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quinta-feira, 13 de julho de 2023

A reforma tributária fará o brasileiro trocar o álcool por crack e Rivotril? - Bruna Frascolla

Gazeta do Povo - Vozes



Obscurantistas atentam contra a saúde e a moral públicas. -  Foto: Simony Jensen/Domínio público

O tabaco e o álcool são dois alvos históricos do progressismo. 
O tabaco, nativo das Américas, era visto como a vingança do homem vermelho contra o homem branco, pois tal vício adoeceria a raça superior. O álcool, a seu turno, serviu de cavalo de batalha dos puritanos contra inimigos variados: os católicos, os anglicanos tradicionais, os imigrantes pobres dos EUA (italianos e irlandeses), os alemães durante a I Guerra. Católicos, luteranos e anglicanos tradicionais usam vinho na missa. Assim, criminalizar o álcool é um jeito de criminalizar religiões e culturas inteiras. No entanto, isso se faz usando a ciência e a saúde pública como pretexto, transformando em técnico e imparcial o que na verdade é manipulação parcialíssima.
 
Desde o fim da Guerra Fria e da ascensão dos EUA como potência única, o Brasil vem empreendendo campanhas contrárias ao tabaco e ao álcool. O cigarro foi taxadíssimo e acabou se tornando um filão do PCC, que contrabandeia do Paraguai. 
Ainda assim, pode-se supor que a campanha antitabagismo tenha sido benéfica à juventude, que aprendeu desde cedo sobre os malefícios do cigarro e não aderiu ao hábito. 
Mas o álcool, que tem uma importância social histórica, sobreviveu em melhor estado às campanhas politicamente corretas. 
O Brasil perdeu suas famosas propagandas de cerveja na TV, mas os tiozões continuaram lotando botequins nos finais de semana. 
O álcool continua presente entre nós das maneiras mais variadas, que vão desde o vinho caro da ocasião especial à cachaça vagabunda do mendigo alcoólatra. O álcool sem dúvida pode ser um problema grave para alguns indivíduos e famílias; no entanto, tratá-lo como se fosse crack é impossível. O álcool pode ser antissocial, mas pode também ser uma fonte especial de sociabilidade, com direito ao sagrado.

    Álcool, que é lazer, não pode porque “faz mal à saúde”, mas maconha pode, porque é “medicinal”

Há pouco mais de um século, Chesterton vivia no olho do furacão progressista. Vejamos o que ele escrevia sobre a relação da nova cultura dominante com o álcool: “Uma nova moralidade veio ao nosso encontro com certa violência e se relaciona ao problema da bebida alcoólica. Os entusiastas do assunto variam desde o homem que é posto para fora dos pubs meia noite e meia, até a dama que ataca os balcões dos bares com um machado. Em tais discussões, quase sempre sentimos que uma postura moderada e bastante sábia é dizer que o vinho, ou coisas do tipo, devem ser ingeridos como remédio. Atrevo-me a discordar disso com particular veemência. A forma genuinamente perigosa e imoral de tomar vinho é tomá-lo como remédio. E por esta razão: se alguém bebe vinho por prazer, está tentando obter algo excepcional, algo que não espera a qualquer hora do dia, algo que, a menos que seja um tanto louco, não tentará obter a qualquer hora do dia. Mas se alguém bebe vinho para ter saúde, está tentando obter algo natural; ou seja, algo sem o que não deve viver; algo sem o que dificilmente passará sem consumir. […] É fácil não permitir que alguém tenha prazeres; difícil é negar a aquisição da normalidade.” Está em Hereges, capítulo VII.

118 anos depois, neste Brasil em que não se pode fazer propaganda de cerveja, eu abro o Twitter e me aparece propaganda de “maconha medicinal”.  
Álcool, que é lazer, não pode porque “faz mal à saúde”, mas maconha pode, porque é “medicinal”. 
Nada impede, aliás, que nos próximos 100 anos o álcool faça o mesmo percurso que o cânhamo no Brasil: era um hábito de lazer arraigado entre pobres de origem angolana até Vargas ter sucesso em erradicá-lo com base em argumentos eugênicos, para depois voltar como símbolo identitário de universitários, ser considerada inerradicável e, por fim, liberada para fins medicinais. É imoral dizer: “Vou beber um copo ou dar um trago para me distrair”, mas é correto – científico! – dizer: “Vou beber um copo ou dar um trago porque o médico mandou.”
 
