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segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Dia das Crianças - Nas entrelinhas

Passou da hora de as crianças terem uma vida quase normal, o confinamento doméstico prejudica o desenvolvimento infantil, ainda mais com o liberou geral do celular e eletrônicos

Vivemos tempos sem beijos nem abraços, entre amigos, familiares e até mesmo os amantes. A vida virou uma roleta-russa, todo dia chega uma notícia triste de alguém que morreu e, em maior número, para nossa alegria, das pessoas queridas que sobreviveram à Covid-19. O isolamento social está sendo quebrado à medida em que a taxa de transmissão da doença diminui e as pessoas ficam mais confiantes de que podem desenvolver certas atividades essenciais, com os devidos cuidados. Todos torcem pela vacina eficaz, chinesa, russa, inglesa ou norte-americana, e se arriscam um pouco mais.

Tempos darwinistas sob todos os pontos de vista: sanitário, econômico, social. A sobrevivência humana não está ameaçada, muitos tiram a doença de letra, como se fosse uma “gripezinha”, mas a capacidade de adaptação às contingências do momento é mais importante do que a resistência física de cada um para sobreviver à pandemia. Para isso servem a ciência e a consciência humana. Como diz o ditado, cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém. Depois de tanto tempo, as comorbidades começam a se tornar um problema muito grave, porque as pessoas deixaram de ir ao médico e ao dentista, reduziram as atividades físicas, alimentam-se por ansiedade, adiaram ou interromperam tratamentos, subestimam pequenos sintomas, enfim, não dão importância aos sinais que o corpo nos envia. E têm os nervos à flor da pele, o que agrava conflitos familiares e problemas psicomentais.

Mas, há muita esperança e fé. Amanhã é dia das crianças, os clubes estão abrindo para recebê-las em relativa segurança, apesar da pandemia. Os templos também promovem cultos, recebendo as famílias com maior ou menor distanciamento social, dependendo da fé na ciência de cada padre ou pastor. Criança é sinônimo de futuro. As escolas, porém, estarão fechadas. Desperdiçam a oportunidade de virar o jogo, jogar todos para cima. Por um desses mistérios da criação, desculpem-me o trocadilho, crianças têm menos vulnerabilidade ao coronavírus, quando não têm comorbidades, é claro; porém, podem ser agentes transmissores da doença, porque geralmente são assintomáticas quando contaminadas, dizem os especialistas. Por causa disso, os adultos estão com inconfessável medo das crianças, isso é um problema.

Azedo, você não vai escrever sobre as crianças?

A pergunta foi feita por um amigo querido, o pediatra carioca Ricardo Chavez,  parceiro de muitos blocos e passeatas, preocupado com o fato delas não estarem frequentando a escola. Entre os primeiros a defender o isolamento social, avalia que já passou da hora de as crianças terem uma vida quase normal, o confinamento doméstico prejudica o desenvolvimento infantil, ainda mais com o liberou geral do celular e outros equipamentos eletrônicos. Mandou-me um artigo excelente sobre o tema, da colega Ruth de Aquino, de quem foi um dos interlocutores, que recomendo. Repassei o texto e a pergunta para outro amigo querido, Luciano Rezende, prefeito de Vitória, que conclui o segundo mandato com reconhecido êxito administrativo e zero escândalos em oito anos. Médico também, respondeu-me dizendo a mesma coisa. Seu problema é convencer diretores de escola, professores e pais de alunos, na rede pública.

Pacto perverso
De memória, porque emprestei o livro e não me devolveram ainda, lembro de certa passagem de A quarta revolução (Portfólio/Penguin), de John Micklethwait e Adrian Wooldridge, sobre a desilusão da sociedade com os governos. O Ocidente está ficando para trás. Não se trata da chamada indústria 4.0, como o título induz, mas da necessidade de uma nova revolução política para reinventar o Estado. Vivemos uma corrida em busca de eficiência e eficácia, não apenas nas inovações tecnológicas. Estão em jogo os valores políticos que triunfarão no século XXI. Vem daí a tensão no mundo entre forças reacionárias e democráticas.

