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quarta-feira, 20 de abril de 2022

Vinte motivos para não votar em branco. - Percival Puggina

Não sei onde andam os eleitores de Lula. Mas sei, com grande certeza, que no dia da eleição estarão todos formando fila nos seus locais de votação. Por outro lado, tenho encontrado eleitores, não de esquerda, que pretendem votar em branco, ou abster-se de votar.

De algum modo, associam a abstenção à absolvição de qualquer culpa ou responsabilidade pelo que acontecer ao país. Lavam e enxáguam as mãos na torneira do voto em branco sem perceber que ele é, também, uma posição política. Uma vez assumida, principalmente quando serve à estratégia da esquerda, tem gravíssimas consequências!

O último andar do idealismo é o cemitério do realismo.

Significa desconhecer a política real, aquela que manda no Estado, nas ruas e por varias frestas, invade a casa da gente. É a mesma que põe sob sigilo o que queremos saber e, de modo deslavado, mente sobre o que sabemos.

É grave imprudência desconsiderar os conhecidos e onerosos flagelos causados pelo lulismo. O retorno do petismo ao poder produzirá tragédias ao país. Entre muitas outras, estas vinte:

- reinserção de uma organização criminosa no quadro dirigente da República, atribuindo a essa organização o direito de nomear outros dois ministros do STF;

- tomada do poder nos termos de José Dirceu;

- reestatização do que tenha sido privatizado;

- influência e interferência política no Conselho Nacional de Justiça e no Conselho Nacional do Ministério Público;

- recrudescimento das ações terroristas dos movimentos sociais;

- relativização, quando não supressão, do direito de propriedade;

- restrições ainda maiores ao direito de defesa dos cidadãos;

- apoio político à legalização do aborto;

- incentivo ao aparelhamento partidário da burocracia federal;

- manutenção do sequestro da Educação pelas organizações políticas de esquerda;

- ampliação do poder da extrema imprensa em geral e da Globo em particular;

- restrições mais severas à liberdade de opinião e expressão nas redes sociais;

- aceleração do fracionamento identitário da sociedade brasileira;

- combate crescente à instituição familiar como célula essencial da sociedade;

- apoio estatal à erotização da infância e estimulo ao desenvolvimento confuso da sexualidade;

- omissão perante a criminalidade de rua e o crime organizado;

- uso do poder para garantia da impunidade;

- extinção das escolas cívico-militares e controle dos currículos de formação militar;

- revisão das regras de promoção e venezuelização das Forças Armadas;

- interpretação equivocada da laicidade do Estado.

O voto em branco, ante um perigo de tais proporções, é lamentável e estupendo favor prestado ao mal de todos.

Por isso, é muito preocupante saber que enquanto os eleitores de esquerda são perfeitamente capazes de votar em alguém como Lula para que se cumpra a pauta acima, eleitores não de esquerda, optam por uma omissão que coloca toda a sociedade sob o risco de ficar a ela submetida.

E o voto nulo? Além de inútil, não representa protesto quantificável. Ele vai misturado com os votos dados por quem não sabe usar a maquininha.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Nos tempos de cadete, Bolsonaro era bom atleta e médio em Economia - O Estado de S. Paulo

Luiz Maklouf Carvalho

[Curiosidades sobre o atleta, o cadete, aspirante, mergulhador, montanhista, paraquedista, capitão do Exército,  político e presidente da República Federativa do Brasil: Jair  Bolsonaro.
O criticam por não reconhecer o racismo onde não existe, mas foi ele que arriscando a própria vida salvou um soldado do Exército brasileiro, conhecido por 'Celso Negão'.]

Durante a formação militar, presidente eleito se destacou em educação física e atletismo, mas teve notas regulares em disciplinas financeiras e psicologia

As notas mais baixas do cadete 531, Jair Messias Bolsonaro, no terceiro ano da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em 1976, foram 5,4 em Psicologia II, e 5,9 em Economia e Finanças. No quarto ano, final do curso, ele tornou-se aspirante a oficial de artilharia como 12.º lugar entre 69 cadetes. Seu maior destaque, em toda a carreira militar, esteve no atletismo e na educação física, inclusive como instrutor. Como atleta, participou de inúmeros torneios militares, como pentatlos, conquistando prêmios em alguns, e elogios dos superiores em todos. Fez curso de paraquedismo, de montanhismo e de mergulho. Em fevereiro de 1987 somava 44 saltos em aeronaves militares em voo.

