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quarta-feira, 19 de abril de 2023

Frases de Roberto Campos (o avo do Neto) para dar urticária em esquerdistas

 

O comunismo fabricou três dos maiores carniceiros da espécie humana - Lenin, Stalin e Mao Tse-tung. Lenin foi o iniciador do terror soviético.  
Enquanto os czares russos em quase um século (1825 a 1917) executaram 3.747 pessoas, Lenin superou esse recorde em apenas quatro meses após a revolução de outubro de 1917.

A burrice não tem fronteiras ideológicas.

A diferença entre a empresa privada e a empresa pública é que privada é controlada pelo governo, e a pública, por ninguém.

O que os governos latino-americanos desejam é um capitalismo sem lucros, um socialismo sem disciplina e investimento sem investidores estrangeiros.

Para Karl Marx a ditadura do proletariado seria apenas um estágio na evolução dialética. Abolidas as classes e a propriedade privada, assistiríamos ao "fenecimento do Estado" e a floração da liberdade. Infelizmente Marx era bom filósofo, medíocre profeta e mau político.

Tudo o que é rigorosamente proibido é ligeiramente permitido.

Definitivamente Deus, não era comunista, pois não fez os homens iguais.

Deus errou, limitou a inteligência e não limitou a burrice.

Por amor ao passado o Brasil perdeu o presente, e comprometeu o futuro.

Deus nos livre dos bens intencionados, eles causam danos irreparáveis.

O mundo não será salvo pelos caridosos, mas pelos eficientes.

Quando cheguei ao Congresso, queria fazer o bem. Hoje acho que o que dá para fazer é evitar o mal.

O Brasil e a Argentina parecem dois bêbados cambaleantes a cabecear nos postes. Só que, enquanto a Argentina parece estar a caminho da economia de mercado, o Brasil parece estar de volta ao bar.[ao que sabemos, Lula é EX-presidiário, mas não é  ex-cachaceiro.]

O bem que o Estado pode fazer é limitado; o mal, infinito. O que ele nos pode dar é sempre menos do que nos pode tirar.

Para sentir as coisas é preciso emoção. Para fazê-las e desfazê-las é necessária uma certa dose de paixão. Mas entendê-las, só com a razão.

Cometi o único pecado que a política não perdoa: dizer a verdade antes do tempo.

Conservadores e Liberais  - Percival Puggina


sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

O verdadeiro Lula - Carlos Alberto Sardenberg

O presidente Lula considera uma bobagem esse negócio de banco central independente. Diz que o sistema não está funcionando porque a meta de inflação é muito baixa, a inflação real está elevada e os juros muito altos. Arremata dizendo que no tempo do seu primeiro governo o BC não era independente e conseguiu derrubar inflação e juros.

         Confusão danada.

         Começando pelo fim: o banco central nos dois primeiros mandatos de Lula, de fato, não tinha autonomia ou independência formal. Mas Henrique Meirelles, então um deputado tucano e ex-presidente mundial do Bank of Boston, só aceitou o convite de Lula para assumir o BC se tivesse plena independência. Lula prometeu e cumpriu.

         Meirelles, também sustentado pelo então poderoso ministro da Fazenda Antônio Palocci, escolheu sua diretoria e administrou a política monetária segundo a teoria e a prática de um banco central moderno.

         Quando Palocci caiu, Guido Mantega assumiu a Fazenda e tentou derrubar Meirelles. Queria colocar no lugar Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp, com propostas opostas às de Meirelles. Quase conseguiu. Preocupado com a reação dos mercados e dos operadores da economia real, Lula manteve o ex-banqueiro.

         Desfazendo a primeira confusão: Lula reclama hoje da independência, legal, do BC e argumenta que no tempo dele funcionou bem … com independência. Só que era uma independência na prática, concedida pelo presidente. Assim como fora na época de FHC.

         Essa independência era uma fragilidade, demonstrada na gestão de Dilma. A presidente interferiu direto na política monetária, ordenando uma redução de juros quando não havia condições para isso e que veio a dar na inacreditável combinação de inflação alta, juros altos e recessão.

         Provou por que o BC deve ser independente. Fica imune às políticas eleitoreiras e/ou populistas do governante de plantão. A lei de independência do BC brasileiro foi votada pelo Congresso em 2021. Determina que o BC deve perseguir a meta de inflação, definida pelo Conselho Monetário Nacional, e fixa o mandato dos diretores do banco. Assim, o atual presidente do BCB, Roberto Campos Neto, tem mandato até dezembro de 2024, para cumprir metas já fixadas.

Mas a confusão armada por Lula começa em outro ponto da política econômica, o estado das contas públicas. O presidente ataca o teto de gastos e a exigência de responsabilidade fiscal, diz que os fiscalistas são contra os gastos sociais e logo em seguida assegura que seu primeiro governo praticou a responsabilidade fiscal.

         Este último ponto é verdade. Por influência de Palocci e Meirelles, Lula cumpriu a Lei de Responsabilidade Fiscal, entregando superávits elevados todos os anos. Repararam? Lula está invocando seu passado responsável de respeito à autonomia do BC e produção de superávits fiscais – para rechaçar qualquer regra nesses itens.  
Só que agora é para tolerar uma inflação mais alta, BC à parte, e obter uma licença para gastar e produzir déficits elevados.

         O que está por trás dessa confusão?

         É que o Lula do primeiro governo não era o verdadeiro. Ele praticou políticas responsáveis, ortodoxas, por medo da reação dos meios econômicos. Tanto que começou a mudar a postura no segundo mandato, quando se sentiu mais seguro. Tudo considerado, Dilma foi o verdadeiro Lula, com a gastança do governo, suas estatais e seus bancos.

         É o que Lula quer reviver, mas as circunstâncias mudaram. No primeiro governo, Lula recebeu a casa arrumada e um presente da globalização: o mundo todo em crescimento, com o boom das comodities trazendo dólares ao Brasil.

         Agora, o mundo desacelera, os juros são altos para combater a inflação. Aqui também. Por isso Lula não precisa reclamar da meta de inflação. A inflação real e que atinge os mais pobres já está bem acima da meta.

         Pode apostar: vai sobrar para o BC independente. 