Há um fetiche materialista aí que nega o livre arbítrio e que é cego para o caráter social do homem. Nega o livre arbítrio porque o homem, idealmente, deve agir conforme os ditames da Ciência (i. e., da burocracia científica) para ser livre. 
Começa com a restrição ao prazer pautada pela saúde. 
Como nada impede que cada decisão pessoal nossa seja avaliada segundo critérios científicos, nada impede que a Ciência determine tintim por tintim os rumos da vida humana. A Ciência pode perguntar: desde “Quais impactos tem o casamento sobre a saúde de uma pessoa?” até “Qual impacto que o hábito de ouvir Mozart tem sobre a saúde?”. 
O fato de a Ciência mudar de ideia pouco importa. Enquanto se disser que ouvir Mozart faz bem, especialmente às 6 da manhã, você deverá botar um alarme para se lembrar de obedecer a essa recomendação sanitária.
 
E esse fetiche é cego para o caráter social do homem porque reduz o ato de beber um copo de vinho à atuação química do álcool sobre o cérebro humano. Um alcoólatra e um bêbado ocasional nasceram com um cérebro humano sem vícios e ingerem o mesmo tipo de substância. 
No entanto, as escolhas de cada um determinaram relações diferentes com o álcool, e, no caso do alcoólatra, essa relação foi capaz de alterar o seu próprio organismo a ponto de sofrer de síndrome de abstinência caso fique sem álcool. 
Para se evadir desse tipo de conclusão, a moral atual tende a buscar explicações genéticas – ou seja, materiais – para negar outra vez o livre arbítrio. Fulano não é mais alcoólatra porque fez más escolhas, mas sim porque nasceu predestinado ao alcoolismo por genes ruins.  
Já fizeram isso até com a obesidade para vender Ozempic e acabar com a necessidade de disciplina…

O fato é que cada ser humano é livre para escolher como beber. E, para não pararmos no liberalismo e suas derivações, é preciso acrescentar: o homem é impactado pela cultura dominante. Não é determinado, como pretendem os deterministas sociais, mas é impactado porque nenhum homem é uma ilha e o pensamento comum da sociedade exerce influência sobre o juízo privado de cada um.

Chesterton chegou a dar conselhos sobre o trato com a bebida
: “A regra sadia parece ser a mesma de muitas outras regras saudáveis: um paradoxo. Beba por estar feliz, mas nunca por se sentir extremamente infeliz. Nunca beba quando estiver infeliz por não ter uma bebida, ou irá parecer um triste alcoólatra caído na calçada. Mas beba quando, mesmo sem a bebida, estaria feliz, e isso o tornará parecido com um risonho camponês italiano. Nunca beba por precisar disso, pois tal ato racional é o caminho para a morte e para o inferno. Mas beba por não precisar disso, pois beber irracionalmente é a antiga fonte de saúde do mundo.” 

Há sociedades que prescindem do álcool, como as islâmicas, e que escolhem outros métodos de entorpecimento, tais como comer cânhamo, mascar coca ou beber chá de ayahuasca. Abstraindo, podemos dizer que entorpecer-se irracionalmente é a antiga fonte de saúde no mundo; no caso do Ocidente, fazia-se isto com álcool. Isso só mudou com o advento do calvinismo.

Uma sociedade que infunda nos bebedores esse conselho de Chesterton faz bem aos indivíduos que a compõem. Já uma sociedade que mande se entorpecer por motivos sanitários é uma sociedade que fomenta cracolândias.

