados

Advogados de Okamotto irritam Sergio Moro

Discussão aconteceu ao final do depoimento de Fernando Henrique 

O juiz Sergio Moro irritou-se com a defesa de Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, durante audiência na última quinta (9). O entrevero aconteceu ao final do depoimento do ex-presidente Fernando Henrique, testemunha de Okamotto.

Isso porque a defesa decidiu gravar o depoimento. “Houve uma grave irregularidade consistente na gravação de vídeo da audiência por um dos presentes sem que tivesse havido autorização do Juízo. conteúdo da gravação irrelevante, mas ainda assim trata-se de irregularidade que não deve se repetir”, disse o juiz na ata da audiência.

Segundo o advogado de Okamotto, Fernando Fernandes, a postura de Moro foi ilegal. “A lei estabelece, que a gravação  pode ser realizada diretamente por qualquer das partes, independentemente de autorização judicial e os advogados não podem se submeter a ordens ilegais que afronte as nossas prerrogativas”, disse. 

[as provocações  dos advogados de coisas como Lula, Okamotto e demais membros da organização criminosa lulopetista são movidas pela certeza de que seus clientes serão processados, julgados, condenados e encarcerados.
Com as provocações tentam afastar Sergio Moro da Lava-jato -  esquecem que a maior parte das sentenças de Moro são ratificadas nas instâncias superiores.]

FonteVEJA 

 

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

O núcleo mole do governo

Vulnerabilidade dos que são mais próximos a Temer no Planalto pode deixá-lo perigosamente exposto a grave desgaste político

Fernando Henrique Cardoso tem reiterado que o mandato tampão do presidente Temer não chega a ser uma ponte. Não passa de uma pinguela precária pela qual o país terá de ser conduzido até as eleições de 2018. Mas que, por mais improvisada, frágil e periclitante que seja, é a única rota disponível para a travessia. “É o que temos”.

Nas últimas semanas, a apreensão do país com a precariedade da pinguela por que está sendo obrigado a passar foi exacerbada, em grande medida, pela deplorável sequência de eventos que culminou na exoneração de Geddel Vieira Lima do cargo de ministro da Secretaria de Governo. Foi mais um integrante do que se convencionou chamar de núcleo duro do governo a se afastar da posição que ocupava no Planalto. 

Tradução direta de hard core ou de noyau dur que, na acepção literal, significam parte central, sólida e resistente, como o caroço de um pêssego ou de uma manga — a expressão núcleo duro tem sido amplamente usada no sentido figurado, para designar a parte mais resistente que dá sustentação a um grupo ou organismo social mais complexo. 

A cada dia fica mais claro, contudo, que o que vem sendo chamado de núcleo duro do governo se tem mostrado, de fato, muito pouco resistente, como bem atesta a rapidez com que se vem desintegrando. Salta aos olhos que a confraria peemedebista em torno da qual se estruturou, de início, o governo Temer não tem solidez para lhe dar sustentação por muito tempo mais.

Não faltará, é claro, quem, menos propenso a torcer o nariz, apele para o pragmatismo, alegue que governo congressual é assim mesmo e argua que, não importa se dura ou mole, tal confraria tem desempenhado papel fundamental na arregimentação do sólido apoio parlamentar que tem permitido a aprovação sistemática do que o Planalto tem submetido ao Congresso. É um argumento que passa ao largo de duas considerações cruciais. Em primeiro lugar, a maior parte do amplo apoio com que vem contando o governo no Congresso talvez deva ser atribuído, não à equipe do Planalto, mas ao traquejo do próprio presidente Temer, adquirido ao cabo de longa e rica experiência parlamentar, que incluiu o exercício da presidência da Câmara de Deputados por dois mandatos.