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista

Coluna publicada em O Globo / Economia / Política

 

sábado, 18 de junho de 2022

A vida tem preço. É cara - Carlos Alberto Sardenberg

Aconteceu antes da pandemia, mas o assunto permanece atual. Cenário: um amplo congresso reunindo juízes, advogados, funcionários da Agência Nacional de Saúde, representantes de órgãos de defesa do consumidor, executivos dos planos de saúde e hospitais.  
Tema: as ações que cobravam das seguradoras tratamentos e remédios que não constavam do rol da ANS ou do contrato. (Na semana passada, o STJ voltou ao tema).

Um desembargador conclui sua apresentação em grande estilo: “toda vez que cai na minha mesa uma disputa entre o segurado e o plano, eu decido a favor do segurado, porque a vida não tem preço”.

Juízes de diversas instâncias têm decidido na mesma direção. No começo de 2019, a ministra Carmen Lucia, do STF, sapecou: “Saúde não é mercadoria, vida não é negócio, dignidade não é lucro”. Tratava-se de uma resolução da Agência Nacional de Saúde (ANS) que autoriza planos a cobrarem uma co-participação dos segurados em determinados procedimentos. A ministra, claro, decidiu contra os planos.

Na verdade, não deveria ser assim. Colocada nesses termos segurado, um indivíduo com um problema de saúde, versus os planos, grandes corporações a decisão será sempre a favor do indivíduo. A Constituição determina: saúde é direito de todos e dever do Estado.

O problema é que a vida tem preço. No primeiro caso, para começar, a prestação mensal do plano. No caso da ministra, é verdade que não se encontra o produto saúde numa prateleira de supermercado, mas é preciso comprar um monte de produtos e serviços para ter saúde: comida, um bom lugar para morar, água, luz elétrica, roupas e… consultas médicas, vacinas, remédios, talvez uma cirurgia.

Também não se encontra doença na prateleira do supermercado – com o perdão do óbvio – mas quem não pode pagar pelos remédios, adoece.

Dirão: mas quem é atendido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) não paga nada e, sendo tudo de graça, não se encontra aí qualquer relação com o mercado.

Outro equívoco.

Primeiro, que não é de graça. Todos os brasileiros, saudáveis ou doentes, pacientes ou não do sistema público, pagam impostos para financiar o SUS. Além disso, o SUS compra remédios, contrata médicos e enfermeiros, aluga serviços de hospitais particulares — e tudo isso tem preço, cada vez mais caro. As novas tecnologias e medicamentos de ponta tornam a medicina muito mais efetiva. E mais custosa.

A questão séria, portanto, é muito simples de formular: como financiar os sistemas de saúde. E pelo que se vê no Brasil e mundo afora, é difícil definir uma política pública que contemple as questões econômicas e morais. Por aqui, está claro que o SUS não dá conta de sua missão constitucional. Não consegue atender toda a população brasileira. Além disso, está sub-financiado para o que faz no momento. Remunera mal tanto seus profissionais quanto os hospitais que atendem SUS.

Vamos falar francamente: por esse interior, tem gente que morre por falta de dinheiro – dinheiro público para os serviços locais.

Ou seja, de qualquer perspectiva, social ou econômica, é preciso fortalecer o SUS com mais dinheiro e capacidades.  
Mas temos debatido mais o outro lado da história, a assim chamada, na Constituição, a saúde “suplementar”. Nada menos que 49,3 milhões de brasileiros pagam planos e operadoras privados. Entre estes, milhares de funcionários públicos.

A dificuldade aqui é equilibrar direitos e necessidades dos segurados com a situação econômica dos planos. É interesse nacional. Imaginem que os planos se tornem financeiramente inviáveis como o SUS atenderia mais 50 milhões? [não somos especialistas, mas resta óbvio que se matarmos os planos de saúde privados a situação vai piorar e muito.]

A Constituição garante o direito à vida (o que significa que o brasileiro não pode morrer, ironizava Roberto Campos), mas a lei não paga a vida. É preciso estudar, trabalhar e comprar um monte de coisas para viver.

É nesse contexto que se deve analisar a recente decisão do STJ, estabelecendo que o rol de atendimentos definido pela ANS é taxativo. De certo modo, uma decisão fora da curva. Tema do próximo artigo.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista

Coluna publicada em O Globo - Economia 18 de junho de 2022

 

domingo, 14 de novembro de 2021

A CONSTITUIÇÃO VIROU UM RASCUNHÃO - Percival Puggina

E o Brasil foi passado a sujo.

Quero sugerir a você uma rápida e instrutiva experiência. Levará poucos segundos para você acessar o site do Palácio do Planalto onde pode ler a Constituição Federal em versão atualizadíssima. Basta clicar aqui.

Logo, você terá diante dos olhos a segunda maior constituição do mundo, que só perde em palavrório para a da Índia.  Em seguida, gaste alguns segundos fazendo correr a barra lateral direita de cima para baixo. Não perca tempo lendo coisa alguma, apenas olhe. Você verá que aos 33 anos de idade, nossa CF virou um rascunhão,  inteiramente  emendado e riscado, corrigido e piorado por mais de uma centena de emendinhas e emendões, muito dos quais meramente casuístas. Note bem: há mais de outra centena na fila das proposições aguardando meter o bedelho no texto de 1988.

Dói-me dizê-lo, mas que péssimo serviço prestaram os constituintes de então quando ofereceram à nação essa estrovenga tagarela que teve a pretensão de conseguir, com a força das palavras impressas, prodigiosa e prodigamente transformar um país pobre em paraíso de bem estar social. E que não saciados, no apagar das luzes, ainda arrumaram tempo para virar pelo avesso o modelo institucional originalmente concebido, deixando à vista até as costuras sobre as quais, agora são aplicados os remendos. Desde então, a crise entre as instituições é a “quentinha” diariamente servida à mídia nacional.

A cada dia mais se referenda o diagnóstico do saudoso e insubstituível Roberto Campos, para quem nossa Constituição “é uma mistura de dicionário de utopias com regulamentação minuciosa do efêmero”.

