Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador gasto público. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador gasto público. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

São quatro crises - Os mais pobres não foram tirados apenas dos aviões. Foram também afastados dos supermercados e dos shoppings

Se fosse verdade, como disse Lula, que tem uma elite aqui no Brasil “que não gosta de dividir a poltrona do avião com o nosso povo”, então essa elite deveria estar apoiando a presidente Dilma. O povo já foi colocado para fora dos aviões, como mostram os dados do Banco Central, aliás divulgados na mesma terça-feira em que Lula atacava os opositores do governo.

Em janeiro deste ano, os brasileiros gastaram apenas US$ 800 milhões em viagens internacionais, contra mais de US$ 2 bilhões no mesmo mês de 2015.   A diferença, primeiro, está no dólar, cotado a R$ 2,60 um ano atrás, contra os R$ 4 de hoje. Com essa taxa de câmbio, só rico e classe média alta podem pagar.  Sim, já sabemos a resposta de Lula: tudo culpa da crise internacional que desvalorizou a moeda dos emergentes. Verdade que houve uma desvalorização geral, mas por que o real caiu mais, muito mais, que as outras?

Por causa dos equívocos da política econômica de Dilma, cujos primeiros passos foram dados no segundo governo Lula. Com uma recessão, que gera desemprego e medo nos que continuam empregados; e com uma inflação que come o poder de compra das famílias, os mais pobres não foram tirados apenas dos aviões. Foram também afastados dos supermercados e dos shoppings.

Prova? A queda das vendas no varejo.  Se, como diz Lula, os ricos e brancos ficaram incomodados com a chegada do “nosso povo” ao mercado, agora deveriam estar muito satisfeitos com Dilma e o PT por estarem tirando os mais pobres desse mesmo mercado.  Também aqui dá para antecipar a resposta de Lula e seu pessoal. Aliás, já estão dizendo que Dilma se distanciou do PT, quase que aderiu ao neoliberalismo.

É verdade que a presidente anda dizendo algumas coisas de que o PT não gosta — tipo reforma da Previdência mas, vamos reparar: a política econômica que trouxe o país até esta crise, a “nova matriz”, é puro PT e bolivarianismo. Tanto é que muitos petistas estão pedindo que Dilma volte à política que teria sido abandonada desde o ano passado, trocada pelo ajuste fiscal.

Mas qual ajuste? O gasto público aumentou; o déficit aumentou; a dívida bruta aumentou e continua subindo. Isso só é ajuste na cabeça do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, que ontem, aliás, saiu com uma das melhores piadas do ano.  A agência Moody’s rebaixou a nota do Brasil, retirando o selo de bom pagador, exatamente pela deterioração das contas públicas e pela falta de políticas efetivas e de um compromisso firme em atacar esse problema essencial.

Pois a Fazenda respondeu que o rebaixamentonão altera o comprometimento (do governo) com o ajuste fiscal”. Quer dizer que o ajuste é esse mesmo que está aí?  Sim, o ministro está propondo um pacotão — algo insuficiente e politicamente inviável que, se produzisse efeito, seria muito lá na frente. Enquanto no momento toma medidas que aumentam o endividamento do governo federal e dos estados.

Só dá para entender esse raciocínio (?) se a gente levar em conta as palavras do vice-presidente Michel Temer. Ele disse ontem que há muito pessimismo por aqui e que o pessoal fala em crise num sentido muito geral, sem especificar se é administrativa, política ou econômica.

Na verdade, os analistas especificam muito bem. Basta ler, por exemplo, o relatório da Moody’s. Mas - quer saber? — nem precisava. Estamos com as três modalidades.
O governo é ruim no administrativo. Basta ver quantos ministros foram trocados, quantas medidas, como o leilão de rodovias e aeroportos, que não são implementadas por pura incompetência.
Na economia, a crise também é muito específica. Temos inflação alta, recessão brava e endividamento público crescente, com juros na lua.

E precisa especificar a crise política? Precisa dizer que a Lava-Jato está derrubando o governo e, aliás, ameaça derrubar o próprio Temer no Tribunal Superior Eleitoral?
Na verdade, são quatro crises: as três já citadas e a mental, de falta de lógica mesmo.
Tudo bobagem, diria Temer, o país precisa de uma dose de otimismo, especialmente dos empresários e investidores, ou seja, das elites. Mas se Lula tem razão, essas elites estão contra e não vão ajudar.