E já que chegamos à cracolândia, é a esse lugar que a reforma tributária se empenha em empurrar o bebedor pobre de final de semana
Se o preço da cervejinha, da cachaça, do licor, se tornar proibitivo por causa do “imposto do pecado”, que tipo de coisa que dá barato e não tem imposto se poderá consumir? Crack e maconha, duas drogas de pobre.
 
Nos EUA também há um fenômeno parecido com as cracolândias, a saber: massas de zumbis que ficam vagando pelas ruas das metrópoles.  
Nos EUA, em vez de crack, a droga que causa isso costuma ser fentanil, um opioide analgésico. É interessante que um opioide tenha os mesmos resultados que um derivado de coca. Por outro lado, ao me mudar de uma metrópole para uma cidadezinha do interior, uma dificuldade que tive foi identificar cracudo. Na metrópole, ele se apresenta sob a forma de zumbi ou de “noia”, com um aspecto vidrado. 
Aqui, apresenta-se como um sujeito aéreo demais. 
Hoje, se vejo um tipo desses pular seminu no Rio Paraguaçu e ficar dançando, atirando água pros lados, já sei que é cracudo local; enquanto isso, os turistas de Salvador acham tudo muito bonito e sacam as câmeras para fotografar a cena ao pôr-do-sol. 
Será que na metrópole eles têm acesso a mais droga e isso lhes dá um aspecto de zumbi? 
Será que há algum fator psicossocial inerente às metrópoles que explique uma diferença e uma semelhança inesperadas? 
Não faço ideia, nem tenho condições de averiguar.
 
Mas deixem-me insistir no fentanil. Sabem por que os EUA têm tanto problema com dependência de opioides? Porque lá ninguém toma dipirona; dipirona é proibida. Em vez de dipirona, toma-se opioide. Quanto à história do vício em opioides em geral, recomendo este texto de Paula Schmitt. 
De fato, houve um conluio das farmacêuticas com o governo e a imprensa para destruir a vida do cidadão estadunidense. 
E ainda que não houvesse tamanhas fraudes, o fato é que a dependência de opioides massificada tem exatamente a origem imaginada por Chesterton: mandar as pessoas tomarem para ficarem saudáveis, o que demanda um uso normalizado e, portanto, vicia.
 
Agora, um uso não imaginado por ele é o uso identitário de drogas associadas a transtornos psiquiátricos. O uso identitário de uma droga tem exemplo na maconha a partir da contracultura. A pessoa fuma para ser algo ou alguém; para assumir uma identidade revolucionária. 
Em tempos mais recentes, temos assistido a uma glamorização, seguida por normalização, de doenças mentais.  
As pessoas chegam a pôr “TDAH” nos seus perfis em redes sociais: os diagnósticos do DSM passaram a ser mais ou menos como horóscopo; a pessoa associa um temperamento a um “transtorno” do mesmo jeito que fazia com um signo. Em vez de “sou virginiano”, a pessoa diz “sou autista”. A única diferença (pois a coisa mais fácil do mundo é conseguir um diagnóstico) é que vem um remedinho junto, que a pessoa tem que tomar por razões médicas. 
E, tal como o crack, é possível que as drogas psiquiátricas não tenham muito imposto.  
Sabiam que fentanil é direito humano? 
Fentanil é remédio, saúde é direito humano e a OMS tem uma lista de remédios essenciais que todo país respeitador dos direitos humanos deve dar.

Então é isso: vamos deixar de beber para obedecer ao médico. Nada de vinho. Entorpecimento, agora, só com remedinho, quando o médico mandar.

Conteúdo editado por: Jônatas Dias Lima

Bruna Frascolla, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 



domingo, 12 de abril de 2020

O bêbado e a borboleta - Nas entrelinhas

“Desafiar o novo coronavírus se tornou uma espécie de obsessão para o presidente da República, que se comporta como quem adquiriu imunidade contra a doença

No livro O revólver que sempre dispara (Casa Amarela), Emanuel Ferraz Vespucci analisa as causas, os comportamentos e as consequências para a saúde de diversas dependências químicas, inclusive o alcoolismo e o tabagismo. É um livro despido de preconceito e, do ponto de vista clínico, como não poderia deixar de ser, serve de referência para os que lidam com o problema: usuários em busca de tratamento, seus familiares e terapeutas. O livro explica de maneira clara como as diversas drogas causam dependência física e psicológica, os problemas que acarretam e as maneiras de enfrentá-los, sem moralismo. A perda de controle sobre o álcool, a cocaína, o crack, a maconha, morfina, calmantes, inibidores de apetite e outros psicotrópicos é um problema muito mais amplo do que se imagina.