Agora, por exemplo, o STF tendo mandado o governo pagar os precatórios em 2022, sem dizer de onde deve sair o dinheiro, sem cancelar uma única de suas mordomias, dá 48 horas para que o presidente da Câmara dos Deputados explique como conseguiu os votos necessários para aprovar a emenda que viabiliza o cumprimento da exigência que ele mesmo, STF, fez. 
Sim, porque até para pagar conta é preciso mexer no rascunhão de 1988. E desde então – surpresa! – graças a esse modelo institucional mal pensado, liberação de emenda parlamentar é voto na mão para aprovar matérias no Congresso Nacional brasileiro.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


sexta-feira, 8 de outubro de 2021

A constituição do atraso - Revista Oeste

Rodrigo Constantino

A Carta Magna de 1988 foi uma espécie de “vingança infantil” aos tempos da ditadura 

Nesta semana, a nossa Constituição Federal, promulgada em 1988, completou seu 33º aniversário. O ministro do STF Luís Roberto Barroso, presidente do TSE, comentou: “A Constituição de 1988 completa 33 anos. Estabilidade institucional e avanços importantes em direitos de mulheres, negros, gays e comunidades indígenas. A agenda inacabada: derrotar a pobreza extrema, as desigualdades injustas e promover desenvolvimento sustentável para todos”. Há muito o que ser comemorado mesmo? Eis o que pretendo debater em seguida, até porque não sabemos até quando será possível criticar nossa Carta Magna sem isso ser considerado um “ataque às nossas instituições”. Deputado Ulysses Guimarães em 1988, no encerramento das votações da nova Carta Constitucional | Foto: Arquivo/Senado Federal
Deputado Ulysses Guimarães em 1988, no encerramento das votações da nova Carta Constitucional  -  Foto: Arquivo/Senado Federal

Por um lado, trata-se de uma conquista interessante mais esse aniversário, já que o Brasil é conhecido por sua enorme quantidade de Constituições existentes. Só no século 20, tivemos uma Constituição em 1934, outra em 1937, mais uma em 1946, outra em 1967 e, finalmente, a Constituição de 1988. E o fio condutor delas foi a incapacidade de impedir o arbítrio estatal. No livro A História das Constituições Brasileiras, o historiador Marco Antonio Villa, antes de se tornar um ativista afetado, disseca os maiores absurdos das várias Constituições que tivemos. Na sua apresentação, a síntese é perfeita: “Não é exagero afirmar que os últimos 200 anos da nossa história têm como ponto central a luta do cidadão contra o Estado arbitrário. E, na maioria das vezes, o Estado ganhou de goleada”.

A conquista de certa “longevidade”, portanto, é interessante, mas não compensa, de forma alguma, o custo elevado que essa Constituição representou para o país. Enquanto muitos políticos vibravam com a aprovação da “Constituição Cidadã”, um indivíduo com a mente mais lúcida lamentava aquele fato, antecipando quanto ele custaria ao povo brasileiro. Era Roberto Campos, que chamara a Constituição de 1988 de “anacrônica”, remando contra a maré populista de seu tempo.

Em seu livro de memórias Lanterna na Popa, Roberto Campos dedica várias linhas à Constituição de 1988, e todos aqueles que comemoram seu aniversário deveriam investir algum tempo para ler tais críticas. A inflação herdada da era Goulart, por exemplo, estava em quase 8% ao mês, mas a Constituição contava com um absurdo dispositivo que limitava os juros a 12% ao ano, uma “ridícula hipocrisia”. Uma Constituição mencionar limite para juros é algo realmente pitoresco. Do ponto de vista tributário, a Constituição de 1988 gerou uma “vultuosa redistribuição da capacidade tributária em favor dos Estados e municípios, sem correspondente redistribuição de funções. Sob o ponto de vista da estrutura tributária, Roberto Campos conclui que a Constituição “representou um lamentável retrocesso”.

Outro exemplo evidente do atraso causado pela Constituição foi o monopólio do petróleo garantido ao governo. A confusão entre “segurança nacional” e monopólio do governo não passava de uma grande falácia econômica. Campos explica que, “ao retardar o fluxo de capital para a exploração petrolífera local, criava-se adicional insegurança, pois nosso abastecimento ficaria na dependência de suprimentos extracontinentais, carregados por via marítima e, portanto, sujeitos à vulnerabilidade submarina”.

Um sério problema do Brasil, a desproporcionalidade da representação na Câmara dos Deputados em desfavor do Centro-Sul, foi bastante agravado com a Constituição de 1988 também. A criação de novos Estados na Constituição gerava uma distorção ainda maior, particularmente contra São Paulo. Para eleger um deputado nordestino, com o mesmo poder de um paulista, precisa-se de bem menos votos. Isso cria um deslocamento de poder para as regiões do Norte e Nordeste, dificultando reformas econômicas que seriam mais facilmente aprovadas se dependessem da escolha do Sul e Sudeste, que carregam a economia do país nas costas.

As promessas simplesmente não cabiam no Orçamento, não levavam em conta a realidade

Além disso, ao remover quaisquer barreiras, tanto de criação como de representação legislativa dos partidos, a Constituição de 1988 “nos legou um multipartidarismo caótico com partidos nanicos que não representam parcelas significativas da opinião pública, sendo antes clubes personalistas e regionalistas ou exibicionismo de sutilezas ideológicas”. Conforme conclui Campos, ficamos muito mais com uma demoscopiaque uma democracia. Tema bastante atual, não é mesmo?

Roberto Campos considerava que sua vida no Senado foi marcada por uma sucessão de batalhas perdidas, as principais sendo: a batalha da informática, cuja Lei da Informática jogou o país na era dos dinossauros em tecnologia; a batalha contra o Plano Cruzado e sua resultante moratória, enquanto economistas de esquerda, como Maria de Conceição Tavares, chegaram a chorar de emoção com o plano fracassado; e a batalha contra a Constituição brasileira de 1988, tomada pela mentalidade nacional-populista.

O ícone dessa fase, Ulysses Guimarães, defendia demagogicamente o objetivo constitucional de “passar o país a limpo”. As promessas simplesmente não cabiam no Orçamento, não levavam em conta a realidade. Como escreveu Campos, “Ulysses parecia encarar com desprezo a ideia de limites ou constrangimentos econômicos”. Para ele, tudo parecia ser uma questão de “vontade política”, expressão que muitos utilizam até hoje como solução mágica para nossos males. Roberto Campos chegou a acusar Ulysses, em artigo de jornal, de “um grau de ignorância desumana” em economia. Infelizmente, ele estava certo.