Ele próprio destacou esse lado de atleta em sua defesa no Superior Tribunal Militar, onde foi julgado (e inocentado) por fazer ameaça terrorista. No ponto em que foi chamado de ambicioso, por ter ido a um garimpo no interior da Bahia, em 1983, escreveu um autoelogio: “A admiração pela garimpagem bem demonstra a coragem de um oficial paraquedista que foi 1.º da turma na Escola de Educação Física do Exército, e 1.º lugar no curso de mergulho autônomo promovido pelo Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro”.

No mesmo documento, em que dispensou a presença de advogado, sublinhou o depoimento do segundo-sargento Jorge Mion, uma de suas testemunhas de defesa, sobre ter salvado o soldado Celso quando era aspirante, em 1978. “Não foi um salvamento qualquer”, escreveu Bolsonaro. “Foi um salvamento de um soldado do Exército brasileiro, durante uma instrução.” Repetiu, então, o que disse o sargento Mion: “o soldado caiu de uma corda, no meio da lagoa da pista, e teria morrido afogado, não fosse a pronta ação do então aspirante Bolsonaro, que, no meio de vários militares presentes, foi quem, arriscando a própria vida, lançou-se n’água e salvou a vida do soldado Celso. Foi por esse episódio, de 40 anos atrás, que o Exército o medalhou, recentemente, por bravura, alavancado por sua eleição a presidente. O soldado chamava-se Celso Nunes, e era conhecido por “Negão Celso”.

Uma outra testemunha de defesa, o tenente Djalma Antônio de Souza Filho, do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, foi instrutor do capitão em um estágio de mergulho autônomo. Ele contou que, em setembro de 1985, Bolsonaro foi voluntário na queda de um ônibus Cometa, no córrego do Vigário, “tendo trabalhado durante dois dias seguidos, realizando mergulhos de até vinte metros, sem revezamentos e em condições adversas”. Segundo essa testemunha, ele próprio pediu para não oficializar sua participação, por estar de férias.

Os nove elogios individuais que recebeu de superiores imediatos, como cadete da Aman, apontam, ao longo de quatro anos, “esforço, tenacidade, fibra, zelo e dedicação nos treinamentos físicos, inteireza moral, elevado grau de responsabilidade no cumprimento de suas obrigações, assiduidade, pontualidade, elevado padrão de consciência profissional, amor à carreira e desprendimento”.

As folhas de alterações registram três acidentes no mesmo período, nenhum mais grave. Em um deles, na tarde de 11 de março de 77, em uma sessão de educação física, “o cadete 531 bateu com a testa em uma árvore ao lado do campo, sofrendo um corte logo acima do supercílio esquerdo”. Levou quatro pontos.

Depois de servir no 21.º Grupo de Artilharia de Campanha, no Rio de Janeiro, em 1978, o segundo-tenente Bolsonaro foi transferido, a pedido, para o 9.º GAC, na longínqua Nioaque, em Mato Grosso do Sul. Ao sair do 21.º GAC, seu superior registrou que era um “oficial sincero em suas manifestações e atitudes, inteligente, sério, discreto, dotado de excepcional preparo físico e resistência à fadiga”. Ficou em Nioaque por alguns anos – período em que se casou com Rogéria Nantes, em Resende (RJ) –, sem prejuízo de viagens para dar cursos de instrução em educação física e participar de competições militares.

Serviu em Nioaque até o fim de 81, já pai de Flávio Nantes Bolsonaro, o hoje senador eleito. O coronel Ubirajara Souto Mayor, comandante do 9.º GAC, o elogiou pela “valiosa cooperação e eficiente participação nas atividades de instrução da unidade”, e por ter “cumprido corretamente, em seus mínimos detalhes, a desativação da usina de força e luz”.

Notas. Em 82, no Rio de Janeiro, Bolsonaro era aluno da Escola de Educação Física do Exército. Concluiu o curso no fim do ano, com nota 8,7, conceito Muito Bom, e primeiro colocado entre 37. As folhas de alteração mostram que o conceito se repetiu nos cinco quesitos avaliados: valor intelectual, aptidão para a chefia, aptidão para o trabalho em grupo, devotamento, espírito militar e resistência física.

Na conclusão do curso na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, no fim de 1987, já às voltas com a apuração da Beco sem saída, o Muito Bom só se manteve em resistência física. Os demais quesitos ficaram em Bom e Regular, este último em aptidão para trabalho em grupo e espírito militar. A nota final foi 7,68, o 28.º entre 49 alunos. Com essa bagagem é que saiu do Exército e entrou para a política.

