Correio Braziliense
"O dinheiro fácil das subvenções políticas secou, e isso acompanha mais um produto da pandemia: não há opinião pública que aprove desperdícios num momento desses"
O choque da pandemia sobre as cidades não conseguiu
quebrar a economia e ajudou em outra transferência — no poder econômico.
A influência do poder industrial e do poder comercial e de serviços —
um poder urbano — foi afetada. E o poder rural foi reforçado. O agro não
parou, cresceu e sustentou o país. Mais uma vez foi fundamental nas
contas externas, com recordes nas exportações, na garantia alimentar e
ampliou sua participação no PIB.
Não faltou comida, não houve saques e os embaixadores da China e dos Estados Unidos reconhecem que o Brasil tornou-se superpotência alimentar. Deixamos a periferia para sermos protagonistas graças ao agro.
O domínio partidário nas estatais sumiu. Até a grande Petrobras fica em segundo plano quando investimentos privados aproveitam a luz do sol em gigantescas e limpas gerações de eletricidade. Os sindicatos pendurados em estatais e no imposto sindical encolheram; o dinheiro fácil das subvenções políticas secou, e isso acompanha mais um produto da pandemia: não há opinião pública que aprove desperdícios num momento desses. Está sendo tudo tão rápido que nem mesmo a bancada ruralista se deu conta da transferência de poder que lhe favorece, que a força vai para o campo conservador e com o sentimento de patriotismo gerado na comunhão com a terra brasileira.
A mudança descobre o homem na Amazônia, califórnias no Nordeste. Quem imaginava que o vírus derrubasse o governo, mesmo quebrando o país, não conseguiu dobrar o brasileiro, mas, ao contrário, acelerou a mudança. Até mesmo a cultura mudou do litoral e foi para o interiorzão de raiz. Numa simbiose, o Brasil urbano recebe, para a indústria e o comércio, energia, fibras, matérias-primas animais e vegetais, alimentos. E o Brasil rural é a fonte. A força econômica do agro projeta-se num poder político. O que foi cultivado no berço esplêndido agora gera poder. O gigante deitado saiu da anestesia e despertou.
Alexandre Garcia, jornalista - Coluna no Correio Braziliense