Quando o livro fala dos lobbies corporativos, cita dois exemplos da Califórnia. O dos agentes penitenciários, focado na luta contra a violência e a criminalidade, que conseguiu endurecer a legislação e multiplicar o número de presídios e a população carcerária, sem reduzir a violência, é claro. E o dos professores, que têm muito mais poder de pressão sobre os políticos, porque conseguem mobilizar os pais de alunos. Pesquisando, vi que em abril do ano passado, por exemplo, pais de alunos de São Francisco promoveram uma campanha para arrecadar fundos para uma professora, após descobrirem que ela, além de lutar contra um câncer de mama, pagava seu próprio substituto na escola. O relato do caso no San Francisco Chronicle gerou indignação em escala nacional, chegando ao Senado. Ao jornal The Washington Post, Eric Heins, presidente da Associação dos Professores da Califórnia, denunciou que o sistema de financiamento da educação sobrecarrega os professores e não os poupa, nem mesmo em momentos críticos, como períodos de doença grave.

Desde 1970, na Califórnia, o acordo coletivo dos professores garante 10 dias de folga para tratamento de saúde, que podem ser prorrogados por mais 100 dias, mas são descontadas do salário as despesas com o substituto, entre US$ 174 e US$ 240 a diária. Um educador infantil recebe por mês, em média, US$ 4.931,67; um professor primário, US$ 4.971,67; no ensino médio, US$ 5.138,33. Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em relatório de terça-feira passada, no ensino infantil brasileiro os professores receberiam por mês o equivalente a US$ 2.063,75; 
no primeiro grau do ensino fundamental, US$ 2.083,75; e no segundo, US$ 2.089,33. 

A alta do dólar, com certeza, distorceu esses números. O piso do Fundeb é de R$ 2.886,24, sendo que apenas 11 estados cumprem essa regra, segundo o Dieese. No câmbio oficial, isso equivale a US$ 521,04. Por isso, desconfio que as nossas escolas públicas já não estão fechadas por causa da pandemia; estão sem aulas por causa dos salários e, em muitos casos, das condições em que se encontram. Quem paga o pato são as crianças.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense


domingo, 12 de abril de 2020

O bêbado e a borboleta - Nas entrelinhas

“Desafiar o novo coronavírus se tornou uma espécie de obsessão para o presidente da República, que se comporta como quem adquiriu imunidade contra a doença

No livro O revólver que sempre dispara (Casa Amarela), Emanuel Ferraz Vespucci analisa as causas, os comportamentos e as consequências para a saúde de diversas dependências químicas, inclusive o alcoolismo e o tabagismo. É um livro despido de preconceito e, do ponto de vista clínico, como não poderia deixar de ser, serve de referência para os que lidam com o problema: usuários em busca de tratamento, seus familiares e terapeutas. O livro explica de maneira clara como as diversas drogas causam dependência física e psicológica, os problemas que acarretam e as maneiras de enfrentá-los, sem moralismo. A perda de controle sobre o álcool, a cocaína, o crack, a maconha, morfina, calmantes, inibidores de apetite e outros psicotrópicos é um problema muito mais amplo do que se imagina.

A dependência funciona como uma roleta russa. Em algum momento a bala que está no cilindro do revólver será disparada, na medida em que o sujeito arrisca mais uma vez. Ou seja, o acaso tem um limite, quanto maior a frequência, maior a probalidade de ocorrência. Por causa da dependência, algo grave acontecerá na vida da pessoa, pode ser um acidente de carro, a perda do emprego, um surto psicótico, um infarto. 

O que interessa aqui é a analogia da roleta-russa, ou seja, do revólver que sempre dispara. Durante a pandemia de Covid-19, por causa do risco de contaminação, sair de casa é uma espécie de roleta russa, mesmo que a pessoa utilize máscaras e luvas. Acontece que o presidente da República — com o objetivo declarado de desmoralizar a política de distanciamento social preconizada pelas autoridades médicas, inclusive seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e responsabilizar governadores e prefeitos pela recessão econômica — resolveu sair às ruas com frequência e, nesses passeios, visitar o comércio local para estimular proprietários e consumidores a manterem uma vida normal. Bolsonaro ignora uma epidemia que está matando mais de 100 pessoas por dia no Brasil, o equivalente a um desastre de grandes proporções.

