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domingo, 12 de abril de 2020

O bêbado e a borboleta - Nas entrelinhas

“Desafiar o novo coronavírus se tornou uma espécie de obsessão para o presidente da República, que se comporta como quem adquiriu imunidade contra a doença

No livro O revólver que sempre dispara (Casa Amarela), Emanuel Ferraz Vespucci analisa as causas, os comportamentos e as consequências para a saúde de diversas dependências químicas, inclusive o alcoolismo e o tabagismo. É um livro despido de preconceito e, do ponto de vista clínico, como não poderia deixar de ser, serve de referência para os que lidam com o problema: usuários em busca de tratamento, seus familiares e terapeutas. O livro explica de maneira clara como as diversas drogas causam dependência física e psicológica, os problemas que acarretam e as maneiras de enfrentá-los, sem moralismo. A perda de controle sobre o álcool, a cocaína, o crack, a maconha, morfina, calmantes, inibidores de apetite e outros psicotrópicos é um problema muito mais amplo do que se imagina.

A dependência funciona como uma roleta russa. Em algum momento a bala que está no cilindro do revólver será disparada, na medida em que o sujeito arrisca mais uma vez. Ou seja, o acaso tem um limite, quanto maior a frequência, maior a probalidade de ocorrência. Por causa da dependência, algo grave acontecerá na vida da pessoa, pode ser um acidente de carro, a perda do emprego, um surto psicótico, um infarto. 

O que interessa aqui é a analogia da roleta-russa, ou seja, do revólver que sempre dispara. Durante a pandemia de Covid-19, por causa do risco de contaminação, sair de casa é uma espécie de roleta russa, mesmo que a pessoa utilize máscaras e luvas. Acontece que o presidente da República — com o objetivo declarado de desmoralizar a política de distanciamento social preconizada pelas autoridades médicas, inclusive seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e responsabilizar governadores e prefeitos pela recessão econômica — resolveu sair às ruas com frequência e, nesses passeios, visitar o comércio local para estimular proprietários e consumidores a manterem uma vida normal. Bolsonaro ignora uma epidemia que está matando mais de 100 pessoas por dia no Brasil, o equivalente a um desastre de grandes proporções.

Desafiar o novo coronavírus se tornou uma espécie de obsessão para o presidente, que se comporta como quem adquiriu imunidade contra a doença, como acontece com aqueles que já foram contaminados, se recuperaram e adquiriram anticorpos ou que, por qualquer outra razão, têm uma sistema imunológico mais robusto, geralmente mais jovens. Não se sabe se o presidente está imunizado; ele se recusa a revelar os resultados dos exames que fez. Bolsonaro age como um jogador compulsivo, o que não deixa de ser uma dependência, sem levar em conta que a maioria das pessoas não está preparada para lidar com o aleatório.

Teoria do caos
É aí que chegamos a O andar do bêbado (Zahar), o instigante livro do físico Leonard Mlodinow, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, sobre o acaso na vida das pessoas, ou melhor, sobre como funciona a aleatoriedade. O novo coronavírus se multiplica como um “Efeito Borboleta”, descoberto em 1960, pelo matemático Edward Lorenz, base para a Teoria do Caos. Mostra como pequenas alterações nas condições iniciais de grandes sistemas podem gerar transformações drásticas e significativas.

Lorenz, que também era meteorologista, realizava cálculos relacionado a padrões climáticos num computador. Em vez de colocar 0,000001, conforme fez na primeira vez, ele colocou 0,0001, alterando completamente o resultado da simulação, como se o bater de asas de uma borboleta na Austrália provocasse um furacão no Caribe. Foi o que aconteceu com o coronavírus na Alemanha e na Coreia do Sul, países que mais bem monitoraram a epidemia e conseguiram mantê-la sobre controle, com testes em massa e hospitalização dos contaminados. No primeiro caso, bastou que uma pessoa contaminada usasse o saleiro num almoço de família para a epidemia se propagar; no segundo, um único paciente, de 30 casos confirmados, escapou do isolamento e disseminou a doença.

Na Sexta-feira da Paixão contabilizamos 1.056 mortes e 19.638 casos confirmados, 44 dias após o primeiro caso registrado no país e 24 dias depois do registro da primeira morte. São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará e Amazonas estão em risco de colapso do sistema de saúde pública. Numa hora em que o país precisa de coesão social e alinhamento das políticas de combate ao novo coronavírus, para evitar o colapso do sistema de saúde, Bolsonaro aposta na autoimunizaçao pelo contagio e num medicamento de eficácia limitada nos tratamentos, a hidroxicloroquina, para evitar as mortes, e prega a retomada imediata das atividades econômicas, com adoção do chamado isolamento seletivo ou vertical. Essas apostas foram feitas em outros países, como os Estados Unidos, Inglaterra e Japão, e fracassaram.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense




terça-feira, 23 de agosto de 2016

Magda Goebbels, a mulher de Joseph Goebbels, era filha de judeu? E daí?

