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quinta-feira, 2 de junho de 2022

Condenados ao caos - É quase criminosa a mente que transforma bandidos em “vítimas da sociedade”.

Vozes - Luís Ernesto Lacombe

Decisão do STF dificultou operações policiais nas favelas do Rio durante a pandemia de Covid-19.

 Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro.

Decisão do STF dificultou operações policiais nas favelas do Rio durante a pandemia de Covid-19.Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. - Foto: EFE/Antonio Lacerda

É quase criminosa a mente que transforma bandidos em “vítimas da sociedade”. É ingênua ou mal-intencionada a mídia que enxerga em todo criminoso, bem lá no fundo, uma alma boa, pronta para se regenerar. Pois há um ponto em que não dá mesmo para voltar, em que o mal se instala, invade, toma os órgãos, principalmente os vitais. 
Espírito fraco, índole ruim, o olhar de quem olha e não vê, de quem não tem emoção, só frieza, cinismo, maldade... É de desprezo que se alimentam os traficantes, desprezo pelos outros e até por eles próprios.

São terroristas, opressores cruéis, praticam todo tipo de violência, massacram as pessoas de bem, agridem, humilham, fazem extorsão, invadem casas, aliciam menores...  
A estrutura de labirintos das favelas é seu esconderijo quase perfeito, com muitas rotas de fuga. 
Um espaço sequestrado, com toda a sua gente honesta e trabalhadora. São milhões de reféns de traficantes por todo o país. A população de bem como escudo, a população de bem amedrontada e oprimida.
 
Procure na imprensa reportagens, editoriais, artigos que defendam o endurecimento do tratamento com os criminosos ou a restrição de seus direitos. Será difícil encontrar.  A imprensa, de um modo geral, tenta emplacar a ideia de que os moradores são, na verdade, reféns da polícia e defende a retirada de todas as forças de segurança das favelas. Foi o que fez Brizola, quando chegou ao poder no Rio de Janeiro, em 1983: “No meu governo, polícia não sobe morro e não entra em favela”. Deu no que deu. O tráfico de drogas criou seus feudos, se fortaleceu, se encastelou de vez... 
Em 2020, os criminosos ainda ganharam uma força do Supremo Tribunal Federal, que também proibiu as operações policiais nas comunidades do Rio durante o combate à Covid, numa “política de segurança pública”, além de tudo, sem amparo na lei.


Veja Também: Desejos levianos

Nós somos reféns

Pessoa de bem

Procure na imprensa reportagens, editoriais, artigos que defendam o endurecimento do tratamento com os criminosos ou a restrição de seus direitos. Será difícil encontrar. Esse tipo de conteúdo não representa nem 1% de todo o material jornalístico veiculado. A morte de um policial em serviço também parece não merecer espaço... Se um morador da favela, um inocente é morto por um tiro disparado por um traficante, a pauta é fraca, acaba descartada ou é relatada em poucas linhas. Agora, se há indicação de que o tiro foi disparado por um policial, a pauta se impõe, a produção se movimenta, a reportagem vai a campo, capricham na edição, nos comentários emocionados nos telejornais, antes mesmo da conclusão das investigações.

Claro que o combate à criminalidade deve se dar em várias frentes, no trabalho de inteligência, de investigação criminal, no policiamento ostensivo, nas operações policiais, inclusive em favelas... 
Se há elementos para a deflagração de uma operação policial, ela deve ser feita. 
Se os policiais são atacados, eles devem reagir. Suas vidas têm sacrifícios e riscos que pouca gente poderia suportar. 
Possíveis excessos e erros devem ser investigados. E, com toda a firmeza, a inversão de valores deve ser rechaçada, ou estaremos, todos nós, condenados ao caos.


Luís Ernesto Lacombe, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sábado, 13 de abril de 2019

“Um dia quero ir lá”

A vida dura da avó da primeira-dama Michelle Bolsonaro numa favela que fica a apenas 40 quilômetros do Palácio da Alvorada



Maria Aparecida Firmo Ferreira tem 79 anos, é cardíaca, sofre de Parkinson, locomove-se com dificuldade e mora num casebre que fica na parte mais miserável de Brasília — a favela Sol Nascente, conhecida pela violência, dominada pelo tráfico de drogas e conflagrada por facções que usam métodos similares aos das milícias cariocas. Sem se preocupar com tudo isso, dona Aparecida, como é conhecida, enfrenta uma odisseia diária. Aposentada, ela divide seu tempo entre cuidar de um filho deficiente auditivo, ir ao posto de saúde buscar remédios e bater papo com os vizinhos. Na segunda-feira 8, chovia muito, mas ela manteve a rotina. Para se proteger, pôs um gorro na cabeça, vestiu dois casacos sobre uma blusa e uma saia sobre uma calça de moletom. De muletas, driblando a lama e os buracos da rua e sem conseguir esconder a expressão de dor, caminhou mais ou menos 1 quilômetro até a casa de uma amiga. Nesses encontros diários, há apenas um assunto proibido.

