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quarta-feira, 9 de agosto de 2023

O silêncio de uma nação - Percival Puggina

         Prestem atenção, ouçam o silêncio. O Brasil emudeceu. Durante quatro anos, o povo foi sendo alertado sobre a própria irrelevância. Erguendo bandeiras que expressavam seu amor à pátria, ele ia às ruas e às praças de onde clamava inutilmente contra excessos de uns e omissões de outros. 
Aos tribunais superiores, os excessos; 
ao Congresso Nacional, as omissões. 
 Quem como eu subiu em tantos carros de som ao longo de dez anos sabe do que fala ao afirmar que quanto mais se avantajava o “contramajoritário” poder das altas Cortes e se expandia o baixio dos interesses parlamentares, mais as instituições mostravam seu desdém à nação.

Por fim, o silêncio, a quietude de uma democracia deserta, sem povo. Muitas vezes penso que os senhores do poder se veem como representação política num deserto onde, aqui e ali, esqueletos cívicos testemunham a ação destruidora que os vitimou.

Só que não. A nova tirania, tirania é. Quem tem olhos de ver sabe o que vê. Tornozeleiras não inibem opiniões nem a percepção de injustiças e abusos. Consciências bem formadas doem e se condoem na dor alheia. Um sismógrafo que captasse emoções perceberia o ruído nesse subterrâneo dos sentimentos. 
A democracia relativa, contramajoritária, bem ao gosto das cortes e dos plenários, talvez não consiga captá-lo como tampouco o percebe um jornalista que me escreveu outro dia.
 
Ele é militante da tirania real combatendo os fantasmas das narrativas petistas.  Ele crê no que lhe dizem em detrimento do que os olhos capturam da realidade e por isso, após ler meu artigo “8 de janeiro, a narrativa e os fatos” (aqui), escreveu-me perguntando se não me envergonhava de afirmar o que afirmei. 
A seu modo, perante fantasmas ensinado a combater com lança-chamas retóricos, comentou cada parágrafo questionando os limites dessa minha falta de vergonha. 
 
Constrangimento em forma explícita, que preferi não responder porque preferi tratar do assunto aos olhos e discernimento dos meus leitores.  
 Caríssimos, vergonha eu teria se calasse, se me sujeitasse, se conferisse meu silencioso consentimento àquilo que vejo. 
Aí sim, eu teria vergonha de mim! Jogo a democracia pela regra do jogo, não pelas regras dos tiranos e seus aprendizes. Nada há na Constituição de 1988 que iniba meu direito de opinar sobre os acontecimentos nacionais, os protagonistas de nossa política e as impropriedades de nosso modelo institucional.

Quando toda divergência for silenciada só se ouvirá o coro da tirania no velório da liberdade.

Como me disse certa feita em Havana um médico com quem conversei e me falou das dificuldades que a ditadura lhe impunha: “Solo el Señor es mi  señor”.

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.


segunda-feira, 3 de junho de 2019

Se nossa renda por habitante crescer 1,5% este ano e essa taxa se mantiver, levaremos 47 anos para dobrá-la e alcançar o nível que Portugal já hoje desfruta

Duvido que algum país tenha um número de irresponsáveis por metro quadrado comparável ao nosso. Baseando o cálculo só no circuito institucional sediado em Brasília, excluindo o resto do País, nossa vantagem sobre o resto do mundo nesse quesito deve ser acachapante.  Para bem aquilatarmos a extensão da coisa, tanto faz começarmos pelo lado grotesco – lagostas, vinhos de qualidade, auxílio-paletó, auxílio-moradia – ou pelo lado teratológico, quero dizer, pelo contingente de 26 milhões de pessoas sem trabalho, por nosso sistema educacional, horroroso nos três níveis, pela corrupção de proporções amazônicas, pela taxa de homicídios subindo de patamar e agora, para nosso infinito espanto, pelo rompimento de barragens causando danos irreparáveis a algumas de nossas mais importantes bacias hídricas. 

