Rodolfo Costa
Atos convocados por Bolsonaro
Presença
do presidente Jair Bolsonaro no tradicional desfile cívico-militar em 7
de Setembro, em Brasília, ainda é a única agenda presidencial
confirmada pela campanha para o dia - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Os
movimentos de rua conservadores definiram a pauta que será defendida
nas manifestações do dia 7 de setembro, convocadas pelo presidente Jair Bolsonaro
(PL) no ato de lançamento da sua candidatura à reeleição.
Serão quatro
pontos: a celebração dos 200 anos de independência do Brasil e a defesa
das liberdades;
o respeito à democracia e a todas as instituições;
a
demanda por eleições transparentes; e,
o amor ao Brasil e à bandeira
nacional.
A pauta foi fechada após reuniões
presenciais e remotas entre organizadores de diferentes movimentos ao
longo das últimas três semanas. Alguns deles se reuniram com integrantes
do núcleo político de Bolsonaro para alinhar a pauta com a campanha
presidencial, a fim de evitar uma desconexão com o discurso do
presidente ou até mesmo correr o risco de causar algum impacto à
candidatura dele.
O entendimento dos coordenadores
dos movimentos de rua é que todos os quatro pontos estão alinhados com
os anseios da maioria da população, sejam apoiadores ou não de
Bolsonaro. Os organizadores defendem que a pauta é democrática e afirmam
que foi definida a "várias mãos" a fim de engajar a sociedade sem
acalorar mais os ânimos.
Como a pauta expressa a preocupação por um 7 de setembro democráticoA definição da pauta e até mesmo a redação dos tópicos a serem defendidos,
alinhados e divulgados nas redes sociais de páginas conservadoras e movimentos de rua expressam uma preocupação dos organizadores em não alimentar um discurso hostil e inflamado por parte de apoiadores e até alguns líderes desses movimentos.
Pela
interação em grupos de WhatsApp, Telegram e em reuniões presenciais, a
maioria dos influenciadores e organizadores notaram um elevado grau de
"animosidade" entre os apoiadores, diz reservadamente um dos
coordenadores dos atos de 7 de setembro à Gazeta do Povo.
A discordância de conservadores a diversas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
ao longo dos últimos anos já havia elevado a "temperatura" entre
apoiadores, e o clima ficou ainda mais acalorado em grupos após a Procuradoria-Geral Eleitoral pedir multa a Bolsonaro por questionar o sistema eleitoral em reunião com embaixadores.
A
indignação de uma parcela dos apoiadores provoca em grupos debates que
sugerem uma ruptura institucional. Há quem também fale em interpretar o
artigo 142 da Constituição Federal de modo que as Forças Armadas atuem
como um "Poder Moderador", embora grande parte dos juristas afirmem que o
dispositivo não atribui aos militares esse papel em caso de crise entre
os poderes. [o ministro Dias Toffoli, em palestra feita recentemente, avocou para o STF as funções de PODER MODERADOR....]
Temas como esses chegaram ao
conhecimento de coordenadores dos movimentos de rua, que trabalharam
para fechar uma pauta alinhada com Bolsonaro e a maioria dos
conservadores.
O sentimento do comitê da campanha e dos organizadores
dos atos de 7 de setembro é que a agenda fechada é democrática e tem
alto poder de engajamento.
Organizadores dos atos de 7 de setembro contam com apoio de BolsonaroA fim de evitar, ou ao menos mitigar, discursos com teor antidemocrático, alguns organizadores dos movimentos de 7 de setembro também
contam com o apoio de Bolsonaro para que ele defenda a pauta em uma de suas tradicionais lives na internet ou em um vídeo gravado que possa ser compartilhado em grupos e nas redes sociais.
O
objetivo de coordenadores é que o próprio presidente atue
antecipadamente para defender os pontos da pauta e evitar discursos
inflamados que, porventura, possam ser usados contra ele e sua
candidatura à reeleição por opositores políticos, acusando-o de apoiar
manifestações antidemocráticas.
