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domingo, 2 de janeiro de 2022

Larry Bird, Magic Johnson e 2022 - Revista Oeste

Ana Paula Henkel

Best of Enemies não só mergulha na rivalidade que tornou os jogos entre os dois times espetaculares, mas mostra como a atual sociedade emburreceu

Mais um ano chega ao fim. Como de costume, durante a última semana do ano, meus filhos e marido perguntavam sem parar o que eu gostaria de ganhar de presente de Natal. Pensei, pensei e, finalmente, na sexta-feira dia 24 encontrei o presente perfeito. Depois de ligar para a minha família no Brasil na noite de Natal e desejar uma noite abençoada, desliguei o telefone. Não, não apenas me despedi e desliguei a chamada, desliguei o telefone. Deslizei o dedo pelo botão que aparecia para mim na tela: “TURN OFF”. Puf. Tela escura e desligada. E assim ela permaneceu — em OFF — até o domingo dia 26 à noite. Dois dias inteiros sem WhatsApp, sem redes sociais, sem notícias… Foi o melhor presente que eu poderia ter me dado nos últimos anos.

       Dividida entre Larry Bird e Magic Johnson - Foto: Reprodução/NBA 

Apostas sobre em quanto tempo eu ligaria o telefone foram feitas em casa e, diante da minha tranquilidade em não querer por um segundo ligar o telefone, no sábado à tarde, marido, enteada e filho resolveram fazer o mesmo. E a mágica aconteceu! Durante dois dias inteiros, o tempo pareceu passar mais devagar. Tortas de maçã, biscoitos e bolos foram feitos. Velas e mais velas cheirosas foram acesas, vinhos e bebidas foram degustados — e não apenas ingeridos —, jogos de tabuleiros foram jogados e muitas risadas foram dadas. 
E filmes, muitos filmes foram vistos, desde os clássicos It’s a Wonderful Life e Cantando na Chuva, até clássicos recentes como Gran Torino e Interestelar. E esse foi o melhor presente que os meus filhos e meu marido poderiam ter me dado nos últimos anos.

Dentre as muitas boas horas de filmes e séries a que assistimos juntos, um programa chamou a atenção de todos nós, e acabou alimentando um debate pertinente, saudável e importante em casa. A importância de dar importância ao que é realmente importante. Pode parecer uma frase redundante, mas um documentário sobre a clássica rivalidade entre Boston Celtics e Los Angeles Lakers, times da NBA, acabou trazendo uma boa reflexão a todos. Antes de mais nada, para os amantes do esporte, como eu, “Celtics/Lakers: Best of Enemies” mergulha na rivalidade que tornou os jogos entre os dois times nos anos 1960 e 1980 não apenas espetaculares, mas históricos.

Os rivais Larry Bird e Magic Johnson | Foto: Divulgação/NBA

A saga do “Fla x Flu” do basquete profissional norte-americano mostra como Magic Johnson, Larry Bird, Kareem Abdul-Jabbar, Cedric Maxwell, James Worthy, Kevin McHale e muitas outras lendas mudaram o jogo para sempre. No entanto, as quase cinco horas de pura imersão no universo do esporte profissional não contam apenas a história de uma rivalidade esportiva como outras pelo mundo. Para quem gosta de análises estratégicas detalhadas de jogos clássicos, Best of Enemies  preenche esse requisito com muitas imagens estonteantes e muitas entrevistas internas cheias de detalhes. Mas a série vai além disso.

Em muitos momentos, o documentário também desnuda várias nuances da psicologia humana e de como a atual sociedade, tão polarizada política e intelectualmente, emburreceu e retrocedeu no campo da civilidade e do amadurecimento emocional. Não sei se os mais jovens sentirão certa nostalgia doída de quem viveu nos anos 1980 e 1990, quando o esporte dividia as tribos pelas cores dos uniformes de seus times, e não pela cor da pele ou pelas posições políticas, mas há muito o que ser explorado ouvindo homens de fibra.

Obviamente, a questão racial não é excluída da série. Especificamente, Best of Enemies aborda o assunto, tanto no preconceito intelectualizado de alguns repórteres esportivos — que elogiavam as virtudes do “basquete fundamental” (dos brancos) versus o “estilo playground” (dos negros) —, quanto nas tensas relações raciais dentro de Los Angeles e Boston. O diretor, Jim Podhoretz, também não esconde os problemas do mundo real que obscureciam o jogo, como drogas, mas foca em sua maior atração: o Boston Celtics liderado por Larry Bird e o Los Angeles Lakers liderado por Magic Johnson. Entre 1980 e 1989, o Lakers chegou às finais do Oeste oito vezes e conquistou cinco campeonatos, enquanto o Celtics representou o Leste cinco vezes, vencendo três finais. As duas equipes se enfrentaram apenas três vezes — em 1984, 1985 e 1987 —, mas cada série cativou a nação de maneira marcante até hoje, gerando personalidades e histórias que ajudaram a estabelecer a NBA como um verdadeiro passatempo nacional, pouco antes da chegada de Michael Jordan ao Chicago Bulls, época em que o jogo e a liga foram catapultados para outro nível.

O documentário, além de apresentar um elenco fabuloso de personagens que mudariam a NBA e abririam a mente coletiva da América, revive a década de 1980 com Larry Bird, Magic Johnson e todo o drama dessa época de ouro da NBA. O Celtics de Bird e o Lakers de Magic se enfrentaram por quatro anos até o encontro épico da final em 1984. Sem maiores spoilers, a última parte da série mostra as páginas logo depois das emocionantes finais da NBA de 1984 e, em seguida, explora a saga de 1985 a 1987 e como a rivalidade acabou solidificando, gradualmente, o respeito entre seus personagens. Ao final da última batalha, em 1987, enquanto ainda havia muita animosidade, eles também desenvolveram uma reverência mútua e profunda.