A dependência funciona como uma roleta russa. Em algum momento a bala que está no cilindro do revólver será disparada, na medida em que o sujeito arrisca mais uma vez. Ou seja, o acaso tem um limite, quanto maior a frequência, maior a probalidade de ocorrência. Por causa da dependência, algo grave acontecerá na vida da pessoa, pode ser um acidente de carro, a perda do emprego, um surto psicótico, um infarto. 

O que interessa aqui é a analogia da roleta-russa, ou seja, do revólver que sempre dispara. Durante a pandemia de Covid-19, por causa do risco de contaminação, sair de casa é uma espécie de roleta russa, mesmo que a pessoa utilize máscaras e luvas. Acontece que o presidente da República — com o objetivo declarado de desmoralizar a política de distanciamento social preconizada pelas autoridades médicas, inclusive seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e responsabilizar governadores e prefeitos pela recessão econômica — resolveu sair às ruas com frequência e, nesses passeios, visitar o comércio local para estimular proprietários e consumidores a manterem uma vida normal. Bolsonaro ignora uma epidemia que está matando mais de 100 pessoas por dia no Brasil, o equivalente a um desastre de grandes proporções.

Desafiar o novo coronavírus se tornou uma espécie de obsessão para o presidente, que se comporta como quem adquiriu imunidade contra a doença, como acontece com aqueles que já foram contaminados, se recuperaram e adquiriram anticorpos ou que, por qualquer outra razão, têm uma sistema imunológico mais robusto, geralmente mais jovens. Não se sabe se o presidente está imunizado; ele se recusa a revelar os resultados dos exames que fez. Bolsonaro age como um jogador compulsivo, o que não deixa de ser uma dependência, sem levar em conta que a maioria das pessoas não está preparada para lidar com o aleatório.

Teoria do caos
É aí que chegamos a O andar do bêbado (Zahar), o instigante livro do físico Leonard Mlodinow, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, sobre o acaso na vida das pessoas, ou melhor, sobre como funciona a aleatoriedade. O novo coronavírus se multiplica como um “Efeito Borboleta”, descoberto em 1960, pelo matemático Edward Lorenz, base para a Teoria do Caos. Mostra como pequenas alterações nas condições iniciais de grandes sistemas podem gerar transformações drásticas e significativas.

Lorenz, que também era meteorologista, realizava cálculos relacionado a padrões climáticos num computador. Em vez de colocar 0,000001, conforme fez na primeira vez, ele colocou 0,0001, alterando completamente o resultado da simulação, como se o bater de asas de uma borboleta na Austrália provocasse um furacão no Caribe. Foi o que aconteceu com o coronavírus na Alemanha e na Coreia do Sul, países que mais bem monitoraram a epidemia e conseguiram mantê-la sobre controle, com testes em massa e hospitalização dos contaminados. No primeiro caso, bastou que uma pessoa contaminada usasse o saleiro num almoço de família para a epidemia se propagar; no segundo, um único paciente, de 30 casos confirmados, escapou do isolamento e disseminou a doença.

