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segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Lula comete gafe sobre mulheres e amplia lista de escorregões na campanha - Folha de S. Paulo

O ex-presidente Lula (PT) cometeu uma gafe em discurso no último sábado (20) em São Paulo ao condenar a violência contra as mulheres.

 'Quer bater em mulher? Vá bater em outro lugar, mas não dentro da sua casa ou no Brasil', disse o petista 

A fala se soma a uma série de outros escorregões na atual campanha eleitoral.

Como mostrou a Folha, a campanha do ex-presidente tem sido cobrada por apoiadores para ampliar o uso da chamada linguagem inclusiva, que busca combater preconceitos contra minorias, e ao mesmo tempo recebe críticas de bolsonaristas por citar termos tidos como politicamente corretos.

O petista, que lidera as pesquisas da corrida presidencial, adaptou parte de suas falas para agradar à fatia da militância que abraça a defesa das mulheres, dos negros, da população LGBTQIA+ e dos indígenas, mas escorregões nessa cartilha ainda causam desconforto em sua base.

O ex-presidente Lula em discurso no Vale do Anhangabaú em São Paulo

PALAVRAS DA DISCÓRDIA NA CAMPANHA DE LULA

Tesão
Aparece em um raciocínio que já virou uma espécie de bordão, quando o ex-presidente diz que, apesar de ter 76 anos de idade, está com "tesão de 20". Ele usa a analogia para destacar sua vontade política de transformar o país. Militantes se incomodam porque consideram o termo depreciativo para o conjunto das mulheres, com perpetuação de estigmas como a submissão feminina

Índio
O termo é visto como desrespeitoso. O mais recomendado é falar "indígena" (ou "povos indígenas", quando a referência for ao conjunto dessa população). Lula passou a usar as palavras indicadas depois de conselhos, mas ainda comete deslizes. Em abril, ao prometer criar um ministério para a área caso seja eleito, disse que ele "terá que ser [assumido por] um índio ou uma índia"

Escravo
Ativistas da causa racial afirmam que a expressão reduz as vítimas de escravidão a uma condição perene e ignora sua subjetividade, amenizando o fato de que foram submetidas forçadamente a esse processo. Por isso, recomendam a substituição por "escravizado". Lula disse em 2021 que, na visão da elite após a abolição no Brasil, os negros "deixaram de ser escravos para virar vagabundos"

Escurecimento
A palavra foi usada pela apresentadora do evento que oficializou a chapa com Alckmin, no último dia 7. Ao dar uma explicação ao microfone, a cantora Lika Rosa anunciou: "Quero aqui fazer um escurecimento, ou esclarecimento". Ela, que é parda, diz que a mudança foi iniciativa sua, como manifestação por mais representatividade. Bolsonaristas ridicularizaram a fala e atacaram o PT

Picanha
A carne é usada por Lula como exemplo de uma prosperidade que ele promete devolver aos brasileiros mais pobres, caso volte a ser presidente. Embora ainda conste em seus discursos, a referência passou a ser acompanhada de menções ao consumo de vegetais e à agricultura orgânica, após reclamações de apoiadores que militam pelo veganismo e pelos direitos dos animais

Eu melhorei meu discurso. Não falo só do pessoal voltar a comer churrasco, mas também o pessoal vegetariano, que não come carne, poder comer uma boa salada orgânica, estimularmos uma agricultura mais saudável no nosso país

Lula (PT), pré-candidato ao Planalto

no Twitter, em fev.2022

Negro como vítima
A fala do ex-presidente, no podcast de Mano Brown em 2021, de que "há uma evolução política dos negros [...] adquirindo a consciência de que não basta ficar achando que é vítima", foi repudiada por membros do movimento antirracista. Eles viram reforço ao discurso de vitimismo, tido como simplista por transferir para os alvos de preconceito a responsabilidade sobre a opressão.

Poder - Folha de S. Paulo

 

quinta-feira, 22 de julho de 2021

E as cubanas? Revista Oeste - E o voleibol feminino, semifinal Olímpica em 1996. Alguém Esqueceu?

Manifestação contra a ditadura cubana
Manifestação contra a ditadura cubana

Durante o último fim de semana, milhares de cubanos se uniram e foram para as ruas do país gritar “Liberdade!”, protestar contra o regime comunista da ilha e expor as terríveis condições de pobreza que acompanham a vida sob uma ditadura, situação que só piorou com a pandemia.

