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sábado, 12 de agosto de 2023

A frequente utilidade dos leitores petistas - Percival Puggina

 

Não raro, leitores petistas me sugerem temas importantes. É o que fez um leitor que, comentando meu artigo “O silêncio de uma nação”, escreveu:

Professor faça um texto com uma reflexão sobre as joias e o Cid e o general pai, enfim, as muambas que se desvendam diariamente. Este assunto que o sr. passa à margem não condiz com uma pessoa que se diz intelectual e de bem.

Muito mais importante do que responder ao leitor, é explicar como uma pessoa “de bem” se conduz, em sua comunicação social, perante casos como esse em que ele gostaria de colher minha opinião.

Apenas uma vez na vida cometi o erro que o leitor deseja que eu repita. Há trinta anos, embarquei, ingenuamente, na campanha de difamação movida pelo PT contra Alceni Guerra, ministro da Saúde no governo de Collor de Mello. [quando a mídia militante, TV Globo à frente, começou a veicular narrativas tentando comprometer o ex-presidente Bolsonaro - que o caso da covardia orquestrada pelo PERDA TOTAL = pt = contra o então ministro da Saúde, Alceni Guerra,  com ampla divulgação por aquela emissora nos veio à lembrança;  restou provada e comprovada a inocência de ALCENI GUERRA, hoje com 78 anos.]  
A mídia companheira triturava o governo, já em decadência rumo ao impeachment. 
Denúncias de corrupção pipocavam envolvendo a pessoa do presidente e o caso contra Alceni (superfaturamento na compra de bicicletas para agentes de saúde) era um prato cheio para minhas ironias e sarcasmos.

A vítima daquela difamação trilhou um longo caminho até o reconhecimento de sua inocência, restauração de sua vida como prefeito de sua cidade e como parlamentar honrado e respeitado. Passadas três décadas, esse caso pesa em minha consciência, deixando uma linha divisória que nunca mais ultrapassei: não conjeturar sobre a honra alheia e não verbalizar um conceito antes de decisão judicial que o estabeleça. Jamais pelo noticiário da hora!

A vida me ensinou quanto são afobados, instrumentalizados e irresponsáveis os juízos prévios na vida pública. 
E como são hipócritas os espalhafatosos censores da conduta alheia. São hipócritas porque especulam sobre a honra dos adversários, mas votam em ladrões, se os ladrões forem companheiros.
 
Esclareço. Suponhamos que ao cabo das investigações, dos trabalhos de acusação e defesa, se acumulem contra o ex-presidente provas como as que levaram às condenações do atual presidente da República. 
Bolsonaro nunca mais terá meu voto
Então, e só então, me sentirei autorizado a emitir um juízo moral e verbalizar minha indignada decepção
Jamais gastarei meu pobre português para escrever textos como os do noticiário de hoje, nos quais, em meio às gravíssimas suspeitas investigadas, se entremeiam adjetivos como “supostos”, “possíveis”, etc., usados por salvaguarda de uma prudência que talvez esteja em falta no almoxarifado dos fatos.

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

 

 

sexta-feira, 25 de junho de 2021

DENÚNCIAS E CERTEZAS CIENTÍFICAS - Percival Puggina

Já vi muito vigarista atingindo a honra alheia, não porque seja orientado por elevados valores morais, mas por mecanismo de autoproteção ou de compensação. Esse mesmo indivíduo mentirá sempre que conveniente ou necessário. Construirá oportunidades de ganho ilícito, ou delas se aproveitará, quando as circunstâncias o propiciarem.

Estou dizendo isso porque tendemos a crer que a mentira e a conduta farsante sejam rupturas menores com a ordem moral
Na minha convicção são todas janelas de um mesmo compartimento. Dão acesso a um interior essencialmente corrompido. 
Digo isso para tratar das recentes denúncias que chegam ao conhecimento público na área de compras do Ministério da Saúde. 
Com o pouco que se sabe, não há, nem haverá, de imediato, condições para se formar um juízo sobre responsabilidades pessoais. 
A exceção fica por conta daqueles que, com tão pouco esclarecimento, já tem opinião formada e acendem fogueira no tribunal inquisitorial da CPI da Covid.
A propósito, você acredita que aqueles senhores que compõem a pré-fabricada maioria da comissão estão zelosos pela sua saúde, ou pela Saúde Pública? 
Estão virtuosamente atentos a essa andrajosa e desprezada senhora chamada Verdade, pela qual passam sem dedicar um simples olhar? 
Estão de fato querendo combater corrupção e seu interesse comum não é meramente político?

Faço estas perguntas porque tenho observado, por exemplo, a estudada indignação do imaculado senador Omar Azis quando dele divergem; tenho dado ouvidos (valha-me Deus!) à falsa erudição e ao ódio destilado pelo recordista senador Renan; tenho reconhecido, no tradicional berreiro da claque, maus modos e sons que me vêm dos tempos de adolescente em assembleias estudantis...

Certezas verdadeiramente científicas têm prazo de validade imprevisível, mas são finitas.  A ciência avança. Observo com espanto, então, as severas convicções clamadas por indivíduos cuja “ciência” se deu por satisfeita no oitavo ano do ensino médio.

As denúncias desta semana cobram investigação como o próprio presidente determinou, e já estão em curso. Assim deve ser a prática em um estado de Direito. Mas a honra e a dignidade alheia não têm porta de vaivém, pela qual se entra e se sai como estou vendo acontecer cotidianamente, seja na CPI, seja em suas repercussões na mídia militante.

Conforme escrevi nos dois primeiros parágrafos deste artigo, tal conduta não diz boa coisa do caráter de quem a isso se presta. Quem age assim não faz só isso.

 Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.