A Constituição de 1988 foi extremamente reativa, uma espécie de “vingança infantil” aos tempos da ditadura. Dizem também que foi promulgada um ano antes do que deveria, pois em 1989 tivemos a queda do Muro de Berlim, soterrando sonhos socialistas ainda muito fortes em nosso país. Vale notar que 15 deputados petistas votaram contra o texto final porque queriam ainda mais socialismo nele! É compreensível que existisse uma demanda social reprimida naquela época. Mas o uso da Constituição como veículo para atender àquela demanda foi um grave erro. O grau de utopia presente na Constituição é assustador. Ela fala dezenas de vezes em “direitos”, mas quase nunca em “deveres”.

O historiador Victor Davis Hanson, em seu novo livro The Dying Citizen, que acaba de ser lançado, comenta sobre mudanças culturais em curso nos Estados Unidos que podem estar tornando esta grande nação livre, cuja Constituição tem mais de dois séculos com poucas emendas, em algo mais similar aos países latino-americanos. Para ele, essa noção de cidadania pode estar ameaçada: “Afinal, a cidadania não é um direito; requer trabalho. No entanto, muitos cidadãos de repúblicas, antigas e modernas, passam a acreditar que merecem direitos sem assumir responsabilidades — e não se preocupam como, por que ou de quem herdaram seus privilégios”.

Hanson acrescenta: “Os cidadãos não são meros residentes, propensos a receber mais do que dar. Eles não são povos tribais que se unem por aparência ou laços de sangue. Eles não são camponeses sob o controle dos ricos. Nem é sua primeira lealdade a uma comunidade mundial abstrata”. A cidadania pressupõe o compartilhamento de certos valores básicos dentro de um território comum, com laços sociais e culturais como elo para o respeito mútuo e a confiança nas regras do jogo. A defesa da propriedade privada, das liberdades individuais e do império das leis é o pilar fundamental de uma república, e desde a origem da Carta Magna britânica em 1215 que o esforço tem sido na linha de limitar o poder abusivo e arbitrário dos poderosos, do próprio Estado.

A Carta Magna de uma nação deve tratar dos temas mais básicos apenas, com um caráter bem mais negativo do que positivo, ou seja, colocando em evidência aquilo que os cidadãos não podem fazer e restringindo com claras definições aquilo que o Estado pode fazer. O governo deve evitar o excesso de legislação, que serve para emperrar o crescimento e criar injustiças. Infelizmente, o Estado brasileiro é extremamente paternalista, e trata seus cidadãos como mentecaptos que necessitam da tutela estatal para tudo.

A Constituição de 1988 é um reflexo dessa mentalidade ultrapassada. Não é exatamente um documento para cidadãos republicanos, mas sim para súditos de um Estado ativista e hipertrofiado, que se arroga o papel de locomotiva do progresso e da justiça social. Em vez de uma “Constituição Cidadã”, o que precisamos é da constituição de uma verdadeira cidadania em nosso país.

[Até o presente momento, ao que sabemos, a presente matéria não provocou a prisão do ilustre colunista  sob acusação da prática de atos contra a Constituição cidadã.]

Leia também “Os cúmplices de Castro”

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Tesla vai ao Texas - Rodrigo Constantino

Revista Oeste

Elon Musk deixa a Califórnia, Estado que caminha para um experimento social fracassado por culpa da elite progressista. Mas quem paga o pato mesmo é o povo

[a matéria mostra com uma crueza intensa, uma verdade chocante: se o Brasil continuar com a política de aumentar direitos sem a contrapartida de deveres, distribuir riquezas antes de criá-las, o resultado será um só:  o narrado nesta matéria será realidade.

Já estamos na situação apresentada nos parágrafos 1, 7 e 8, é só continuar como está e o CAOS CAÓTICO, o fim do BRASIL se apresentará.]

Minha colega Ana Paula Henkel já escreveu um texto espetacular nesta revista sobre a decadência californiana (“Garota, eu não vou para a Califórnia”), que recomendo a todos que se preocupam com o potencial estrago de uma mentalidade “progressista”. Volto ao tema, pois nesta semana o bilionário Elon Musk oficializou sua mudança para o Texas. Trata-se de um marco que ilustra com perfeição o declínio acelerado do “Estado de Ouro” norte-americano.

Ana Paula já havia resumido as principais causas dessa debacle: políticas progressistas tolerantes ao crime, elevados gastos sociais sem planejamento, aumento da população de rua e regulação cara e complexa para negócios
Tudo isso tem provocado o êxodo californiano. O conhecido comentarista conservador Ben Shapiro já tinha anunciado a decisão de levar seu The Daily Wire para Nashville, e o simbolismo não foi pequeno, uma vez que Shapiro nasceu e viveu em Los Angeles sua vida toda. Mas todos têm um limite.

Os motivos apresentados por Shapiro são similares àqueles oferecidos por Musk. O bilionário empreendedor disse que, embora haja “muitas coisas realmente ótimas” no Estado da Costa Oeste, ele achou prudente mudar-se para o Texas, e alertou: “Se uma equipe está vencendo há muito tempo, ela tende a ficar um pouco complacente, cheia de direitos, e então não ganha mais o campeonato. A Califórnia vem ganhando há muito tempo. E acho que eles estão tomando isso como algo garantido”.

Musk ainda possui operações na Califórnia, mas pelo visto está ficando cansado da situação: “Em primeiro lugar, a Tesla e a SpaceX obviamente têm operações massivas na Califórnia. Na verdade, é importante notar que a Tesla é a última empresa automotiva ainda fabricando carros na Califórnia. A SpaceX é a última empresa aeroespacial ainda fazendo uma produção significativa na Califórnia. Costumava haver mais de uma dúzia de fábricas de automóveis na Califórnia. E a Califórnia costumava ser o centro da fabricação aeroespacial! Minhas empresas são as duas últimas que sobraram… Essa é uma observação muito importante a fazer”.

Resta perguntar: até quando? A realidade é que ninguém gosta de deixar dinheiro na mesa, para burocratas do governo. Nem mesmo os “liberais” que costumam defender maiores impostos, diga-se de passagem. A Fox Business relatou que a mudança pessoal de Musk para o Texas significa que ele “aumentará suas chances de evitar um imposto de renda estadual de 13,3% sobre os ganhos de capital que obtém no caso de vender ações da Tesla ou receber bônus”. Quem costuma pregar mais impostos em nome do combate às desigualdades ignora que as riquezas, antes, precisam ser criadas. É a típica mentalidade ­ex-post facto, que olha o bolo feito e quer reparti-lo de forma “mais justa”, ignorando que ele primeiro foi fabricado.