Na Sexta-feira da Paixão contabilizamos 1.056 mortes e 19.638 casos confirmados, 44 dias após o primeiro caso registrado no país e 24 dias depois do registro da primeira morte. São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará e Amazonas estão em risco de colapso do sistema de saúde pública. Numa hora em que o país precisa de coesão social e alinhamento das políticas de combate ao novo coronavírus, para evitar o colapso do sistema de saúde, Bolsonaro aposta na autoimunizaçao pelo contagio e num medicamento de eficácia limitada nos tratamentos, a hidroxicloroquina, para evitar as mortes, e prega a retomada imediata das atividades econômicas, com adoção do chamado isolamento seletivo ou vertical. Essas apostas foram feitas em outros países, como os Estados Unidos, Inglaterra e Japão, e fracassaram.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense




quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

PM acaba com pancadão e o Gov Dória quer acabar com a PM - [conheça a verdade sobre a tragédia de Paraisópolis.] UOL

PM acaba com pancadão e o Gov Dória quer acabar com a PM

PM age e acaba com baile funk na favela de Paraisópolis, onde havia a presença de bandidos, traficantes, drogas e bebidas alcoólicas para todos, até menores. 








Laudos apontam que jovens mortos em Paraisópolis tiveram traumas condizentes com pisoteamento


[por razões técnicas não foi possível a edição das imagens de bandidos armados, mencionadas no vídeo acima;

no link acima você pode comprovar que os mortos tinham várias drogas no sangue;

os laudos são peças do inquérito e possuem grande valor probatório por conterem dados científicos e inconstestáveis.

Um pequeno trecho da matéria linkada - vale a pena ler a matéria e ver o vídeo na íntegra; conheça tambémno vídeo, as origens do senhor João Doria:

"....De acordo com os laudos, todas as vítimas tinham substâncias tóxicas na corrente sanguínea —algumas delas, mais de uma substância. Na lista de elementos detectados estão álcool, cocaína, lança-perfume (loló), anfetamina e crack.

A maioria das vítimas ingeriu álcool e lança-perfume; duas delas consumiram apenas lança-perfume, produto de consumo frequente em bailes da periferia. Uma das vítimas tinha, porém, quatro substâncias diferentes no corpo: álcool, lança-perfume, cocaína e crack.

Há uma divergência entre policiais ouvidos pela reportagem sobre quanto essas drogas contribuíram para as mortes. Parte afirma acreditar haver ligação direta, porque trata-se de depressores cardíacos que, assim, contribuiriam para a insuficiência respiratória das vítimas.

Outra parte, porém, descarta a ligação com a mortes, a não ser que tenham causado problemas de coordenação motora que os levaram ao solo, ou que os jovens já estivessem caídos na viela onde foram pisoteados......"

Com resultado, polícia descarta eventual assassinato no tumulto; governador Doria não quis comentar exames periciais


PM não entrou no baile e evitou algo pior em Paraisópolis, diz advogado

Os seis primeiros policiais militares que teriam perseguido dois criminosos em uma moto dentro da favela de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, na madrugada de 1º de dezembro, não chegaram a entrar no meio do fluxo do baile funk que ocorria na ocasião, segundo o advogado Fernando Fabiani Capano, que os tutela juridicamente. De acordo com os depoimentos dos PMs, ouvidos na Corregedoria da PM (Polícia Militar) e no 89º DP (Distrito Policial), no Portal do Morumbi, os militares perseguiram uma moto nas intermediações do baile da DZ7, um dos maiores de São Paulo, depois de um homem ter atirado contra eles após furar uma blitz.

Após a ação dos policiais durante essa perseguição, nove jovens, entre 14 e 23 anos, foram mortos. Os laudos atestam que eles tinham marcas, como escoriações. Mas isso não indica que as vítimas foram pisoteadas, conforme informação inicial prestada pelos PMs envolvidos. Segundo a Polícia Civil, as causas das mortes ainda são suspeitas. Os seis PMs são: João Paulo Vecchi Alves Batista, Rodrigo Cardoso da Silva, Antonio Marcos Cruz da Silva, Vinicius José Nahool Lima, Thiago Roger de Lima Martins de Oliveira e Renan Cesar Angelo. Eles estão alocados no serviço administrativo, uma prática comum da corporação paulista quando há suspeitas contra seus servidores.