Aliás, está aí mais um sinal específico da crise. As elites no governo não se entendem e não sabem como sair dela.


Fonte: O Globo - Carlos Alberto Sardenberg, jornalista

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A CPMF de novo

A proposta de recriar a CPMF virá na hora errada e pelo motivo errado. 

Quando foi criada, ela era para financiar a Saúde e acabou não sendo integralmente usada nessa área, mas agora seria para cobrir o rombo que o governo já viu que haverá no Orçamento do ano que vem. Isso não é argumento bom o suficiente para convencer o contribuinte em um momento de recessão.

Para qualquer pagador de impostos, pessoa física ou jurídica, o aumento da carga tributária em cenário recessivo é inaceitável. É este o caminho que o governo tem trilhado com um tributo aqui outro ali. A CPMF, no entanto, é um imposto particularmente detestado e por isso foi derrubado pelo Congresso. O governo está dizendo que, para tornar o velho imposto mais palatável, dividirá os recursos com estados e municípios, mas não disse o que fazer para tornar aceitável para o contribuinte, que já carrega o peso de todos os outros impostos.

O tributo começou se chamando imposto e o “p” era de provisório. Foi criado durante o período do Plano Real para garantir a arrecadação nos anos da estabilização. O provisório virou permanente, e o imposto virou contribuição para não ter que dividir com estados e municípios. Garantiu cada vez mais arrecadação até que foi extinto no Congresso com o voto dos tucanos que o haviam aprovado e com os lamentos do PT que o havia atacado quando era oposição.

Quando a CPMF foi extinta, o governo elevou vários outros impostos, principalmente o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), conseguindo cobrir em grande parte a arrecadação perdida. Agora, sem falar de qualquer redução em impostos anteriores que foram elevados, o governo começa a divulgar a informação de que o rombo do ano que vem já é de R$ 80 bilhões, porque, entre outras coisas, o salário mínimo vai aumentar 10%.


Ora, que o salário aumentará nesse percentual não é novidade, porque essa é a fórmula criada pelo próprio governo. E o reajuste será alto por causa da inflação causada, em grande parte, pelo preço da energia decretado pelo governo. Ou seja, ele fez a fórmula, ele elevou a inflação, os gastos vão aumentar, e ele avisa que, por isso, terá que trazer de volta um imposto polêmico.


A máquina de elevar impostos já está em pleno funcionamento. O aumento da Contribuição Social sobre Lucro Líquido dos bancos é teoricamente justo porque recai sobre bancos que têm tido muitos lucros. O problema é que acabará sendo pago pelo cliente do banco e tomador de crédito. O PIS/Cofins será alterado e na esteira disso o setor produtivo teme — depois de fazer as contas — que isso represente uma nova elevação de impostos. O debate interno do governo foi vencido pelos que querem moderação no corte de gastos e ajuste feito através de aumento de impostos.

O governo sempre argumenta que cortar gastos é impossível pela estrutura engessada do Orçamento brasileiro. Tem razão em parte, mas nada faz para tirar o gesso que imobiliza o gestor. Nas vezes que este governo teve a chance, a desperdiçou, em outras vezes, defendeu propostas que elevaram a rigidez orçamentária. Tudo o que o governo fará agora será propor o aumento da DRU (Desvinculação de Receitas da União), a parcela do gasto obrigatório que pode ser temporariamente liberada para outros gastos. A DRU foi uma gambiarra feita para se contornar a necessidade de reformas, e que o governo eternizou e agora vai propor aumentar.

Uma fórmula que aumentou a rigidez do gasto público foi exatamente a do salário mínimo, de cujo efeito agora o governo reclama. O reajuste eleva o gasto previdenciário. Recentemente, em vez de propor uma reforma nos gastos do INSS, o governo apresentou um projeto que enfrentava uma das questões laterais e recebeu como resposta o fim do fator previdenciário. A isso respondeu com uma proposta de aposentadoria que os próprios ministros dizem que é inviável a médio prazo.

Sem enfrentar as questões estruturais que estão mantendo a elevação constante do gasto público, o governo redescobre a panaceia da CPMF e acha que tudo então estará resolvido. Desta forma o país sairá da crise aprofundando seus problemas, em vez de resolvê-los.