Ninguém, ou quase ninguém da vizinhança, sabe que ela é avó da primeira-­dama Michelle Bolsonaro.  A neta agora famosa, o presidente da República e a pobreza são assuntos que parecem despertar sentimentos conflitantes em dona Aparecida. Faz mais de seis anos que ela não vê a neta que ajudou a criar. A avó não foi convidada para a posse, nem ela nem sua filha, mãe de Michelle, Maria das Graças. Passados três meses de governo, ela não recebeu convite para uma visita ao Palácio da Alvorada, a residência oficial, que fica a apenas 40 quilômetros da favela. Por quê? Ela diz que não sabe responder. O pastor Messias Rezende, da Assembleia de Deus, é um dos poucos confidentes que sabem do parentesco. Ele já se dispôs a tentar intermediar um encontro com o presidente Bolsonaro, mas dona Aparecida rejeitou. “Aprendi que só vamos a pessoas importantes quando somos convidados. É minha neta, cresceu lá em casa, mas agora ela é a primeira-dama.” Por trás da recusa, ela revela um temor: “Além disso, se eu chegar assim (diz apontando para as próprias roupas), posso ser destratada, e isso vai me magoar. Eu não tenho roupa, sapato, nada disso, para frequentar esses lugares”.

Por causa dessa falta de convivência com a neta, dona Aparecida também perdeu o contato com as bisnetas há seis anos. A mais nova, Laura, filha de Michelle com Bolsonaro, ela viu pela última vez quando a menina tinha apenas 2 anos. O presidente ainda era deputado federal e, embora já planejasse disputar a Presidência da República, tudo não passava de uma ideia que poucos levavam a sério. A bisneta mais nova, agora, tem 8 anos. A mais velha está com 16. A avó acompanha, com a ajuda do filho, o crescimento das meninas pelo grupo de WhatsApp da família, no qual ela mesma não está incluída porque não sabe ler. “Eu gosto muito do Jair. Gostei desde a primeira vez. Ele sempre me abraçava, me beijava, me chamava de vó. Vou abraçar e beijar o meu presidente, agora. Ele é uma pessoa muito humilde. Tenho certeza de que, se eu chegar lá, ele vai me receber com muito carinho. Eu ainda quero vê-lo. Quando Jair sofreu o atentado, fiquei muito emocionada e passei a jejuar para que ele melhorasse”, diz. Ela só tem elogios ao presidente: “Tenho certeza de que o meu presidente vai ajudar os aposentados, vai melhorar a saúde, vai dar emprego para todo mundo, vai acertar os bandidos e vai baixar o preço das coisas”, lista. “Então, vai ficar bom para mim também.”

SEM CONTATO – A primeira-dama Michelle: notícias só pelo WhatsApp (Mateus Bonomi/AGIF/Estadão Conteúdo)

Dona Aparecida sente o peso da idade, da falta de estrutura do local onde mora e de receber um salário mínimo de aposentadoria, conseguida graças aos anos em que trabalhou nos serviços gerais em uma das sedes do Banco do Brasil. Além de problemas cardíacos e do Parkinson, ela tem colesterol alto e osteoporose — a doença responsável pelo uso de muletas. Mas diz que “Deus dá força”. Quando um dos filhos não pode levá-­la às consultas médicas, ela própria caminha até o ponto de ônibus mais próximo, a cerca de 1 quilômetro. Os remédios são da farmácia popular. E a alimentação é incrementada por uma cesta básica fornecida pelo governo do Distrito Federal. “Gosto de algumas pessoas, mas, se eu pudesse escolher, sairia daqui”, diz.