Desafiar o novo coronavírus se tornou uma espécie de obsessão para o presidente, que se comporta como quem adquiriu imunidade contra a doença, como acontece com aqueles que já foram contaminados, se recuperaram e adquiriram anticorpos ou que, por qualquer outra razão, têm uma sistema imunológico mais robusto, geralmente mais jovens. Não se sabe se o presidente está imunizado; ele se recusa a revelar os resultados dos exames que fez. Bolsonaro age como um jogador compulsivo, o que não deixa de ser uma dependência, sem levar em conta que a maioria das pessoas não está preparada para lidar com o aleatório.

Teoria do caos
É aí que chegamos a O andar do bêbado (Zahar), o instigante livro do físico Leonard Mlodinow, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, sobre o acaso na vida das pessoas, ou melhor, sobre como funciona a aleatoriedade. O novo coronavírus se multiplica como um “Efeito Borboleta”, descoberto em 1960, pelo matemático Edward Lorenz, base para a Teoria do Caos. Mostra como pequenas alterações nas condições iniciais de grandes sistemas podem gerar transformações drásticas e significativas.

Lorenz, que também era meteorologista, realizava cálculos relacionado a padrões climáticos num computador. Em vez de colocar 0,000001, conforme fez na primeira vez, ele colocou 0,0001, alterando completamente o resultado da simulação, como se o bater de asas de uma borboleta na Austrália provocasse um furacão no Caribe. Foi o que aconteceu com o coronavírus na Alemanha e na Coreia do Sul, países que mais bem monitoraram a epidemia e conseguiram mantê-la sobre controle, com testes em massa e hospitalização dos contaminados. No primeiro caso, bastou que uma pessoa contaminada usasse o saleiro num almoço de família para a epidemia se propagar; no segundo, um único paciente, de 30 casos confirmados, escapou do isolamento e disseminou a doença.

Na Sexta-feira da Paixão contabilizamos 1.056 mortes e 19.638 casos confirmados, 44 dias após o primeiro caso registrado no país e 24 dias depois do registro da primeira morte. São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará e Amazonas estão em risco de colapso do sistema de saúde pública. Numa hora em que o país precisa de coesão social e alinhamento das políticas de combate ao novo coronavírus, para evitar o colapso do sistema de saúde, Bolsonaro aposta na autoimunizaçao pelo contagio e num medicamento de eficácia limitada nos tratamentos, a hidroxicloroquina, para evitar as mortes, e prega a retomada imediata das atividades econômicas, com adoção do chamado isolamento seletivo ou vertical. Essas apostas foram feitas em outros países, como os Estados Unidos, Inglaterra e Japão, e fracassaram.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense




terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Planalto avalia que crise da Venezuela vai longe



Os acontecimentos do final de semana deixaram no Planalto uma má impressão sobre Juan Guaidó. Avalia-se que o presidente interino da Venezuela superestimou o potencial da oposição a Nicolás Maduro, subestimando suas dificuldades. Não avançou um milímetro. E ainda montou o palco para que o rival Maduro exibisse uma capacidade de reação que consolida sua aparência de encrenca de longa duração. Na fabulação de Guaidó, legiões de venezuelanos iriam à fronteira com a Colômbia e o Brasil. Sublevados, inibiriam a ação repressiva dos soldados e milicianos a serviço de Maduro. Os caminhões com a comida e os remédios do socorro humanitário chegariam ao seu destino. E haveria uma deserção em massa de militares. Coisa com potencial para trincar a aliança de Maduro com as Forças Armadas venezuelanas.

Deu-se tudo ao avesso. No sábado, havia mais voluntários em Caracas dispostos a enfrentar uma hora e meia de discurso de Maduro do que revoltosos na fronteira com disposição para fugir de balas perdidas. Caminhões e camionetas não chegaram ao outro lado. Inocentes foram passados nas armas ou ficaram feridos. As deserções de militares venezuelanos são contadas, por ora, em menos de duas centenas. E não escalaram o oficialato. No domingo, quando os operadores militares do Planalto esperavam que Juan Guaidó exibisse sangue frio e serenidade, o autoproclamado presidente interino da Venezuela subiu o tom. Na véspera da reunião do Grupo de Lima, encareceu aos países aliados que passem a considerar "todos os cenários possíveis". O flerte com a intervenção militar externa foi visto em Brasília como evidência de fragilidade.

