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quinta-feira, 13 de julho de 2023

O monstro de duas cabeças - Revista Oeste

Ubiratan Jorge Iorio.

A primeira cabeça é a do comunismo. A segunda é a do globalismo

Foto: Shutterstock

É cada vez mais visível que o outrora denominado “mundo livre” está sofrendo uma investida inédita e muito poderosa, uma enorme arremetida contra o que a dita humanidade possui de mais humano, desencadeada por agressores movidos por uma insaciável vontade de poder. Trata-se de um ataque impiedoso a todas as reservas de liberdades pessoais e de valores morais consagrados pela tradição. 
O maior algoz da civilização ocidental, atualmente, com sua agenda destruidora radical, mas sempre apresentada sub-repticiamente como socialmente justa e politicamente correta, como promotora de igualdade e defensora do planeta, é um monstro de duas cabeças: a primeira é a do comunismo, e a outra é a do globalismo. 
 
O ogro possui uma necessidade patológica de submeter os semelhantes ao seu totalitarismo, com a supressão dos direitos de escolha dos cidadãos e a imposição de seus conceitos peculiares de felicidade e de bem-estar, debuxados e definidos sempre por meia dúzia de políticos, intelectuais e bilionários iluminados. 
É bastante disciplinado e organizado e vem trabalhando há décadas em busca de seus objetivos, valendo-se de todos os meios imagináveis, mediante um processo de paulatina ocupação e cooptação de todos os espaços, na política, na justiça, nas legislações, nas universidades, nas artes, nos esportes e em todas as manifestações culturais. publicidade

O que assusta é que, se antes agia em silêncio, disfarçado e sem alarde, há alguns anos passou a fazê-lo escancarando as suas duas carrancas e acelerando cada vez mais o ritmo de seus assaltos, até o frenético estado atual. Porém, antes, como agora, sempre fazendo uso indiscriminado da mentira e das falsas narrativas, que são o oxigênio essencial para a sua sobrevivência. Seu comportamento despótico tem sido tão ostensivo que não é exagero dizer que os cidadãos do Ocidente estão diante de um dilema terrível: ou permanecem comodamente na defensiva, o que acarretará em pouco tempo a supressão de praticamente todas as suas liberdades — e da sua própria dignidade —, ou enchem-se de coragem e, pensando na liberdade de seus descendentes, enfrentam corajosamente o problema.

Exemplos indiscutíveis de que o comuno-globalismo abandonou a tradicional cautela e passou a revelar abertamente as suas intenções são algumas declarações do presidente brasileiro, na abertura da reunião do Foro de São Paulo, em Brasília, na semana passada.

Entre afagos a ditadores do naipe de Fidel, Maduro e Ortega, o chefe do nosso Executivo declarou: “Aqui no Brasil nós enfrentamos o discurso do costume, o discurso da família, o discurso do patriotismo, ou seja, aqui nós enfrentamos o discurso de tudo aquilo que a gente aprendeu historicamente a combater”; “Ele [o discurso] nos acusa de comunistas, achando que nós ficamos ofendidos com isso; nós não ficamos ofendidos; isso não nos ofende, isso nos orgulha”; e “Por que, em 1985, nós criamos o Foro de São Paulo? É que em 1985 eu tinha consciência de que jamais a gente poderia chegar ao poder pela via do voto, pela via democrática”. Dias antes, em Paris, na mesma frase, declarou-se um defensor da soberania nacional, mas fez questão de ressaltar que a Amazônia pertence a toda a humanidade. Bem, se dá para colher algo de positivo nessas afirmações, é a sua sinceridade, por revelar finalmente suas intenções reais, sem disfarces.

Globalismo e socialismo têm muitas áreas de interseção, como não poderia deixar de ser, uma vez que ambos são casos explícitos do radicalismo característico dos experimentos de engenharia social. 
O globalismo é uma ideologia mais antiga do que normalmente se acredita. Alguns de seus traços são semelhantes aos do comunismo, como a tentativa de desmantelamento dos valores morais e da tradição vale dizer, a supressão do princípio da dignidade da pessoa humana —, o que pressupõe ou a eliminação da religião ou a sua relativização e consequente desvirtuamento; o seu caráter internacionalista; e o controle das atividades econômicas e sociais, direta ou indiretamente, pelo Estado ou por grupos extraoficialmente dominados por ele.

O globalismo é uma ideologia mais antiga do que normalmente se acredita -  Foto: Shutterstock

No trecho comum dos credos dessas duas seitas, os inimigos da humanidade recitam contritamente “glória ao coletivismo e abaixo o individualismo”, e o motivo para isso é facilmente dedutível, porque a nossa civilização foi construída sobre o fundamento da família, um ente formado por indivíduos distintos, interdependentes e livres, ou seja, não subordinados ou dependentes de um modelo de Estado que os submeta, à força, aos moldes exigidos pela ideologia dos engenheiros sociais.

É exatamente pelo fato de que a estrutura familiar não depende de nenhuma visão de Estado e de mundo que é preciso destruí-la, uma vez que impede a construção de uma sociedade baseada no coletivismo e submetida a seus devaneios opressores.  
Comunistas e globalistas não aceitam — ou veem como um problema a realidade histórica de que, cronologicamente, a instituição da família é anterior à formação do Estado e que este, por sua vez, nasceu da necessidade de existência de normas de conduta.  
Assim, precisam forçar a inversão dessa ordem natural das coisas, e para isso é necessário, primeiro, que ditem comandos e ordens, que chamam eufemisticamente de leis, que sirvam de suporte para o tipo de Estado totalitário que têm em mente, para então consumarem a submissão plena de indivíduos, famílias e populações inteiras ao “Grande Irmão”. Comunismo e globalismo são ideologias internacionalistas; logo, são antissoberanistas | Foto: Shutterstock

Os candidatos a tiranos esclarecidos sabem perfeitamente que, se fracassarem nessa inversão de causalidades, todo o plano de construir uma nova civilização irá por água abaixo, mas insistem em seu intento porque ignoram ou se recusam a aceitar que os fatos históricos, embora possam temporariamente ser desvirtuados e invertidos, cedo ou tarde — mesmo ao custo do sacrifício de gerações — acabam prevalecendo. Seus experimentos nascem condenados ao fracasso, mas o problema é que, enquanto o fracasso não acontece, impõem frustrações e sofrimentos a milhões de pessoas usadas como cobaias.

Comunismo e globalismo são ideologias internacionalistas; logo, são antissoberanistas.  
É certo que o conhecidíssimo mote expresso em 1848 por Marx e Engels no nefando Manifesto, “proletários de todos os países, uni-vos”, de fundo claramente internacionalista, perdeu de certa forma o seu sentido, mas seu espírito está claramente presente no vocabulário dos globalistas de Davos, da ONU, das ONGs,da União Europeia, da Otan, da OEA, dos liberals norte-americanos, dos partidos de esquerda espalhados pelo mundo, das big techs e dos banqueiros, em uma interminável lista de expressões — repercutidas exaustivamente como ladainhas pela mídia, universitários, artistas e pretensos intelectuais cooptados por décadas de doutrinação —, tais como “governo mundial”, “diversidade cultural”, “mudanças climáticas”, “nova ordem mundial”, “energia limpa”, “dívida histórica”, “branquitude”, “família tradicional”, “meu corpo minhas regras”, “heteronormatividade” e muitas outras. 
 