Na era digital em que vivemos, não demorou muito para que centenas de vídeos dos protestos tomassem conta da internet e corressem o mundo. À medida que a indignação reprimida contra o regime autoritário se espalhava por cidades como Havana, as autoridades cubanas se apressaram em bloquear a internet, rotular qualquer mensagem antigovernamental de desinformação” e reprimir os dissidentes que poderiam manchar ainda mais a imagem do país. Em discurso transmitido pelos canais estatais, o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, disse que “a ordem de combate havia sido dada”. Apelando para aqueles que apoiam o regime, acrescentou: “Os revolucionários têm de estar nas ruas”. Centenas de pessoas já foram presas e há relatos de fotógrafos e jornalistas entre essas prisões.

Em 1959, o governo de Cuba foi derrubado por Fidel Castro. Nas últimas seis décadas, o país operou sob a política comunista e experimentou estagnação econômica, pobreza, fome e uma miríade de outros obstáculos sociais. Quase 100% da economia cubana é controlada por seu governo. A escassez de recursos, as condições de vida horríveis e o governo opressor atormentam essa outrora bela nação.

Apesar de ainda testemunharmos, incrédulos, políticos brasileiros de mãos dadas com esses regimes totalitários e as constantes tentativas de distorcer o que realmente acontece em Cuba, a verdade é que os cidadãos cubanos não têm acesso ao necessário para alimentar a família. Muitos correm para os mercados quando as portas são abertas apenas para descobrir que não há frutas frescas, carnes ou vegetais em estoque. Os alimentos são racionados e fornecidos aos estabelecimentos pelo governo. O socialismo diminuiu tanto o padrão de vida em Cuba que cidades inteiras estão em ruínas. Cidadãos vivem no que antes eram belas mansões e edifícios que caíram no completo abandono porque não há fundos privados para mantê-los. Para muitos, essa é uma ilustração assustadora da prosperidade de uma Cuba há muito desaparecida, destruída em uma única geração pelo comunismo e pelo socialismo.

Cuba tem um espaço único e especial na minha história e para o vôlei feminino no Brasil. Convivemos durante muitos anos com as jogadoras da seleção cubana de vôlei. Para mim, o melhor time de toda a história. Claro que sempre competimos para vencer, os clássicos jogos contra Cuba se tornaram parte importante da minha carreira e até hoje sou abordada por pessoas que relatam suas madrugadas em frente à TV assistindo àqueles históricos embates. Vencemos algumas partidas, elas outras, as brigas se tornaram marca registrada dos encontros, mas jamais deixamos o lado humano da realidade cubana fora da equação.

Quem participa do debate público nas redes sociais sabe que parte do tempo é gasta lidando com gente que, muitas vezes escondida pelo anonimato de perfil falso, xinga, grita, ofende e até tenta intimidar. No meu caso, é raro passar alguns dias sem ler “e as cubanas?”, como se lembrar aquela semifinal olímpica em 1996, jogo que abriu caminho para a histórica medalha de bronze em Atlanta, fosse motivo de constrangimento e não de orgulho para qualquer atleta daquela geração. Adoraria ter conquistado o ouro em 1996, mas não tenho do que reclamar. Minha carreira como atleta superou os sonhos mais inimagináveis. Tenho uma vida com boas realizações e planos futuros de trabalho entre Brasil e EUA. Tenho muito a agradecer. E uma das sortes que tive, com certeza, foi não ter nascido refém da ditadura cubana.

Todos esses pensamentos, emoções e lembranças vieram à tona nesta semana diante de tantas imagens de corajosos jovens em Cuba desafiando o sistema. Cubanos são especiais, gente bonita e de fibra. Em janeiro de 2020, tive o prazer de conhecer mais um casal da ilha em um dia muito especial, quando participei da famosa e emocionante Marcha pela Vida (March for Life) em Washington. Ali, no meio da multidão que fica concentrada durante horas à espera do momento de caminhar até a Suprema Corte, esbarrei com um casal de médicos cubanos que conseguiu asilo na capital norte-americana. Com meu perfeito “portunhol”, conversamos sobre Brasil, Cuba, voleibol, governos, Fidel, Trump (ele ainda estava na Casa Branca) e até sobre o programa Mais Médicos.

Na época, contei que o presidente Jair Bolsonaro havia condicionado a continuação do programa a um teste de validação pelo qual os agentes de saúde cubanos teriam de passar, o mesmo que brasileiros formados no exterior precisam fazer para exercer a profissão, e que eles poderiam levar a família para o Brasil e ficar com seus salários, mas que Cuba não aceitou. Meus amigos dentro da Marcha pela Vida não ficaram surpresos. Contei também sobre grande parte da imprensa brasileira, outrora importante e factual; e sobre os políticos e artistas abobalhados que empurram diariamente a falácia de que o Brasil está caminhando para virar uma “ditadura”, mesmo com o atual governo não querendo ser sócio nem patrocinador de uma ditadura de verdade como foi o governo petista.

