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quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Mensagens que a crise do Chile envia- Editorial


O Globo

Protestos violentos refletem um perigoso mal-estar social, apesar de avanços econômicos

A América do Sul costuma viver em ciclos. Houve o das ditaduras militares, vive-se agora o da bem-vinda redemocratização, em que se revezam governos à direita e à esquerda, com pedigree populista ou não. O importante é que os regimes garantam eleições minimamente livres, o que não acontece na Venezuela. 

Nos últimos meses, têm ocorrido manifestações violentas que denunciam um perigoso mal-estar social. No Peru, a sociedade acompanhou a desarticulação de um ramo do petrolão brasileiro, desvendado pela Lava-Jato, e as ruas serviram de campo de guerra durante um choque institucional entre o Executivo e o Legislativo; no Equador, a violência foi detonada pela revogação de uma só vez de subsídios aos combustíveis, e a Bolívia entrou na lista de crises, com a suspensão da contagem de votos da eleição em que Evo Morales tenta se reeleger pela quarta vez consecutiva. 

[a causa maior dos choques que estão ocorrendo nos países citados, incluindo o Chile, é que todos vem, ou passaram por algum processo, tentativas de consolidação da esquerda e esta contamina qualquer nação, o que exige as providências mais efetivas para a neutralização da esquerda.
A maior parte das nações começam, ainda que de forma gradativa,  a ter governos de direita - o predomínio da esquerda, felizmente sustado - só trouxe mazelas para as nações. A esquerda é um mal, uma erva daninha que tem que ser erradicada. Só assim o mundo entrará em um processo de melhora.
Os conflitos na América Latina não são exceção, apenas estão mostrando em primeiro lugar, o resultado da tragédia que é ser governado pela esquerda.]


O destaque é o Chile, cuja economia tem índices de razoável desenvolvimento. Por exemplo, um PIB per capita de US$ 25.200, contra US$ 16 mil do Brasil (calculados no conceito de “paridade do poder de compra”). Superadas uma hiperinflação e a violenta ditadura militar de Pinochet, o Chile foi conquistando avanços. 

O reajuste de tarifas de transporte público deflagrou a violência em Santiago e em outras cidades. Pela primeira vez desde 90, os militares saíram dos quartéis, agora chamados pelo poder constituído para restabelecer a ordem, dentro do estado de emergência decretado pelo presidente Sebastián Piñera. Também como qualquer outra explosão desse tipo, há causas que fermentam no subsolo social.

No momento, o Chile cresce pouco mais de 3%, abaixo da meta do governo, que é de 5% a 6%, mas, ainda assim, encontra-se em situação bem melhor que o Brasil. Apesar disso, há severas desigualdades na sociedade chilena.  A violência da crise chilena não deve servir para mais do mesmo: acirrar os conflitos entre “direita” e “esquerda”. A América Latina precisa deixar de ser prisioneira do pêndulo entre governantes que destroem as contas públicas em nome do combate à pobreza e os que fazem o necessário ajuste sem preocupações com salvaguardas sociais. 

No momento em que o Brasil executa reformas, deve-se provar que é possível ter responsabilidade fiscal e ao mesmo tempo dar aos mais pobres espaço para ascensão social. O controle da inflação já é uma condição imprescindível para o enfrentamento da pobreza. 

A construção de um projeto que distribua renda e oportunidades depende, porém, do enfrentamento de fortes corporações que atuam nos Três Poderes, para manter privilégios de toda sorte. Os recursos que são desviados por força de lei para esses grupos precisam ser aplicados em infraestrutura, educação, saúde, em setores que melhorem a qualidade de vida de toda a população. E pode ser feito sem populismos.

Editorial - Jornal O Globo, 24 outubro 2019


sábado, 17 de março de 2018

Sabe quem era Cláudio Henrique Pinto? Ele não era mulher, socialista, favelado, gay e negro. É só um cadáver sem pedigree

Sabe quem era Cláudio Henrique Pinto? Ele não era mulher, socialista, favelado, gay e negro. É só um cadáver sem pedigree



Rodrigo Maia é o político mais desleal que conheci desde que acompanho política, há mais de 40 anos. Agora explora um cadáver

Acompanho política desde os 14 anos — fazer o quê, né, gente? Cada um com as suas esquisitices… Jamais conheci político com a deslealdade desabrida de Rodrigo Maia (DEM-RJ). E raramente vi gente tão equivocada ser tão saliente. Não deixa de ser um sintoma desses dias. Até agora, a sua obra mais notável foi quase ter levado seu partido à extinção quando lhe foi passado o comando. Poderia aqui fazer o histórico de suas tolices passadas, mas, convenham, que importância teria?
 
