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quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Saúde Pública no DF - Ibaneis conseguiu piorar o impiorável; não satisfeito destruiu a Saúde Pública do DF

 Distritais cobram GDF após infarto seguido de morte em fila do Cras 

 [Eleições próximas e distritais cobram a saúde que Ibaneis DESTRUIU com o apoio, no mínimo,  por omissão, daqueles parlamentares.

"Vamos colocar a saúde no ponto que merece", afirma Ibaneis Rocha.]

Deputados distritais mostram indignação com saúde pública do DF depois de mulher infartar e morrer aguardando atendimento na fila do Cras. Óbito foi confirmado na manhã desta quarta-feira (17/8) 

Chegou ao plenário da Câmara Legislativa o caso da morte de Janaína Nunes Araújo, 44 anos, que infartou e não resistiu, após aguardar atendimento na fila do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) do Paranoá. Durante oito dias, ela buscou atendimento no centro. Alguns deputados distritais, durante sessão ordinária, responsabilizaram diretamente o governador Ibaneis Rocha (MDB) pela morte de Janaína, e prestaram solidariedade aos familiares e amigos da vítima.

Leia ÍNTEGRA DA MATÉRIA - Correio Braziliense

[Ontem, no CB, Ibaneis disse: "Vamos colocar a saúde no ponto que merece", afirma Ibaneis Rocha.

Atentem para o detalhe 'ponto que merece', ou seja,  com pessoas morrendo na fila do CRAS, outras esperando por cirurgias que nunca acontecem - sempre são adiadas - acontecem, hospitais com filas quilométricas, UPAs recusando pacientes por falta de condições de atender, são 'inaugurados' - constam como inaugurados  na publicidade do governador -  mas que não atendem por falta de funcionários, equipamentos e insumos.

Tem mais sobre o desastre da Saúde Pública do DF, mas vamos aproveitar  tempo e espaço e publicar um balanço geral de alguns desastres que ocorrem em outras áreas do GDF:
FATOS: 
- SEGURANÇA PÚBLICA - INsegurança pública total no DF = começa que falta pessoal, tanto na Polícia Civil quanto na Militar;

- TRANSPORTE PÚBLICO - além do péssimo serviço ofertado pelos ônibus urbanos, temos o desastre METRÔ - DF - sempre dando defeitos, falhas e em quatro anos não estendeu foi ampliado nem o atendimento nem a área atendida; 

-  TÚNEL DE TAGUATINGA -  sua entrada em funcionamento   sofreu três adiamentos e tudo  caminha para mais um: - final deste ano para SÓ DEUS SABE QUANDO. 

Por ora chega. Vamos verificar alguma coisa que funcione e mencionar - toma menos tempo do que detalhar o que não funciona.

Leiam as matérias linkadas e comprovarão que o Ibaneis só promete.] 


quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Membro do TCU que busque pilates fora do expediente [quem fiscaliza o fiscalizador?]

Alexandre Garcia

[a academia de ginástica tem que ficar fora do TCU e fora do orçamento daquela Corte e aulas do esporte fora da jornada de trabalho.]

 O Tribunal de Contas da União acaba de cancelar a decisão de criar uma academia de ginástica com dois fisioterapeutas e equipamento para pilates. Custaria, aos pagadores de impostos, R$ 216 mil.  
A presidente do TCU, ministra Ana Arraes, cancelou a licitação depois que o fato foi revelado ao público. Quer dizer, era se colar, colou. Se não descobrem, já seria fato consumado. Quem fiscaliza o fiscalizador? Seu patrão, o povo brasileiro
O tribunal, feito para fiscalizar e conferir a correta aplicação dos impostos federais, isto é, o dinheiro do público, estava contando com a alienação da população, como se fosse massa passiva que desconhece que o Estado está a seu serviço, e não o inverso. 
Esse erro de avaliação tem sido muito comum entre os que ainda não perceberam os novos tempos da comunicação com reação instantânea nas redes sociais. Tanto que alguns tribunais ainda tentam calar essas vozes do povo, de onde emana o poder. [os funcionários do TCU estão entre os mais bem remunerados do Brasil, além dos polpudos salários usufruem de muitas benesses, mordomias e vantagens. O curso de pilates seria mais uma mordomia a ser bancada pelos contribuintes.
Lembrando que o curso seria ministrado DURANTE A JORNADA DE TRABALHO.]
 
 (crédito: BARBARA CABRAL/ESP.CB/D.A)

Fazer de um órgão público um clube para servir a seus integrantes era costume nas épocas em que o setor estatal tinha outros donos: os titulares da partilha política e sua respectiva nomenclatura. Bem típico da ideologia estatizante que usava o modelo soviético. 
Num tribunal de contas, deveria pontificar o exemplo de exação absoluta com o dinheiro do público
Tal como acontece em tribunais dos Estados Unidos, em que os juízes têm apenas a vaga no estacionamento, pois vêm dirigindo seus próprios carros, ou quando chegam aos tribunais de metrô ou de bicicleta, como acontece na Europa.
 
O TCU é um órgão do Poder Legislativo. O Brasil tem 34 tribunais de contas: o da União, 27 estaduais e seis municipais
São compostos, principalmente, por políticos em fim de carreira. Embora no Poder Judiciário seja necessária a formação em direito [exceto para ministro do Supremo Tribunal Federal.] para os tribunais de contas não é exigida especificamente a formação em ciências contábeis; bastam "notórios conhecimentos" sobre o objeto do tribunal. [notórios conhecimentos ou notório saber jurídico, atributos de difícil aferição (toda a verificação é na base da sabatina,  sem exigência de prova escrita e de papirar) que de uns tempos para cá tem produzido certos absurdos]. No TCU, são nove três indicados pelo chefe do Executivo e seis pelo Legislativo. Assim, muitos são ex-ministros e ex-deputados e senadores. Gozam das mesmas prerrogativas de ministros do Superior Tribunal de Justiça.
 