Enquanto os policiais e o governo de São Paulo argumentam que os jovens morreram porque os criminosos causaram tumulto ao entrar na favela, familiares e testemunham responsabilizam a ação dos PMs. A Corregedoria quer esclarecer, por exemplo, por que os policiais envolvidos fecharam todas as rotas de fuga, liberando apenas pequenos becos e vielas para que as vítimas deixassem o local. Para o advogado dos seis PMs que iniciaram a perseguição, no entanto, a ação dos policiais evitou que algo pior ocorresse. "Os policiais não perseguiram os indivíduos dentro do baile. Perseguiram os indivíduos que estavam atirando contra eles fora de onde estava ocorrendo o baile. Quando se depararam com aquela multidão, se resguardaram e pediram apoio. Não houve efetivamente um perseguição dentro da multidão", disse. "A atitude da polícia como um todo, embora eu não possa falar pela polícia e não seja um policial, me parece que evitou uma tragédia ainda maior. Os policiais, tão logo perceberam que havia pessoas caídas no chão, cujo estopim foi causado pelos indivíduos da motocicleta, pediram apoio do socorro, do SAMU", acrescentou o advogado. [os áudios da comunicação entre o Centro de Comando da Polícia militar e os policiais que perseguiam os bandidos que tentavam fugir, para Paraisópolis, provam que a perseguição ocorreu e o protocolo de socorro usados pelos policiais foi o correto.

Lamentávelmente, a grande mídia não divulga tais áudios - provas técnicas, irrefutaveis;

da mesma forma, teve pequena divulgação o laudo que comprova o consumo de drogas, álcool e outras substâncias ilícita, pelos jovens mortos. Trecho do laudo, está transcrito acima, itálico vermelho,  e com link para acessar insuspeita reportagem da Folha que comprova sua autenticidade.]

Até o momento, há três versões sobre o ocorrido em Paraisópolis. Segundo a primeira versão oficial, apresentada pelos PMs envolvidos na ocorrência, os nove jovens foram mortos pisoteados. A segunda, da Polícia Civil, aponta que as mortes ainda são suspeitas, porque não há elementos suficientes para explicar as causas das mortes. Depois, o MP (Ministério Público) citou os crimes como homicídios, mas tirou a responsabilidade dos PMs e afirmou que a Promotoria fará investigação criteriosa. Segundo a versão dos policiais, eles foram alvo de tiros de um criminoso que estava na garupa de uma moto e que, na fuga, entrou no meio do baile funk. Dizem, também, que, durante a perseguição, houve correria provocada pelos criminosos. Os PMs afirmam que, mesmo alvos de tiros, garrafadas e pedradas, foram eles quem ficaram no local e socorreram as vítimas. Frequentadores do baile negaram que tenha ocorrido tiroteio e afirmam que os PMs entraram na favela com o objetivo de fazer a dispersão por causa do barulho, e não porque havia criminosos fugindo em meio aos jovens.


UOL - Cotidiano


terça-feira, 11 de setembro de 2018

Crime bárbaro - Impunidade - Caso Ana Lídia completa 45 anos sem ninguém condenado pelo crime

Caso Ana Lídia: 45 anos de impunidade

Aos 7 anos, menina foi levada do colégio, em 11 de setembro de 1973, e encontrada morta, em uma cova rasa, no dia seguinte. Apesar da barbárie, grande repercussão e comoção, ninguém foi condenado pelo assassinato

Há 45 anos, Ana Lídia era levada com vida do colégio e encontrada morta, no dia seguinte, nua, com os cabelos louros cortados de forma irregular, bem rente ao couro cabeludo, e violentada, em uma cova rasa no cerrado. Tocada durante o mais duro período da ditadura militar, uma investigação cheia de falhas resultou em impunidade. 
Pairavam suspeitas sobre filhos de poderosos. Brasília nunca soube quem foram os algozes da menina vítima do primeiro crime a abalar toda a capital. A cidade ainda em construção perdia a inocência.