Fico com o Maia do presente.
Até um dia antes da morte de Marielle Franco, o presidente da Câmara mostrava-se um defensor da intervenção. Afinal, a ação conta com o amplo apoio da população do Rio. Como ele vai se candidatar à reeleição para deputado — ou alguém leva a sério a candidatura à Presidência do “neonordestino”? —, cumpre não queimar o filme com o eleitorado. Num primeiro momento, ele ameaçou reagir porque, sabe-se lá por qual motivo, achava que o presidente deveria ter antes pedido a sua autorização… Mas logo resolveu se ater à voz do povo.

Com o assassinato de Marielle, ele passou a disparar críticas à ação do governo. E o fez da forma mais vil e asquerosa possível: afirmou, informa o Painel, da Folha, que o crime é resultado da “falta de planejamento” da operação, que passou a considerar açodada. Vale dizer: Maia se junta ao PSOL, ao PT e às esquerdas, tentando ver se consegue ser aceito por aqueles que o detestam e que o vaiaram sem nenhuma solenidade na sessão da Câmara que homenageou a vereadora morta.

Maia é politica e intelectualmente despreparado. Suas ações são fruto daquilo que foi aprendendo na prática. Não é o único. Há muito o Congresso brasileiro, na média, com as exceções conhecidas, está mais para Escolinha do Professor Raimundo do que para a Academia de Platão. E o presidente da Câmara não se encontra entre aqueles que encheriam Raimundo Nonato de orgulho…

Mas a deslealdade e feita de outro material. Nada tem a ver com a formação intelectual. Nada tem a ver com a inteligência. Lealdade é traço de caráter. Mais: este senhor tem alguma grave distorção na formação do superego, que, no dia a dia, costuma dar às pessoas o senso de ridículo. Eu sempre sou tentado a vê-lo como um caso psicanalítico, ainda mais que tem um pai chamado “Cesar”, notavelmente mais inteligente, mais culto e mais idiossincrático do que ele próprio, que nunca o escolheu como herdeiro político e que, neste momento, faz pouco caso aberto de sua suposta ambição presidencial.

Acabo de ler um texto sobre uma expedição de reconhecimento que o rapaz está fazendo no Nordeste. Foi encontrar alguns parentes distantes na Paraíba.
— Muito prazer, Paraíba, eu sou Rodrigo Maia! — Prazer, Rodrigo Maia! Eu sou a Paraíba.
Comeu carne de bode, mas não cavalgou o jegue. E, está dado, jamais irá cavalgar o Pégaso.

Imposto sindical
Há dois dias, seus aliados tentaram ressuscitar o malfadado Imposto Sindical. Dessa matéria é feito o liberalismo do DEM. É que a gente ficou sabendo, em entrevista recente, que o partido está disposto a descobrir o seu “lado social”, mais ou menos como Maia tenta descobrir o seu lado nordestino.
Muito prazer, social, eu sou Rodrigo Maia! — Prazer, Rodrigo Maia! Eu sou o social.
O presidente da Câmara seria um bom emblema da tragédia intelectual, da covardia e da falta de referências que colhe o chamado “centro político” não fosse ele, a esta altura, uma figura quase cômica. Mas de uma comicidade triste, aborrecida, acabrunhada, como ele próprio. Chegou à Presidência da Câmara com o apoio do presidente Michel Temer, sim, a quem tentou golpear mais de uma vez. E o faz agora, de novo, na ânsia por espaço e por protagonismo. No comando da Casa, resolveu ser reverente às esquerdas e a seus pleitos. E, agora, como se vê, estimula os ataques ao governo federal num momento extremamente delicado. A crítica é de uma irresponsabilidade assombrosa.

O destrambelhamento da Lava Jato, que fez o desfavor de ressuscitar o PT e que levaria à eleição de Lula não fosse o impedimento determinado pela Justiça, só prosperou e fez história porque encontrou pela frente valentes como este senhor.
Há muito tempo a deslealdade marca a sua atuação. Desta feita, no entanto, ele foi longe demais. Afinal, há um cadáver ilustrando a sua fala covarde.

Blog do Reinaldo Azevedo 

LEIA TAMBÉM: Artigo de Singer, do PT, sobre Marielle vê falência da democracia e ajuda a explicar parte do ódio em curso ao partido e a Lula