Já havia até um esquema para o clube de exercícios criados há um século pelo alemão Joseph Pilates, com marcação de horário para as sessões. Seria nos fins de semana? Fora do horário de trabalho? Ou durante o expediente? 
Lembro-me de, há 30 anos, um presidente do TCU, que era meu vizinho, quando revelei, no Jornal Nacional, que ele passava os fins de semana na sua cidade, em sua própria casa, e recebia diárias. No dia seguinte, ele reclamou que eu o tratara mal mesmo sendo vizinho. 
Quando argumentei que, se não fosse vizinho, talvez, eu procurasse outros deslizes, ele se recolheu. Agora, quando se divulgou a novidade do TCU, a licitação foi recolhida.
Integrante do tribunal que quiser fazer pilates que procure uma hora fora do expediente e pague com seu contracheque. 
Agora no TCU, só o pilates faz de conta.
 
Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

O recado das ruas exige liberdade - Revista Oeste

Silvio Navarro e Cristyan Costa

A imensidão de gente que se manifestou neste 7 de Setembro vai influenciar os rumos da política brasileira — para o bem ou para o mal  

Neste ensolarado 7 de Setembro, quem esteve na Avenida Paulista saiu de lá suspeitando de que não havia espaço para mais ninguém. As imagens exibidas nas redes sociais, se não mostram a avenida completamente lotada, atestam que os partidários do presidente Jair Bolsonaro entregaram o prometido. A imensidão aglomerada no cartão-postal de São Paulo vai influenciar os rumos da política brasileira — para o bem ou para o mal.

Manifestantes protestaram na Avenida Paulista (7) em apoio ao presidente Jair Bolsonaro |  Foto: Vincent Bssson/FotoArena/Estadão Conteúdo
Manifestantes protestaram na Avenida Paulista (7) em apoio ao presidente Jair Bolsonaro | Foto: Vincent Bssson/FotoArena/Estadão Conteúdo

Um mar verde e amarelo
Com aproximadamente 250 metros de extensão, o túnel que liga as estações Paulista e Consolação do metrô de São Paulo pode ser percorrido em menos de dez minutos aos fins de semana, feriados e fora do horários de pico. Contudo, os usuários da Linha Amarela que estiveram na Estação Paulista no último 7 de Setembro, às 12h10, levaram 30 minutos para completar o trajeto, devido à multidão que tomou conta das plataformas, dos corredores e das escadas que levam à superfície.

Ao sair da Estação Consolação, na altura do Conjunto Nacional, uma romaria vestindo camisas verdes e amarelas caminhava em direção ao Museu de Arte Moderna de São Paulo (Masp), distante três quadras dali, onde estaria estacionado o carro de som — um dos seis presentes ao evento — no qual o presidente Jair Bolsonaro discursaria.

Eram velhos, crianças, jovens, adultos, negros, brancos, pardos, homens, mulheres, ricos, pobres. Entre as principais palavras de ordem: “voto auditável já”, “não ao passaporte da vacina”, “abaixo a ditadura da toga”, “em defesa da Constituição” e “o Brasil apoia o presidente Jair Bolsonaro”. Embora diversos, a maioria dos estandartes se alinhava na defesa de um único símbolo: a liberdade.
 
A quantidade de gente fez com que os manifestantes ocupassem também as ruas paralelas e perpendiculares à Paulista. Alameda Casa Branca, Alameda Pamplona, Rua Ministro Rocha Azevedo, Rua Peixoto Gomide e a Alameda Santos foram alguns dos pontos que ajudaram a acomodar a multidão.

O evento atingiu seu clímax com a chegada do presidente, que, num carro de som, perdeu a chance de ampliar a simpatia do povo por sua figura ao fazer um discurso típico de Jair Bolsonaro. Trechos: “Quero dizer àqueles que querem me tornar inelegível em Brasília que só Deus me tira de lá”…., “Ou esse ministro se enquadra, ou pede para sair”….. “Digo a vocês que qualquer decisão do ministro Alexandre de Moraes esse presidente não mais cumprirá”…

Imagens das manifestações de 7 de Setembro:

Na mesma noite e no dia seguinte, a velha imprensa bombardeou o discurso de Bolsonaro. O golpe estava armado. Essa reação já era esperada.  
O surpreendente foi o esforço negacionista para deformar a realidade, apesar dos vídeos e das fotografias que escancaravam o oposto. Dois exemplos: “estimativa de público em Brasília equivale a 5% do previsto” e “Bolsonaro fica em sua bolha ideológica e ignora o que o povo quer”. 
A GloboNews enxergou muita gente “passeando pela Avenida Paulista num dia bonito de feriado”. Todos os meios de comunicação classificaram a manifestação de antidemocrática.

Parlamentares têm um instinto de sobrevivência bem mais agudo: todos enxergaram perfeitamente o povo ignorado pela miopia do jornalismo engajado


Por que o presidente não cai

Em outubro de 2015, quando o país entrou em parafuso conduzido por Dilma Rousseff, a revista Veja estampou em sua capa três pontos que, somados, implodiriam o mandato de um presidente em qualquer regime democrático: 
1) impopularidade, 
2) perda de apoio no Congresso Nacional
3) ruína econômica. Seis anos depois, a imprensa tradicional no Brasil enveredou-se numa rota cega para tentar demonstrar que Jair Bolsonaro deve deixar o Palácio do Planalto pelas portas dos fundos. 
Mesmo que nenhum dos pilares acima corresponda à realidade. Simplesmente porque eles querem que #EleNão.

A economia vive um bom momento? Não. Mas é inegável que o país demonstrou enorme resiliência ante a pandemia e as medidas austeras de isolamento impostas por governos estaduais e municipais. O mérito se deve à potência do agronegócio e à capacidade de se reinventar do brasileiro que não ficou em casa.

O terceiro e talvez mais instável ponto, sobre a sustentação parlamentar do governo, foi respondido pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a quem cabe despachar um processo de impeachment contra Bolsonaro. [despachar para apreciação do pedido.] Até o oposicionista mais ferrenho hoje não apostaria nisso depois de ouvir o breve pronunciamento lido na quarta-feira dia 8. Os principais pontos:
1) Esperei até agora para me pronunciar porque não queria ser contaminado pelo calor de um ambiente já por demais aquecido;
2) Quero aqui enaltecer a todos os brasileiros que foram às ruas de modo pacífico; e
3) A Câmara dos Deputados apresenta-se hoje como um motor de pacificação.