A segunda consideração é ainda mais importante. Como tão bem ilustrou o caso Geddel, a vulnerabilidade dos que lhe são mais próximos no Planalto pode deixar o presidente da República perigosamente exposto a grave desgaste político a que, a esta altura do jogo, não pode mais se permitir.  Em meio ao pavoroso atoleiro em que o país está metido, Geddel conseguiu se afogar numa poça formada num pequeno buraco que ele mesmo cavou. Mas vem coisa muito mais séria por aí. Sem ir mais longe, é bom que Temer vislumbre, com a nitidez possível, a extensão do desgaste adicional que as megadelações impendentes poderão impor aos integrantes remanescentes do seu círculo mais próximo. E tente se antecipar aos fatos.

Substituições de afogadilho, quando a situação já se tornou insustentável, têm sido uma fonte recorrente de desgaste do presidente. E de prolongamento desnecessário de um quadro de alta incerteza que, entre outros desdobramentos, vem contribuindo para retardar o início da tão aguardada recuperação da economia. É preciso muito cuidado para não tornar a pinguela ainda mais precária do que já é.

Há poucos dias, em discurso a uma plateia de empresários e investidores, o presidente Temer se permitiu externar avaliação um tanto peculiar do sufoco recente por que passou o Planalto. “Como não temos instituições muito sólidas, qualquer fatozinho, me permitam a expressão, abala as instituições”. Não é bem assim. Nem as instituições são tão pouco sólidas, nem há como classificar o episódio aludido como um fatozinho qualquer.

Chegou a hora de Temer se mirar no seu próprio exemplo. Um presidente que conseguiu montar uma equipe econômica de alto nível não deveria enfrentar dificuldades intransponíveis para recompor, em bases mais sólidas, o que vem sendo chamado de núcleo duro do governo. 

Fonte: O Globo  - Rogério Furquim Werneck é economista e professor da PUC-Rio

domingo, 13 de novembro de 2016

Reflexões amargas


Cabe ao PSDB responder à vitória reafirmando o social de seu nome, opondo-se, portanto, às ondas reacionárias entre nós


Há poucos dias, em Lisboa, assustei-me vendo o noticiário da TV. Surgiu na tela um porta-aviões russo deslizando nas costas europeias, cercado por navios patrulheiros. Que mal haveria, pensei depois, em mostrar o garbo de um navio russo? Nada e tudo. Fossem normais os dias e seria tão banal quanto ver o desfilar de um porta-aviões da armada americana cercado por poderosos navios protetores. Por que, então, o susto? Porque as coisas estão mudando, há cada vez mais riscos e medos no ar.

Passadas décadas do estabelecimento de relações diplomáticas entre a China comunista e os Estados Unidos (pasmem! sob Nixon e Kissinger), em meados dos anos 70, e do fim da União Soviética, no início dos anos 90, nos damos conta do que esses fatos significaram: a Pax Americana. Terá ela chegado ao fim? Pode ser. Os russos, com sua ingerência na Síria, tentam forçar o Ocidente a dar-se conta de que, por mais que seu poderio bélico haja diminuído, ainda são uma potência atômica. Os novos tzares se dão ao luxo de ocupar a Crimeia e de ameaçar a Ucrânia sem que a Otan, ou quem seja, limite suas aspirações restauradoras do que historicamente pertenceu à Rússia.

Também a China depois de décadas de relações estáveis com os Estados Unidos se ouriça com o Tratado Transpacífico (TTP), e mostra disposição de definir como “suas” ilhas remotas situadas no Mar do Japão e de reivindicar soberania sobre águas presumivelmente internacionais no Mar do Sul da China. Ao mesmo tempo, desenvolve projetos de integração viária e econômica com a Europa, quem sabe sentindo-se mais segura na Eurásia do que no Pacífico. E começa a ser mais amiga da Rússia, de quem sempre foi rival.

A Europa fragmentada, mais ainda depois do Brexit, não é capaz de responder aos desafios da imigração crescente dos desesperados da terra, nem de outorgar nova legitimidade ao pacto social de pós-guerra que a manteve una e próspera. Como responder aos novos tempos de desemprego e baixo crescimento, e evitar a onda direitista e reacionária?