O que aconteceu? Numa frase: muita riqueza e muita pobreza

Em complemento ao brilhante texto de Ana Paula, gostaria de recomendar o pequeno livro do historiador Victor Davis Hanson, The Decline and Fall of California: From Decadence to Destruction. Hanson está numa posição privilegiada para falar do assunto, pois dá aulas na costa cosmopolita e reside no interior, cuidando de sua fazenda. Ele conhece como poucos o abismo que se abriu entre ricos e pobres no Estado, justamente por conta das medidas esquerdistas. E seu diagnóstico é assustador.

Como pegar um dos Estados mais ricos do planeta, repleto de empreendedores de tecnologia, de riquezas naturais, de expoentes da indústria do cinema, e transformá-lo num caos social? 
É preciso adotar por longo período a receita esquerdista: progressismo cultural, relativismo moral e Estado de bem-estar social. Roberto Campos já dizia que uma tragédia como a brasileira não é obra do acaso, mas sim de um esforço determinado de décadas”. O mesmo diagnóstico serve para o caso californiano. “Os californianos sabem que ter dezenas de milhares de desabrigados em suas principais cidades é insustentável. Em alguns lugares, as calçadas tornaram-se esgotos a céu aberto de lixo, agulhas usadas, roedores e doenças infecciosas”, diz Hanson. Não obstante, ninguém ousa questionar o modelo esquerdista vigente.

O Estado tem uma das maiores cargas tributárias do país, os preços de combustível são bem mais altos do que a média, e falta energia, com frequentes apagões. A infraestrutura é cada vez mais abandonada, o trânsito é infernal, mas a moda nas rodas cosmopolitas é elogiar a energia limpa. As escolas públicas estão entre as mais fracas do país, mas a elite é contra as charter schools ou os vouchers, enquanto coloca seus filhos em escolas particulares. “Os californianos sabem que se aventurar na sala de emergência de um hospital municipal é descer ao inferno moderno de Dante. As instalações médicas estão superlotadas. A classe média em extinção precisa enfrentar preços exorbitantes para tratar uma criança ferida ou doente”, escreve Hanson. A criminalidade está em alta também. Mas ninguém se atreve a criticar as leis frouxas de imigração ou de combate ao crime.

A Califórnia é agora um Estado com um partido único. Os democratas têm supermaiorias em ambas as casas do Legislativo. Apenas sete das 53 cadeiras no Congresso do Estado são ocupadas por republicanos. Os três políticos mais poderosos da Califórnia, entre eles a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, são multimilionários. Vivem blindados dos efeitos perversos de suas ideologias progressistas.

O que aconteceu com a Califórnia? Hanson responde em uma frase: muita riqueza e muita pobreza, à medida que o número de multimilionários e bilionários — agora mais de 130 — disparou mesmo com o aumento da porcentagem de pobres. Ambos encontraram isenções de impostos estaduais mais altos e maiores regulamentações, um por sua influência política, conexões e capital, o outro por sua pobreza e dependência.

Hanson apresenta dados estarrecedores, como a dívida estadual gigantesca, e desabafa: “Se ao menos as pessoas tivessem de viver no mundo que sonharam para os outros”. Eis o problema californiano em essência: aqueles utópicos que idealizam seu “novo mundo” imposto de cima para baixo pelo Estado não são os mesmos que costumam pagar o preço de efetivamente viver em tal inferno.

A classe média fica espremida entre ricaços poderosos e pobres que dependem do Estado

Em suma, a Califórnia caminha para um experimento social fracassado por culpa da elite, mas quem paga o pato mesmo é o povo. “Os pobres e as classes médias geralmente arcam com o peso dessas políticas em termos de redução das oportunidades de emprego e economia mais lenta”, explica Hanson.

Sendo especialista em história militar, Hanson faz uma comparação interessante: “Isso me lembra os otomanos na Grécia, que arrancaram os selos de chumbo dos grampos de ferro que mantinham unidos os blocos de mármore dos templos e paredes da Grécia Antiga. Os turcos, que pouco podiam fazer, exceto limpar muito, conseguiram seus poucos gramas de chumbo para as balas. Na troca, os grampos de ferro expostos enferrujaram e se desfizeram, arruinando as antiguidades que até então haviam sobrevivido a 2 mil anos de desgaste natural. Uma civilização constrói e investe, outra completamente diferente destrói e consome”.

O ditador popular já diz: “Pai rico, filho nobre, neto pobre”. Ou seja, os californianos estão consumindo o que herdaram, estão desperdiçando no luxo ao qual só herdeiros irresponsáveis, sem consciência de como a fortuna foi criada, podem se dar.

“Por que nem todo mundo vai embora?”, questiona Hanson. A resposta é simples, segundo ele: para os ricaços do litoral, não há nenhum outro lugar onde o dinheiro seja tão bom e o clima e a paisagem sejam tão agradáveis. E, para a classe baixa do interior, os direitos na Califórnia e os empregos em serviços mal pagos são um paraíso em comparação com Honduras ou o sudeste da Ásia. E, sim, os pequenos agricultores de classe média, donos de lojas de ferragens, aposentados de empresas e eletricistas estão partindo em massa.

A classe média fica espremida entre ricaços poderosos e pobres que dependem do Estado. Mas, se a situação continuar saindo do controle, é questão de tempo até os ricaços perceberem que sua redoma não é absoluta, que o estrago causado do lado de fora produz inevitável impacto no todo. Não quero ser um abutre aqui, mas é uma análise realista. A Flórida, governada por um republicano e que deu vitória a Trump nessas eleições, estará de braços abertos para receber Ana Paula e sua família!

Rodrigo Constantino, jornalista - Revista Oeste

 

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Tira-dúvidas sobre o Pix

Por: Dagomir Marquezi - Transcrito da Revista Oeste

O Pix quebra um tabu: o de que o Estado só existe para atrapalhar a vida do cidadão

Quer transferir dinheiro para seu primo de outra cidade? Enfrente o momento tenso de passar pela porta giratória sob o olhar severo do segurança. Tire o chaveiro do bolso, o celular, as moedas, coloque tudo no compartimento de objetos metálicos. Se conseguir entrar, encare meia hora de fila no caixa. Transferências, só em dinheiro. A agência fecha às 16 horas. A taxa custa dezenas de reais. E o dinheiro só vai cair na conta de seu primo em oito a dez dias. Úteis. Assim se transferia dinheiro no Brasil até 1995. É o passado. Agora temos, com o home banking, facilidades impensáveis naquela época: aplicativos nos celulares, prazos mais curtos, taxas menores.

