As notas mais baixas do cadete 531, Jair Messias Bolsonaro,
no terceiro ano da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em 1976,
foram 5,4 em Psicologia II, e 5,9 em Economia e Finanças. No quarto
ano, final do curso, ele tornou-se aspirante a oficial de artilharia
como 12.º lugar entre 69 cadetes. Seu maior destaque, em toda a carreira
militar, esteve no atletismo e na educação física, inclusive como
instrutor. Como atleta, participou de inúmeros torneios militares, como
pentatlos, conquistando prêmios em alguns, e elogios dos superiores em
todos. Fez curso de paraquedismo, de montanhismo e de mergulho. Em
fevereiro de 1987 somava 44 saltos em aeronaves militares em voo.
Ele próprio destacou esse lado de atleta em sua defesa no Superior Tribunal Militar, onde foi julgado (e inocentado) por fazer ameaça terrorista. No ponto em que foi chamado de ambicioso, por ter ido a um garimpo no interior da Bahia,
em 1983, escreveu um autoelogio: “A admiração pela garimpagem bem
demonstra a coragem de um oficial paraquedista que foi 1.º da turma na
Escola de Educação Física do Exército, e 1.º lugar no curso de mergulho
autônomo promovido pelo Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro”.
No
mesmo documento, em que dispensou a presença de advogado, sublinhou o
depoimento do segundo-sargento Jorge Mion, uma de suas testemunhas de
defesa, sobre ter salvado o soldado Celso quando era aspirante, em 1978.
“Não foi um salvamento qualquer”, escreveu Bolsonaro. “Foi um
salvamento de um soldado do Exército brasileiro, durante uma instrução.”
Repetiu, então, o que disse o sargento Mion: “o soldado caiu de uma
corda, no meio da lagoa da pista, e teria morrido afogado, não fosse a
pronta ação do então aspirante Bolsonaro, que, no meio de vários
militares presentes, foi quem, arriscando a própria vida, lançou-se
n’água e salvou a vida do soldado Celso”. Foi por esse episódio, de 40
anos atrás, que o Exército o medalhou, recentemente, por bravura,
alavancado por sua eleição a presidente. O soldado chamava-se Celso
Nunes, e era conhecido por “Negão Celso”.
Uma outra testemunha de
defesa, o tenente Djalma Antônio de Souza Filho, do Corpo de Bombeiros
do Rio de Janeiro, foi instrutor do capitão em um estágio de mergulho
autônomo. Ele contou que, em setembro de 1985, Bolsonaro foi voluntário
na queda de um ônibus Cometa, no córrego do Vigário, “tendo trabalhado
durante dois dias seguidos, realizando mergulhos de até vinte metros,
sem revezamentos e em condições adversas”. Segundo essa testemunha, ele
próprio pediu para não oficializar sua participação, por estar de
férias.
Os nove elogios individuais que recebeu de superiores
imediatos, como cadete da Aman, apontam, ao longo de quatro anos,
“esforço, tenacidade, fibra, zelo e dedicação nos treinamentos físicos,
inteireza moral, elevado grau de responsabilidade no cumprimento de suas
obrigações, assiduidade, pontualidade, elevado padrão de consciência
profissional, amor à carreira e desprendimento”.
As folhas de
alterações registram três acidentes no mesmo período, nenhum mais grave.
Em um deles, na tarde de 11 de março de 77, em uma sessão de educação
física, “o cadete 531 bateu com a testa em uma árvore ao lado do campo,
sofrendo um corte logo acima do supercílio esquerdo”. Levou quatro
pontos.
Depois de servir no 21.º Grupo de Artilharia de Campanha,
no Rio de Janeiro, em 1978, o segundo-tenente Bolsonaro foi
transferido, a pedido, para o 9.º GAC, na longínqua Nioaque, em Mato
Grosso do Sul. Ao sair do 21.º GAC, seu superior registrou que era um
“oficial sincero em suas manifestações e atitudes, inteligente, sério,
discreto, dotado de excepcional preparo físico e resistência à fadiga”.
Ficou em Nioaque por alguns anos – período em que se casou com Rogéria
Nantes, em Resende (RJ) –, sem prejuízo de viagens para dar cursos de
instrução em educação física e participar de competições militares.
Serviu em Nioaque até o fim de 81, já pai de Flávio Nantes Bolsonaro,
o hoje senador eleito. O coronel Ubirajara Souto Mayor, comandante do
9.º GAC, o elogiou pela “valiosa cooperação e eficiente participação nas
atividades de instrução da unidade”, e por ter “cumprido corretamente,
em seus mínimos detalhes, a desativação da usina de força e luz”.
Notas. Em
82, no Rio de Janeiro, Bolsonaro era aluno da Escola de Educação Física
do Exército. Concluiu o curso no fim do ano, com nota 8,7, conceito
Muito Bom, e primeiro colocado entre 37. As folhas de alteração mostram
que o conceito se repetiu nos cinco quesitos avaliados: valor
intelectual, aptidão para a chefia, aptidão para o trabalho em grupo,
devotamento, espírito militar e resistência física.
Na
conclusão do curso na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, no fim de
1987, já às voltas com a apuração da Beco sem saída, o Muito Bom só se
manteve em resistência física. Os demais quesitos ficaram em Bom e
Regular, este último em aptidão para trabalho em grupo e espírito
militar. A nota final foi 7,68, o 28.º entre 49 alunos. Com essa bagagem
é que saiu do Exército e entrou para a política.
O Estado de S. Paulo - Política - 01 de janeiro de 2019