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segunda-feira, 29 de agosto de 2022

As duas condenadas ao fracasso se uniram contra o 'capitão do povo' e continuam fracassadas

As duas senadoras - aliás, como chegaram ao Senado? - assumiram ontem, no debate, que são perdedoras 

Dobradinha entre Tebet e Soraya irrita campanha de Bolsonaro

O Globo

A pesquisa qualitativa encomendada pela campanha de Jair Bolsonaro detectou: o ponto baixo do presidente no debate da Band, terminado há pouco, foi a grosseria atirada contra Vera Magalhães no segundo bloco do programa. Foi alvo de críticas não apenas das mulheres que participaram da pesquisa que era feita em tempo real, como também dos homens.

Um integrante da campanha de Bolsonaro, que acompanhou a "quali"jargão usado para esse tipo de pesquisa — qualificou a estupidez como "o único escorregão" do presidente nas quase três horas de embate. 

Lauro Jardim, coluna em O Globo


quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Trump não perdeu - William Waack

O Estado de S. Paulo

A política americana, tal como personificada por Trump, continua intacta

Donald Trump não foi repudiado nestas eleições. Não se trata da pessoa Donald Trump, mas do que ele expressa em suas ações políticas, nesse intrincado jogo no qual o indivíduo é ao mesmo tempo sujeito (em pequena medida, dirão os historiadores clássicos) da História e apenas seu mero resultado. E o que Trump expressa? O fato de que foram destruídos em larga medida os hábitos de moderação – debate aberto e tolerante, a oposição leal – em cima dos quais prosperou o liberalismo americano e seu espírito de comunidade e Nação. Essa destruição ocorreu vigorosamente nos dois “grandes lados” do espectro político.

As elites de negócios conseguiram transformar o governo e suas agências de regulação em instrumentos que favorecem interesses paroquiais ou setoriais, em detrimento de outros. Em parte como resposta a crises financeiras, aprofundaram desigualdades e desequilíbrios que tem se perpetuado em função de movimentos demográficos e, principalmente, pelo “big divide” que é o acesso à educação (um dos grandes definidores de “elite”).

De outro, cresce a força de um tipo de idealismo utópico (que tem expressão mais recente no “woke”) que substituiu direitos individuais por “direitos de grupos”, e pretende substituir igualdade de oportunidades por igualdade de resultados. O termo nasceu como jargão de rua em comunidades negras significando “fique alerto, se liga” frente à brutalidade policial e racismo, mas ampliou-se e atualmente é empregado para designar uma enorme abrangência de ideologias e políticas com foco em justiça social.

Essa breve descrição de polos antagônicos na “guerra cultural” é necessariamente crua e simplificada, mas ajuda a entender essa percebida “irracionalidade” no debate político americano (mas não só). É o fato de que o oponente é visto como inimigo a ser destruído, como adversário irreconciliável, e isto num ambiente no qual grande afluência e consumo ligados à enorme progresso tecnológico causam paradoxalmente insegurança e desconfiança nas instituições (como acreditar em princípios e valores comuns, por exemplo) que deveriam servir de freio para o escorregão rumo à insensatez coletiva.

Nesse contexto é que Trump virou a personificação e figura de identificação para milhões que se sentem perdidos e sozinhos, com a solidão ironicamente reforçada pelo apego a redes sociais. O que não diminui de maneira alguma suas “qualidades”, como a de fazer do espetáculo um capital político. Como toda figura política de amplitude nacional, Trump tem significados diferentes para grupos diferentes em função de motivações diversas – mas nenhum o escolheu por apego a “virtudes civis”, como os clássicos gostavam de elogiar as qualidades da democracia americana.

Ficou escancarado como na presente corrida eleitoral os concorrentes descreveram resultados em favor do adversário como “abismo” e “precipício” sem volta. Não é mera retórica eleitoral. É como segmentos importantes da sociedade americana se encaram, e se estranham. São universos vivendo ao lado e ao mesmo tempo em enorme distância um do outro. Esse “nacionalismo branco” representado por Trump aflorou como uma característica que não desaparece com um resultado eleitoral.

Nesse sentido, Trump não foi repudiado pois não é possível repudiar uma sociedade histórica. Ela simplesmente existe. As eleições não deram sinal claro de que os americanos estejam reconstruindo a confiança nas suas instituições, que rejeitem política baseada na mentira e na distorção e que reencontrem o tal “espírito coletivo” capaz de sobreviver a divergências e se alimente da diversidade. Em outras palavras, o retorno às tais “virtudes civis” não depende só de derrotar uma figura política.

William Waack, jornalista - O Estado de S. Paulo


segunda-feira, 16 de março de 2015

Na tentativa de explicar, ministros ampliam confusão



O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, adota tom institucional e reconhece força dos protestos, mas Miguel Rossetto, da Secretaria Geral da Presidência, fala como manifestante inflamado

O governo escalou os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miguel Rossetto (Secretaria Geral da Presidência) para responder às manifestações contra a presidente Dilma Rousseff e o PT deste domingo (15), mas não conseguiu evidenciar qual a estratégia do Planalto para lidar com a crise. Enquanto Cardozo fez uma fala institucional e buscou o equilíbrio entre os interesses do Planalto e a insatisfação dos milhares de brasileiros que foram às ruas, Rossetto adotou a postura de um militante petista indignado com os eventos.

Cardozo foi o primeiro a falar, antes de começar a entrevista coletiva. Ele reconheceu a legitimidade dos protestos, não minimizou nem ridicularizou os manifestantes, não insistiu no famoso "nós contra eles" do PT, e disse que Dilma quer o diálogo. "Estamos abertos a ouvir propostas". O ministro da Justiça também reforçou o combate à corrupção como bandeira do Planalto e a necessidade de uma reforma política. “O governo está aberto a ouvir as vozes daqueles que protestam e daqueles que aplaudem”, disse.

O discurso de Cardozo marcou uma inflexão importante na postura adotada pelo PT e pelo governo na semana passada, após o “panelaço” em protesto ao pronunciamento de Dilma no domingo (8) pelo Dia Internacional da Mulher. Na ocasião, os dirigentes petistas chegaram a acusar a oposição de ter “financiado” o panelaço.

Protestos escancaram desgaste do PT
Imediatamente após a fala de Cardozo, no entanto,  Rossetto subiu o tom e atacou o que chamou de “golpismo” e de “intolerância”. Segundo ele, os protestos deste domingo (15) reuniram apenas manifestantes que não votaram em Dilma no ano passado. Ele também insistiu na tecla de que o Planalto está empenhado no combate à corrupção e que não vê necessidade de grandes mudanças. Por fim, pregou a necessidade da reforma política como solução para todos os males que hoje afligem o governo.

No jargão do marketing político, Cardozo “falou para fora”, para os “não convertidos”, e Rossetto falou “para dentro”, para a militância que precisa de combustível para continuar defendendo Dilma. O resultado final foi ruim.  Conforme apurou ÉPOCA, no saldo final, o Planalto considerou que a iniciativa de colocar os dois ministros, lado a lado, para dar respostas aos protestos fracassou porque gerou mais ruído num momento em que o país espera uma mensagem clara do que pretende a presidente Dilma e seu governo.

Fonte: Época OnLine