Então, ouvi do casal cubano exilado em Washington o que todos os que participam do debate honesto sabem sobre o real retrato de Cuba: que o socialismo agride, física e mentalmente, aqueles que são devorados pelas sanhas de apreciadores de regimes totalitários. A realidade para esse povo sofrido não é o que os desmiolados socialistas do Leblon com camisas do Che Guevara defendem no Instagram nos posts das viagens a Fernando de Noronha, ou mesmo para Miami, para comprar o “enxoval do bebê”.

Alguns atletas cubanos se dedicam intensamente à carreira para ter uma chance de sair do país e não voltar

Portanto, quando recebo mensagens agressivas nas redes, em desnecessário e mesquinho tom de deboche, “E as cubanas?”, eu só espero, do fundo do meu coração, que elas estejam bem.

Leia também “Deixem os Jogos Olímpicos em paz”

Ana Paula Henkel, colunista  - Revista Oeste - leia MATÉRIA COMPLETA


quarta-feira, 5 de maio de 2021

Fluxos financeiros e saldo comercial favorecem o real - Valor Econômico

O Brasil não tem hoje problemas nas contas com o exterior, o dinheiro não está fugindo do país

O bom desempenho das contas externas e o provável superávit comercial recorde forçam uma valorização do real, ainda que contida pelo peso negativo das dúvidas sobre solvência fiscal e do baixo crescimento da economia brasileira. A apreciação da moeda brasileira possivelmente já teria jogado o dólar abaixo dos R$ 5 se não fossem as intervenções desastradas do presidente Jair Bolsonaro e as travessuras do governo em parceria com o Centrão no péssimo desenho do orçamento de 2021. O Brasil não tem hoje problemas nas contas com o exterior, o dinheiro não está fugindo do país, embora a desconfiança se manifeste onde nos últimos anos ela não existiu: nos investimentos diretos no país, sintoma de uma lesão estrutural grave.

Até março, os regressos líquidos dos investimentos no exterior (US$ 6 bilhões) e os investimentos líquidos em carteira (US$ 23,3 bilhões) cobriram o que deixou de entrar em investimentos produtivos (US$ 29,4 bilhões). O saldo comercial deslanchou em abril, atingiu US$ 10,3 bilhões (recorde da série histórica) e acumula US$ 18,2 bilhões no ano. A Secex e o Banco Central estimam que ele provavelmente chegue a US$ 90 bilhões em 2021, novo recorde.

China e EUA estão puxando a recuperação econômica, o que ateou fogo às cotações das commodities alimentares e metálicas, das quais o Brasil é um dos maiores exportadores mundiais. O Brasil amplia gradualmente sua dependência da China. No ano, as exportações para lá subiram 37% e as importações, 15,5%. O resultado é que os chineses passaram a comprar nos quatro primeiros meses do ano 38,39% de tudo o que o Brasil vende no exterior, ante 37% em 2020. O superávit com a China soma 78,6% dos US$ 18,2 bilhões do saldo positivo obtido até agora no ano.

A pauta de importações chinesas do Brasil é inteiramente de commodities: soja e minério de ferro compõem 70% dela. Como o apetite chinês renovado puxa as cotações, o minério de ferro atingiu US$ 190 a tonelada este mês, um recorde histórico. Em consequência, as vendas brasileiras do produto dobraram no primeiro quadrimestre e cresceram 80% para os chineses. A soja, disparada em primeiro lugar, viu sua venda subir 45%, o que sustentou altas cotações. Também com crescimento na casa de dois dígitos estiveram óleos brutos, celulose e óleos vegetais.

A recuperação nos Estados Unidos, por outro lado, ajudou a reduzir o déficit na relação bilateral. As exportações passaram a crescer com força, 15,5% no acumulado do ano, enquanto as importações recuaram 5,7%. Exportações e importações de e para a União Europeia se equilibraram, na casa de aumento de mais de 30% cada, e o déficit brasileiro com os europeus também recuou.

O Brasil conseguiu exportar mais também para a Argentina, que retomou a terceira posição entre os países com maior mercado para produtos brasileiros (sua fatia no total aumentou de 2,71% para 3,39%). A recuperação ocorreu pelo crescimento das vendas de automóveis de passageiros, motores e peças, além de minério de ferro. Essa tendência pode ser interrompida. Apesar de o FMI ter previsto um crescimento do PIB de 5,8% para este ano, maior do que os 3,7% do Brasil, os argentinos enfrentam nova onda de contágios e mortes pela covid-19, acompanhada de alta nos preços e lockdowns.

