[A continuar o desacerto entre o laboratório Sinovac e o Instituto Butantan, o Brasil terá que aceitar:
- aplicar a vacina chinesa e promover, aceitando e apoiando, a desmoralização do Instituto Butantã, instituição que conta com a credibilidade dos brasileiros.]
João
Doria e seus operadores político-científicos conseguiram transformar a
queda de braço com Jair
Bolsonaro num processo de desmoralização do Instituto Butantan e da
CoronaVac. O governador paulista e seus prepostos técnicos prometeram para esta
quarta-feira (23) a divulgação do índice de eficácia da vacina importada da
China. E nada! A montanha pariu uma interrogação: o que está acontecendo com a vacina?
Numa
entrevista comandada por Jean Gorinchteyn, secretário de Saúde de São Paulo, e
Dimas Covas, diretor do Butantan, informou-se que a CoronaVac atingiu o
"limiar de eficácia". Entretanto, a dupla se recusou a divulgar o
percentual de eficiência. Alegou-se que o laboratório Sinovac, fabricante da
vacina, pediu 15 dias para reanalisar os dados.
Por quê?
Segundo Gorinchteyn, os dados colecionados pelo Butantan são diferentes do
índice de eficácia obtido em "outros países em que essa vacina vem sendo
usada." O laboratório chinês deseja unificar o número. Nas palavras do
secretário de Saúde, "não pode ter uma eficácia aqui, uma lá e outra
acolá." Hummm! Dimas Covas ecoou Gorinchteyn: "A Sinovac tem vários
estudos clínicos em andamento. Tem dados nossos e de outros locais. É
importante que ela faça uma uniformização de dados. Ela não pode analisar dados
da mesma vacina com critérios diferentes." Hã, hã.
A principal característica de uma péssima entrevista é o fato de os
jornalistas terem que ouvir autoridades durante incontáveis minutos para chegar
à conclusão de que elas não tinham nada a dizer. Quando marcou para 25 de
janeiro o hipotético início da vacinação em São Paulo, Doria pisou no
acelerador. Descobre-se agora que não sabia como parar de correr para,
finalmente, ocorrer. O déficit de explicações deixou no ar a seguinte
impressão: ao bater no "limiar de eficácia", os estudos do Butantan
chegaram a uma taxa acima dos 50% exigidos para a certificação de uma vacina
pelas agências sanitárias.
Mas ficaram longe do patamar obtido por concorrentes
como a Pfizer e a Moderna, acima dos 90%. O laboratório Sinovac não gostou. E
pediu para rever os números. Do modo como a confusão foi apresentada, ficou
entendido que alguém cometeu um erro técnico. Vale a pena repetir o que
declarou Gorinchteyn: "Não pode ter uma eficácia aqui, uma lá e outra
acolá." Além do Brasil, testam a CoronaVac a Indonésia e a Turquia. Por
falta de infectados, não há testes na China. Cabe perguntar: os estudos
clínicos do Butantan, fundação centenária na qual os brasileiros confiam, serão
subordinados às conclusões dos indonésios e dos turcos?
O que fazer com aquele
lero-lero de que a vacina do Butantan seria a vacina do Brasil?
Quando os estudos clínicos da fase três da CoronaVac
começaram, os resultados foram prometidos para 20 de outubro. Atrasou. O
governo de São Paulo comprometeu-se a expor os dados em 15 de dezembro, junto
com um pedido à Anvisa para o uso emergencial do imunizante. Deu chabu.
A coisa foi empurrada para esta quarta-feira, 23 de dezembro.
Atribuiu-se o novo atraso a uma esperteza. Desejava-se requisitar não mais o
uso emergencial, mas o registro definitivo da vacina. O atraso era necessário
para que a CoronaVac fosse certificada primeiro na agência de vigilância
sanitária da China. Era conversa fiada. Em pesquisa divulgada no último dia 12
de dezembro, o Datafolha informou que 73% dos brasileiros desejam se vacinar
contra a Covid. Entretanto, 50% dos entrevistados disseram não ter a intenção
de tomar a vacina originária da China.
O vaivém de São Paulo leva água para o
moinho da desconfiança. Doria não deu as caras na entrevista.
Realizou uma inacreditável
viagem para Miami. Coisa do tipo bate-volta. Bateu, se deu conta de que
fornecia munição para os adversários, e voltou. Tudo muito primário.