Nesta segunda, ao discursar no encontro do Grupo de Lima, na Colômbia, Guaidó repetiu que é hora de considerar "todos os cenários internacionais possíveis". Ele foi ecoado pelo vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence: "O presidente Donald Trump já deixou claro: todas as opções estão sobre a mesa." Conforme havia sido noticiado aqui, o vice-presidente Hamilton Mourão, que discursou em nome do Brasil, exorcizou a opção bélica. Desancou a ditadura de Maduro. Mas defendeu a busca de saída pacífica para a crise. Em entrevista, pregou a abertura de canais de diálogo com os militares venezuelanos. Reiterou a ideia de abrir uma porta de emergência, para a fuga de Maduro e seu séquito.

A opção pacífica do Brasil prevaleceu. Em comunicado subscrito por dez dos 14 países que integram o colegiado, o Grupo de Lima anotou que a transição democrática na Venezuela deve ser conduzida "pacificamente pelos próprios venezuelanos". Tudo pelas vias políticas e diplomáticas, "sem o uso da força." As palavas de Mourão no encontro desta segunda ajudam a entender porque o Planalto considera que a crise pode ser longeva. Ex-adido militar do Brasil em Caracas, o vice-presidente disse que a Venezuela compra equipamentos militares "sofisticados" desde 2009. Acumula "considerável capacidade ofensiva". Militarizou parte da população, por meio de "milícias ideologizadas". Nesse contexto, Maduro considera-se invulnerável.





 

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

INsegurança Pública no DF - Em três dias, quatro mulheres são vítimas de violência no Distrito Federal - com certeza este número é bem maior

Os casos mais recentes de violência no Distrito Federal tiveram mulheres assassinadas ou feridas por bandidos com armas de fogo ou facas. Em abordagem na 408 Sul, psicóloga levou um tiro no peito, mas sobreviveu

Três mulheres morreram e uma ficou gravemente ferida em crimes praticados entre o último sábado e ontem no Distrito Federal. No mais recente deles, a Polícia Civil suspeita que um policial militar matou a namorada e, depois, cometeu suicídio na casa do casal, na Quadra 11 do Morro Azul, em São Sebastião. O caso é investigado pela 10ª Delegacia de Polícia (Lago Sul). O corpo da vítima foi encontrado no quarto. O do militar, que fazia curso de formação de praças da corporação, estava no corredor.

A violência contra mulheres também resultou na morte de uma jovem de 18 anos no Gama. Na madrugada de terça-feira, ela levou um tiro na cabeça. O autor do disparo, segundo a polícia, é o namorado. Ele foi preso com um comparsa quando tentava fugir para Valparaíso (GO). Samambaia também virou palco de feminicídio — o DF registrou nove entre janeiro e junho do ano passado e 19 em 2016 —, no qual um homem matou uma vizinha com facadas na cabeça e no pescoço. O crime aconteceu na rua, e o autor se entregou ontem. Ele contou à polícia que sofria ameaças da vítima, identificada como Anne Mikaelly. No dia do crime, ela teria soltado fogos para anunciar a morte do acusado e da família dele.
 
No Plano Piloto, uma mulher de 54 anos reagiu à abordagem de um criminoso na 408 Norte e levou um tiro de pistola calibre 40 no peito. Ieda Maria Neiva Rizzo entrava no carro, no estacionamento entre os blocos A e B, no momento em que um bandido a surpreendeu. O crime ocorreu na noite de segunda-feira. Segundo a vítima, o suspeito teria ameaçado estuprá-la. 