Não escrevo isso por diletantismo geopolítico. Em Paris, de onde envio este artigo, segui as notícias das eleições brasileiras. As urnas confirmaram o que se previa: a derrocada do PT, os êxitos do PSDB e a emergência da antipolítica, que se expressou nas abstenções, nas anulações de voto e na vitória de candidatos de não partidos. Ganhamos, diria como eleitor do PSDB, mas para o que fazer?

Qual é a proposta, não só do PSDB, mas dos dirigentes políticos em geral, para o Brasil como nação, mais do que como simples economia, e como país que é parte de um mundo desafiador, no qual coexistem os avanços da globalização e as dificuldades dos Estados nacionais para lidar com as demandas dos perdedores dela e das organizações internacionais para evitar a escalada de conflitos geopolíticos?

Nesse contexto, tenho a sensação de que os que temos responsabilidades públicas ainda não sentimos com força a urgência do que é preciso fazer para reconstruir o tecido social de um país com 12 milhões de desempregados, em situação fiscal falimentar e com suas formas tradicionais de coesão política desarticuladas. O estrago que o lulopetismo e o milenarismo esquerdista fizeram foi sentido pelo povo, como as urnas mostraram. Mas nós, líderes políticos, temo ainda não termos percebido que acima de nossas bandeiras partidárias temos que reconstruir a economia, refazer as bases da convivência política, tragadas moralmente pela permissividade e pela corrupção, e engatar novamente o Brasil no mundo em que vivemos.

Talvez não tenhamos nos dado conta de que as classes sociais hierarquizadas em cujas diferenças amarrávamos nossas ideologias e nossos partidos, sem se dissolverem, estão fragmentadas em múltiplos interesses, valores e lealdades num caleidoscópio de fios que se tecem e se desfazem graças às novas formas de comunicação (cada vez mais instantânea) que quebram as referências políticas tradicionais.

Teremos discernimento para vislumbrar onde ancorar o interesse nacional num mundo de predominância financeiro-tecnológica, bélico e com riscos de incêndio? Saberemos refazer alguma solidariedade, pelo menos sul-americana, e, a partir dela, nos posicionarmos sem a afetação de que somos uma potência, e ao mesmo tempo sem sermos subservientes às nações poderosas nem prisioneiros de um “terceiro mundo” que não funciona mais como periferia colonial do capitalismo competitivo, como foi no passado?

Não estaremos à altura dos desafios se não afirmarmos que precisamos de uma trégua nacional, não para conciliar elites, mas para pactuar o futuro e pensar sobre ele. Será preciso coragem para o STF deixar a Lava-Jato cumprir seu papel de restaurador da moral pública, mas também manter vivo o respeito aos direitos individuais. E o governo federal, que bem fez em buscar a harmonia dos Poderes a despeito da figura dos titulares, precisa encaminhar soluções jurídicas que mantenham as empresas ativas, salvaguardando os empregos e nossa capacidade produtiva, sem prejuízo da punição dos dirigentes que a Justiça julgar cabível aos responsáveis por crimes. Caso contrário, não faltam capitais globais dispostos a adquirir na bacia das almas o que caro custou construir.

Tais desafios requerem vozes. No vazio político das sociedades contemporâneas, paradoxalmente, precisamos que os líderes se comprometam, explicitem suas posições, tomem partido sem tanta preocupação com seus “partidos” e que ao propor soluções se recordem de que a voz não ouvida, a dos que se sentem deslocados pelo “progresso”, se não encontrar um lugar digno na sociedade do futuro se tornará inimiga dela. 
Cabe ao PSDB responder à vitória reafirmando o social de seu nome e acompanhando as transformações dos valores e da cultura, opondo-se, portanto, às ondas reacionárias não só na Europa, mas também entre nós.
Fonte: Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente - O Globo

domingo, 6 de novembro de 2016

O tsunami está chegando

É hora de delações da Odebrecht e de Lava Jato, não de brincar com fogo

Na superfície, o Congresso discute a PEC dos gastos e as eleições para as presidências de Câmara e Senado e para as lideranças de blocos e partidos. Nas profundezas, sofre, sem saber (e sem ter) o que fazer, diante do tsunami que começa nesta segunda-feira, 7 de novembro: a meia centena de delações da Odebrecht sobre as relações promíscuas com o mundo político.