A fala elaborada com a ajuda de um marqueteiro é de fácil leitura política: o Congresso Nacional não pretende entrar no ringue nem contra Bolsonaro e muito menos contra o Supremo Tribunal Federal (STF), onde metade dos parlamentares na ativa enfrenta inquéritos por causa do foro privilegiado. 
A um ano da eleição, os deputados, sobretudo, não querem briga com ninguém. Uma traição ao presidente pode custar caro em seus redutos eleitorais, dada a capilaridade dos programas sociais do governo. Cujas bases foram ampliadas no novo Auxílio Brasil (o Bolsa Família repaginado), e nas obras do Ministério da Infraestrutura, que ficarão prontas às vésperas das urnas.

Também cabe aqui uma análise sobre o perfil de quem comanda o Legislativo brasileiro: sua cúpula é formada por congressistas com a estatura de vereadores dos rincões do Brasil. Arthur Lira não foge à regra: assumiu o posto de líder do já famoso “baixo clero” ou “centrão” depois que Eduardo Cunha foi preso. Há quase três décadas na política, age como o vereador de Maceió eleito em 1992. É o “Severino Cavalcanti que deu certo”, como se referem a ele nos corredores de Brasília.

(......)


O dia seguinte
No dia seguinte à manifestação, caminhoneiros bloquearam diversas rodovias do país. Queriam a destituição de ministros do STF e um encontro com Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, que se recusou a recebê-los. Diante das nuvens escuras no horizonte, Jair Bolsonaro publicou uma “Declaração à Nação”.

Num trecho, afirmou nunca ter tido a intenção de agredir quaisquer dos Poderes — “a harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar”. Em outro, afirmou que suas palavras, “por vezes contundentes”, decorreram do calor do momento. Depois, que a democracia era o Executivo, o Legislativo e o Judiciário trabalhando juntos em favor do povo e todos respeitando a Constituição. O meio de campo entre Bolsonaro e Alexandre de Moraes, soube-se mais tarde, foi costurado pelo ex-presidente Michel Temer.

Pela primeira vez em quase três anos de mandato
, Bolsonaro agiu com a serenidade recomendável a um presidente da República. Acertou? Não se preocupem: isso também está sendo criticado pelos que tudo criticam. 
 
Revista Oeste Silvio Navarro e Cristyan Costa
 
 

quinta-feira, 20 de maio de 2021

Desempregados - O Estado de S. Paulo

 J.R.Guzzo

Não são os radicais do ‘distanciamento social’ ou a ‘turma do home office’ que estão perdendo postos de trabalho; quem está sofrendo é a massa pela qual ninguém jamais se interessa

A humanidade ainda não conseguiu inventar um sistema realmente eficaz através do qual sociedades e governos, em momentos de adversidade comum à população, possam adotar medidas que representem “sacrifícios para todos”. Não há nenhum problema com os sacrifícios. Eles vêm sempre. A questão está no “todos”. Eles nunca são todos. 
Sempre, invariavelmente, os sacrifícios de verdade vão para a maioria, apenas e justo a maioria mais pobre, mais vulnerável, menos instruída, menos assistida pela tecnologia. 

É a multidão, imensamente maior que as classes intelectuais, artísticas e financeiramente bem resolvidas, que mora longe, trabalha pesado e chacoalha todos os dias na trinca ônibus-metrô-trem de subúrbio. É esse mundo de gente, mais uma vez, que está de fato sofrendo com o pretenso “problema para todos” – no caso, a calamidade social de primeiríssima classe criada com a covid e com as providências que foram adotadas pelo poder público para gerir a epidemia. Não é “problema para todos”. É problema para eles.

Tome-se, para ficar só num dos grandes desastres da covid, e talvez o maior de todos: o desemprego. Já são mais de 14 milhões de brasileiros que estão tendo suas vidas destruídas pela eliminação da produção e do trabalho nas atividades que exerciam seja com carteira assinada, seja por conta própria, seja no oceano de empreendimentos que foram e estão indo para o diabo porque o governador, o prefeito e os seus médicos querem fechar tudo. Enquanto os “cientistas” e as autoridades locais estão dizendo “fique em casa”, e socando fiscal e polícia em cima do povo, a sociedade se arruína – e essa ruína cai direto em cima dos que têm menos.

Não são os funcionários públicos, os professores e os vigilantes mais radicais dodistanciamento social que estão perdendo o emprego ou a condição de ganhar o sustento através do trabalho livre. Não são os executivos de empresas bem sucedidas e bem equipadas para enfrentar o tranco gigante na economia. Não é, obviamente, a turma do “home office”, do “trabalho remoto”, etc. etc. 
Não são, nem mesmo, os trabalhadores mais qualificados, ou mais experientes. 
Quem está sofrendo é a massa pela qual ninguém jamais se interessa os que ganham menos, os que tem menos preparo profissional, os que podem ser trocados em cinco minutos por um outro disposto a ganhar salário menor. 
São os mais moços, os que sabem fazer pouco, os que não conhecem ninguém.  
São os negros – não os negros “fashion” da publicidade da televisão, mas os da vida real.
Para toda essa gente, a elitezinha que vive na câmera asséptica da quarentena mental só propõe uma coisa: peçam dinheiro ao governo federal. É o maior espetáculo de hipocrisia que a sociedade brasileira já viveu
Os militantes “pela vida” ficam em seus apartamentos. Mas exigem que os porteiros, os faxineiros e os demais empregados do prédio venham trabalhar todo o dia, no horário marcado; ou é assim, ou é o olho da rua
Para a minoria ficar em casa, dar entrevista e viver na sua bolha, é preciso que milhões não fiquem em casa. 
O resto é conversa de CPI.
 