Psicóloga sofreu ameaça de estupro
Familiares reforçam a tese de tentativa de estupro no caso da mulher baleada na 408 Sul após reagir à abordagem de um criminoso. A psicóloga Ieda Maria Neiva Rizzo, 54 anos, levou um tiro de pistola calibre 40, à queima-roupa, no peito. A bala quebrou o externo e quatro costelas e parou em um dos pulmões da vítima, que sobreviveu ao disparo. “A única preocupação dela era com a vida e a integridade física. Ele disse que ia estuprá-la e matá-la. Ela queria sobreviver”, disse ao Correio o irmão de Ieda, o policial civil André Rizzo. Apesar disso, a Polícia Civil investiga o caso como tentativa de latrocínio.
 
Paramédicos levaram Ieda para o Hospital de Base do Distrito Federal. Ontem, ela foi transferida para o Hospital Daher, no Lago Sul. Para o irmão, “ela sobreviveu por um milagre”. “A gente sabe que, infelizmente, a Ieda foi mais uma. É o preço que pagamos por um país que vive em uma inversão de valores. Ontem, foi a minha irmã. Essa noite serão mais quantas? Ela teve uma proteção divina. Sou policial civil e sei o potencial lesivo de uma pistola calibre 40. Ela tomou um tiro covarde, desnecessário, de um bandido que não tem o menor respeito pela vida humana. O ato dele representa, simplesmente, a certeza da impunidade”, desabafou.
 
Antes de atirar, o criminoso deu um soco na vítima, que tentava se desvencilhar para fugir. “Quando recebi a ligação, achei que fosse trote. Quando cheguei ao local e vi a quantidade de sangue no chão e vi a cápsula de uma pistola calibre 40, o meu mundo acabou. Achei que ela estaria morta. Ela está chamuscada pela explosão da pólvora. Foi um tiro à queima-roupa”, revoltou-se.

O adjunto da 1ª Delegacia de Polícia, delegado José Ataliba Neto, se apoia nas características do crime para sustentar a tese de tentativa de latrocínio. Para ele, o criminoso queria o carro, um Nissan Kicks preto. “Não houve nenhum ato que caracterizasse tentativa de estupro. Toda a ação foi muito rápida. Geralmente, casos de abusos ocorrem em locais ermos, diferentemente da quadra”, ressaltou. Para ajudar na identificação do suspeito, a corporação divulgou as imagens capturadas pelos circuitos de segurança de prédios da 407 Sul e da 408 Sul. O homem filmado de camisa preta e boné e tênis brancos usa barba e teria entre 20 e 25 anos.

Na 408 Sul, agentes da PCDF passaram a manhã de ontem coletando imagens dos prédios residenciais, tomando depoimentos de moradores e refazendo os possíveis passos do criminoso. As gravações do circuito interno de segurança de um dos prédios mostram que, após dar o tiro no peito da psicóloga, o bandido seguiu em direção à 407 Sul. O local do crime fica próximo à Divisão de Controle de Denúncias da Polícia Civil (Dicoe).
Dono da Banca da 408 Sul e também morador da quadra, Ubirajara Leandro de Souza, 62 anos, disse que a vizinhança está assustada. “Ouvimos falar de arrombamento de um carro ou de outro. Agora, algo com tiro, não pensávamos que poderia acontecer”, afirmou. Moradores reclamam de falta de iluminação pública na região, prejudicada, principalmente, pelas árvores.

Policiamento é constante, diz PM
De janeiro a novembro de 2017, a Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social registrou, na Asa Sul, dois latrocínios e uma tentativa. No mesmo período do ano anterior, a polícia registrou cinco tentativas de roubo com morte. Segundo a PM, a Asa Sul recebe policiamento ostensivo a pé, de moto e com carros. O porta-voz da corporação, major Michello Bueno, destacou que a criminalidade está em queda, com taxas de homicídio estáveis e diminuição de 42% nos roubos a pedestres. “Estamos fazendo o nosso trabalho, mas o combate à violência passa por várias áreas, como a social, por exemplo”, argumentou. (LC) 

Morta com tiro na cabeça
Um dos casos de feminicídio mais recentes no Distrito Federal aconteceu na madrugada de ontem. Uma jovem de 18 anos morreu com um tiro na cabeça, após supostamente participar de uma roleta-russa com pelo menos duas pessoas. Segundo a Polícia Militar, o autor dos disparos seria o namorado dela. Os três estavam dentro de um carro, um Palio branco, quando o acusado, de 27 anos, atirou contra a moça. Palloma Lima chegou a ser atendida no Hospital Regional do Gama, mas não resistiu. 

