Correio Braziliense
"O dinheiro fácil das subvenções políticas secou, e isso
acompanha mais um produto da pandemia: não há opinião pública que aprove
desperdícios num momento desses"
Em menos de um mês, o brasileiro vai às urnas para escolher seus
representantes na célula básica da Federação, dois anos depois da
reviravolta que, a despeito dos tradicionais condutores da opinião
pública, elegeu Bolsonaro, sem dinheiro, quase sem partido. [fato que grande parte dos condutores da opinião pública ainda não aceitou e que os levou, por desespero e inconformismo, a formarem no famigerado círculo dos adeptos do 'quanto pior, melhor'.
Para tais pessoas o importante é derrubar Bolsonaro o bem estar de 200 milhões de brasileiros é para eles apenas um detalhe - só que não conseguirão, vão engolir o capitão até, no mínimo, 2026.] A mudança
que surpreendeu especialistas hoje está mais adiantada do que imaginam, e
vai continuar a surpreendê-los. Não é apenas o poder político que muda,
após mais de 20 anos. A mudança vai além.
O choque da pandemia sobre as cidades não conseguiu
quebrar a economia e ajudou em outra transferência — no poder econômico.
A influência do poder industrial e do poder comercial e de serviços —
um poder urbano — foi afetada. E o poder rural foi reforçado. O agro não
parou, cresceu e sustentou o país. Mais uma vez foi fundamental nas
contas externas, com recordes nas exportações, na garantia alimentar e
ampliou sua participação no PIB.
Não faltou comida, não houve saques e os embaixadores da China e dos Estados Unidos reconhecem que o Brasil tornou-se superpotência alimentar. Deixamos a periferia para sermos protagonistas graças ao agro.
O domínio partidário nas estatais sumiu. Até a grande
Petrobras fica em segundo plano quando investimentos privados aproveitam
a luz do sol em gigantescas e limpas gerações de eletricidade. Os
sindicatos pendurados em estatais e no imposto sindical encolheram; o
dinheiro fácil das subvenções políticas secou, e isso acompanha mais um
produto da pandemia: não há opinião pública que aprove desperdícios num
momento desses. Está sendo tudo tão rápido que nem mesmo a bancada
ruralista se deu conta da transferência de poder que lhe favorece, que a
força vai para o campo conservador e com o sentimento de patriotismo
gerado na comunhão com a terra brasileira.
A mudança descobre o homem na Amazônia, califórnias no
Nordeste. Quem imaginava que o vírus derrubasse o governo, mesmo
quebrando o país, não conseguiu dobrar o brasileiro, mas, ao contrário,
acelerou a mudança. Até mesmo a cultura mudou do litoral e foi para o
interiorzão de raiz. Numa simbiose, o Brasil urbano recebe, para a
indústria e o comércio, energia, fibras, matérias-primas animais e
vegetais, alimentos. E o Brasil rural é a fonte. A força econômica do
agro projeta-se num poder político. O que foi cultivado no berço
esplêndido agora gera poder. O gigante deitado saiu da anestesia e
despertou.
Alexandre Garcia, jornalista - Coluna no Correio Braziliense