Culpa de Deus? Não, culpa da ignorância técnica, da falta de fiscalização e do desprezo pela natureza e pela vida das coletividades que vivem nas proximidades. A verdade é uma só: a desigualdade social e o desmazelo generalizado estão nos tornando um país estúpido, violento e cruel.  Se nossa renda por habitante crescer 1,5% este ano (o que não é trivial) e essa taxa se mantiver por um longo período, levaremos 47 anos para dobrá-la e alcançar o nível que Portugal já hoje desfruta. Repito: 47 anos. Essa projeção macabra deveria ser suficiente para mudar as atitudes e padrões éticos dos donos do poder. Deveria ser uma espada de Dâmocles obrigando os três Poderes a se levarem mais a sério e a tratar com respeito os 207 milhões de habitantes deste país “abençoado por natureza”. O que vemos acontecer diuturnamente em Brasília dista anos-luz desse mandamento elementar.

Só consigo compreender a lerdeza (pirraça, fisiologismo, falta de vergonha…) com que a reforma da Previdência é tratada por grande parcela do Congresso a partir da ignorância de muitos a respeito do futuro que nos aguarda. A referida parcela simplesmente não compreende que essa reforma é apenas o primeiro passo numa dura série de mudanças que teremos que fazer, de um jeito ou de outro. De reformas muito mais drásticas do que essa que temos sobre a mesa poderá depender, quem sabe, até nossa sobrevivência como entidade nacional integrada.

Não me deterei nos prós e contras do governo Bolsonaro, assunto martelado diariamente na imprensa e nas redes sociais. Não sei se ele adotará ou não um estilo consentâneo com a magistratura a que foi alçado e com a gravidade da crise em que os governos anteriores nos meteram. Quero apenas lembrar que a eleição já passou, que os palanques já foram ou deveriam ter sido desmontados e que a presente hora tem de ser de distensão e pacificação, não de mais acirramento.

A História do Brasil não é o oito ou oitenta que tantos se comprazem em trombetear. Erramos muito, mas também acertamos bastante. Tivemos muito azar em algumas ocasiões, mas outras houve em que Deus deu realmente a impressão de ser brasileiro. Veja-se a preservação da integridade territorial, que nos proporcionou esse que talvez seja o maior dos nossos ativos: nossa dimensão continental. É certo que, em nosso caso, a unidade não foi suficiente para alicerçar um mercado interno robusto; seria demais esperar isso no nível de pobreza prevalecente quando nos livramos do regime colonial. De 1930 a 1980, nossa economia cresceu vigorosamente. Naquele período poderíamos ter constituído um mercado interno respeitável e não o fizemos, agora, sim, por uma imperdoável sequência de erros, a começar pelo modelo de crescimento concentrado no Estado, trampolim para a obscena consolidação de uma casta patrimonialista no topo da pirâmide política, reforçada pela trincheira geográfica que Brasília passou a proporcionar-lhe.

Parece-me, pois, que o alfa e o ômega da irresponsabilidade política brasileira é essa incapacidade infantil de perceber o inferno a que inexoravelmente chegaremos se reformas drásticas não forem efetivadas. Um ponto de partida conveniente para quem tiver ânimo e coragem para abrir os olhos é relembrar o que aconteceu nas três últimas décadas do século 19 nos três casos clássicos de “industrialização tardia” – ou seja, na Alemanha, no Japão e nos Estados Unidos. Firmar a unidade territorial e construir um poder central digno de respeito foram a condição sine qua non para constituir o mercado interno, base do crescimento industrial acelerado que esses três países conheceram. A Alemanha, além de uma reforma administrativa admirável, iniciada no começo do século 19, levou a cabo a unificação em 1870. Sob a égide da Prússia e a liderança de Bismarck, os 40 principados então existentes se uniram no que viria a ser uma formidável potência industrial. No Japão, a restauração da dinastia Meiji levou ao poder uma nova elite que rapidamente quebrou o sistema feudal, desarmou a corporação dos samurais, padronizou o sistema educacional em nível nacional e abriu rapidamente o país para o exterior, em busca de tecnologia. Não menos impressionante, nos Estados Unidos a drástica reorientação do sistema educacional no sentido tecnológico, por meio dos land-grant colleges, e a sangrentíssima guerra de 1861-1865 contra o sul escravocrata fincaram os pilares do espetacular crescimento econômico na quarta parte do século.