Depois de a vítima ser baleada, os dois acusados a deixaram na unidade de saúde, sem acompanhamento. Em seguida, saíram em disparada com o veículo. Pacientes e acompanhantes que estavam no local chamaram a PM, que localizou os envolvidos em Santa Maria. De acordo com a corporação, eles seguiam com o carro em direção a Valparaíso (GO). Detidos, tanto o acusado de disparar contra Palloma quanto o cúmplice foram conduzidos à 20ª Delegacia de Polícia (Gama). 

O suposto namorado da vítima deve responder por homicídio, enquanto o motorista será indiciado por tráfico de drogas, porte de munição e favorecimento pessoal (quando ajuda outro a fugir). Caso se comprove que a jovem foi coagida a participar da suposta roleta-russa, a Justiça pode enquadrar o acusado também em crime de tortura (LV).
 
Polícia apura se PM matou a namorada
Agentes da 30ª Delegacia de Polícia (São Sebastião) investigam um possível caso de feminicídio no qual um policial militar teria matado a namorada e se matado em seguida. O crime aconteceu no bairro de Morro Azul, em São Sebastião. A vítima, Clésia Andrade, 28 anos, estudava licenciatura em dança no Instituto Federal de Brasília (IFB). Ela e o cabo Bruno Viana, 38, foram encontrados mortos, por volta das 14h30 de ontem, na casa onde a jovem morava com a família — um bar funciona no mesmo imóvel.

De acordo com a polícia, ambos tinham ferimentos provocados por arma de fogo. De acordo com a polícia, Bruno teria usado a arma da corporação, uma Taurus PT 100, calibre 40, para matar Clésia e, depois, se matar. Nesse momento, a mais nova das três irmãs da estudante, além de quatro crianças, estavam no estabelecimento comercial, que fica na entrada da residência. Segundo a Polícia Civil, uma delas era o filho de 8 anos da vítima, fruto de um relacionamento anterior. Nenhuma delas testemunhou o crime.

A mãe da jovem, dona do bar, viajou para São Paulo na segunda-feira e deixou Clésia e a filha mais nova cuidando do local. A mãe comprou uma passagem de volta para Brasília assim que soube da tragédia. No entanto, não havia chegado até a tarde de ontem, quando a perícia esteve no local. O pai da vítima também mora em São Sebastião e precisou ser hospitalizado ao saber do assassinato. Houve comoção na vizinhança. À tarde, familiares e amigos acompanharam a retirada dos corpos, separados por um cordão de isolamento. “Ela morava aqui desde criança, e a gente não sabia como era a convivência deles (do casal). Tudo o que sei é que tinham terminado recentemente”, contou um vizinho, que preferiu não se identificar.

Segundo o delegado Paulo Savio, plantonista responsável pelo registro preliminar da ocorrência, a irmã da vítima acionou a polícia ao ouvir os disparos. Em seguida, gritou por socorro ao avistar uma equipe da PM. “Nem ela nem as crianças foram testemunhas. Ao chegar, encontramos o corpo da jovem na porta da casa e o do policial na cama. Os dois foram mortos com um tiro na cabeça, mas ainda não sabemos as circunstâncias que levaram a isso. A perícia vai apurar o caso com a equipe do plantão”, afirmou Paulo.

A irmã de Clésia confirmou à polícia que estava no bar quando ouviu os tiros, mas não escutou gritos ou discussões. Segundo ela, o relacionamento de cerca de dois anos era de “idas e vindas”. Segundo o delegado, Bruno teria entrado no bar e dito que queria conversar com Clésia. Dessa forma, conseguiu acesso aos fundos do imóvel. A polícia trabalha com a hipótese de homicídio seguido de suicídio e aguarda o laudo pericial para concluir as investigações.