Tanto o comunismo como o globalismo precisam impor uma estrutura social compatível com sua ideologia e filosofia política e tentam fazê-lo sem qualquer cerimônia, simplesmente afirmando que esse arranjo será melhor para todos e pagando bilhões de dólares para que intelectuais serviçais, pesquisadores impostores e jornalistas vigaristas façam o trabalho sujo de, como água mole em pedra dura, mentira após mentira, subliminarmente, terminar contaminando todo e qualquer cérebro avesso ao hábito salutar de pensar por conta própria. 
Infelizmente, como foi escrito há milênios em Eclesiastes I, 15, stultorum infinitus est numerus, ou seja, “o número de tolos é infinito”, uma velha e simples constatação, a mesma que levou Nelson Rodrigues a escrever que “os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade, eles são muitos”.

Como disse sem qualquer laivo de pudor o presidente do Fórum Econômico Mundial um lunático extremamente perigoso e poderoso —, Klaus Schwab: “Vocês não serão donos de nada, mas serão felizes”. É essa arrogância inacreditável que escondem a “Agenda 2030”, o “Grande Reinício”, a “Open Society“, a “Nova Ordem Mundial” e outros projetos de desumanização da sociedade.  

Essas ideias de jerico representam um perigo sem precedentes para a nossa civilização, porque seus defensores são verdadeiros psicopatas, loucos, pretensiosos, arrogantes, tiranos, frios, dissimulados e — e como isso importa! — com o agravante de serem financeiramente poderosíssimos.Presidente do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab | Foto: Remy Steinegger

É muito preocupante, para quem defende verdadeiramente a liberdade e os valores morais tradicionais, que Schwab tenha feito uma visita recente ao Brasil, tendo em vista essa amigação do comunismo com o globalismo e sabendo que o governo brasileiro atual, seja por ideologia, seja por interesses, endossa o caminho da servidão, com a escravização do indivíduo pelo Estado.  
O que esse sujeito veio fazer aqui? 
Já não nos bastam nossos déspotas domésticos?

Por isso, quem tem ouvidos para ouvir e um mínimo de inteligência e independência intelectual para saber interpretar as coisas entende perfeitamente muitas das declarações aparentemente estapafúrdias do presidente do nosso país, assim como inúmeras coisas do arco-da-velha que vêm se tornando comuns em nossa política.

A verdade é que o Estado moderno — no Brasil e no mundo — tornou-se máximo naquilo em que deveria ser mínimo e mínimo naquilo em que deveria ser máximo

Do ponto de vista estritamente econômico e para simplificar, o sucesso do amancebamento entre comunistas e globalistas significa tão somente que a presença do Estado vai continuar a aumentar em todo o mundo, mas não do modo gradual como aconteceu a partir dos anos 1930, e sim mais aceleradamente.  
Na Holanda, por exemplo, o governo já está ameaçando confiscar propriedades rurais e até sacrificar gado, em nome de supostas “mudanças climáticas”, algo absolutamente inconcebível há poucos anos;   - por sua vez, em nome da “diversidade”, em todo o mundo minorias vêm sendo favorecidas em concursos e em ofertas de emprego, sem critérios de mérito e em detrimento de maiorias; na França, Macron, um exemplo típico de esquerdista e globalista, está querendo se aproveitar do caos que as políticas que sempre defendeu instalaram no país para aumentar o poder do Estado sobre os indivíduos. 
E o mais incrível é que não é difícil encontrar pessoas que apoiam esses tipos de violência. Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante discurso no evento Power Our Planet, em Paris, na França | Foto: Ricardo Stuckert/PR
 
Trazendo essas preocupações para o Brasil, trago uma questão: para que tem servido o Estado em nosso país, a não ser para explorar os cidadãos? 
 Em regimes efetivamente democráticos, ser de esquerda ou de direita é um direito de qualquer cidadão. 
Muitos liberais aceitam que se pode justificar a presença do Estado, sempre visando ao bem comum e de preferência indiretamente, em cinco áreas: justiça, segurança (interna e externa), educação, saúde e infraestrutura.  
E como andam a justiça, a segurança, a educação, a saúde e a infraestrutura “neste país”? 
Quem cuida desses cinco setores não é o Estado? 
Você acredita mesmo que a ONU, a OMS, a Unesco ou algum governo mundial vão cuidar deles direitinho? 
E que o caminho secular de fracassos do comunismo, “desta vez”, poderá ser bem-sucedido em gerar progresso?

A verdade é que o Estado moderno — no Brasil e no mundo — tornou-se máximo naquilo em que deveria ser mínimo e mínimo naquilo em que deveria ser máximo. Deformou-se, está grande demais para resolver os pequenos problemas e pequeno demais para resolver os grandes problemas, como afirmou, ainda nos anos 1960, o sociólogo norte-americano Daniel Bell. Mas o monstro de duas cabeças — insensível e insaciável — quer aumentá-lo.

LEIA, Incêndios no Canadá e queimadas no Brasil: dois pesos e poucas medidas, Evaristo de Miranda - CONTEÚDO GRATUITO, Cortesia Revista Oeste 

O país da América do Norte perdeu mais florestas em dois meses do que todo o bioma Amazônia em dez anos

Ubiratan Jorge Iorio é economista, professor e escritor
Instagram: @ubiratanjorgeiorio
Twitter: @biraiorio


Leia também “Uma fumaceira de incertezas

Revista Oeste

 

 

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Mentes terceirizadas - Percival Puggina

Era coisa bem sabida: fora das grandes cidades, a política nacional pouco ou nada afeta os pleitos municipais. Sim, isso costumava ser verdadeiro. Mas deixa de ser assim num cenário de guerra cultural aos valores da sociedade e se o ataque político à identidade nacional promove sua fragmentação em grupos antagônicos. Diante dessas condutas sinistras e malevolentes, as disputas ideológicas se agigantam e se agitam.

São fraturas abertas no tecido social, estimuladas pela mídia militante. Ela acolhe, com braços e pernas, as teses do globalismo que convergem nessa direção, sempre e sempre apresentadas como “progressistas”. Já são visíveis em todo o Ocidente os resultados desse suposto progressismo. O decorrente enfrentamento motiva e preenche boa parte das opiniões manifestadas nas redes sociais onde conservadores/liberais defrontam a engenharia social dos revolucionários. Esse debate, em ambiente caótico e espontâneo, é detestado por quem se habituou a falar sozinho, sem interlocução, influenciando multidões que, pouco a pouco, lhes foram terceirizando suas mentes. Quanto mais, melhor para os negócios.

Pois isso é exatamente o que me motiva e é disso que vamos tratar aqui. Baixada a poeira das eleições municipais, é certo afirmar que, à exemplo da eleição parlamentar de 2018, a balança da vitória pendeu para os partidos do Centrão. Nada surpreendente. São muitos partidos, bem contemplados com dinheiro fácil do fundo partidário e acabaram colhendo votos de eleitores cujas posições políticas são abrangidas num amplo leque ideológico. Não espantam, portanto, as derrotas de Boulos em São Paulo e de Manuela em Porto Alegre. O que surpreendeu foi a vitória de Edmilson Rodrigues (PSOL) em Belém, onde o galo, solitário, cantou sua “vitória contra o fascismo”. Treinadinho, o Edmilson.

“E os nossos? Quando elegeremos os nossos?” perguntam-me leitores. Eles se referem à possibilidade de serem conferidos mandatos a líderes conservadores e/ou liberais, comprometidos com valores e princípios vitimados pela guerra cultural em curso, tristemente ausentes da realidade sociopolítica e institucional do país. Essa é uma percepção recente, que devemos atribuir ao sucesso eleitoral de Bolsonaro em 2018.

