Era coisa bem sabida: fora das grandes cidades, a política nacional
pouco ou nada afeta os pleitos municipais. Sim, isso costumava ser
verdadeiro. Mas deixa de ser assim num cenário de guerra cultural aos
valores da sociedade e se o ataque político à identidade nacional
promove sua fragmentação em grupos antagônicos. Diante dessas condutas
sinistras e malevolentes, as disputas ideológicas se agigantam e se
agitam.
São fraturas abertas no tecido social, estimuladas pela
mídia militante. Ela acolhe, com braços e pernas, as teses do globalismo
que convergem nessa direção, sempre e sempre apresentadas como
“progressistas”. Já são visíveis em todo o Ocidente os resultados desse
suposto progressismo. O decorrente enfrentamento motiva e preenche boa
parte das opiniões manifestadas nas redes sociais onde
conservadores/liberais defrontam a engenharia social dos
revolucionários. Esse debate, em ambiente caótico e espontâneo, é
detestado por quem se habituou a falar sozinho, sem interlocução,
influenciando multidões que, pouco a pouco, lhes foram terceirizando
suas mentes. Quanto mais, melhor para os negócios.
Pois isso é
exatamente o que me motiva e é disso que vamos tratar aqui. Baixada a
poeira das eleições municipais, é certo afirmar que, à exemplo da
eleição parlamentar de 2018, a balança da vitória pendeu para os
partidos do Centrão. Nada surpreendente. São muitos partidos, bem
contemplados com dinheiro fácil do fundo partidário e acabaram colhendo
votos de eleitores cujas posições políticas são abrangidas num amplo
leque ideológico. Não espantam, portanto, as derrotas de Boulos em São
Paulo e de Manuela em Porto Alegre. O que surpreendeu foi a vitória de
Edmilson Rodrigues (PSOL) em Belém, onde o galo, solitário, cantou sua
“vitória contra o fascismo”. Treinadinho, o Edmilson.
“E os
nossos? Quando elegeremos os nossos?” perguntam-me leitores. Eles se
referem à possibilidade de serem conferidos mandatos a líderes
conservadores e/ou liberais, comprometidos com valores e princípios
vitimados pela guerra cultural em curso, tristemente ausentes da
realidade sociopolítica e institucional do país. Essa é uma percepção
recente, que devemos atribuir ao sucesso eleitoral de Bolsonaro em 2018.
Só que a vida não é assim. Não é assim que as coisas acontecem. Não se
elegem políticos de outro padrão nos vários níveis da Federação apenas
porque o presidente da República disse em sua campanha algumas coisas
que conquistaram parcela expressiva da sociedade. Onde são trabalhadas
essas ideias?
Onde o partido político?
Onde o movimento?
Onde as
organizações de base?
Onde o preparo dos quadros partidários?
Onde a
captação de recursos?
Onde o recrutamento de lideranças?
Onde os líderes
dispostos a concorrer sabendo que vão perder, uma, duas, três vezes,
para firmar posição?
Um bom candidato pode ser fruto do acaso; muitos
bons candidatos, não. Criado em 2004, só agora o PSOL começa a obter
resultados de um longo plantio.
Estamos afoitos se esperamos
colher nas lavouras alheias ou, ainda que minimamente, num canteiro que
não semeamos. Não é assim que se recuperam para o país tantas mentes
terceirizadas à esquerda.
Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e
Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do
site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de
jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba,
a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus
brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.