Perseguição
Apesar de não existirem ocorrências contra o policial militar, a irmã revelou que Clésia e a mãe pediram à Justiça uma medida protetiva. No entanto, ela não soube informar à polícia se a medida era cumprida ou não. Atitudes agressivas do PM foram relatadas pela amiga Mikaely Moura, 28. As duas se conheceram na escola, aos 7 anos, em São Sebastião. A empregada doméstica contou que Bruno tinha o costume de perseguir a vítima e que chegou a agredi-la em algumas ocasiões. As duas se viram pela última vez na sexta-feira passada. “Ele estava indo atrás dela o tempo todo, mesmo com a medida protetiva. Na última vez em que saímos, ela precisou ir escondida para que ele não soubesse”, comentou.

Correio Braziliense
 

 

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

JUSTIÇA IMPLACÁVEL e JUSTA - Mais um criminoso será executado na Indonésia



Rodrigo Gularte teve tudo do bom e do melhor. Agora está no corredor da morte na Indonésia
O brasileiro sonhava com festas, mulheres e drogas em Bali. Agora depende de uma improvável clemência para não ser fuzilado
O sonho do surfista paranaense Rodrigo Muxfeldt Gularte era morar em Bali, na Indonésia, pegar ondas o dia todo e viver rodeado por mulheres e amigos. Em busca desse objetivo, traçou um plano ousado: vender cocaína em um país que pune traficantes com a pena de morte. O retorno seria alto: quase US$ 500 mil como recompensa para levar 6 quilos de cocaína para Bali. Os devaneios de Rodrigo foram por terra em 16 de julho de 2004. Ao desembarcar em Jacarta, a capital da Indonésia, a aparelhagem de raios-X do aeroporto internacional, moderna e recém-adquirida, descobriu a droga, escondida em pranchas de surfe.

Preso e condenado à morte por fuzilamento, Rodrigo espera a execução no corredor da morte do complexo de prisões da ilha de Nusakambangan, conhecido como a “Alcatraz” da Indonésia. Os recursos judiciais praticamente se esgotaram e sobra-lhe a esperança de uma clemência para escapar da execução. Ele deve ser o segundo brasileiro condenado à morte a ser executado no mundo. O primeiro, o carioca Marco Archer, também condenado por tráfico de drogas no país asiático, foi fuzilado em pé e de olhos vendados em 17 de janeiro. Seus pedidos de clemência foram negados, apesar dos apelos do governo brasileiro. [O último pedido de clemência a que Gularte tinha direito foi devida e merecidamente negado pelo presidente da Indonésia.]

Nascido em Foz do Iguaçu, filho de Rubens Borges Gularte, um renomado médico gaúcho, e Clarisse Gularte, herdeira de uma tradicional família de latifundiários produtores de soja, Rodrigo sempre teve tudo do bom e do melhor. “O que ele queria, ele tinha, era só pedir”, diz Clarisse Gularte. “Ele era um anjo, tinha boas notas, estudava, era educado. Sonhávamos que seria médico, como o pai.” Como toda mãe zelosa, dona Clarisse culpa as “más companhias” pelo descaminho do filho. Aos 13 anos, em Curitiba, Rodrigo começou a usar drogas. Primeiro, fumou maconha. Depois cheirou solventes. Em pouco tempo já provara de tudo. Aos 18 anos, mesmo depois de ser preso por porte de maconha, ele ganhou um carro. Usou o presente para viajar pela América Latina com amigos, para beber e se drogar.

Enveredou então num frenesi de drogas, sexo e rock and roll. Patrocinado pela mãe, Rodrigo viajou pela América Latina, por Estados Unidos, África e Europa – sempre consumindo todo tipo de drogas. “Achei que essas viagens fariam bem, que ele ia espairecer, se livrar das más influências”, diz dona Clarisse. O resultado foi o oposto. Cada vez mais viciado, Rodrigo voltou em 1994 para Curitiba. Aos 24 anos, sem trabalhar nem estudar, notívago, Rodrigo se envolveu num grave acidente de trânsito depois de sair de uma festa, bêbado e drogado. Para evitar sua prisão, dona Clarisse internou o filho. 