J.R. Guzzo, jornalista - O Estado de S. Paulo
 
 

quarta-feira, 21 de abril de 2021

A quarentena dos desvalidos - Revista Oeste

Augusto Nunes

Os governantes fingem ignorar a existência de um Brasil maior e mais populoso que o conhecido pelos loucos por lockdowns

 Neste 13 de abril, o governador João Doria foi enfim confrontado com a pergunta que não queria ouvir — e nenhum jornalista havia ousado formular nas mais de 200 entrevistas coletivas sobre a pandemia de coronavírus concedidas desde março de 2020: 
o que pretende fazer para ao menos reduzir as aglomerações nos ônibus, trens metropolitanos e vagões do metrô?  
O repórter tinha numa das mãos fotografias que escancaravam o tumor medonho: amontoada em ambientes opressivos e mal ventilados, a multidão de passageiros confirmava que, todos os dias, esquadrilhas de vírus chineses sobrevoam os meios de transporte público para expandir a morte e o medo no maior conglomerado urbano do país.  
O que tinha a dizer sobre isso o líder do combate ao inimigo invisível na frente paulista?
Os doutores que compõem o Centro de Contingência da Covid-19, codinome do Altíssimo Comando da Guerra Sanitária em São Paulo, que tem em Doria o Chefe Supremo, certamente trataram dessa questão. As sumidades ali aglomeradas (com as devidas cautelas aconselhadas pelo distanciamento social, ressalvam) tratam de tudo. Já faz mais de um ano que se juntam quase todos os dias para decidir o que pode e o que não pode, o que ajuda e o que atrapalha, o que é verdade e o que é negacionismo. Como Doria, recitam de meia em meia hora que estão lá para salvar vidas. Conhecem a covid-19 só de vista, mas estão sempre grávidos de certezas
Não é atormentado por dúvidas quem ouve o tempo todo a voz da Ciência e os conselhos da Saúde. 
No fim da semana, o grupo comunica ao governador — que tem a última palavra quais municípios merecem ser alojados, por exemplo, na fase amarela, e quais devem continuar de castigo na fase vermelha, antessala da temida fase emergencial. (Nascida há poucas semanas, a emergencial seria batizada de “fase preta” se alguém não tivesse advertido que poderia parecer coisa de racista.)

 Claro que o conselho de sábios tratou do assunto. Mas a reação de Doria ao ouvir a expressão transporte público lembrou a do avô surpreendido pelo neto que, no meio do jantar da família, resolve contar aos berros um segredo do clã transmitido aos sussurros por sete gerações. Num longo circunlóquio, o governador ressaltou que tal problema não é uma exclusividade paulistana. Outras capitais são assoladas com superlotações do gênero. Tampouco se trata de uma complicação restrita ao Brasil: Londres, Paris, Nova York — mesmo metrópoles mais avançadas ainda não descobriram como adaptar a mobilidade urbana a estes tempos estranhos. Já avisando que a entrevista chegara ao fim, Doria disse que o governo estadual recomendou mais de uma vez o uso de horários alternativos inviáveis e reiterou que os passageiros devem lavar as mãos com álcool em gel, além de proteger o rosto com máscara.

O próprio orador desconfiou que discursava sobre o nada, compreendeu que seria difícil debitar mais esse pecado na conta de Jair Bolsonaro e partiu para a ofensiva. “Não posso impedir o deslocamento de trabalhadores de serviços essenciais”, subiu o tom. 
Como vetar o embarque no metrô da enfermeira que salva vidas, do bombeiro que salva vidas, do policial militar que salva vidas? 
 
Quem imagina que desde o início da pandemia apenas esses profissionais usam o transporte não faz ideia do mundo que se espreme em qualquer vagão da Linha Vermelha, nem viu por dentro algum ônibus que leva do centro da cidade a Sapopemba
Nesses mosaicos do Brasil, espremem-se nos horários de pico camelôs, desempregados, assaltantes, domésticas, pedintes de esquina, babás, garçons, pequenos negociantes, gente honesta, vigaristas, vendedores de bugigangas, aposentados e jovens à procura de trabalho, além de incontáveis brasileiros forçados a exercer a profissão na clandestinidade porque a ordem é ficar em casa.
 
Ou na semiclandestinidade exigida pelo farisaísmo: 
os cabelos bem cortados dos homens e os penteados impecáveis das mulheres denunciam a passagem recente de barbeiros e cabeleireiras que mantêm seus salões fechados por determinação dos ilustres fregueses. Para chegar às casas dos clientes loucos por lockdowns, falta a esses trabalhadores de serviços considerados não essenciais dinheiro para chamar um Uber. Usam o transporte público. 
Se ficassem em casa, o elenco que protagoniza as entrevistas coletivas no Palácio dos Bandeirantes estaria parecido com uma tribo de hippies dos anos 70. 
A boa aparência, sublinhada por máscaras customizadas e pelo sorriso de quem vive entre o chuveiro e uma sala com ar condicionado, avisa que o que ali se vê é um bando de hipócritas. Portadores de miopia seletiva, fingem não enxergar os milhões de excluídos da quarentena feita sob medida para integrantes da classe média alta, funcionários públicos indolentes, ricos, advogados de corruptos, corruptos com bons advogados e o restante da elite nativa. Seria excessivo esperar que essa turma se preocupe com aglomerações decorrentes do isolamento dos excluídos.

Previsivelmente, os fechadores compulsivos de bares, restaurantes, templos, museus, cinemas, teatros, shopping centers, prateleiras de supermercados, salões de cabeleireiros, barbearias, escolas, fábricas, lojas e outras vítimas da epidemia de autoritarismo fecharam os olhos à dramática piora da paisagem formada pelas favelas brasileiras, onde sobrevive uma imensidão de gente que ajuda a transformar o transporte público no maior e mais alarmante foco de disseminação do coronavírus do Brasil. 

O palavrório das entrevistas coletivas não incluiu sequer um asterisco sobre os brasileiros amontoados em barracos. Também não foi nem será dedicada uma mísera vírgula à pesquisa feita entre 9 e 11 de fevereiro pelo Instituto Data Favela, em parceria com a Locomotiva – Pesquisa e Estratégia e com a Central Única das Favelas (Cufa).