Só que a vida não é assim. Não é assim que as coisas acontecem. Não se elegem políticos de outro padrão nos vários níveis da Federação apenas porque o presidente da República disse em sua campanha algumas coisas que conquistaram parcela expressiva da sociedade. Onde são trabalhadas essas ideias? 
Onde o partido político? 
Onde o movimento? 
Onde as organizações de base? 
Onde o preparo dos quadros partidários? 
Onde a captação de recursos? 
Onde o recrutamento de lideranças? 
Onde os líderes dispostos a concorrer sabendo que vão perder, uma, duas, três vezes, para firmar posição? 
Um bom candidato pode ser fruto do acaso; muitos bons candidatos, não. Criado em 2004, só agora o PSOL começa a obter resultados de um longo plantio.

Estamos afoitos se esperamos colher nas lavouras alheias ou, ainda que minimamente, num canteiro que não semeamos. Não é assim que se recuperam para o país tantas mentes terceirizadas à esquerda.

 Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.


quarta-feira, 22 de abril de 2020

Ministro questiona OMS - Em blog, Ernesto Araújo escreve que coronavírus desperta para 'pesadelo comunista' - Folha de S.Paulo - Coronavírus pode gerar fome em proporções bíblicas

Crise do coronavírus pode gerar fome em proporções bíblicas, diz diretor da ONU

Ministro questiona OMS e diz que obra de Slavoj Zizek estimula propagação do 'comunavírus'  

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, defendeu, nesta quarta-feira (22), a ideia de que a pandemia de coronavírus responsável por quase 180 mil mortes em todo o mundo pode fazer parte de um "projeto globalista" que é o "novo caminho do comunismo".

Segundo texto publicado em seu blog pessoal, Ernesto afirma que tal projeto "já se vinha executando por meio do climatismo ou alarmismo climático, da ideologia de gênero, do dogmatismo politicamente correto, do imigracionismo, do racialismo ou reorganização da sociedade pelo princípio da raça, do antinacionalismo, do cientificismo".
"São instrumentos eficientes, mas a pandemia, colocando indivíduos e sociedades diante do pânico da morte iminente, representa a exponencialização de todos eles."
Agora, de acordo com o ministro, o "comunavírus", "vírus ideológico" que se sobrepõe ao coronavírus, faz "despertar para o pesadelo comunista".

Analisando um livro escrito pelo filósofo e psicanalista esloveno Slavoj Zizek, o líder do Itamaraty questiona entidades internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para o ministro, "transferir poderes" à entidade internacional esperando que ela seja mais "eficiente para lidar com os problemas do que os países agindo individualmente" é um pretexto "jamais comprovado" e "o primeiro passo na construção da solidariedade comunista planetária".
Nesta terça-feira (21), a Folha mostrou que o Brasil seguiu os EUA ao não endossar uma resolução da Assembleia Geral da ONU que pede cooperação internacional contra a pandemia do coronavírus.

A reportagem apurou que os EUA buscaram uma articulação com outros Estados-membros para não serem o único país a deixar de patrocinar a resolução. O Brasil foi um dos convocados para aderir a essa coalizão. O motivo teria sido as divergências entre o presidente Donald Trump e a OMS, cujo "papel de liderança crucial" contra o coronavírus é defendido pela resolução da ONU endossada por 179 dos 193 países-membros. [qual a utilidade da OMS para o mundo e que justifique o recebimento de bilhões de dólares?
Fazer reuniões e o ex-guerrilheiro que a preside expedir mensagens alarmistas?]

Em nota, o Itamaraty, órgão chefiado por Ernesto, informou que a "referida resolução foi aprovada por procedimento silencioso, sem objeção da delegação brasileira". Na prática, segundo diplomatas ouvidos pela Folha, deixar de expressar uma posição clara sobre a questão demonstra falta de entusiasmo pela causa e, no contexto atual, representa uma aceitação de mau grado.

Para o chanceler brasileiro, "o globalismo substitui o socialismo como estágio preparatório ao comunismo" e Zizek vê na pandemia de coronavírus a "oportunidade de construir uma ordem mundial sem nações e sem liberdade".  Sob o pretexto de uma afirmação do filósofo esloveno em que o autor afirma que os nazistas fizeram um "péssimo uso" do lema "o trabalho liberta", gravado em alemão na porta do campo de concentração em Auschwitz, Ernesto afirma que "o nazista é um comunista que não se deu ao trabalho de enganar as suas vítimas".
"Aqueles que ainda não acreditam que o nazismo é simplesmente um desvio de rota da utopia comunista, e não o seu oposto, encontrarão aqui [na obra de Zizek] talvez um importante elemento de reflexão".

Em 2019, durante visita a Jerusalém, o ministro afirmou que uma nova vertente de pesquisadores vê semelhanças entre o movimento nazista e a extrema esquerda e sugeriu que as pessoas “estudem” e “leiam a história de uma perspectiva mais profunda”. No mesmo dia, o chanceler visitou, junto com o presidente Jair Bolsonaro, o Museu do Holocausto, que atribuiu a criação do Partido Nazista a "grupos radicais de direita na Alemanha". Ernesto afirma ainda, em seu texto, que a esquerda aproveita o momento de fragilidade gerado pela pandemia para "sequestrar e perverter" o conceito de solidariedade "para servir aos seus propósitos liberticidas".
"Já fizeram ou tentaram fazer o mesmo com os conceitos de justiça, tolerância, direitos humanos, com o próprio conceito de liberdade."

Sem mencionar Bolsonaro, Ernesto faz a defesa de tópicos que são caros ao presidente na gestão da pandemia, como o relaxamento das medidas de contenção do coronavírus. Segundo o ministro, "a destruição dos empregos que permitem a sobrevivência digna e minimamente autônoma de milhões e milhões de pessoas" faz parte de um projeto de "emancipação comunista". Ele também defende que "o politicamente correto" incorporou o "sanitariamente correto", que além de "mais poderoso", "agarra", "algema" e "ameaça". "Controlar a linguagem para matar o espírito, eis a essência do comunismo atual, esse comunismo que de repente encontrou no coronavírus um tesouro de opressão", escreve o ministro.

Folha de S. Paulo - UOL


Crise do coronavírus pode gerar fome em proporções bíblicas, diz diretor da ONU
David Beasley, diretor do WFP (Programa Mundial de Alimentos da ONU), alertou que a crise econômica gerada pelo novo coronavírus pode levar mais dezenas de milhões de pessoas a passar fome.
"Se não nos prepararmos e agirmos agora, para garantir acesso a alimentos, evitar a falta de recursos e a ruptura no comércio, nós poderemos encarar múltiplas crises de fome de proporções bíblicas em poucos meses", alertou, em discurso ao Conselho de Segurança da ONU.

Beasley disse que, atualmente, 821 milhões de pessoas ao redor do mundo vão dormir com fome diariamente, pois não enfrentam a falta de alimentos de forma crônica, e outras 135 milhões estão à beira de ficar completamente sem comida, tendo alimentos em alguns dias e em outros não.
Segundo um estudo feito pelo WFP, mais 130 milhões de pessoas correm risco de passar fome devido à crise econômica gerada pelo novo coronavírus.
A paralisação do comércio e do turismo, a recessão econômica e a crise no preço do petróleo retirarão dinheiro dos mais pobres. Com isso, eles não poderão comprar comida, disse Beasley. Ele estima que, no pior cenário, mais de 30 países poderão ser duramente afetados, como Haiti, Nepal e Somália. (

Rafael Balago - Folha de S.Paulo/UOL








sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Bolsonaro já mira a reeleição - Nas entrelinhas

“A criação do Aliança pelo Brasil sinaliza uma reorganização do quadro partidário, ainda que num primeiro momento à custa de mais fragmentação, pois nasce de um racha no PSL”


O presidente Jair Bolsonaro já tem um partido para chamar de seu, o Aliança pelo Brasil, cujas principais bandeiras são a livre iniciativa, a posse de armas, o combate ao comunismo e ao globalismo e a defesa da família e da infância, segundo o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Admar Gonzaga, principal estrategista da criação da legenda. Na presidência de sua comissão provisória, Bolsonaro conta com o apoio dos filhos Flávio, Eduardo e Carlos para cumprir as exigências da legislação eleitoral, entre as quais a coleta do mínimo de 491.967 assinaturas, em nove unidades da Federação, até março, para poder participar das eleições municipais.