A ativista política
Kelly Santos, uma das organizadoras do movimento de rua conservador em
Brasília, entende que, independentemente da pauta, os adversários e
opositores de Bolsonaro vão acusar o presidente e as manifestações. Por
isso, ela entende que todas as lideranças do país vão dar total
liberdade aos cidadãos. Porém, admite que os organizadores vão orientar
para que os manifestantes se atenham à pauta fechada pelos movimentos. "O
brasileiro vai às ruas dar o seu discurso, pois estamos em um país
livre, cada um vai ter a liberdade de falar o que quiser. Poderíamos
ficar todos caladinhos com a 'pombinha da paz', lencinhos brancos e
todos de mão dada que iriam acusar a nós e o presidente da mesma forma.
Entretanto, queremos um discurso único em cima dessas pautas
[bicentenário da independência, respeito à democracia e às instituições,
eleições transparentes e o patriotismo]", afirma.
Sobre
Bolsonaro defender a pauta única, Kelly acredita que o presidente possa
falar algo em uma transmissão ao vivo. "Durante as lives, ele vai dar
as orientações e o recado certo, que é o que a gente tem esperado. Todo
mundo vai entender em bom e alto som, mas ninguém vai impor nada a
ninguém. Nós, da direita, só queremos o respeito do 'outro lado' às
liberdades. Que obedeçam a Constituição e a liberdade de expressão",
diz.
O
deputado federal Coronel Tadeu (PL-SP), vice-líder do partido na
Câmara, prevê uma Avenida Paulista lotada no 7 de setembro e não
acredita que os manifestantes irão sugerir uma ruptura institucional. O
aliado de Bolsonaro também não acredita em uma pauta única fechada e
encampada previamente pelo presidente.
"Ninguém vai
mexer com essa história de artigo 142, esquece. E não dá para dizer que a
pauta será algo fechado, mas todo mundo já sabe o que é. É o apoio ao
presidente, aos candidatos majoritários e à nossa bandeira. O Bolsonaro
vai conduzir ele mesmo no microfone a fala e a narrativa em relação ao
STF e às urnas. E aí, o povo acompanha. Na verdade, ele não vai ditar
nada antes", prevê.
Organizadores preveem "festa democrática"Os organizadores entendem que é
justificável a indignação e revolta de apoiadores em relação a decisões judiciais do STF e do TSE. Porém,
defendem que a atitude tomada em cima da construção da pauta pode fazer a diferença pela reeleição de Bolsonaro, destaca o empresário Paulo Generoso, criador e coadministrador da página República de Curitiba.
"Estamos
alinhados ao presidente, que quer uma festa democrática gigante, mas
pacífica e ordeira, que defenda e demonstre o nosso amor pelo país sem
atacar instituições, até para o presidente se precaver, pois a imprensa
coloca tudo na 'conta' do presidente, que é o alvo principal", sustenta.
A
ideia da pauta, reforça Generoso, não é pedir impeachment de ministros e
de "ninguém". "A gente entende que o 7 de setembro é para fazer uma
grande festa democrática, demonstrar nosso amor ao Brasil, o valor das
instituições, da liberdade e da democracia. E, acima de tudo, mostrar um
recado ao mundo que o Brasil não aceita comunismo e apoiamos o nosso
governo", destaca.
O empresário Tomé Abduch, fundador
e coordenador do Nas Ruas, entende que muitos brasileiros estão
assustados em poder se posicionar e com medo de ter sua liberdade de
expressão limitada. Ele assegura, porém, que as manifestações serão
educadas e respeitosas. "Não
há nenhum tipo de manifestação a fazer com ataques individuais a
pessoas ou a instituições. Isso não vai acontecer, pois não pactuamos
com isso e, independentemente de nossa opinião, pregamos o respeito a
tudo e a todos. Não será ato antidemocrático em nenhum sentido, muito
pelo contrário. Defendemos a paz institucional, a democracia e as cores
verde e amarela", afirma.