Foram entrevistados habitantes de 76 favelas espalhadas por todos os Estados brasileiros. As constatações são desoladoras. 
Nas duas semanas anteriores ao levantamento, por exemplo, em ao menos um dia 68% dos moradores não tinham conseguido dinheiro para comprar comida. 
As refeições diárias caíram de 2,4 em agosto de 2020 para 1,9 em fevereiro, e 71% das famílias agora sobrevivem com menos da metade da renda obtida antes da pandemia.
Nove em cada dez favelados receberam alguma doação. Sem esse gesto solidário, oito em cada dez famílias não teriam condições de se alimentar, comprar produtos de higiene e limpeza e pagar contas básicas. 
Nas favelas, o número de casos confirmados e óbitos é o dobro do registrado nos bairros nobres, mas apenas 32% procuram seguir as medidas de prevenção. Outros 33% tentam de vez em quando ajustar-se às regras, 30% afirmam que não conseguem segui-las e 5% abdicaram de tentativas. É certo que, do começo de fevereiro para cá, esse cenário se tornou ainda mais cinzento.
A imprensa velha está fora do universo pesquisado. Os moradores não entendem o que dizem comentaristas da Globo, o grego antigo lhes parece menos complicado que o subdialeto falado por ministros do Supremo e o alcance da internet é muito menor que nas regiões habitadas por quem desfruta de três refeições por dia. Mas também nos barracos se manifesta a sabedoria subjacente do povo brasileiro. Os favelados sabem o que fez e faz cada governante e cada instituição no Brasil da pandemia. 
 Acuados pela fome e pela insegurança, usam o transporte público para buscar algum dinheiro em outros pontos da cidade. 
Sabem que as aglomerações nos ônibus, trens urbanos e vagões do metrô são perigosas
Mas os participantes involuntários do isolamento dos desvalidos acham muito mais perigoso esperar num barraco a salvação que não virá.

Leia também a matéria de capa desta edição, “A aglomeração dos invisíveis”

Augusto Nunes, jornalista - Coluna na Revista Oeste

 

sábado, 6 de fevereiro de 2021

O triunfo da mentira - O Estado de S. Paulo

A covid-19 foi a descoberta para os políticos brasileiros, que viram na epidemia uma belíssima oportunidade para tirar proveito pessoal

A covid-19 foi sem dúvida a descoberta do ano para os políticos brasileiros. Desde o primeiro caso de infecção, boa parte dos nossos homens públicos viram na epidemia uma belíssima oportunidade para tirar proveito pessoal e “assumir posições” - calculadas para dar mais gás (ou o que eles acham que é mais gás) para as suas carreiras. Vivem falando que agem de acordo com a “ciência”. Mentira. Eles não sabem rigorosamente nada de ciência, mas acreditam saber tudo sobre os truques mais eficazes para utilizar em seu benefício uma tragédia – e o pânico trazido por ela. O governador João Doria foi um dos primeiros a ver o potencial desta mina. Dez meses depois, continua achando que ainda há muita coisa a tirar daí.

No dia 13 de novembro, duas semanas antes do segundo turno das eleições municipais, o governador disse o seguinte, em praça pública: “Vim aqui para desmentir mais uma fake news”, disse Doria, àquela altura convencido de que manter em grau mais moderado seu sistema de repressão ao vírus, como vem ocorrendo nos últimos meses, era a postura mais rentável para dar votos ao seu candidato Bruno Covas. “Depois das eleições nós não vamos endurecer as medidas de combate à pandemia. A pandemia está sob controle.” Afirmou, também, que as previsões de endurecimento eram “um golpezinho” de campanha eleitoral.

As urnas mal tinham sido fechadas quando o governador, que então já não precisava mais dos votos, mandou fazer exatamente o contrário do que havia acabado de prometer: depois de uma campanha eleitoral vivida dentro da “fase verde” das restrições, Doria votou a impor as exigências da “fase amarela”, mais extensas e rigorosas. Qual foi, nessa história, a notícia falsa: o anúncio do endurecimento que viria depois da eleição, ou o desmentido formal do governador?

A covid-19, ao ser utilizada como ferramenta política, transformou-se no triunfo da mentira. Essa malversação dos fatos, feita de forma sistemática e maciça, leva aos disparates que se repetem diariamente à vista de todos. Há a vacina “boa” (a estadual) e a vacina ruim (a federal), com o pormenor de que nenhuma das duas existe. Há a aglomeração “ruim”, quando é feita pelos adversários políticos, e a aglomeração “boa”, quando é feita nas sedes de partidos para comemorar as vitórias do segundo turno. Há os chiliques constantes das autoridades diante de “ameaças ao distanciamento social”, e a sua mais absoluta indiferença com os ônibus, trens e metrô que viajam lotados todos os dias.

A Prefeitura de São Paulo é patentemente inepta para cuidar de tarefas elementares e essenciais, que o homem sabe executar há 5.000 anos, como manter os bueiros da cidade razoavelmente limpos – a causa direta das enchentes a qualquer chuva mais forte. É inepta para cortar árvores que ameaçam cair sobre a rua e matar gente, como acaba de acontecer na Vila Mariana – apesar de todos os pedidos de providências por parte dos moradores. É inepta para consertar os buracos de rua. Mas o prefeito e o governador são craques em usar máscaras pretas fashion, brincar de “cientista” e propor a “igualdade social”. É onde São Paulo veio parar.

JR Guzzo, jornalista - O Estado de S.Paulo - 02 dezembro 2020


quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Perseguição a idosos - Doria e Covas retiram gratuidade para idosos entre 60 e 65 anos em ônibus, trens e metrô

 Bruno Ribeiro, O Estado de S. Paulo

Benefício segue válido apenas para quem tem mais de 65 anos; governos dizem que medida "acompanha a revisão gradual das políticas voltadas a esta população"

[Em plena pandemia , enquanto o Governar Federal tenta aprovar algum tipo de auxílio que aumente a renda das pessoas, Bruno Covas e João Doria, prefeito e governador de S. Paulo (Doria especialista em vacina chinesa e o outro na compra de urnas funerárias e criação de engarrafamentos)  retiram direito adquirido por idosos desde 2013.]

As gestões Bruno Covas (PSDB) e João Doria (PSDB) decidiram retirar o direito de idosos acima de 60 anos de viajar gratuitamente em ônibus, trens e metrô na capital, além dos ônibus intermunicipais da Grande São Paulo, em uma ação conjunta para reduzir os custos do transporte. A mudança deve ocorrer a partir do dia 1.º de janeiro.