A Brasília do início dos anos 1970 tinha população e ritmo de interior. Os crimes se restringiam a pequenos roubos e furtos. As drogas do momento eram a maconha e a cocaína. Não havia crack. Playboys disputavam rachas nas largas, vazias e não monitoradas avenidas. Ana Lídia morava com os pais, Eloyza Rossi Braga e Álvaro Braga, servidores do Departamento de Serviço de Pessoal (Dasp), em um apartamento do Bloco 40 (hoje Bloco B) da 405 Norte. Além da menina, o casal era pai de Álvaro Henrique Braga e Cristina Elizabeth Braga.

A caçula era o xodó da família. Muito protegida, não brincava nos pilotis, não tinha amiguinhos nem saía de casa desacompanhada. Com 7 anos, Ana Lídia cursava, pela manhã, a 1ª série do ensino fundamental da escola Madre Carmen Salles, na 604 Norte, perto da casa dela. No turno vespertino, no mesmo colégio, tinha aulas de reforço — às terças e sextas-feiras — e de piano — às segundas, quartas e quintas-feiras. Como sempre trabalhou, Eloyza contava com a ajuda de uma empregada. Rosa da Conceição Santana estava com a família havia 20 anos.

Em 11 de setembro de 1973, antes de seguirem para o trabalho, os pais levaram Ana Lídia à escola. A deixaram no pátio às 13h50. Por volta das 16h30, como de costume, Rosa foi buscá-la a pé. Ao procurar a menina, recebeu a notícia de que ela não havia comparecido ao colégio naquela tarde. Preocupada, Irmã Celina, diretora da instituição, telefonou para a mãe da aluna a fim de certificar-se de que ela fora deixada no colégio. Começava o pesadelo.

Policiais e curiosos no terreno da UnB onde foi encontrado o corpo de Ana Lídia |Cláudio Alves/CB/D.A Press - 12/09/1973


Asfixia e estupro
Testemunhas contaram que, logo após os pais de Ana Lídia a deixarem na escola, um homem alto, loiro, de cabelos compridos, com blusa branca e calça verde-oliva, a abordou. Ele não deixou a menina entrar na sala de aula. Vinte e duas horas depois, policiais civis encontraram o corpo da menina em um matagal próximo à Universidade de Brasília (UnB).
Próximo ao local em que ela foi enterrada havia duas camisinhas. O laudo do Instituto de Medicina de Legal (IML) atestou que a morte se deu por asfixia, provavelmente provocada por sufocação, entre 4h e 6h de 12 de setembro. Havia ainda manchas roxas e escoriações em várias partes do corpo. O exame comprovou também o estupro da criança.

“A polícia só descansará quando o responsável pela morte da menor for localizado e preso”, garantiu o então secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, coronel Aimé Lamaison, em 12 de setembro de 1973. Em depoimento, o jardineiro do colégio, Benedito Duarte da Cunha, descreveu o homem com quem a criança saiu do Madre Carmem Salles e contou que Ana Lídia não parecia assustada ou nervosa. Ao contrário, deixara o colégio animada e alegre. As características físicas batiam com as de Álvaro, irmão e padrinho de Ana Lídia.

Túmulo da menina no Campo da Esperança: o mais visitado no Dia de Finados | Foto: Daniel Ferreira/CB/D.A Press -  2/11/2013


Tráfico de drogas
Álvaro tinha 18 anos, dois a menos que a irmã mais velha, Christina. Para os pais, era absurda qualquer suspeita sobre o filho. Eles afirmaram que Álvaro estava no carro quando deixaram Ana Lídia na escola e foi, em seguida, levado à Rodoviária do Plano Piloto para buscar informações no Detran sobre o processo de habilitação. Apesar de ainda não ter carteira de motorista, ele ia diariamente de moto — presente do pai — para o colégio Laser, na Asa Sul. “No dia 11, inclusive, ele foi flagrado em uma blitz, e nós ficamos preocupados”, justificou, à época, Eloyza. Durante a apuração, o Ministério Público encaminhou ofício ao Departamento de Trânsito para saber se alguma operação havia sido feita naquele dia. O órgão negou ter havido qualquer ação de fiscalização no DF naquela data.