O Estado de S. Paulo - Política - 01 de janeiro de 2019  

 

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Bolsonaro e os militares

Militares por trás da ascensão de Bolsonaro

Presidente ecoa um sentimento arraigado nas Forças Armadas de que o PT tentou levar o país para o socialismo

O que o general Villas Bôas, então comandante do Exército, conversou com o candidato Jair Bolsonaro não saberemos tão cedo, ou nunca. Mas sabemos que Bolsonaro atribui a ele ter chegado à Presidência da República e, juntando pedaços de narrativas, desenha-se uma versão muito próxima do que ocorreu nos bastidores militares nos últimos anos. O general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), deu informações preciosas na entrevista ao “J10” da Globonews quarta-feira. Disse, por exemplo, que os militares perceberam que o que chamou de “efeito Bolsonaropoderia ajudar a que participassem da vida política num momento em que a situação no país era de “grande calamidade”.
Ficou-se sabendo também que quando Bolsonaro fala em “livrar o país do socialismo”, não está falando à toa. Ecoa um sentimento arraigado nas Forças Armadas de que o PT tentou levar o país para o socialismo, num esquema regional montado pelo Foro de São Paulo, agrupamento de esquerda coordenado por Lula e Fidel Castro que chegou a ter quase o monopólio político dos governos da América Latina. Essa desconfiança em relação ao PT se deve a fatos concretos. A então presidente Dilma chegou a consultar as Forças Armadas sobre a decretação do estado de emergência para evitar a votação de seu impeachment, e foi rechaçada.
Consumada a derrota política, uma análise do Diretório Nacional do PT lamentou que o partido tenha sido descuidado na reforma do Estado, citando, entre outras ações, a não interferência nos currículos das academias militares. Este “sincericídio” petista confirmou a intenção de controlar a formação militar, o que estava implícito em um decreto assinado pela presidente Dilma em setembro de 2015, transferindo para o Ministério da Defesa, ocupado pelo PT, poderes aparentemente burocráticos, mas que dariam margem justamente à interferência nos currículos das escolas militares, um sistema definido pelo general Heleno como “primoroso”.

O decreto foi neutralizado por outro, mas a nota do Diretório Nacional do PT mostrou que realmente o partido tinha entre suas prioridades o aparelhamento do ensino nas escolas e centros de formação militares. A possibilidade de Lula, através de uma manobra jurídica, poder disputar a eleição presidencial mesmo depois de ter sido condenado em segunda instância inquietava os militares próximos ao general Villas Bôas. Na véspera do julgamento de um habeas corpus de Lula no Supremo Tribunal Federal (STF), o general Villas Bôas divulgou um tuíte advertindo: “Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do país e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?”.
A mensagem foi vista como uma pressão sobre o Supremo, e o próprio general Villas Bôas admite que ali “nós conscientemente trabalhamos sabendo que estávamos no limite. Mas sentimos que a coisa poderia fugir ao nosso controle se eu não me expressasse. Porque outras pessoas, militares da reserva e civis identificados conosco, estavam se pronunciando de maneira mais enfática”. Um deles era o general quatro estrelas Hamilton Mourão, íntimo de Villas Bôas, a quem chama de VB, que o considera “uma figura fantástica, um grande soldado”. Ainda na ativa, defendeu a intervenção militar caso as crises por que o país passa não fossem resolvidas pelos poderes constitucionais. E permitiu uma homenagem a favor do "torturador [nada existe em termos jurídicos, transitado em julgado que considere  o HERÓI dos Brasileiros, coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um torturador.] Brilhante Ustra, a quem chamou, em entrevista à Globonews, de “meu herói”.
Foi transferido para um cargo burocrático e advertido, mas continuou próximo de VB e do general Heleno, que o defendeu na ocasião em nota no Facebook. Hoje, Mourão é o vice-presidente da República. Outra prova da influência do general Heleno: a maioria dos militares do primeiro e segundo escalões do novo governo, assim como ele, chefiou missões de Paz da ONU, no Haiti ou em outras áreas. Chefes militares que se destacaram em ações de combate. Não é por coincidência, portanto, que o general Fernando Azevedo e Silva, hoje ministro da Defesa do governo Bolsonaro, foi colocado anteriormente como assessor do presidente Dias Toffoli no Supremo Tribunal Federal (STF).
 
Merval Pereira - O Globo