Enquanto a pandemia devastava em 2020 a economia global, a desvalorização cambial mais puxou a inflação do que ajudou os exportadores a venderem mais (embora engordasse substancialmente suas margens), enquanto os juros se tornaram negativos, desestimulando o carry over e afastando capital especulativo. Estas condições, entretanto, estão mudando.

O Banco Central deve decidir amanhã que os juros cheguem a pelo menos 3,5%, isto é, 1,5 ponto percentual, enquanto o juro dos fed funds permanece negativo e a percepção de risco do Brasil não piorou, até teve pequena melhora. A pressão sobre os títulos de longo prazo americanos, uma das bases de aferição dos prêmios de risco de títulos brasileiros, arrefeceu provisoriamente, diante da negativa do Federal Reserve de qualquer ação até que a inflação comprovadamente passe dos 2% e fique lá por algum tempo.

Até que a temporada eleitoral saia dos bastidores para as ruas, é possível que o real se valorize, retirando força do principal fator de alimentação dos preços em ação. Reviravolta mais sólida depende da recuperação sustentável da economia, mas esta é uma história ainda mais complicada e sem um final feliz à vista.

 Opinião - Valor Econômico 


quarta-feira, 21 de outubro de 2020

"O gigante deitado saiu da anestesia e despertou" - Alexandre Garcia

Correio Braziliense

"O dinheiro fácil das subvenções políticas secou, e isso acompanha mais um produto da pandemia: não há opinião pública que aprove desperdícios num momento desses" 

Em menos de um mês, o brasileiro vai às urnas para escolher seus representantes na célula básica da Federação, dois anos depois da reviravolta que, a despeito dos tradicionais condutores da opinião pública, elegeu Bolsonaro, sem dinheiro, quase sem partido. [fato que grande parte dos condutores da opinião pública ainda não aceitou e que os levou,  por desespero e inconformismo, a formarem no  famigerado círculo dos adeptos do 'quanto pior, melhor'. 
Para tais pessoas o importante é derrubar Bolsonaro o bem estar de 200 milhões de brasileiros é para eles apenas um detalhe - só que não conseguirão, vão engolir o capitão até, no mínimo, 2026.] A mudança que surpreendeu especialistas hoje está mais adiantada do que imaginam, e vai continuar a surpreendê-los. Não é apenas o poder político que muda, após mais de 20 anos. A mudança vai além.

O choque da pandemia sobre as cidades não conseguiu quebrar a economia e ajudou em outra transferência — no poder econômico. A influência do poder industrial e do poder comercial e de serviços — um poder urbano — foi afetada. E o poder rural foi reforçado. O agro não parou, cresceu e sustentou o país. Mais uma vez foi fundamental nas contas externas, com recordes nas exportações, na garantia alimentar e ampliou sua participação no PIB.
Não faltou comida, não houve saques e os embaixadores da China e dos Estados Unidos reconhecem que o Brasil tornou-se superpotência alimentar. Deixamos a periferia para sermos protagonistas graças ao agro.

O domínio partidário nas estatais sumiu. Até a grande Petrobras fica em segundo plano quando investimentos privados aproveitam a luz do sol em gigantescas e limpas gerações de eletricidade. Os sindicatos pendurados em estatais e no imposto sindical encolheram; o dinheiro fácil das subvenções políticas secou, e isso acompanha mais um produto da pandemia: não há opinião pública que aprove desperdícios num momento desses. Está sendo tudo tão rápido que nem mesmo a bancada ruralista se deu conta da transferência de poder que lhe favorece, que a força vai para o campo conservador e com o sentimento de patriotismo gerado na comunhão com a terra brasileira.

A mudança descobre o homem na Amazônia, califórnias no Nordeste. Quem imaginava que o vírus derrubasse o governo, mesmo quebrando o país, não conseguiu dobrar o brasileiro, mas, ao contrário, acelerou a mudança. Até mesmo a cultura mudou do litoral e foi para o interiorzão de raiz. Numa simbiose, o Brasil urbano recebe, para a indústria e o comércio, energia, fibras, matérias-primas animais e vegetais, alimentos. E o Brasil rural é a fonte. A força econômica do agro projeta-se num poder político. O que foi cultivado no berço esplêndido agora gera poder. O gigante deitado saiu da anestesia e despertou.

Alexandre Garcia, jornalista - Coluna no Correio Braziliense