Apenas uma nota de pé de página na história da mulher que sacrificou os seis filhos ao perder tudo de “maravilhoso” da vida

“Não vale mais a pena viver nesse mundo e levei as crianças comigo, pois elas são boas demais para a vida que vem aí.” Com estas palavras, Johanna Maria Magdalena Goebbels, chamada pelo apelido de Magda, justificou um dos atos mais hediondos entre os tantos de incomensurável barbárie cometidos durante o nazismo.

Outra ironia de uma história hedionda: a verdadeira origem de Magda Goebbels, a “mãe modelo do terceiro Reich”

O mundo em que ela não queria mais ver os filhos viver era, justamente, o da derrota da Alemanha nazista. “Nossa ideia gloriosa está arruinada e com ela tudo o que de belo e maravilhoso conheci na minha vida”, diz a carta de despedida.  Um dia depois do suicídio de Adolf Hitler no bunker de Berlim, em 30 de abril de 1945, Magda matou os seis filhos que tinha com Joseph Goebbels, o gênio maligno da propaganda nazista.

Os soldados soviéticos que entraram no bunker encontraram os corpos das crianças, cinco meninas e um menino. Existem fotos dos pequenos corpos e do início da autópsia da filha mais velha, Helga. Não é recomendável vê-las, sob nenhum pretexto.  As meninas estavam de camisola e fita nos cabelos, penteados caprichosamente pela mãe. Um dentista da SS que estava no bunker aplicou morfina nas crianças. Depois que ficaram inconscientes, Magda quebrou ampolas de cianureto em seus lábios. Esperou cerca de duas horas, para ter certeza de que haviam morrido.

Ela e o marido se suicidaram em seguida. Por um dia, ele havia sido Kanzler do Terceiro Reich, posto equivalente a primeiro-ministro.  Goebbels era de família pobre, feio e franzino. Mancava por causa de um defeito de nascença no pé. Seu aspecto físico sempre foi ressaltado por causa da ironia implícita ao fato de que o grande propagandista da “raça superior”, com sua coreografias de massas homogêneas e supostamente perfeitas, dificilmente passaria no teste dos arianos autênticos.

Magda era de família rica, educada em colégio de freiras, bonita, casada em primeiras núpcias com um industrial milionário – é ao filho desse primeiro casamento que ela escreveu para se despedir. A família dele até hoje é dona da BMW. Por ter encarnado o ideal feminino teutônico e o papel de “mãe modelo do Terceiro Reich”, sempre pareceu irônico também que ela tivesse um padrasto judeu, Richard Friedländer, o segundo marido de sua mãe. Agora, o historiador Oscar Hilmes escreveu um livro para demonstrar um boato que já havia circulado antes: Friedländer era na verdade o pai de Magda.

Hilmes se baseia num documento deixado por Friedländer, o registro de residência, atestando a paternidade. Já divorciado da mãe de Magda, ele foi mandado para o campo de Buchenwald, um dos primeiros em território alemão.  Morreu lá em 1939. Pelas leis raciais de Nuremberg, adotadas em 1935, Magda Goebbels seria Mischling , pessoa de sangue misto. Uma das loucuras implantadas na Alemanha nazista, as leis raciais proibiam o casamento ou mesmo relações sexuais entre alemães “arianos” e judeus – depois foram incluídos na lista ciganos e negros.

Eram considerados judeus os alemães que tinham três ou quatro avós judeus. Os mestiços , com um ou dois avós judeus, tinham que seguir um teste complicadíssimo, incluindo a prática da religião, para ver em que categoria se enquadravam. Todos, evidentemente, perderam seus direitos como cidadãos e, para quem não conseguiu escapar, a vida.

Para entrar nas SS, a tropa de elite nazista, a exigência era maior: provas de ancestralidade ariana a partir de 1750. Estudantes do segundo grau recebiam como lição de casa vasculhar arquivos de igrejas para descobrir registros de batismo de judeus convertidos.  Magda Goebbels não foi criada na religião nem na cultura judaicas. Era católica e virou protestante para se casar com o primeiro marido. Abraçou apaixonadamente a causa nazista. Seu marido foi um dos pilares ideológicos não só do anti-semitismo como da guerra total, que praticamente escravizaria os próprios alemães em nome da causa já perdida.

Se o pai de Magda era ou não judeu, isso hoje é apenas uma curiosidade histórica, uma nota de pé de página. À época, poderia fazer a diferença entre a vida e a morte. Inclusive para as crianças, que ela e o marido sacrificaram de qualquer maneira.

 Fonte: Vilma Gryzinski - Coluna MUNDIALISTA - VEJA