Entretanto, se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não autorizar a coleta de assinaturas eletrônicas, ou seja, pela internet, Bolsonaro não pretende participar das eleições municipais do próximo ano.Trocando em miúdos, Bolsonaro lançou um partido com objetivo de com ele disputar a reeleição à Presidência. [atualização, clique aqui] Essa é a missão principal do Aliança pelo Brasil, que busca unificar a extrema direita brasileira, tendo como núcleo central os parlamentares das bancadas evangélica, ruralista e da bala. Há um ideário político por trás dessa definição, sem dúvida, mas também há um cálculo eleitoral estratégico: com o governo federal nas mãos e um partido que represente os setores mais conservadores da sociedade, Bolsonaro acredita que estará no segundo turno das eleições, na pior das hipóteses.

Esse cálculo parte do princípio de que a estratégia de polarização da sociedade entre direita versus esquerda é o melhor caminho para preservação do poder, ainda que não o seja para realizar um bom governo. Faz todo sentido, desde que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva continue esticando o outro lado da corda, à frente do PT e seus aliados de esquerda, sem nenhuma intenção de moderar o confronto com Bolsonaro. Nessa perspectiva, os demais candidatos que se apresentarem no processo — o ex-ministro Ciro Gomes (PDT); o governador paulista, João Doria (PSDB); o governador fluminense, Wilson Witzel (PSC); e o apresentador Luciano Huck, que está costeando o alambrado, como diria Leonel Brizola, e talvez seja candidato pelo Cidadania — seriam protagonistas da pulverização dos votos à margem do bolsonarismo e do lulismo.

Fulanização”
É óbvio que esse raciocínio nem sempre se reproduz no processo eleitoral. A rigor, essa polarização extrema somente ocorreu nas eleições de 1989, com a vitória de Collor de Mello (PRN ), e agora, em 2018, com a de Bolsonaro. Mesmo assim, há que se dar um desconto, porque a candidatura de Collor de Mello centrou fogo nas lideranças políticas tradicionais, mas cavalgou a esperança despertada pela redemocratização do país. Nas eleições passadas, Bolsonaro fez uma campanha antissistema, aproveitando-se do desgaste da democracia, que centrou fogo nas instituições políticas, nos direitos humanos e nas pautas identitárias, ao contrário de Haddad. O centro político foi esmagado e até hoje não conseguiu se recompor.

Os esforços nessa direção ainda não ganharam a força necessária para que se forme um bloco político como alternativa de poder. A “fulanizaçao” dessas forças de centro, como gosta de dizer o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ainda está por acontecer. O que predomina são as tendências centrífugas das disputas locais, em razão das eleições municipais, as quais Bolsonaro está esnobando, porque detém o poder mais concentrado do país, o da União. Em contrapartida, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que protagonizou todas as disputas eleitorais desde 1989, aposta nas eleições municipais para resgatar o PT do gueto político no qual está confinado em razão do “mensalão” e da Operação Lava-Jato. É pagar pra ver.

De certa forma, a criação do Aliança pelo Brasil sinaliza uma reorganização do quadro partidário, ainda que num primeiro momento à custa de mais fragmentação, pois nasce de um racha no PSL. As candidaturas de Ciro, Doria, Witzel e, eventualmente, Huck apontam para a mesma direção, sendo que esse processo ainda comporta muitas surpresas. Bolsonaro e Witzel, em tese, disputam o mesmo espaço; igualmente, Doria e Huck. Ciro é um caso à parte, pois queimou os navios com Lula e o PT, não pode abduzir Haddad nem vice-versa, embora a prudência não recomende tal afirmação tão categórica.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense

 

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

O SUPREMO, SUA FUNÇÃO CONTRAMAJORITÁRIA, E ... GEORGE SOROS - Percival Puggina

Com a mesma liberdade de opinião que me permitiu escrever na legislatura anterior que aquele era o pior Congresso Nacional que conheci, afirmo agora, fazendo coro com José Nêumanne, que esse STF é o pior que já vi atuar. Não apenas porque, usando o eufemismo da moda, “flerta” com a ditadura do Judiciário e realiza proezas nunca vistas, mas porque, com ares missionários, antagoniza a nação. O que para a sociedade é Verdade e Valor, para o STF é objeto de correição. O Supremo se orgulha de agir em dissintonia com a sociedade.

Entenda-se. Um ministro da Corte, ao deliberar, não tem entre seus deveres interrogar-se sobre o que as pessoas pensam a respeito do assunto. Não está imposta a ele a obrigação de promover pesquisa de opinião ou enquete a cada voto que deva dar, muito embora, por vezes, sejam promovidas audiências públicas. Opiniões lhes chegam, de regra, via contraditório expresso pelas partes. No entanto, o problema que abordo aqui tem outra natureza e se vincula ao modo como o atual colegiado foi formado. Lula e Dilma indicaram 13 ministros, dos quais sete permanecem no cargo. Desnecessário dizer o quanto essas designações foram influenciadas pelo critério ideológico. Nos governos petistas ele era determinante, até mesmo, da escolha do jardineiro e do fornecedor de frutos do mar. Camarões de esquerda. Lagostas trotskistas. De nenhum dos quatro remanescentes se poderá dizer que tenham qualquer afinidade com o pensamento conservador, majoritário na sociedade. Bem ao contrário!

Os longos anos de petismo, resultantes de um tempo em que o ambiente cultural estava hegemonizado pelo pensamento de esquerda, dito “progressista”, viabilizaram ampla maioria na Corte. Para piorar a situação, os três ministros anteriores a esse tempo sinistro, Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello e Celso de Mello, com diferenças de ritmo, batem no mesmo tambor. E o ministro subsequente, Alexandre de Moraes, já deixou claro a que veio. Na parte final dessa linha de tempo, contudo, surgiram as redes sociais, democratizando o direito de opinião, dando voz a conservadores e liberais, e revelando, para escândalo dos ditos progressistas, o perfil majoritariamente conservador da sociedade brasileira. Decisões do STF repercutem de modo muito mais intenso nas redes sociais do que nas colunas dos jornais. E o desgosto da sociedade se manifesta.

Qual a reação do Supremo, evidentemente deslocado e isolado, com pouco espaço no mundo das ideias vigentes na sociedade, indigesto e desprestigiado, perante essa situação? Como o descomunal orgulho dos senhores ministros responde à sociedade? Proclamando seu papel contramajoritário!  Eis a grande sacada na cartola dos péssimos argumentos, adulterando o sentido original do termo "contramajoritário", que significa discordar de algo aprovado pelo Parlamento e sancionado pela Presidência. Na concepção do STF, o vocábulo passou a significar a recusa aos valores dominantes na sociedade, propagandeada como se fosse virtuosa atribuição do Poder. Caberia ao STF ensinar o povo a pensar segundo o modo como os onze interpretam os princípios constitucionais. 

Os onze sabem mais do que todos, mais do que os grandes filósofos gregos, mais do que os grandes teólogos. Nenhum destes, claro, mais qualificado do que George Soros e a Nova Ordem Mundial com suas ideias “progressistas” sobre aborto, ideologia de gênero, feminismo radical, controle de armas, globalismo, imigração, "politicamente correto" e engenharia social.
Alguém, aí, abra a janela que eu preciso de ar puro.

Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.




sexta-feira, 3 de maio de 2019

Bolsonaro, trotskista e gramsciano

Presidente representa o legado de Sylvio Frota

[Geisel foi o segundo melhor presidente do Brasil; 

o 1º foi o general Médici e o marechal Costa e Silva, se tornou merecidamente 'hors-concours', por ter tido a coragem de editar a medida que salvou o Brasil e os brasileiros = o Ato Institucional nº 5;

Geisel, cometeu dois grandes erros:

-escolher Figueiredo como sucessor; e,

- demitir o general Sylvio Couto Coelho da Frota, impedindo com isso que  o general se tornasse presidente e conduzisse com firmeza o processo de abertura.]

O presidente Jair Bolsonaro, de credenciais inequívocas na direita, de certa forma é "trotskista e gramsciano". Acredita na revolução internacional permanente e aposta no estabelecimento de uma hegemonia cultural. Bolsonaro precisa da derrota mundial da esquerda [o mundo precisa e passo a passo e com velocidade crescente  a esquerda desaparecerá.] não para emergir como o líder de uma tendência, algo que jamais será, mas para subsistir. Em suas colocações e entrevistas, é frequente o raciocínio de que a era Lula não teve origem em circunstâncias muito particulares da conjuntura brasileira, mas em uma conjura de agitação e propaganda transnacional em grande parte tocada pelo Foro de São Paulo. O fim do ciclo petista no Brasil, em sua concepção, só se consolida com a repetição do fenômeno além fronteira.

Daí a importância da Venezuela em sua equação. A queda da ditadura venezuelana, se e quando se materializar, permitiria a Bolsonaro investir na radicalização no Brasil, jogando a pecha do autoritarismo na testa de seus adversários, estratégia para a qual o PT contribui de maneira estúpida, ao se solidarizar com o sangrento regime de Maduro.

Daí porque Bolsonaro se sente ameaçado por um eventual retorno de Cristina Kirchner ao poder na Argentina. E esta é a razão para a qual fez um apelo a políticos de direita no Uruguai para que derrotem a Frente Ampla naquele país. O presidente brasileiro porta-se como um cabo eleitoral de Trump, porque prefere nem pensar na hipótese de ter que lidar com alguém como Joe Biden à frente da Casa Branca. Não tanto pelas mudanças de orientação na política externa que um governo democrata faria, mas pelo impacto de uma derrota de Trump no imaginário da revolução mundial 'neocon'.

Trump não é mais uma pessoa, é uma ideia. Na visão do chanceler de Bolsonaro, o líder de uma reação da cristandade ocidental contra o globalismo. Bolsonaro precisa de Trump no poder e Maduro acuado para sustentar a sua narrativa. Assim como Trotski não acreditava na sobrevivência do socialismo em um só país, o bolsonarismo também anseia pela revolução mundial. A vertente gramsciana do atual grupo no poder está na enorme preocupação com o suposto predomínio da esquerda no pensamento acadêmico, na intelectualidade, nos meios de comunicação. O bolsonarismo pensa a educação pública como uma ferramenta de disseminação de um pensamento político, de exercício de poder. Sem uma estratégia clara de como tomar de assalto estes aparelhos, o bolsonarismo pretende antagonizá-los, e no limite, sufocá-los financeiramente. Pela primeira vez na história brasileira, a educação pública torna-se não uma solução, mas um problema. Um obstáculo a ser transposto.

A visão de que as ameaças ao exercício do poder vêm da cultura e da conjuntura internacional foi exposta por clareza de uma espécie de um líder ancestral de alguns integrantes do governo, o general Sylvio Frota (1910-1996). Era o ministro do Exército que foi demitido por Ernesto Geisel em 1977 quando começava a articular a sua candidatura a presidente nas eleições indiretas. Frota queria aprofundar o movimento de 64, e não desmontá-lo com uma abertura, lenta, gradual e segura.

Para Frota, o marxismo buscava "infiltrar-se em quase todos os setores da vida pública brasileira, chamando de fascistas os que se opõem aos seus desígnios", conforme afirmou em uma ordem do dia de 1975, de acordo com o Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro, da Fundação Getulio Vargas. No seu livro de memórias, "Ideais Traídos", cujo nome é bastante sugestivo de sua visão sobre o processo de abertura, Frota argumentou que o governo Geisel era de centro-esquerda. Acreditava que havia 97 comunistas infiltrados dentro do governo federal. A política externa do governo de então, que restabeleceu relações diplomáticas com a China e aproximou-se das recém independentes nações da África, era alvo frequente de suas críticas.

A cruzada de Frota também era contra "a existência de um processo de domínio, pelo Estado, da economia nacional - inclusive de empresas privadas - de modo a condicionar o empresariado brasileiro aos ditames do governo", conforme registrou em sua carta de demissão. O ultraconservador Frota unia assim o anticomunismo à defesa do Estado mínimo. A demissão sumária do general desarticulou a linha-dura e consolidou o fim do regime militar dentro de um processo negociado com a classe política. Frota tentou reagir, mas a cúpula do Exército não o acompanhou.

Bolsonaro era muito jovem à época desses acontecimentos, mas as figuras que sempre nominou como referências, como o ministro do GSI, Augusto Heleno, ou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, morto em 2015, estavam na órbita do frotismo. O primeiro era ajudante de ordens do ministro, o segundo subchefe de operações do Centro de Inteligência do Exército (Ciex).

As forças que Frota reuniu em torno de si ficaram sem perspectiva de poder pouco mais de sete anos antes do insucesso da ala pragmática do regime em fazer o sucessor de Figueiredo. Não foram elas que perderam em 1985. Como escreveu Frota na sua despedida, "existe uma evidente intenção de alienar as Forças Armadas dos processos decisórios do país, açambarcados por um grupelho, encastelado no governo". A baixa oficialidade daquele tempo, mera espectadora da briga dos estrelados, vive atualmente uma luta com os seguidores do polemista Olavo de Carvalho para deter a hegemonia do governo do capitão, mas talvez não esteja tão distante de seus contendores nas premissas básicas. [o governo do capitão vai bem com viés de melhorar e não precisa ter sua hegemonia detida, ao contrário, tem que ser estimulada;
quem precisa ser detido, em todos os aspectos é o 'filósofo' de Virginia.']

sábado, 12 de janeiro de 2019

Charada em construção

Profissões inteiras vão se tornando obsoletas por conta dos avanços da inteligência artificial, da impressão em 3D, da robotização e outras mudanças

(Publicado na edição impressa de VEJA)

As coisas seriam relativamente simples no Brasil se todas as preocupações, dúvidas e problemas a resolver se resumissem ao novo governo do presidente Jair Bolsonaro. Mas aí é que está: a vida nem sempre nos dá a oportunidade de lidar só com uma questão de cada vez. Além de tudo o que precisa dar certo aqui dentro, hoje em dia é preciso encarar, também, uma quantidade ainda maior de coisas que têm de dar certo lá fora – e essas coisas, positivamente, não parecem estar a caminho de acabar bem. Trata-se das exigências do “novo pensamento mundial”, ou do “globalismo”, ou alguma outra combinação de palavras parecida – uma espécie de consenso ainda frouxo, mas cada vez mais ativo, que vai se criando na elite europeia e americana sobre como o planeta deveria ser ordenado daqui para frente.