Para agilizar os trabalhos e ir logo ao ponto, a sistemática mudou. Os 50 delatores vão apresentar amanhã suas revelações por escrito, depois serão chamados para confirmar o que escreveram e a força-tarefa da Lava Jato pretende ter a homologação das delações da Odebrecht em mãos até 20 de dezembro, quando o Judiciário entra em recesso. Aliás, o Congresso também, por volta da mesma data.

Pelo que foi vazado, serão listados de 150 a 300 políticos de praticamente todos os partidos. Isso abre uma nova era na Lava Jato, que não só deixa estressados deputados, senadores, governadores, prefeitos e seus antecessores, como também exige uma enorme responsabilidade da Justiça, MP e PF.  Se os investigados estarão alvoroçados, os investigadores – e a mídia – estarão entre duas pressões políticas e psicológicas: de um lado, a acusação de que a Lava Jato é uma armação demoníaca só para eliminar o PT; de outro, o pânico nos três Poderes de que todos os políticos e partidos sejam jogados na fogueira, arrastando o Congresso, pilar da democracia, para o quinto dos infernos.

Juízes, procuradores e policiais não raciocinam (ou não deveriam raciocinar) subjetivamente, com base em consequências políticas, mas sim objetivamente, atentos a fatos, crimes e criminosos. Mesmo assim, é preciso frieza e maturidade para se equilibrar entre essas duas pressões e com a opinião pública querendo sangue e linchamentos.

O ponto zero é uma pergunta: alguém neste País não sabia que a Odebrecht fazia doações para campanhas majoritárias (Presidência, governos e Senado) e muitas proporcionais (especialmente Câmara)? Isso é público, notório, parte da paisagem. Até aí, morreu Neves. O complicado é identificar quem é quem, o que é o quê. Quem usou dinheiro da Odebrecht (ou de que doadora for) para aumentar patrimônio e enriquecer contas particulares na Suíça e em paraísos fiscais; quem usou o pretexto da campanha para levar uma parte por fora; quem negociou doação à custa de corrupção em órgãos públicos e estatais; quem efetivamente usou o dinheiro em campanhas, mas com caixa dois; quem recebeu recursos para sua campanha conforme a lei em vigor.

Fazer carnaval, ou manchete, com o fato de fulano(a), beltrano(a) e sicrano(a) receberem financiamento da Odebrecht para concorrer a algum mandato não ajuda o processo, não clareia o mundo no mínimo nebuloso das campanhas e não educa a opinião pública para a importância da política limpa e para os perigos da corrupção. Logo, é um desafio e tanto, com a patrulha na cola e as estruturas do Congresso tremendo.

Um adendo: quem alardeia essas ideias pirotécnicas, ou piromaníacas, de derrubar Michel Temer para pôr Fernando Henrique no lugar já pensou em quem, como, onde e por quê? O colégio eleitoral seria o Congresso, onde, logo, logo, mais de uma centena de camaradas estarão na fila da Lava Jato. A reação automática seria que o PSDB tirou Dilma e pôs Temer para, aí, sim, dar um golpe. E a economia, a política, a imagem do País e a paciência da sociedade explodiriam de vez.

O Brasil passa por uma real faxina de métodos e costumes, tentando pavimentar uma política mais ética, um futuro mais digno e FHC, além de ter mais de 80 anos e um marca-passo, é um homem de bom senso e um sociólogo com responsabilidade histórica. Sabe que a hora é de Lava Jato, não de brincar com fogo.


Fonte: O Estado de S. Paulo - Eliane Cantanhêde