Isso é o presente. Nas próximas semanas, esse presente também vai virar passado. E nossa relação com o dinheiro sofrerá uma mudança mais radical. É um caminho inevitável: a digitalização definitiva da moeda. Cédulas, cheques e cartões estão virando peças de museu. O dinheiro se manifesta cada vez mais como algarismos brilhando numa tela de celular. Agora chegou a hora de dar um passo maior.

O Pix é uma criação do Banco Central, presidido por Roberto Campos Neto. Sendo um liberal e neto de um ícone do liberalismo, Campos Neto quebra um tabu: o de que o Estado só existe para atrapalhar a vida do cidadão. Nesse caso, o órgão estatal trabalhou para entregar aos brasileiros menos burocracia e custos, e mais agilidade ao sistema financeiro. É uma distribuição de renda da forma mais saudável e responsável.

As novas gerações nem saberão que existiu uma dupla conhecida como DOC e TED. O Pix pode colocar na lista de extinção objetos como o cartão de débito e sua eterna companheira, a maquininha de cobrança. (O cartão de crédito aparentemente será poupado desse furacão — por algum tempo.)

O Pix representa uma mudança bem grande em nossa relação com o dinheiro. É bom que todos entrem nessa nova era bem informados. Até porque, como toda novidade, o sistema envolve riscos.

1) O que é o Pix? Basicamente é um instrumento para fazer o dinheiro circular — como cédulas, moedas, talões de cheques, cartões, DOCs e TEDs. O Pix pode substituir quase tudo isso.

2) Como o Pix funciona? Você abre o aplicativo de seu banco e encontra o símbolo do Pix. Clica nele e terá três opções básicas: Transferir, Receber e Pagar. Escolha a “chave” que o identifique. Preencha o valor. Confira a identidade do outro lado da negociação. Clique em Transferir, Receber ou Pagar. Conte até cinco. Pronto. O dinheiro chegou. Funciona 24 horas, sete dias na semana.

3) O que é uma chave Pix? Pense na transferência tradicional, via DOC ou TED, para aquele seu primo. Você tem de preencher os nomes do remetente e do destinatário, seus CPFs ou seus CNPJs, os códigos dos dois bancos, os números das duas agências, os números das duas contas e o valor. A chave do Pix é uma espécie de “apelido” que reúne todas essas informações. Pode ser o número de seu CPF, de seu celular, seu endereço de e-mail ou um número aleatório criado pelo aplicativo. No Pix você coloca Destinatário: meuprimo@email.com. Remetente: 11-99999-9999. Valor: R$ 500,00. Remeter. Um, dois, três, quatro, cinco: seu primo recebeu. Você escolhe suas chaves Pix nos aplicativos das instituições bancárias. Ninguém será obrigado a ter chaves Pix, mas quem não as tiver vai precisar preencher todos os dados a cada transação: nome, CPF, número do banco etc.

4) Qual a razão para uma chave aleatória? Se você vai passar um pagamento a alguém com quem não tem intimidade para entregar detalhes de sua identidade, o aplicativo cria até cinco chaves formadas por 32 letras e símbolos aleatórios gerados pelo Banco Central. Pessoas jurídicas podem cadastrar 20 chaves aleatórias. Suas informações (e-mail, número do celular, CPF/CNPJ) ficam protegidas.

5) O celular conectado à internet é obrigatório? O celular, não. Você poderá usar recursos do internet banking, caixas eletrônicos e casas lotéricas. Por enquanto, vai precisar de algum acesso à internet para usar o Pix. Mas a partir de 2021 o Banco Central pretende lançar opções de pagamento off-line.

6) Existem limites de valor? Limite mínimo, não. Você pode transferir 1 centavo. Limites máximos devem ser estabelecidos pelas instituições bancárias. O objetivo desse limite é prevenir lavagem de dinheiro, financiamento de terrorismo ou o simples roubo.

7) O que poderá ser feito com o Pix? Segundo o BC, praticamente qualquer tipo de transação: “transferências entre pessoas, pagamento de taxas e impostos, compra de bens ou serviços, inclusive no comércio eletrônico, pagamento de fornecedores. A única condição para que a operação se concretize é que o recebedor aceite o Pix”. O Ministério da Economia está tomando providências para que o Pix seja em breve utilizado para o recolhimento do FGTS.

8) É possível agendar um Pix? Sim. A operação Agendar está em destaque no aplicativo. Se você não tiver os fundos necessários para o pagamento no dia agendado, a operação será cancelada.

9) O Pix vai aceitar o uso de criptomoedas? O BC aprovou por enquanto três empresas brasileiras operadoras de criptomoedas para usar o Pix: U4Crypto, Atar e Zro Bank. Segundo declarou Edisio Pereira Neto, CEO do Zro Bank, “o Pix é extremamente estratégico para nosso projeto e é a ferramenta ideal para permitir que o brasileiro possa pagar qualquer coisa com criptomoedas”.

10) O Pix fornece comprovante? Sim, cada transação gera um comprovante com o valor transferido, o número da transação, horário e data, a identificação do pagador e do destinatário. Você terá acesso também a extratos de pagamento e recebimento.

11) É possível cancelar um pagamento? Só enquanto você não fizer a confirmação. Depois que teclar Confirmar, o valor vai diretamente para o recebedor. Aí a coisa complica: você terá de negociar diretamente com ele a devolução. Portanto, muito cuidado com a identificação de quem vai receber seu dinheiro.

12) Como vai funcionar o Pix para as empresas? O Pix será como pagar cash, mesmo que o prestador de serviços more em Porto Alegre e o cliente esteja em Natal. Sem problema de troco ou demora na transferência. O comerciante ou prestador de serviço pode imprimir seu QR Code e deixá-lo à vista. O cliente abre seu aplicativo bancário, clica no Pix, aponta a câmera para o QR Code, preenche o valor, clica no botão Pagar. A grande cadeia de hipermercados e o vendedor de sanduíche no ponto de ônibus estarão nivelados pelo código QR.