A vida é dura no Sol Nascente. Falta rede de coleta de esgoto, falta asfalto nas ruas, falta coleta de lixo em grande parte das residências e faltam informações oficiais atualizadas. VEJA pediu ao governo do Distrito Federal dados sobre segurança pública na região, considerada uma das mais violentas, mas a Pasta responsável pela área informou não os ter, embora a favela tenha alcançado 79 912 moradores, uma das maiores do país. [não é apenas uma das maiores favelas, é a SEGUNDA MAIOR FAVELA do Brasil, perdendo apenas para a favela da Rocinha no Rio.
E a INsegurança Pública é total - estilo matam um hoje deixam dois amarrados para matar amanhã.] Por cinco dias, a reportagem da revista esteve no Sol Nascente. Encontrou pichações alusivas a grupos de bandidos locais, ao PCC e à carioca Amigos dos Amigos (ADA). No entanto, segundo o delegado da 19ª DP, Jonatas José, que atende a favela, os grupos locais foram desmantelados em 2016. “O que há são criminosos isolados, mas não há facção organizada, que controle território, nada disso”, diz.

Numa ocasião, a reportagem de VEJA foi abordada por três homens armados. Após apresentarem seus distintivos, solicitaram a identificação dos jornalistas. Eram policiais civis à paisana. “Só abram o olho, porque isso aqui é perigoso”, disse um deles. VEJA estava a poucos metros da casa de dona Aparecida. Motoristas de aplicativos também se recusam a entrar em algumas áreas da favela. Apesar de topar conversar com a reportagem, dona Aparecida disse que não quer dar entrevista. Ou melhor: “Lá em cima eles não querem que eu fale”. Perguntada a quem se referia, respondeu: “Michelle”. “Meu filho mais velho disse que se me sequestrarem a ordem é não pagar o resgate e, aí, vão me matar”, assusta-se ela. Dona Aparecida diz que só abriria uma exceção ao apresentador Ratinho. “Se eu falar com o Ratinho, ele vai me levar lá no Planalto… Porque, se você me levar lá, eles vão botar a gente para correr. Mas o Ratinho, não. Eu vi na TV que ele é amigo do Jair. E um dia eu quero ir lá.”

Publicado em VEJA de 17 de abril de 2019, edição nº 2630


domingo, 20 de maio de 2018

Moradores e comerciantes denunciam taxas do tráfico na Rocinha



A narcomilícia da Rocinha: Moradores e comerciantes denunciam taxas do tráfico

Extorsões já rendem mais de R$ 1 milhão por mês

Não bastam as 54 mortes em confrontos com a polícia contabilizadas pelo estado desde setembro do ano passado, quando explodiu uma guerra entre facções pelo controle da Rocinha. O sofrimento da comunidade é ampliado por meio de constantes ameaças, que castigam o bolso de quem vive ali. Moradores e comerciantes denunciam que estão sendo obrigados a financiar uma corrida de bandidos por mais armas e munição: o tráfico passou a imitar a milícia, e, a cada semana, cobra taxas de segurança, além de faturar em cima do transporte alternativo e da venda de botijões de gás, água e outros produtos

Muitos reclamam que o “imposto do terror” vem aumentando, e a estimativa é que ele já renda pelo menos R$ 1,3 milhão por mês ao bando que hoje domina a favela. Com o anonimato preservado, pessoas que vivem e trabalham na Rocinha afirmam que, muitas vezes, a cobrança das taxas ilegais é feita por integrantes da principal associação de moradores do morro. A entidade, no entanto, nega a acusação e afirma que nada pode falar sobre algo que desconhece. Já os delegados Antônio Ricardo Lima Nunes, respectivamente ex-titular e atual responsável pela delegacia da área, a 11ª DP, dizem que a comunidade pode estar sob o jugo do que chamam de narcomilícia. 

Além de sofrerem com os tiroteios e as extorsões, moradores e comerciantes acompanham o crescimento da desordem. Sem freio do poder público, construções irregulares se multiplicam. No alto da localidade conhecida como Dionéia, pouco acima da sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da favela, novas casas são vistas em meio à mata. Na parte mais baixa do morro, a falta de controle urbano é percebida junto ao asfalto da Autoestrada Lagoa-Barra, da entrada da estação do metrô e sob a passarela próxima ao Túnel Zuzu Angel. Camelôs se espalham e oferecem todos os tipos de produtos; mesas e cadeiras são distribuídas para receberem consumidores de sanduíches, petiscos e bebidas.


Na tarde da última quinta-feira, quem fez a festa foi o caminhão do Rei do Um Real, que estacionou perto da passarela. Uma fila logo se formou: era gente interessada em comprar bandejas de iogurte, pacotes de biscoito ou garrafas de refrigerante pelo preço que o dono do negócio que leva no nome. Porém há produtos mais “caros”: dois copos de requeijão custam R$ 5, e três dúzias de ovos saem por R$ 10.

