A Adasa descarta interrupção do fornecimento de água
Apesar da queda contínua do nível do reservatório do Descoberto, o
racionamento continua descartado no Distrito Federal. Ontem, o volume
útil da barragem amanheceu com 19,88% e, na última medição, às 15h30,
caiu para 19,55%. A Agência Reguladora de Águas e Saneamento do DF
(Adasa) e a Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb) concordam que o
corte no fornecimento é uma medida drástica desnecessária no momento.
Apesar de contar com fatores que não podem controlar — o tempo e a boa vontade da população em poupar água — os dirigentes da Caesb e da Adasa estão otimistas. “Se continuar assim, cada um fazendo o seu papel (governo e sociedade) e se chover o esperado, nem teremos racionamento”, acredita Paulo Salles, presidente da Adasa.
O presidente da Caesb, Maurício Luduvice, explica que o racionamento é uma operação complexa e só será colocada em prática se necessário. “Entramos no nível dos 20% no começo do período chuvoso. E a previsão meteorológica é boa. Ainda não choveu o suficiente na bacia. Anteontem (quarta-feira), caiu 12,4mm. Ontem (quinta-feira), só 1,5mm. Precisamos de um bom volume de chuva durante vários dias”, explica. Segundo Luduvice, a população tem contribuído com a redução do consumo nas últimas semanas. E, com a chuva se normalizando, a queda do nível do Descoberto será revertida. “A previsão para os próximos dias é de 120mm de precipitações”, aposta Luduvice.
O
professor de manejo das bacias hidrográficas da Universidade de
Brasília (UnB) Henrique Marinho Leite Chaves explica que o nível do
Descoberto continua caindo porque as chuvas foram insuficientes para
molhar a terra, penetrar no lençol freático e chegar ao aquífero.
Enquanto isso não acontecer, os reservatórios tendem a secar ainda mais.
“Há a evaporação natural e o consumo da população. A Caesb não deixou
de tirar água para abastecer os moradores”, diz. Na
avaliação do pesquisador, uma boa gestão do sistema hídrico de qualquer
lugar necessita de informações precisas das precipitações na cabeça das
barragens.
“Quanto maior e mais confiável for a rede pluviométrica, mais precisão haverá na estimativa do balanço hídrico”, explica.
De acordo com o presidente da Caesb, a empresa tem se empenhado para oferecer novas alternativas de abastecimento à população. “Retomamos a obra de Corumbá e já investimos mais de R$ 60 milhões. Começamos a construir o sistema Bananal no mês passado. Estamos investindo na troca de tubulações para reduzir as perdas. Fizemos isso nas quadras pares do Lago Norte e, agora, estamos nas ímpares. Estamos trabalhando também no Lago Sul e na Asa Norte”, enumera Luduvice. A Caesb também investe na instalação de válvulas redutoras de pressão, com timer para aumentar a força durante o dia e reduzir no período noturno. “Estamos fazendo o dever de casa. Infelizmente, durante muito tempo, não se investiu assim e, agora, precisamos de um tempo para consolidar as ações”, argumenta.
Agricultura
Os primeiros a sentirem os efeitos da crise hídrica no Distrito Federal foram os agricultores. A Adasa reduziu a quantidade de água para a irrigação das lavouras e alternou a captação. O produtor de milho, soja, feijão e suinocultor Renato Simplício diz que a seca atrasou o plantio em algumas regiões do DF e, com isso, a safrinha — plantio que ocorre entre 15 de dezembro e 15 de janeiro — está comprometida para muitos produtores. “Ainda é cedo para fazer uma avaliação dos prejuízos. Uma coisa é certa, a safrinha está prejudicada. E as chuvas estão esparsas e irregulares. Não está chovendo em todas as regiões. Como a restrição da irrigação continua, a situação está complicada”, atesta.
Fonte: CB
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