13) Quanto vai custar emitir cada Pix? Transferências entre pessoas físicas: custo zero. O mesmo para operações entre microempreendedores individuais (MEIs) ou empresários individuais. Para uma Eireli (Empresa Individual de Responsabilidade Limitada) ficam valendo as mesmas regras para pessoa jurídica. Para PJs, transferências como pagamento de produtos e serviços serão tarifadas pela instituição financeira. Cada instituição vai determinar o valor dessa tarifa. Com a concorrência criada por essa nova situação, quem cobrar tarifas muito altas não vai ter chance no mercado.

14) E a segurança do Pix? Antes de cada operação, o usuário deve se identificar com biometria, senha, reconhecimento facial ou o que for exigido pelo aplicativo. Além disso, haverá o limite de valores. Detectado algum movimento suspeito, o próprio sistema pode bloquear a operação por até 60 minutos para que a identidade das partes envolvidas seja confirmada. Se a fraude for real, todo o sistema usuário do Pix será alertado.

15) Se alguém roubar meu celular terá acesso às minhas contas Pix? Não. O celular não armazena os dados de segurança (biometria, senha etc.), que devem ser acessados a cada uso. Furtar a carteira de alguém é uma coisa. Outra, bem mais difícil, é roubar dinheiro num ambiente permanentemente monitorado pelo sistema e pelo próprio usuário.

16) Haverá devolução de dinheiro em caso de entrega de produto com defeito, por exemplo? Não. O Banco Central ainda não chegou a uma solução definitiva sobre o que fazer com esse tipo de problema. O que se aconselha por enquanto é que o Pix seja usado para compras de menor valor, preservando os cartões de crédito e débito para as compras maiores.

17) E se eu mandar dinheiro para uma pessoa errada? Você terá de pedir a quem recebeu o valor por engano que o devolva. Não é uma perspectiva confortável. Então, tome muito cuidado ao identificar a quem você envia seu dinheiro usando o Pix.

18) Quem será mais prejudicado com o Pix? Os bancos tradicionais, que ganham com as taxas cobradas em DOCs e TEDs. Segundo a agência Moody’s, os bancos terão queda de 8% nos lucros por causa do Pix. Apesar disso, os “bancões” correram para oferecer o novo sistema, tentando evitar uma debandada de clientes para as fintechs. O Nubank, por exemplo, foi chamado pela agência Bloomberg como “o maior banco digital do mundo, com 20 milhões de clientes nacionalmente e operações na Argentina, na Colômbia e no México”. Outra fintech, o Banco Inter, vai oferecer “cashback turbinado” (com 10% a mais de devolução) para quem registrar suas chaves Pix na instituição. Os grandes bancos não têm essa agilidade financeira.

19) O Pix vai pegar? Nos dois primeiros dias após o lançamento (6 de outubro), 10 milhões de chaves Pix já tinham sido registradas. Em 22 de outubro, esse número havia subido para 50 milhões. (Lembre-se que um mesmo cliente pode ter várias chaves.)

20) Quando posso começar a usar o Pix? Um grupo restrito de usuários começará a usar experimentalmente o sistema a partir de 3 de novembro. No dia 16, o acesso passa a ser de todos os inscritos.

Sobre inovação, tecnologia e finanças, leia também “Pequeno guia para entender (ou não) as criptomoedas”

Por: Dagomir Marquezi

Dagomir Marquezi, nascido em São  Paulo, é escritor, roteirista e jornalista. Autor dos livros Auika!, Alma Digital, História Aberta, 50 Pilotos — A Arte de Se Iniciar uma Série e Open Channel D: The Man from U.N.C.L.E. Affair. Prêmio Funarte de dramaturgia com a peça Intervalo. Ligado especialmente a temas relacionados com cultura pop, direito dos animais e tecnologia.


quarta-feira, 28 de outubro de 2020

"Não há dever que consiga sustentar tanto direito"

 Alexandre Garcia

"O que falta é uma Carta atualizada, enxuta, menos passível de interpretações [criativas, mutáveis e adaptáveis] de Ricardo Lewandowski ou Davi Alcolumbre"

Os ventos do plebiscito no Chile atravessaram os Andes e chegaram ao Brasil. O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), defendeu num evento jurídico um plebiscito para perguntar ao povo se está satisfeito com esta Constituição ou quer outra melhor. 
O que falta é uma Carta atualizada, enxuta, menos passível de interpretações de Ricardo Lewandowski ou Davi Alcolumbre
Uma Constituição que se baste e dispense interpretações. São 250 artigos, mais 95 disposições transitórias e 107 emendas em apenas 32 anos. Para a maior potência do planeta, bastam sete artigos, com 27 emendas em 230 anos. [O objetivo maior, ou único, da turma que produziu a 'constituição cidadã' foi - e a depender da turma do 'quanto pior, melhor' = continuará sendo -  o de apresentar uma 'constituição' minuciosa, detalhista, permitindo judicializar tudo, de forma absurda para explicar cada detalhe.
É público e notório que explicação, entendimento, cada um tem o valendo o ditado: "quanto mais explicação, mais complicação".
Um único exemplo: O artigo 142 da Constituição tem uma redação clara, mas, se estende em detalhar o que já detalhou e com isto abre portas para muitas interpretações = os gênios constituintes tiveram o desplante de inserir no § 1º daquele artigo uma determinação de que uma lei complementar daria os detalhes.
A LC foi editada - LC 97/99  - e com isso a turma do "se é possível complicar, para que facilitar?" passou a alegar que uma LC está abaixo da Constituição. 
Uma pegadinha para dar margens a interpretações criativas e convenientes a interesses não republicanos.
Seria bem mais simples determinar que naquele caso uma PEC substituiria a LC - com isto impediria que uma voz solitária, sustentada por um autoritarismo absoluto =  absolutismo  absurdo e antidemocrático =  interpretasse o artigo de forma autocrática.