Abduch reforça que o mapeamento de redes feito pelo Nas Ruas sugere que as manifestações deste ano serão ainda mais numerosas em comparação a 2021.
Um dos motivos apontados por ele é que, no ano passado, os atos foram
organizados em pouco mais de 200 cidades. "Hoje, estamos em contato e
organizando em mais de 300 cidades", afirma.
A
previsão de Abduch é que o número de cidades a organizarem um ato a
favor da pauta única e de Bolsonaro cresça "bastante" nos próximos dias.
"O
mapeamento nas redes sociais já está muito maior do que o 7 de setembro
do ano passado e a população está entendendo que nós não podemos, de
maneira alguma, pactuar com o retorno das pessoas que claramente
assaltaram o Brasil", afirma, citando que um dos motivos para a atração
de um público maior é a proximidade das eleições.
Como será a agenda de Bolsonaro no dia 7 de setembroDas mais de 300 cidades previstas a receber algum ato em 7 de setembro, as atenções estarão voltadas para o eixo Rio-São Paulo-Brasília. Até o momento,
a presença de Bolsonaro está garantida apenas no tradicional desfile cívico-militar na capital federal. Mas não está descartada a possibilidade dele comparecer aos atos públicos em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. Alguns organizadores até cravam essa possibilidade, embora a campanha ainda não confirme
."Torcemos para
contar com a presença do presidente em defesa da liberdade e do
patriotismo. Mas, assim como foi no ano passado também, ele não
confirma, até pela questão de segurança, e é o certo, porque ele acaba
movimentando muita gente, é toda uma preparação de área. Por isso, não
dá para dizer que ele vai estar ou não", diz Kelly Santos.
A
união de movimentos de rua conservadores em Brasília já fez o pedido
para a realização do ato em 7 de setembro à Secretaria de Segurança
Pública do Distrito Federal (SSP-DF). A previsão é que o ato se inicie
às 10 horas, mas Kelly diz que às 7 horas os organizadores já estarão na
Esplanada. Também existe a possibilidade de chegarem ainda na noite do
dia anterior, como ocorreu em 2021.
A participação de Bolsonaro na Avenida Paulista também não é garantida. Integrantes do núcleo político da campanha estimulam o presidente a manter o local como o principal palco dos atos do Dia da Independência, mas ele segue disposto a transferir sua ida para o Rio de Janeiro.
Tomé
Abduch, do Nas Ruas, diz que o movimento manterá a mobilização na
Paulista e confirma que, até o momento, não obteve resposta do Gabinete
de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República —
responsável por cuidar da segurança presidencial — sobre a decisão de
Bolsonaro ir ou não. "Óbvio que estamos super abertos
a recebê-lo no nosso caminhão, como sempre estamos, mas, até agora, não
houve nenhum tipo de contato do GSI para nos informar se o presidente
tem interesse de vir ou não. Mas organizaremos a mobilização
normalmente, por entender que é importante comemorar os 200 anos da
independência, dia que a população vai às ruas para lutar por nossa
liberdade e defender as nossas instituições", destaca.
No
momento, a hipótese provável é que Bolsonaro mantenha sua ida ao Rio de
Janeiro, no período da tarde, às 16 ou 17 horas. Porém, a participação
conjunta com o desfile militar a ser realizado na capital fluminense
está descartada. A meta do presidente era que o desfile ocorresse na
praia de Copacabana, mas ele foi convencido a desistir da ideia por
coordenadores eleitorais de sua campanha e por integrantes do Alto
Comando das Forças Armadas. "É praticamente certo a presença do
presidente no Rio de Janeiro", admite Paulo Generoso, do movimento
República de Curitiba.
Rodolfo Costa, colunista - Gazeta do Povo