No caso da Prefeitura, Covas conseguiu aprovação da Câmara Municipal para retirar benefício na terça-feira (22) e, já nesta quarta (23), sancionou o texto.  No caso do governo do Estado, Doria editou, nesta quarta-feira, no Diário Oficial, um decreto que suspendeu a regulamentação da lei estadual que estabelecia o benefício

Idosos acima de 65 anos não pagam passagem por causa do Estatuto do Idoso, uma lei federal. O direito também está garantido na Constituição. Em São Paulo, esse limite havia baixado para 60 anos em 2013, durante as gestões Fernando Haddad (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB), em uma medida adotada em meio aos protestos contra o aumento da tarifa ocorridos naquele ano. 

A Câmara Municipal da capital vem realizando sessões de votações matinais em que a base governista tem feito uma série de manobras para aprovar projetos sem passar por discussões. Nesta votação específica, a revogação da lei que garantia a gratuidade estava em uma manobra conhecida como “jabuti” (quando uma artigo de uma lei que trata de um tema traz uma mudança em outra lei, que trata de outro tema diferente). O projeto que estabeleceu a mudança, originalmente, tratava de mudanças na estrutura de fiscalização das subprefeituras. 

Ao reduzir o total de idosos com direito a passagens gratuitas, a Prefeitura reduziria a necessidade de subsídios ao sistema de transporte. O projeto de lei do Orçamento da capital, em votação nesta quarta-feira, prevê uma redução de 7,4% nos gastos da Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes, de R$ 3,4 bilhões para R$ 3,2 bilhões. 

Para o geógrafo Rafael Calábria, coordenador do Programa de Mobilidade do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), o argumento de eventual economia de recursos com a retirada do benefício não se justifica. “A remuneração dos novos contratos de ônibus já não paga mais as empresas por passageiro, então não importa para o governo se o passageiro é gratuito ou não, diz. A remuneração é pelos custos de operação. “Além disso, é um ataque aos direitos às pessoas, feito na surdina”.  

Prefeitura e governo do Estado enviaram uma nota conjunta sobre o tema: "A mudança na gratuidade acompanha a revisão gradual das políticas voltadas a esta população, a exemplo da ampliação da aposentadoria compulsória no serviço público, que passou de 70 para 75 anos, a instituição no Estatuto do Idoso de uma categoria especial de idosos, acima de 80 anos, e a recente Reforma Previdenciária, que além de ampliar o tempo de contribuição fixou idade mínima de 65 anos para aposentadoria para homens e 62 anos para mulheres", diz o texto. 

Política - O Estado de S. Paulo


quinta-feira, 19 de março de 2020

Se tivéssemos dinheiro - Carlos Alberto Sardenberg

Coluna publicada em O Globo - Economia 19 de março de 2020

Vamos imaginar que as contas públicas no Brasil estivessem no azul. O governo federal e os estaduais com superávit, caixa elevado e fundos instituídos para situações ações anticíclicas – ou seja, governos com dinheiro para gastar em caso de uma crise, uma recessão global ou uma emergência como o coronavírus. Seria muito mais fácil, não é mesmo? A questão seria apenas escolher onde gastar e quais programas implementar.

A situação real é o contrário disso. Como há uma dívida pública enorme e como todas as instâncias de governo operam no vermelho, passamos a ter dois problemas: primeiro, onde encontrar o dinheiro para gastar na crise; e, depois, onde gastar – mas gastar com parcimônia e extremo cuidado porque não vai ter para todos.

Dizem alguns: mas a opção liberal/ortodoxa não seria a de não gastar nada, em nome do ajuste fiscal?
Burrice. Essa opção nunca significou que o governo não deve gastar. E sim que deve gastar em saúde, educação e segurança, de um modo que leve a uma redistribuição de renda e redução de desigualdades. Ou ainda: cobrar mais impostos dos mais ricos e gastar com os mais pobres.
O desajuste fiscal brasileiro não decorre essencialmente do excesso de gasto público. Decorre de gasto ruim.

Se o governo não gastasse quase 80% da despesa com previdência e pessoal, já teria sobrado mais dinheiro para a saúde. Tem mais: a previdência brasileira é injusta e desigual. Tem a turma que se aposenta [atualizando: aposentava.]  aos 50 anos, com valores no teto (e no extra-teto no caso de funcionários públicos) e a imensa maioria que se aposenta aos 65 anos com vencimentos em torno do salário mínimo. E mesmo dentro do setor público há desigualdade: um funcionário do Judiciário, onde estão os maiores salários do país, se aposenta em condição muito melhor do que, por exemplo, bom exemplo, um enfermeiro de posto de saúde. [A repetição constante da mesma explicação nos torna chatos;
mas, temos que nos repetir, já que sempre a causa da recorrência se repete.

Os super salários podem até existir no Poder Judiciário, muito provavelmente há muitos casos, mas  estão entre os membros daquele Poder e acompanhados, pari passu, pelos membros do Ministério Público Federal.
Os funcionários do Judiciário, os 'barnabés', são regidos por legislação específica e comum aos servidores dos demais Poderes. MEMBRO é outra coisa, outra casta.]

É evidente que a correção desse rumo não se faz de uma hora para outra, muito menos no meio de uma calamidade mundial.  Mas também é um baita erro dizer que, como se vai gastar mesmo, então esqueçamos isso de ajuste fiscal ou teto de gastos. É esse tipo de cabeça que nos trouxe ao ponto em que estamos hoje.

Assim, de modo muito simples: o governo, em todos os níveis, tem que caçar centavos para gastar no combate à epidemia e no combate à recessão que se avizinha. Por isso, o decreto de calamidade pública faz todo o sentido e está previsto na legislação. Há momentos em que se pode suspender a meta fiscal – mas, notem, suspender por tempo determinado, não a abandonar. E o gasto tem que ser muito bem focado, porque o dinheiro é curto e vai gerar déficit, que terá de ser pago mais à frente.

O gasto principal, claro, é saúde: cuidar dos doentes e tentar controlar a epidemia. Cabe perfeitamente aqui – e é mesmo necessário dar remuneração extra aos profissionais do setor que, no geral, são mal remunerados.  E depois, gastar com as pessoas em situação mais difícil, aquelas, por exemplo, que não estão no Bolsa Família, mas também não estão no INSS, não tem seguro desemprego e não têm carteira assinada.