Fonte: Coluna da Míriam Leitão  - O Globo

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Dilma e políticos mentem o tempo todo – são tão cínicos que no Brasil o PT vota contra o governo e maior parte da oposição se omite, ou mesmo vota a favor – MP 665, ajuste fiscal, foi aprovada com os votos da chamada ‘oposição’



Políticos mentem o tempo todo
Dilma Rousseff não apenas faz o contrário do que pregou como faz aquilo que disse que nunca iria fazer
Se Aécio Neves tivesse vencido a eleição, a política econômica seria praticamente a mesma aplicada neste momento. Joaquim Levy muito provavelmente estaria no governo tucano, em alguma posição de destaque. O eleitor não estranharia nada. Tudo normal: o PSDB passara a campanha toda dizendo que o modelo Dilma fracassara e que seria preciso fazer um severo ajuste.  Normal também, o PT estaria fazendo barulhenta e dura oposição, mobilizando os movimentos sociais e centrais sindicais para atacar o ajuste “nas costas do povo” e a supressão de direitos do trabalhador.

Mas é isso que estão dizendo os tucanos e o Democratas. Não apenas dizendo, mas votando contra as medidas de ajuste que cabiam perfeitamente em seu programa de campanha. Já Dilma, com o PT, toca um programa econômico ortodoxo, com o slogan “ajustar para crescer”. O marqueteiro de Aécio presidente poderia fazer igualzinho.  Dirão: a política é assim mesmo. Perdeu a eleição, vai para a oposição. E o que é ser oposição? É fácil: ser contra tudo o que faz o governo.

Resulta numa grande avacalhação. Numa pesquisa recente na Inglaterra, 65% dos eleitores disseram acreditar que “os políticos mentem o tempo todo”. Não se trata apenas daquele tipo de mentira para livrar a cara quando se é apanhado em alguma falcatrua. “Nunca fiz isso. Onde estão as provas?”

Trata-se de mentira política, quando o governante administra fazendo diferente do que pregou na campanha. Dizem também que campanha é poesia e governo é prosa. Vá lá que existam nuanças, ênfases mais suaves na propaganda. Não precisa dizer, por exemplo, que o ajuste vai gerar um baita desemprego, mas é preciso informar o eleitor que virão tempos difíceis.  O desempenho de Dilma vai muito além disso. Ela não apenas faz o contrário do que pregou como faz aquilo que disse que nunca iria fazer. Mentira política.

A oposição está cometendo a mesma mentira, com o sinal trocado. Viram a última propaganda do Democratas? Só faltou chamar o MST para invadir a fazenda da ministra Katia Abreu. O PSDB ainda tem um certo pudor em atacar Joaquim Levy — que estava ao lado até pouco tempo — mas vota contra e atrapalha o programa do ministro, que é claramente tipo tucano.

Só falta se opor ao programa de privatização de infraestrutura que Levy pretende desfechar. Ou seja, se fizerem a mesma pesquisa aqui no Brasil, deve dar mais de 65% dos eleitores dizendo que os políticos mentem o todo. Deve ser por isso que as manifestações contra o governo Dilma e o PT parecem não ter sequência política. A oposição, que claramente tem a simpatia dos manifestantes, não consegue empolgar o momento e apontar para uma saída viável, seja ou não a proposta de impeachment.

Nada demais
E por falar em tudo normal, a presidente Dilma assumiu uma tarefa impossível: mostrar que a atual política econômica é uma sequência normal da anterior.  A anterior, diz a propaganda oficial e repete Dilma, era aquela beleza: emprego, renda, programas sociais generosos. A atual gera desemprego, perda de poder aquisitivo e restringe direitos sociais, como o seguro-desemprego, abono salarial e pensões.
Uma o contrário da outra, certo?

Errado, indica a presidente. Tudo o que se faz agora, garante, é para preservar as benesses que o PSDB queria abolir. Donde se conclui: desemprega para gerar emprego; reduz salário para aumentar a renda; corta benefícios para garantir os mesmos benefícios; faz uma recessão para... crescer.

Qual o problema?
Pela lógica, se diria: a política anterior estava assentada em bases inviáveis, a tal nova matriz, de aumento do gasto público, do crédito e do consumo. Quando as bases falharam, chegou o preço, na forma de recessão, desemprego e perda de renda.
Pela lógica da presidente, está tudo na sequência. É mais ou menos como dizer: você pode encher a cara, comer até estourar, abusar das drogas, que não tem nada demais. Depois é só fazer um ajuste e mandar bala de novo.

Por: Carlos Alberto Sardenberg, jornalista, coluna em O Globo