Por aqui, uma decisão singular da ministra Cármen Lúcia, de 2013, em liminar, mexe com bilhões de reais em royalties de petróleo, e o plenário do Supremo ainda vai votar isso no próximo 3 de dezembro. E se derrubar? Vigora até hoje liminar do ministro Joaquim Barbosa, que renunciou ao Supremo Tribunal Federal, em 2014, suspendendo uma emenda constitucional que cria quatro tribunais regionais federais. 
Um único ministro do Supremo é mais forte que o poder constituinte do Congresso. 
Como confiar na base jurídica e legislativa do Brasil?
A Constituição de 1988 ainda foi feita sob a ressaca do período militar. O então deputado José Genoíno, um dos mais ativos constituintes, me disse, em fins de 1989, que “se soubéssemos que iria cair o Muro de Berlim, não teríamos feito esta Constituição”. O dínamo da Constituinte, Nélson Jobim, me disse que os criminosos comuns foram brindados com direitos por causa de uma “síndrome do preso político”
O constituinte Delfim Netto, um frasista, me disse que “como a saúde é direito de todos e dever do Estado, quando eu tiver diarreia vou processar o governo”
A Constituição tem 166 direitos individuais e coletivos e apenas 18 deveres. Não há dever que consiga sustentar tanto direito.

Criou uma mistura de sistema presidencial com parlamentar; sistema híbrido, portanto infértil. Detalhista, trata até do sabonete e do papel higiênico: no art. 7º, fala que o salário mínimo tem que abranger “moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social”. Estabelece o que nem as leis cumprem: “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza” (art.5º, caput). Logo depois, o art.6º estabelece que “são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados”. [sob a égide do artigo 5º é que o tacão do STF validou as cotas raciais = não se deu ao trabalho de pelo menos reescrever o artigo.

Foi também por falta de um 'apenas' no texto constitucional que o Supremo nos impôs a união entre pessoas do mesmo  sexo.]

Faltou dizer quem paga. O constituinte Roberto Campos disse que “o problema brasileiro nunca foi fabricar Constituições, sempre foi cumpri-las”.

Alexandre Garcia, jornalista - Coluna no Correio Braziliense


domingo, 18 de novembro de 2018

As regras do jogo” e outras notas de Carlos Brickmann

Lula jamais ganhou eleição presidencial no primeiro turno. Mas, já que não disputou mesmo, que mal faz proclamar a vitória?

Em boa parte dos meios jurídicos, o depoimento de Lula à Justiça não foi bem visto. Com a oportunidade de ver sua defesa divulgada na íntegra para todo o país, teria tido atitude prepotente, ao tentar interrogar a juíza Gabriela Hardt – o que lhe valeu uma resposta dura e ao pôr em dúvida o tema do julgamento, algo que seus defensores devem ter-lhe informado.

Pode ser – mas o que aconteceu em Curitiba é que Lula não estava nem um pouco interessado em melhorar sua posição como réu. Seu objetivo, e não é de hoje, é político, não jurídico: é reforçar sua imagem de Salvador da Pátria e Defensor Perpétuo dos Pobres, impedido pelos poderosos, que não gostam de misturar-se à plebe nos aeroportos, de voltar à Presidência da República. Para ele, toda a questão jurídica se resume nisso: a Justiça é o instrumento de seus adversários para evitar seu grande retorno, vitorioso no primeiro turno. Lula jamais ganhou eleição presidencial no primeiro turno. Mas, já que não disputou mesmo, que mal faz proclamar a vitória?

O problema é que essa tática beneficia apenas Lula e fere seu partido. Fingir que Lula seria candidato, sabendo que não seria, custou ao PT uma pesada derrota nacional. Se Lula tinha mesmo a força que acha que tem, não precisaria fingir: bastaria dizer que, como a Justiça o perseguia e o impedia de disputar, Haddad seria seu candidato. Mas não buscava a vitória do partido: buscava, e para ele isso era o importante, crescer como lenda.

Rei morto, mas vivo
Nossa História está cheia de salvadores que só não nos levaram ao Paraíso porque algum inimigo do povo os bloqueou. Em Pernambuco, havia o “chá de Arraes”: o cidadão pegava uma foto de Miguel Arraes, fervia e guardava a água. O chá era milagroso, curava qualquer doença. Getúlio Vargas, falecido há muitos anos, foi usado por grileiros que procuravam posseiros e lhes davam algum dinheiro, “por ordem do dr. Getúlio”. O posseiro assinava o recibo com a impressão digital – e o recibo era o documento de compra e venda da terra.
Muito antes, houve Dom Sebastião, rei de Portugal: morto em batalha na África, criou-se a lenda de que um dia voltaria. Lula tem tudo, até a imagem de amigo dos pobres, para virar lenda. É nisso que aposta. E espera que o PT trabalhe para isso.

Por outro lado
O antigo presidente nacional do PSDB, Eduardo Azeredo, está preso por envolvimento no Mensalão tucano. Paulo Preto, engenheiro de destaque em governos tucanos, é investigado na Suíça. Surge agora outra investigação, na Suíça, de uma movimentação equivalente a R$ 43 milhões. O nome dos envolvidos não foi divulgado. A origem dos recursos, informam os suíços, é uma campanha presidencial tucana.

Se gritar…
Muda o partido, mudam as alianças, há gente que passa o tempo falando da corrupção (dos adversários), mas é impressionante: sai uma minhoca a cada enxadada. Como diria o sábio Sílvio Santos, quem procura acha.

Nome de peso
Foi um sucesso o nome do presidente do Banco Central escolhido pelo presidente Bolsonaro: Roberto Campos Neto, descendente de um dos criadores do Banco Central e ministro do Planejamento de Castello Branco, Roberto Campos. O ministro foi tão lembrado que, em algumas páginas de notícias, havia mais fotos dele do que do neto. Algumas lembranças foram equivocadas. Afinal, Campos deixou o Planejamento há 51 anos.
 

É mas não foi
O primeiro engano é dizer que Campos foi um guru do liberalismo brasileiro. É verdade: perto do que havia na época, Campos era ultraliberal. Mas não é verdade: ele trabalhava com controle de preços. Lembram também de Campos como economista. Não: era diplomata e historiador.
Nada que tenha a menor importância. Campos entendia de economia e, homem culto, conhecedor de História, sabia qual o destino dos países cheios de controles. Tinha humor refinado. E como escrevia bem!

Caso médico
Com a saída dos médicos cubanos, haverá problemas de atendimento ou a substituição será simples?  
 
Os cubanos, como funcionários públicos, ganhavam aqui o mesmo salário dos que ficaram em Cuba, ou eram explorados, porque dos  
R$ 11 mil mensais pagos aqui só podiam ficar com R$ 3 mil?  
 
Este colunista já encontrou as duas versões. Uma reportagem do Huffington Post traz boas entrevistas com médicos cubanos.
 
Blog do Augusto Nunes