Finalmente, setores econômicos cuja queda pode gerar muito desemprego.  Não há nenhuma dúvida quanto a esse roteiro no mundo todo. Os governos estão fazendo coisa parecida. A diferença está na eficiência e no tempo dos programas governamentais. A Coreia do Sul, por exemplo, foi rápida e eficaz. Já o governo italiano bobeou, assim como o da França. Ainda no começo deste mês, o presidente Macron dizia algo assim: tomem cuidado, mas não deixem de sair, de comer nos seus lugares preferidos…. Agora, quarentena total. Quanto mais se atrasa, mais radical é preciso ser.

Trump também tentou levar na surdina. Assustou-se com os estudos médicos mostrando o tamanho da catástrofe. Diz agora que se trata da maior ameaça deste a Segunda Guerra. O governo brasileiro também se atrasou, por culpa do presidente Bolsonaro. Presidente que ainda ontem, estando de máscara na entrevista, disse que poderia pegar um metrô ou uma barcaça lotada para ficar ao lado do povo. Isso quando todas as autoridades sanitárias dizem o contrárioque é preciso esvaziar as ruas e ficar em casa. Ainda bem que governadores estaduais têm se mostrado mais conscientes do tamanho da crise.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista 


sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Greve nos transportes contra reforma da Previdência causa caos em Paris - Correio Braziliense

[Inimigos do presidente Bolsonaro, e do Brasil, conheçam a 'popularidade' Macron, o francês que queira recuperar seu prestígio junto ao eleitorado francês, atacando Bolsonaro e o Brasil.

E os 'coletes amarelos' ainda não voltaram às ruas.]

Para evitar o caos, muitos franceses optaram por trabalhar em casa

Os parisienses vivem uma sexta-feira caótica nos transportes públicos por uma greve, a mais grave dos últimos 12 anos, para protestar contra a reforma da previdência preparada pelo governo francês. Dez das 16 linhas do metrô de Paris estavam fechadas e as demais saturadas, os ônibus circulavam em número reduzido e os grandes engarrafamentos nos acessos à capital evidenciavam o primeiro grande protesto sindical contra a reforma das aposentadorias estimulada pelo governo do presidente Emmanuel Macron.

Dié Sokhonadu, 25 anos, esperou em vão em uma plataforma da linha 12, que atravessa Paris de norte a sul, mas nenhum trem da linha estava em circulação. "Sem metrô, terei que voltar para casa", disse o operário, que trabalha na reforma da catedral de Notre-Dame, no centro de Paris. Para evitar o caos, muitos franceses optaram por trabalhar em casa. "Não queria perder tempo tentando pegar o metrô, minha linha está fechada", declarou à AFP Anne-Sophie Viger, executiva em uma empresa de seguros.
A Autoridade Autônoma de Transportes de Paris (RATP) pediu na quinta-feira aos moradores que saíssem de casa apenas em caso de extrema necessidade e anunciou "soluções alternativas de mobilidade", que incluem o uso gratuito limitado de motos ou bicicletas elétricas de livre serviço, subsídios a quem compartilhar o carro ou estacionamento pela metade do preço. As pessoas também procuravam as bicicletas e patinetes elétricos de livre serviço que proliferam na capital francesa. Vários operadores, como o Jump da americana Uber ou a francesa Cityscoot, ofereceram trajetos gratuitos de 15 a 30 minutos Esta greve é a primeira grande mobilização contra o plano do presidente Macron de implementar um sistema de previdência "universal".

Os funcionários do metrô de Paris, assim como os trabalhadores de outras atividades consideradas difíceis ou perigosas, perderiam assim os benefícios associados a seus regimes especiais, que atualmente permite, por exemplo, a aposentadoria antes dos demais franceses. O Tribunal de Contas calculou que a idade média de aposentadoria dos trabalhadores da RATP em 2017 era 55,7 anos, contra 63 anos da maioria dos trabalhadores franceses. "Não é uma greve de privilegiados, esta é uma greve de trabalhadores que afirmam 'queremos nos aposentar com uma idade razoável e em condições razoáveis", declarou à rádio FranceInfo Philippe Martinez, secretário-geral da CGT, um dos principais sindicatos da França.

A greve é a maior no setor de transportes de Paris desde 2007, quando o ex-presidente Nicolas Sarkozy apresentou uma reforma previdenciária que aumentou a idade de aposentadoria da maioria dos funcionários públicos. "Estou na RATP desde 1996 e nunca vi algo assim. Tantos grevistas, de todas as áreas, e inclusive alguns diretores mobilizados. As pensões afetam todos", declarou ao jornal Le Parisien Marc Brillaud, do sindicato SUD. A reforma da previdência é uma promessa de campanha de Macron, que se comprometeu a eliminar os 43 distintos regimes especiais e a criar um sistema "universal" com o uso de pontos, no qual "1 euro de contribuição concede os mesmos direitos".  Diante do projeto potencialmente explosivo, o governo quer enfrentar a situação com calma. "Levaremos todo o tempo necessário para abordar a reforma das aposentadorias, antes de uma votação prevista para 2020, afirmou o primeiro-ministro Edouard Philippe.

Correio Braziliense - Notícia

 

 

 

domingo, 20 de maio de 2018

Moradores e comerciantes denunciam taxas do tráfico na Rocinha



A narcomilícia da Rocinha: Moradores e comerciantes denunciam taxas do tráfico

Extorsões já rendem mais de R$ 1 milhão por mês

Não bastam as 54 mortes em confrontos com a polícia contabilizadas pelo estado desde setembro do ano passado, quando explodiu uma guerra entre facções pelo controle da Rocinha. O sofrimento da comunidade é ampliado por meio de constantes ameaças, que castigam o bolso de quem vive ali. Moradores e comerciantes denunciam que estão sendo obrigados a financiar uma corrida de bandidos por mais armas e munição: o tráfico passou a imitar a milícia, e, a cada semana, cobra taxas de segurança, além de faturar em cima do transporte alternativo e da venda de botijões de gás, água e outros produtos

Muitos reclamam que o “imposto do terror” vem aumentando, e a estimativa é que ele já renda pelo menos R$ 1,3 milhão por mês ao bando que hoje domina a favela. Com o anonimato preservado, pessoas que vivem e trabalham na Rocinha afirmam que, muitas vezes, a cobrança das taxas ilegais é feita por integrantes da principal associação de moradores do morro. A entidade, no entanto, nega a acusação e afirma que nada pode falar sobre algo que desconhece. Já os delegados Antônio Ricardo Lima Nunes, respectivamente ex-titular e atual responsável pela delegacia da área, a 11ª DP, dizem que a comunidade pode estar sob o jugo do que chamam de narcomilícia. 