A fila é controlada, homens que trabalham com o caminhão dividem a clientela em grupos, que, em intervalos de alguns minutos, são autorizados a irem para um trecho da calçada onde os produtos ficam expostos em caixas de papelão. Havia alguns PMs por perto, mas eles se limitavam a observar o intenso vaivém; não abordavam os vendedores para checar a procedência das mercadorias.  — Cada canto da comunidade é uma mina de ouro. Os bandidos deixam os camelôs se instalarem, desde que paguem taxas. As vendas do comércio regular caíram por causa dos tiroteios, mesmo assim, temos de aguentar a concorrência desleal e pagar uma taxa que chega a R$ 300 por mês. Passam recolhendo. No dia marcado, tenho que entregar o dinheiro. Estou adiando o pagamento de tributos para manter meu negócio, mas está difícil — conta um lojista que trabalha há décadas na Rocinha. — Antes, cada um contribuía como podia. Geralmente, o pessoal dava cestas básicas; às vezes, tínhamos de colaborar com carne e cerveja para festas. Hoje, damos tudo isso e ainda pagamos o imposto do terror.

‘IMPOSTO’ SOBE APÓS A GUERRA
A situação piorou quando um bando invadiu a Rocinha a mando, segundo a polícia, de Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem. Mesmo preso em Rondônia, ele teria determinado a expulsão de seu antigo braço-direito, Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, que resistiu à investida e mudou de facção. Ele também foi capturado, em dezembro do ano passado, mas seus aliados estariam dominando a favela.

O último levantamento das atividades econômicas na Rocinha, feito em 2007, apontou que a comunidade tinha cerca de 2.500 estabelecimentos comerciais. Isso significa que a taxa de R$ 300 imposta pelo tráfico pode corresponder a uma arrecadação mensal em torno de R$ 750 mil. Muitos não pagam o imposto do terror por mês. Antes de setembro de 2017, a cobrança dos mototaxistas era diária (R$ 4), mas passou a ser de R$ 75 semanais.

 Pela comunidade, circulam mais de mil, incluindo os que pegam passageiros em pontos (Via Ápia, Largo das Flores, Largo do Boiadeiro, Cidade Nova, Rua Nova, Laboriaux e Rua Um) e os rotativos. Isso garante pelo menos R$ 300 mil mensais só em “pedágio”.
— Dependendo do ponto, o recolhimento da taxa é feito num dia diferente — conta Z., na profissão há 19 anos. Os que têm sua própria moto e clientes fixos, conseguem sobreviver com as corridas (cada uma custa R$ 3). Os que precisam pagar R$ 150 de aluguel da moto, além dos R$ 75, estão passando dificuldades.

Segundo motoristas, mais de 150 vans entre as legalizadas que ligam São Conrado ao Jardim de Alah, as que passam pela Rocinha em direção a Rio das Pedras e as que trafegam pela comunidade Vila Canoas — também têm que pagar o “pedágio”. O proprietário de um veículo legalizado diz que, há alguns meses, não era obrigado a pagar taxa, mas precisava, ocasionalmente, fazer “serviços gratuitos” para bandidos. Ele conta que, inicialmente, passou a ter que contribuir com R$ 165 por semana e R$ 10 por dia trabalhado. — Este mês, aumentaram para R$ 285 por semana e R$ 20 por dia. Estou desesperado — afirma ele., que mora na Rocinha com a mulher e os filhos.

Há menos de um ano, motoristas de carros particulares, alguns deles da Baixada, estimulados pelo mercado criado pelos aplicativos de transportes, passaram a fazer ponto na Rocinha. Costumam estacionar na Via Ápia para aguardar passageiros. Quando não encontram espaço, ficam na Estrada da Gávea, próximo ao Clube Emoções, esperando uma vaga no ponto.  — Estão cobrando R$ 135 por semana da gente. É muito — reclama um motorista.

PROJETOS MUNICIPAIS
A Prefeitura do Rio informa que vem desenvolvendo, desde o ano passado, uma série de ações na Rocinha com investimentos que ultrapassam R$ 8 milhões. Entre os trabalhos concluídos na região, segundo a assessoria de imprensa do prefeito, há obras de contenção de encostas no valor de R$ 4 milhões e reformas de quatro unidades de ensino concluídas em abril ao custo de R$ 3 milhões, além de outras intervenções, como tapa-buracos, integração tarifária entre vans e o metrô, identificação de casas sem janelas e obras de requalificação das fachadas de 150 casas.

O Globo