A nova ordem que prescrevem para o mundo vai mal, e nem daria mesmo para esperar que fosse bem, levando-se em conta que inclui praticamente tudo o que deveria estar indo melhor com a humanidade. Mas a complicação realmente não parece estar na quantidade de problemas existentes. Parece, isso sim, estar na qualidade geral das soluções com as quais se pretende tornar o mundo e o homem melhores do que são hoje.

É uma sinuca, no caso particular do Brasil deste momento. O governo Bolsonaro, definitivamente, se declara disposto a fazer o contrário do que o pensamento mundial recomenda para resolver os problemas do universo. Do outro lado, o consenso ora em formação entre os intelectuais, burocratas, governantes e outros “influenciadores” da vida diária do primeiro mundo demonstra um aberto horror a tudo o que o governo brasileiro imagina que vai fazer nos próximos quatro anos. De Bolsonaro já sabemos o que é preciso saber. Do outro lado, porém, o que existe é uma charada em construção. Quando você começa a achar que entendeu alguma coisa na lista de deveres a ser obedecida hoje por pessoas e nações, os deveres mudam, ou entram em choque entre si, ou exigem ações que você não sabe como executar, ou sequer imagina como podem ser executadas. É mais ou menos natural, porque os propositores do novo pensamento não sabem direito, eles próprios, o que querem. 

Nem todos querem as mesmas coisas. A maioria não calcula direito as consequências das propostas que fazem. Acreditam-se capazes de organizar fatos que estão acima e além do seu controle. Não seguem, no fundo, uma ideologia, mesmo porque ainda não se identificou nenhuma ideia de verdade em nada do que prescrevem para o bem geral. Há apenas uma tumultuada coleção de desejos – e a exigência de que sejam removidas do mundo, em geral por atos do governo, todas as situações de frustração, carência e ressentimento que hoje incomodam as consciências.

Não é fácil enxergar com clareza no meio desse nevoeiro. Dá para dizer, em todo caso, que o grande traço de união entre as diversas seitas do novo pensamento é a certeza de que a mãe de todos os pecados do mundo de hoje é a falta de igualdade – tanto entre as pessoas, individualmente, quanto entre as nações. Tudo que há de errado na vida atual se deve, de uma forma ou de outra, à desigualdade; por via de consequência, de acordo com as crenças básicas do consenso mundial que está se formando no mundo rico, a redução ou a eliminação das diferenças levará à solução de todos os problemas que estão aí e não sabemos como resolver – dos quebra-quebras em Paris ao derretimento das geleiras no sul da Patagônia. Quase tudo pode entrar na lista. Guerras tribais na África, massacres de civis na Síria ou a fome no Congo não têm, por exemplo, nenhuma relação com as forças e governos que provocam essas desgraças. São, pelo novo sistema de pensar o universo, resultado da desigualdade e, portanto, têm de ser curadas com mais igualdade. Imigração ilegal em massa para os países bem sucedidos? Escassez de água? Emissões de carbono? É tudo mais ou menos a mesma coisa. Se o mundo fosse mais igual, nada disso existiria.

Como muito pouca gente está disposta a argumentar em favor da desigualdade, basicamente lembrando que esforços desiguais devem resultar em recompensas diferentes, nada mais fácil hoje em dia do que encontrar combatentes da igualdade. Estão por toda a parte. Em geral, acham que a redução do número de pobres se fará através da redução do número de ricos, e nunca da criação de riqueza entre os pobres. Têm uma mal definida hostilidade ao progresso, visto que o progresso não conseguiu eliminar a desigualdade; acham que mais eletricidade ou mais estradas, por exemplo, trazem benefícios desiguais, e portanto são desaconselháveis, sobretudo quando você já tem as duas.

O novo pensamento não gosta da ciência – não admite mais pesquisas e investigações sobre fenômenos considerados fatos já definitivos pelas suas crenças, como o aquecimento global ou a destruição das florestas brasileiras. Não gosta de religião, a não ser do islamismo, que deve ter estímulo, inclusive oficial, para se propagar nos países cristãos do primeiro mundo e aumentar com isso os índices de igualdade religiosa. Não gosta de hábitos nacionais; a grande virtude de hoje é a “diversidade cultural”, que torna um país tanto mais correto quanto mais ele substituir sua cultura pela cultura de outros países. Não gosta das liberdades individuais. Naturalmente, há um declarado horror pelo “agronegócio”, que, segundo a sabedoria predominante, destrói a natureza, produz carne de boi e faz muita gente ganhar dinheiro.

O New York Times e outros centros da nova inteligência mundial estão convencidos, por exemplo, que praticamente toda a produção da agricultura brasileira poderia ser substituída no futuro, e com vantagens, pelo consumo de insetos, capazes de fornecer todos os nutrientes necessários ao organismo humano. Com isso, seria possível eliminar fazendas nocivas ao meio ambiente, que hoje desperdiçam com a produção de alimentos terras que deveriam estar destinadas à florestas. Além disso, utilizam “agrotóxicos” e, eventualmente, perturbam a vida indígena. É mais ou menos a mesma visão que atribui aos “direitos dos animais” importância equivalente aos direitos humanos – isso para não falar nos direitos dos vegetais e da camada de gelo do Polo Norte. De modo geral, consideram a sobrevivência do meio ambiente mais importante que a sobrevivência das pessoas de carne e osso. Numa espécie de cavalo-de-pau filosófico, acham natural que os recursos naturais não devam ser utilizados em favor do bem estar humano; ao contrário, estão convencidos que é obrigação do homem e dos governos não tocar em nada que esteja presente na natureza.

Nada disso parece ter alguma coisa diretamente relacionada com a redução das desigualdades – mas o fato é que todas essas crenças, de um modo ou de outro, são apresentados como parte do mesmo pacote de salvação do mundo que vai sendo embrulhado hoje em dia por funcionários de burocracias como a ONU, Comissão Europeia e outros organismos internacionais, governos de países ricos, universidades do primeiro mundo, a mídia em geral, o cantor Bono Vox e por aí afora. Como de costume, as dificuldades mais complicadas que a construção da igualdade enfrenta estão nas suas incompatibilidades com o mundo real. Desde o início, o movimento parece cada vez mais tentado a aceitar a ideia de que é possível obter o bem estar independente do trabalho. Há bem estar na Alemanha, por exemplo, e miséria na África? A solução é abrir a Alemanha à imigração dos africanos – onde se espera que passem a desfrutar da mesma prosperidade sem ter feito os últimos 100 anos de trabalho que os alemães fizeram para chegar até onde estão hoje. É essa, por sinal, a grande ideia que sustentou a aprovação do recente acordo internacional declarando que todos os habitantes do planeta têm agora o direito legal de imigrarem para o país que quiserem.

Pouca ou nenhuma atenção é dedicada nisso tudo à criação de mecanismos de produção capazes de gerar as riquezas a serem distribuídas para eliminar a desigualdade. Distribuir a fortuna dos ricos parece ser uma ótima ideia até você ver que só dá para fazer essa distribuição uma vez – depois que é consumida a riqueza acaba, e é preciso criar outra em seu lugar, para continuar havendo alguma coisa a distribuir. Não está claro quem vai ficar encarregado dessa tarefa. Outro problema é a tecnologia – quanto mais progresso se cria, mais se aumenta a desigualdade, e a menos que se declare uma moratória no avanço tecnológico o futuro promete a multiplicação acelerada de desiguais. Hoje as revoluções industriais se sucedem mais de pressa que as fases da Lava Jato; na verdade, ninguém sabe direito em qual revolução, exatamente, estamos hoje. Quarta? Quinta?