Além de sofrerem com os tiroteios e as extorsões, moradores e comerciantes acompanham o crescimento da desordem. Sem freio do poder público, construções irregulares se multiplicam. No alto da localidade conhecida como Dionéia, pouco acima da sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da favela, novas casas são vistas em meio à mata. Na parte mais baixa do morro, a falta de controle urbano é percebida junto ao asfalto da Autoestrada Lagoa-Barra, da entrada da estação do metrô e sob a passarela próxima ao Túnel Zuzu Angel. Camelôs se espalham e oferecem todos os tipos de produtos; mesas e cadeiras são distribuídas para receberem consumidores de sanduíches, petiscos e bebidas.


Na tarde da última quinta-feira, quem fez a festa foi o caminhão do Rei do Um Real, que estacionou perto da passarela. Uma fila logo se formou: era gente interessada em comprar bandejas de iogurte, pacotes de biscoito ou garrafas de refrigerante pelo preço que o dono do negócio que leva no nome. Porém há produtos mais “caros”: dois copos de requeijão custam R$ 5, e três dúzias de ovos saem por R$ 10.

A fila é controlada, homens que trabalham com o caminhão dividem a clientela em grupos, que, em intervalos de alguns minutos, são autorizados a irem para um trecho da calçada onde os produtos ficam expostos em caixas de papelão. Havia alguns PMs por perto, mas eles se limitavam a observar o intenso vaivém; não abordavam os vendedores para checar a procedência das mercadorias.  — Cada canto da comunidade é uma mina de ouro. Os bandidos deixam os camelôs se instalarem, desde que paguem taxas. As vendas do comércio regular caíram por causa dos tiroteios, mesmo assim, temos de aguentar a concorrência desleal e pagar uma taxa que chega a R$ 300 por mês. Passam recolhendo. No dia marcado, tenho que entregar o dinheiro. Estou adiando o pagamento de tributos para manter meu negócio, mas está difícil — conta um lojista que trabalha há décadas na Rocinha. — Antes, cada um contribuía como podia. Geralmente, o pessoal dava cestas básicas; às vezes, tínhamos de colaborar com carne e cerveja para festas. Hoje, damos tudo isso e ainda pagamos o imposto do terror.

‘IMPOSTO’ SOBE APÓS A GUERRA
A situação piorou quando um bando invadiu a Rocinha a mando, segundo a polícia, de Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem. Mesmo preso em Rondônia, ele teria determinado a expulsão de seu antigo braço-direito, Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, que resistiu à investida e mudou de facção. Ele também foi capturado, em dezembro do ano passado, mas seus aliados estariam dominando a favela.

O último levantamento das atividades econômicas na Rocinha, feito em 2007, apontou que a comunidade tinha cerca de 2.500 estabelecimentos comerciais. Isso significa que a taxa de R$ 300 imposta pelo tráfico pode corresponder a uma arrecadação mensal em torno de R$ 750 mil. Muitos não pagam o imposto do terror por mês. Antes de setembro de 2017, a cobrança dos mototaxistas era diária (R$ 4), mas passou a ser de R$ 75 semanais.

 Pela comunidade, circulam mais de mil, incluindo os que pegam passageiros em pontos (Via Ápia, Largo das Flores, Largo do Boiadeiro, Cidade Nova, Rua Nova, Laboriaux e Rua Um) e os rotativos. Isso garante pelo menos R$ 300 mil mensais só em “pedágio”.
— Dependendo do ponto, o recolhimento da taxa é feito num dia diferente — conta Z., na profissão há 19 anos. Os que têm sua própria moto e clientes fixos, conseguem sobreviver com as corridas (cada uma custa R$ 3). Os que precisam pagar R$ 150 de aluguel da moto, além dos R$ 75, estão passando dificuldades.

Segundo motoristas, mais de 150 vans entre as legalizadas que ligam São Conrado ao Jardim de Alah, as que passam pela Rocinha em direção a Rio das Pedras e as que trafegam pela comunidade Vila Canoas — também têm que pagar o “pedágio”. O proprietário de um veículo legalizado diz que, há alguns meses, não era obrigado a pagar taxa, mas precisava, ocasionalmente, fazer “serviços gratuitos” para bandidos. Ele conta que, inicialmente, passou a ter que contribuir com R$ 165 por semana e R$ 10 por dia trabalhado. — Este mês, aumentaram para R$ 285 por semana e R$ 20 por dia. Estou desesperado — afirma ele., que mora na Rocinha com a mulher e os filhos.

Há menos de um ano, motoristas de carros particulares, alguns deles da Baixada, estimulados pelo mercado criado pelos aplicativos de transportes, passaram a fazer ponto na Rocinha. Costumam estacionar na Via Ápia para aguardar passageiros. Quando não encontram espaço, ficam na Estrada da Gávea, próximo ao Clube Emoções, esperando uma vaga no ponto.  — Estão cobrando R$ 135 por semana da gente. É muito — reclama um motorista.

PROJETOS MUNICIPAIS
A Prefeitura do Rio informa que vem desenvolvendo, desde o ano passado, uma série de ações na Rocinha com investimentos que ultrapassam R$ 8 milhões. Entre os trabalhos concluídos na região, segundo a assessoria de imprensa do prefeito, há obras de contenção de encostas no valor de R$ 4 milhões e reformas de quatro unidades de ensino concluídas em abril ao custo de R$ 3 milhões, além de outras intervenções, como tapa-buracos, integração tarifária entre vans e o metrô, identificação de casas sem janelas e obras de requalificação das fachadas de 150 casas.

O Globo