Alto, loiro, cabelos compridos: Álvaro, irmão da vítima, se encaixava na descrição do sequestrador | Foto: Arquivo CB/D.A Press

Os investigadores trabalhavam com a hipótese de Ana Lídia ter sido morta em função de um possível envolvimento de Álvaro com o tráfico de drogas. O irmão de Ana Lídia teria dívidas de drogas e o sequestro da irmã seria uma maneira de resolver a pendência. O credor seria Raimundo Duque Lacerda, funcionário do Dasp, subordinado da mãe de Ana Lídia, e conhecido pela personalidade descontrolada. Além de problemas com bebida e drogas, ele foi acusado de ser “um dos principais traficantes de maconha do DF” pelo então chefe de polícia, Aderbal Silva.

MATÉRIA COMPLETA, clique aqui


terça-feira, 15 de maio de 2018

A tragédia por trás dos casarões do tráfico



As condições encontradas nesses imóveis não são muito diferentes das que levaram ao incêndio e à queda do Edifício Wilton Paes de Almeida, em São Paulo

Sabe-se que o Rio, assim como todo o país, tem um déficit habitacional crônico — somente na Região Metropolitana, a demanda é de pelo menos 340 mil moradias, segundo dados da Pnad/IBGE compilados pela Fundação João Pinheiro. Da mesma forma, é de conhecimento público o estrago causado pelo tráfico de drogas no cotidiano da população fluminense. Por isso, não é difícil imaginar o tamanho da dor de cabeça quando esses dois problemas se juntam. É o que está acontecendo no coração da cidade, à vista de todos. Como mostrou reportagem do GLOBO, publicada no último domingo, quadrilhas de traficantes já controlam casarões ocupados por famílias de sem-teto no Centro. Essas construções passaram a funcionar como bocas de fumo, numa espécie de posto avançado dos negócios do tráfico, o chamado “estica”.

Diferentemente do que ocorre nas comunidades, onde bandidos se aproveitam da topografia local e do espaço público desordenado para estabelecerem suas trincheiras, essas bocas estão instaladas na cidade formal. Uma das ocupações, por exemplo, está localizada numa vila da Rua do Lavradio, na Lapa, região boêmia da cidade, frequentada por uma multidão todas as noites. Bem ao lado do Tribunal Regional do Trabalho, perto de duas delegacias policiais e de um Ciep. Os “proprietários”, no caso, são traficantes do Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, que escolhem quem pode ou não morar nos imóveis invadidos. Policiais da 5ª DP (Mem de Sá) alegam que já prenderam mais de 80 pessoas no local e recorrem à surrada expressão de “enxugar gelo” para traduzir as ações de repressão ao comércio de drogas.

Essas bocas, em que maconha, cocaína e crack são vendidos livremente, às vezes com fila na porta, se estendem ao entorno de cartões-postais do Rio. Um dos casarões do tráfico fica na Rua Joaquim Silva, próximo aos Arcos da Lapa e à escadaria Selarón. Controlada por traficantes do Morro do Fallet, em Santa Teresa, a venda de drogas no local envolve adolescentes e até crianças.  Em geral, as condições encontradas nesses casarões não são muito diferentes daquelas que levaram ao incêndio e à queda do Edifício Wilton Paes de Almeida, no Centro de São Paulo, na madrugada de 1º de maio. Moradores explorados por ditos movimentos de sem-teto, prédios com fiações expostas, feitas ilegalmente, acúmulo de material inflamável como madeira e papelão, inexistência de sistemas contra incêndio etc. E com um agravante: agora tendo o tráfico como síndico.

Na verdade, essa situação é fruto da desordem, do desleixo com as ocupações, da vista grossa para “movimentos sociais" que exploram a miséria e da ineficácia do poder público na busca de soluções para a falta de moradia. Projetos como a demolição do antigo prédio do IBGE, na Mangueira — que chegou a ser ocupado pelo tráfico — para dar lugar a um conjunto habitacional estão no caminho certo, mas ainda são incipientes. Era preciso transformar a exceção em regra.

Editorial - O Globo