Depois de seis meses de desintoxicação, em 1996, Rodrigo tentou mudar de vida. Tornou-se empresário, mas quebrou dois restaurantes. Em 1999, passou no vestibular de letras da Universidade Federal de Santa Catarina. No meio do curso, desistiu. Voltara a se encontrar com as “más companhias”. Entrou para o tráfico. Viajou para a Europa e para a América Latina trazendo na bagagem vários tipos de maconha. Em 2004, surgiu a oportunidade de levar as pranchas recheadas de cocaína para a Indonésia.

No afã de ganhar dinheiro fácil para concretizar seu sonho em Bali, Rodrigo não percebeu que traficar drogas no Sudeste da Ásia é brincar de roleta-russa. Traficantes podem encarar a pena de morte em sete dos 11 países da região. Na Indonésia, arquipélago com milhares de quilômetros de costas desprotegidas, o perigo ainda é maior. Estima-se que 45% das drogas em circulação na Ásia, vindas do chamado “Triângulo Dourado”, a região entre Mianmar, Laos e Tailândia, passem pela Indonésia.

Além de ser um centro de distribuição das drogas para vizinhos asiáticos e para a Austrália, o país se tornou o maior mercado de anfetamina, ecstasy e cocaína da Ásia. O governo indonésio afirma que quase 50 pessoas morrem por dia no país por causa do tráfico. “A questão das drogas é o maior problema social na Indonésia, e há um grande apelo para um combate firme dentro do país”, afirma Yohanes Sulaiman, professor de ciência política e relações internacionais na Universidade da Defesa da Indonésia. “Pode-se discutir a eficiência da pena de morte, mas essa é uma política que não vai mudar, venha o apelo de onde vier.” Em 1997, a Indonésia criminalizou o consumo e o porte de drogas e decretou a pena de morte aos traficantes. Desde 2007, 71 mil pessoas foram presas por suspeita de posse e tráfico de drogas. Quinze pessoas foram fuziladas por tentar entrar com drogas no país. Há 138 presos por tráfico – 55 são estrangeiros
. [a pena de morte pode não ser tão eficiente no combate ao tráfico de drogas. Mas, uma coisa é certa: cada  traficante executado é sempre um traficante a menos e sempre algum candidato ao tráfico desiste diante da certeza inarredável de que se pego, será fatalmente executado.]

O perfil dos estrangeiros presos na Indonésia por tráfico costuma ser igual. “São surfistas que viram no tráfico, em especial de cocaína, uma chance de se manter em Bali e viver uma vida de fantasia, pegando ondas, indo a festas e encontrando belas mulheres”, afirma Kathryn Bonella, uma jornalista australiana que escreveu o livro Snowing in Bali (Nevando em Bali), sobre o submundo das drogas na mais famosa ilha da Indonésia. “Eles viviam uma bolha de fantasia que não os permitia enxergar o risco do que faziam. Talvez a morte de dois ocidentais sirva de alerta.”

Marco Archer foi o primeiro ocidental a ser fuzilado na Indonésia. O holandês Ang Kiem Soe foi o segundo – no mesmo dia de Archer. Cinco fuzilamentos estão marcados para as próximas semanas. O de Rodrigo Gularte deve ser marcado para o fim de fevereiro. A última esperança da sua defesa é que a Justiça da Indonésia aceite os laudos psiquiátricos que dizem que ele tem esquizofrenia – diagnóstico que Rodrigo rejeita. Pelas leis do país, pessoas com problemas psicológicos não podem ser condenadas à morte. “Ainda temos essa última esperança, e vou me agarrar a ela com todas as forças”, diz dona Clarisse.
[quando cometeu o hediondo crime de tráfico de drogas, Rodrigo gozava de saúde perfeita. Portanto, era plenamente consciente e responsável pelo seu ato criminoso. Não tem sentido qualquer clemencia.]

É pouco provável que a Justiça da Indonésia aceite o pedido. Rodrigo desenvolveu problemas mentais depois da prisão. Nesses casos, segundo a ONG Death Penalty Worldwide, a lei na Indonésia permite a execução. Caso o último recurso também seja rejeitado, Rodrigo dependerá de uma improvável clemência presidencial. No fim do ano passado, o presidente Joko Widodo disse que havia 64 pedidos de clemência em sua mesa –  e que ele rejeitaria todos. 

Fonte: Revista Época