O certo é que a cada avanço mais gente se vê excluída dos benefícios do progresso; nem todos têm capacidade para ocupar um emprego no Silicon Valley ou seus equivalentes através do mundo. Os que não têm cacife para isso se veem, cada vez mais, relegados às ocupações menos atraentes, mais frustrantes, pior remuneradas. Profissões inteiras vão se tornando obsoletas, por conta dos avanços da inteligência artificial, da impressão em terceira dimensão, da robotização e outras mudanças desagregadoras do mundo profissional como ele é hoje. Para que pilotos de jato se os aviões voarão sozinhos, e com muito maior segurança, de Nova York a Tóquio? Para que médicos, se o computador vai fazer um transplante de coração melhor do que eles? Para que o marceneiro, se a impressão em 3D lhe entrega sua cadeira pronta e sem defeito nenhum?

É um mundo no qual só as pessoas com alto grau de conhecimento serão realmente cidadãos de primeira classe. Por mais que as leis digam que todos são iguais, e por mais que as elites pensantes escrevam programas estabelecendo regras de igualdade, as diferenças estarão cada vez mais evidentes. É para essas realidades que o Brasil tem de se preparar. Será preciso, nesta caminhada, contar com ideias muito melhores do que as que apareceram até agora.

J R Guzzo - Publicado na Edição Impressa de Veja  
Edição da semana 2617 16/01/2019 
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quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Valentia e resultados

O grande risco internacional é a instabilidade, agravada pelo comportamento de dirigentes

Tirar o Brasil do Pacto Global para Migração é o tipo da valentia que não custa grande coragem, rende muitas frases de efeito e tem pouquíssimo – ou nenhum – efeito prático. Na raiz desse gesto do novo presidente brasileiro está a convicção de que uma grande conspiração internacional trabalha para retirar a soberania, a capacidade de decisão ou até mesmo a vontade de se defender de Estados nacionais. E que grandes instituições multilaterais (como a ONU, onde se tramitou o tal do inócuo pacto de migração) foram aparelhadas pelos tais globalistas.
O cenário que preocupa de verdade um grande número de analistas internacionais, incluindo as grandes consultorias de risco, é outro. É o que chamam quase em uníssono de agravamento da instabilidade nas relações entre os países. “Nada urgente”, escreve uma dessas consultorias, a Eurásia, “ciclos geopolíticos são lentos e leva-se anos, até décadas, para destruir uma ordem, mas a erosão (da atual ordem) está ocorrendo”.
Neste tipo de cenário abre-se ainda mais o espaço para que indivíduos – tais como dirigentes de alguns países – consigam estragar coisas ainda mais depressa. Mas aqui vai uma nota tranquilizadora: a mesma Eurásia, quando olha para os riscos nestas partes do mundo, está preocupada com o México e seu novo presidente populista de esquerda, e muito pouco com o Brasil (em outras palavras, nossa capacidade de causar estragos internacionais no momento é considerada pequena).

Assim, a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo é descrita como consequência, e não causa, do que se considera como quase inevitável ruptura da ordem internacional descrita como “liberal”. Da mesma maneira, o estado da economia mundial preocupa muitos comentaristas estrangeiros não tanto pela dificuldade de se prever o comportamento dos mercados, mas, sobretudo, por aquilo que se assume com grande dose de convicção: mesmo um pequeno ciclo recessivo (que se dá como favas contadas) encontrará os principais governos menos afinados e capazes de respostas, como aconteceu na grande crise financeira de 2008.
Aqui o foco vai diretamente para os Estados Unidos, e a rara combinação de difícil situação política doméstica com o fato de Washington ser um dos principais fatores que contribuem para virar a ordem internacional de cabeça para baixo – fato exemplificado num presidente que fala tão mal de adversários quanto de aliados. Donald Trump perdeu o controle do Congresso e a atual paralisação do governo é apenas o início de uma áspera batalha política interna.
Nesse sentido, desenha-se um curioso cenário de combates também em relação à política externa americana. O “consenso” entre democratas e republicanos sobre a necessidade de reduzir o papel internacional dos Estados Unidos está sendo quebrado na luta política contra Trump, ou seja, seus adversários começam a falar na necessidade de “reconstruir” valores como a liderança americana e refazer alianças (a belicosidade em relação a China, porém, une nos Estados Unidos forças políticas antagônicas).
Ser “contra” ou “a favor” de Trump é uma dessas bobagens que só tornam ainda mais precária a compreensão do que está em jogo. O problema não está em atacar o “globalismo”, mas em saber qual a capacidade de liderança de Trump no momento em que uma crise econômica transborde para se transformar numa crise geopolítica. E ela vem.
 
William Waack - O Estado de S. Paulo

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Glossário de ‘bolsonarês’ para entender o novo governo


Do 'marxismo cultural' ao 'globalismo', conheça o que o alto escalão da administração federal quer dizer com as expressões que chegaram a Brasília


Em suas primeiras palavras dirigidas ao país no parlatório do Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro prometeu libertar” o Brasil do que considera socialismo e do que chamou de “politicamente correto”. No dia seguinte, seus ministros reforçaram a retórica. Entre os exemplos, estão os titulares das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez, que tomaram posse em pé de guerra contra o “globalismo” e o “marxismo cultural”, respectivamente.

São expressões agora em voga nos altos escalões do governo federal, marcando a mudança do léxico político proporcionada pela chegada ao poder de uma direita que faz questão de explicitar seu conservadorismo e reedita no ano de 2019 o clima de vigilância anticomunista dos tempos da Guerra Fria.
Conceitos que pareciam soterrados pelos escombros do Muro de Berlim,
ou antes ficavam restritos às discussões acadêmicas e virtuais entre pessoas que seguem essa linha de pensamento, chegaram à Esplanada e serão inseridas com todo vigor no dia a dia do brasileiro.

Mas o que, afinal, significam cada uma dessas expressões? O que Jair Bolsonaro e aliados querem dizer quando falam de “ideologia de gênero” e “excludente de ilicitude”? Abaixo, VEJA lista um glossário com as principais expressões adotadas na campanha e nos primeiros dias do novo governo, de acordo com a visão que o presidente e seus auxiliares têm de mundo.

Globalismo
Processo de enfraquecimento das identidades nacionais e da soberania política dos diversos países ao redor do mundo, em detrimento de uma ordem global. Neste processo, os valores morais e culturais de cada nação são gradualmente substituídos por um conjunto de ideias internacionais e comuns a todos, que desconsidera as características históricas e regionais de cada povo. Equivale à versão de direita da palavra “imperialismo”, tão comum nos círculos de esquerda.

Marxismo cultural
A influência que ativistas políticos e teóricos de esquerda exercem em diversas áreas da produção cultural, como música, teatro, cinema, mídia e a própria educação, a fim de disseminar conceitos políticos comunistas e socialistas. Para o presidente, representa o enfraquecimento de valores morais nacionais e a promoção da ideologia de gênero.

Doutrinação
Na lógica bolsonarista, é a imposição, por parte de professores, de valores morais e políticos vinculados à esquerda aos estudantes.

Viés ideológico
Além de um mecanismo de “doutrinação”, é a opção de abordagem de qualquer questão a partir apenas da ótica de esquerda.

Socialismo
Mesmo que este sistema político jamais tenha sido efetivamente implementado no Brasil, é a identificação de que governos anteriores implementaram políticas de esquerda e compactuaram com as práticas do marxismo cultural.
(...)

Foro de São Paulo
Entidade internacional formada por partidos políticos de 26 países da América Latina, fundada em 1990 com a intenção de promover os ideais de esquerda na região. Para Bolsonaro, é a força por trás dos alegados mecanismos de dominação comunista no continente.