No Brasil, a dificuldade é escolher qual o melhor exemplo de infantilidade e irresponsabilidade. Minha inclinação é a organização partidária. A proliferação desabrida não seria tão grave se o resultado dela fosse apenas nominal, mas não é o caso: analisada como um número de partidos efetivos, nossa estrutura partidária é, nada mais e nada menos, a mais fragmentada do planeta.
Vinte e seis milhões de pessoas sem trabalho ficam sem saber se é para rir ou para chorar.

Bolívar Laumonier - O Estado de S. Paulo


quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Professores do Colégio Pedro II, público federal, devem ser demitidos – essa pouca vergonha tem que acabar



Professores do Pedro II adotam termo 'alunxs' para se referir a estudantes sem definir gênero
Docente recorre a palavra sem artigo "a" e "o" em cabeçalho de prova, enquanto coordenador prega aviso na parede
O "x" pode deixar de ser a principal letra usada na matemática para se tornar protagonista em diferentes disciplinas escolares. O uso da letra para suprimir gêneros não é novo. Movimentos feministas e LGBTs já pregam a utilização de termos como "médicx", "enfermeirx" e "advogadxs". A novidade está no recurso em ambientes escolares. No Colégio Pedro II, em São Cristóvão, o "x" no lugar das letras "a" e "o" já está em avisos institucionais em murais e em cabeçalhos de provas. Para especialistas, é importante o debate sobre gênero, mas eles sugerem cuidado ao se decidir quando fazer isso.
— A alteridade faz parte do universo escolar. Por isso, é importante o jovem já saber isso no colégio. A questão é que o aprendizado é feito em etapas. O estudante precisa primeiro entender o que é gênero e sua aplicação linguística para depois debater sobre ela. É necessário, portanto, pensarmos em que momento esta discussão e estas supressões de gêneros nas palavras devam ser iniciadas —afirma Anna Fernandes, pedagoga especializada em alteridade pela UFRJ.


No Pedro II, as primeiras menções ao termo "alunxs" foram feitas pelo grêmio do colégio em seus jornais e informes. A atitude chamou atenção do professor de Biologia Alex Von Sydow que, ao conversar com os estudantes, soube que este assunto já estava sendo tratado em outras aulas como a de Sociologia. — Com isso, comecei a tratar sobre o assunto de forma interdisciplinar nas minhas aulas. Em uma prova, como resultado deste processo, coloquei “alunxs” no cabeçalho. Na hora da aplicação não teve resistência mas depois alguns estudantes riscaram o termo e colocaram “aluno”. Foram poucos e isto é natural — afirma Alex.

O colégio afirma que não indica e nem proíbe o uso de termos em que o gênero é suprimido. Na entrada de uma de suas unidades, um aviso para falar de mudanças no cotidiano devido a uma obra, assinada pelo coordenador de disciplina Raul Oliveira, já adere, logo no começo, com “Prezadxs alunxs”. O Ministério da Educação afirma que há indicações para comportamentos que visem preservar a alteridade de gênero, como garantias de banheiros de acordo com a identidade de gênero, mas que não há nenhuma determinação sobre o uso de termos como “alunxs”. [o certo é quem tem aquilo pendurado não entrar em banheiros de quem não tem; e, quem não tem aquilo pendurado não entrar em banheiros dos que tem.
Resumo: nasceu homem, mesmo que não use o que está pendurado,  só deve entrar em banheiro destinado a HOMENS = masculino.;
Nasceu mulher, ou seja, não trem aquilo pendurado, só deve entrar em banheiro de mulheres = FEMININO.
Agir de forma contrária é FALTA DE VERGONHA.]

O que é apontado pelos professores é que um debate não pode se sobrepor ao próprio aprendizado. Alex acredita que este tipo de discussão deve ser feita nas séries finais do ensino fundamental e no ensino médio, ambientes onde os estudantes possuem mais maturidade para este processo de desconstrução. A professora Anna Fernandes concorda com esta postura. — Nas séries iniciais, é necessário saber que existe o gênero e as letras que o regem em nossa sociedade. Essa discussão já é um passo para mostrar uma primeira alteridade. Existe eu e existe o outro, que pode ser de um gênero diferente do meu. Ou seja, é um passo de cada vez.

Apesar desta indicação, o aviso sobre mudanças no dia a dia devido as obras no colégio Pedro II estava na porta da unidade que trabalha com as séries do primeiro segmento do ensino fundamental.

Fonte: O Globo