Escola Sem Partido
É um movimento e um projeto de lei homônimos que pretendem coibir a discussão de questões morais, políticas e sexuais em sala de aula, como forma de evitar a suposta doutrinação dos estudantes por professores. Em discursos, a expressão também é utilizada para definir de forma genérica o sistema educacional onde não estejam presentes, em especial, as ideias políticas de esquerda e a ideologia de gênero.

Ideologia de gênero
Apelido dado à teoria que estabelece sexo biológico e gênero como sendo coisas independentes, permitindo que um indivíduo biologicamente homem possa ter uma expressão de gênero feminina, se identificando socialmente como mulher, por exemplo. Também está relacionada ao papel social de homens e mulheres e contra a discussão em sala de aula sobre a desigualdade de oportunidades entre gêneros na sociedade.

Kit gay
Material didático do programa Escola Sem Homofobia, promovido pelo governo federal em 2011, produzido com a finalidade de estimular em sala de aula o respeito às pessoas LGBT — e que jamais chegou às escolas. Segundo Bolsonaro, o material acaba por sexualizar precocemente os estudantes e promover a homossexualidade e a bissexualidade

(...) 
Humanos direitos
Uma variante do “cidadão de bem”, define para quem devem ser garantidos os direitos humanos básicos.

Excludente de ilicitude
É a garantia de que policiais e demais agentes do estado que executem criminosos em serviço e em sua defesa pessoal não sejam punidos, mesmo que porventura venham a ser investigados. .
 
Talkei
 Para o fim de todos os assuntos, o presidente eleito complementa as ideias com “talkei”. É uma expressão para certificar que a pessoa com quem ele fala está entendendo e, também, para ele conseguir completar a linha de raciocínio sem conseguir se perder, talkei?

Politicamente correto
É a defesa, criticada pelo presidente, de que expressões, brincadeiras e outras manifestações jocosas dirigidas a setores vulneráveis da sociedade e minorias devem ser coibidas. Para o presidente, trata-se de vitimismo e de restrição à liberdade de expressão.
 
 
Glossário Completo na Veja

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

A rejeição do brasileiro à ideologia de gênero em números

A sociedade brasileira está cada vez mais convencida da existência de uma poderosa elite que age contra a sociedade e a família.

Não é por acaso que grandes grupos, como a Rede Globo, comprometidos com as pautas da agenda internacional, têm escancarando suas intenções de modificação da mentalidade considerada atrasada da população quando o tema é a ideologia de gênero, o aborto ou quaisquer outras pautas que agridem a noção natural de família, compartilhada pela maioria da população. O choque entre uma sociedade claramente conservadora, em matéria de moral, e uma mídia progressista vai ganhando contornos de luta ideológica. Mas trata-se da boa e velha guerra cultural, a qual se referiu Peter Kreeft.

Mais de 300 mil pessoas assinaram a petição, criada pelo site CitizenGo, para impedir a proeminente ideóloga do gênero, Judith Butler, de palestrar no Sesc Pompéia, em São Paulo. Em 2015, quando ativistas, por meio do Ministério da Educação (MEC) tentaram inserir a ideologia de gênero nos planos municipais e estaduais, a população se organizou em estados e municípios para pressionar congressistas regionais a retirar a ideologia dos planos educacionais. Isso fez com que os militantes do gênero desistissem do caminho legislativo e partissem para alternativas mais efetivas, como a Base Nacional Curricular. A rejeição popular à questão de gênero, ainda mais quando associada a cartilhas e dinâmicas escolares para crianças, produziu um imenso alvoroço e tem se tornado cada vez mais evidente.

Contrariamente a isso, empresas como Google e Facebook tentam dar uma impressão de apoio popular à questão da diversidade, quando na verdade falam apenas para um público restrito e comprometido com o politicamente correto, motivo pelo qual teme ser rejeitado, não pela população, mas por grandes grupos a quem servem. Recentemente, o Google publicou uma matéria que vale a pena ser lida e analisada. Enfatiza o crescimento quantitativo no interesse por temas como a diversidade, racismo e feminismo, tentando indicar, com isso, que esses temas estão na moda e, portanto, são uma “tendência” de interesse na juventude. Para isso, utilizou-se da sua ferramenta Google Trends e concluiu que houve um crescimento de 123% no interesse pelos temas citados e que isso representa uma tendência importante.

No entanto, fazendo uma pesquisa na mesma ferramenta do Google podemos fazer outras observações. Afinal, o que aconteceria se cruzássemos termos como Ideologia de Gênero com Diversidade de Gênero? Palavra odiada pelos ideólogos e ativistas, que não assumem defender uma ideologia, mas uma “teoria”, a recorrência da expressão “Ideologia” indicaria uma tendência bem mais interessante, que é a da rejeição dos brasileiros, no último ano, ao tema tão querido por eles. Ao mesmo tempo, o interesse por “diversidade de gênero” representaria o interesse em favor da discussão do tema em escolas, criminalização da “homofobia”, entre outras coisas.

O resultado é este:
Crescimento nas buscas de novembro de 2016 a novembro de 2017 (um ano):
Termo “Ideologia de Gênero”
Nov. 2016: 9% de interesse*
Nov. 2017: 57% de interesse
Aumento de 633%
Termo “Diversidade de Gênero”
Nov. 2016: 5% de interesse
Nov. 2017: 20% de interesse
Aumento de 400%
(*) O Google não disponibiliza os números totais de buscas, mas um percentual do aumento ou redução da popularidade, limitando-se a demonstrar o comportamento das buscas e não a quantidade ou total de buscas em valores absolutos.

Cresce a compreensão de que se trata de uma ideologia

O aumento de 633% nas buscas pelo termo “ideologia de gênero”, mostra um crescimento no engajamento da ideia segundo a qual as militâncias LGBT defendem uma ideologia e não uma teoria cientificamente embasada, como querem seus propagandistas. Ao mesmo tempo, o interesse por “diversidade de gênero”, um termo claramente usado pelos apoiadores, também aumentou, mas não representou tanto crescimento mesmo em um contexto favorável, quando meios de comunicação, sites de busca e redes sociais, fazem campanhas atrás de campanhas para a “conscientização”.

A população brasileira, diferente do que tentam mostrar os promotores da diversidade inseridos nessas grandes empresas, não aceita a ideia do gênero como uma tendência positiva, uma vez que cresce ainda mais a tendência crítica, como mostram as reações às exposições do Santander e MAM, posturas como a do sabão em pó OMO, Itaú e outras empresas que financiam a ideologia de gênero. Os boicotes estão invadindo as redes sociais, com informações sobre quem será o novo boicotado. Essa não é uma tendência apenas brasileira, mas se espalha por todo o mundo.

Essa reação não parece muito esperada pelas grandes redes de mídia, que continuam tentando passar a ideia de que há uma tendência, ao mesmo tempo em que combatem as reações tachando-as de exóticas e isoladas. O pior propagandista é o que acredita na própria mentira e passa a raciocinar inserido em um quadro imaginário. Diante dessa realidade, nem seria preciso impedir ações ou palestras como a de Judith Butler. Uma situação de vantagem, quando conhecida, pode ser ampliada pela simples ação do outro lado. A sociedade brasileira está cada vez mais convencida da existência de uma poderosa elite que age contra a sociedade e a família. A única arma dos militantes é vencer pelo apoio popular, nem que seja por meio de blefe. E é justamente onde perdem de lavada. Chamem Judith Butler para falar no Congresso e a sociedade ficará ainda mais convencida de onde estão seus valores e onde, definitivamente, eles não estão.

Cristian Derosa é jornalista e autor do livro ‘A Transformação Social – Como a Mídia de Massa se Transformou numa Máquina de Propaganda’. http://estudosnacionais.com

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