Há momentos preciosos na série, de lições valiosíssimas de humildade, decepção, tristeza, superação. Há frases que, normalmente ditas por palestrantes ou os chamadoscoaches, caem numa certa pieguice das platitudes de autoajuda. Mas quando são ditas — e acompanhadas de imagens espetaculares — por Magic Johnson, por exemplo, a reflexão é inevitável: “Autoavaliação é difícil, mas você tem de ser honesto consigo mesmo. Tive de entender que não era tão bom quanto pensava que fosse”.

O esporte, assim como o mundo, mudou muito com a tecnologia, com o acesso em tempo real a informações que podem mudar o rumo de uma partida ou o destino de um atleta. Programas de computação aplicados a treinamentos e jogos podem fazer toda a diferença. O talento individual e a incansável dedicação não são mais as únicas vias para o sucesso no âmbito do esporte profissional. Muito pode ser ensinado e desenvolvido em tempo recorde nos dias de hoje. No entanto, há talentos incrivelmente pertinentes a esse mesmo âmbito que não podem ser ensinados. Eles normalmente são pontos genéticos ou traços que foram desenvolvidos por meio de experiências importantes ao longo da vida. Estou falando do que esses líderes e rivais tinham em comum: acessibilidade, carisma, determinação com os pés no chão. Mesmo que pudesse haver o debate racial entre negros e brancos, a NBA dos anos 1980 mostrou que isso era secundário, que a espinha dorsal de união e paixão pelo esporte seguia seu caminho com propósito, como lembra Cedric Maxwell, ex-jogador do Celtics no documentário: “Depois de seu terceiro campeonato e terceiro MVP, o respeito por Larry Bird não podia ser negado. Quando vi a foto de Larry em uma barbearia de negros, disse — ele realmente cruzou a linha! Você via Jesus, Malcom-X, mas não uma foto de Larry Bird em uma barbearia de negros!”.

Nos anos 1950, ainda sob as leis raciais em muitos Estados, foi o esporte que abriu portas para a extinção das vis políticas segregacionistas

Em 2021, vimos, mais uma vez, as plataformas sociais — mesmo com todo o apreço que podemos ter pela democratização de opiniões através delas — terem um papel vital na segregação vil e ignorante da atual sociedade. Vimos esses espaços supostamente democráticos usando o esporte, um campo em que diferenças são abandonadas, em especial durante os Jogos Olímpicos, sofrer incansáveis tentativas de sequestros e desvirtuações. Qualquer desavença política ou diferença religiosa sempre foram tratadas como coadjuvantes no campo esportivo. Não importa se na NBA ou nas Olimpíadas, o roteiro fiel ao esporte sempre foi de histórias de superação e respeito, recheadas de enredos dramáticos com derrotas e vitórias espetaculares. A celebração na excelência atlética.

Larry Bird, Michael Jordan e Magic Johnson | Foto: Divulgação/NBA

Mas o que mudou? Infelizmente, já há alguns anos, algo vem atingindo o espírito esportivo. E isso vem sendo demonstrado da maneira mais estúpida possível, por uma sociedade repleta de analfabetos olímpicos e personalidades hedonistas. Depois de alguns anos e uma pandemia global que trouxeram não apenas a banalização da história e suas palavras, até quando vamos seguir com a politização de tudo? O esporte já dava sinais de que não ia escapar à “idiotização” política, com frases do Black Lives Matter sendo repetidas por atletas importantes, ou a visão distorcida e triste de jogadores em campeonatos como a NBA se ajoelhando — literalmente.

Nos anos 1950, ainda sob as leis raciais em muitos Estados norte-americanos, foi o esporte — mais uma vez — que abriu portas para a extinção das vis políticas segregacionistas. E a NBA foi parte fundamental nisso. Em uma sociedade em que movimentos como o Black Lives Matter usam o terrorismo e a violência contra negros e brancos para propagar suas ideias e demandas, em que políticos plantam a segregação racial ou em que ligas esportivas e atletas são sequestrados por grupos ideológicos, é gratificante assistir a um documentário como Celtics/Lakers: Best of Enemies. Ver a magnitude de uma obra que aborda a divisão racial de maneira madura, mas que também traz o melhor de todos nós, independentemente da cor da nossa pele ou de como votamos, não deixa de ser um sopro de esperança para 2022. Divisões sempre existirão, mas a vontade de fazer o correto pode sempre ser exaltada.

Em um ano em que o politicamente correto avançou de maneira violenta, linchando médicos, jornalistas e atletas que ousaram pensar fora das linhas da turba;  
em que o politicamente correto sufocou atletas femininas para proteger a injustiça de apoiar homens biológicos competindo com mulheres
em que o politicamente correto tentou nos obrigar a aplaudir a fraqueza de atletas egoístas que abandonaram suas equipes na última hora porque não conseguiram se manter sob os holofotes e não souberam olhar de frente para as adversidades, despeço-me de 2021 neste último artigo do ano com uma das frases finais de Magic Johnson no documentário: “Eu odiava o Celtics. Mas amei jogar, porque pude jogar contra Larry Bird e o Celtics. Nunca teria sido o jogador mais valioso (MVP), nunca teria sido o jogador que fui se não fosse por Larry Bird e o Celtics. Eles me fizeram alcançar a grandeza, a excelência. Nos anos finais dessa rivalidade entre Celtics e Lakers havia tantos afro-americanos que ovacionavam Larry Bird. Eles sabiam quão grande ele era. Não era sobre cor, sobre raça, era puro respeito por um cara corajoso”.

Que a boa e saudável divisão em 2022 volte, aquela em que a única raiva que tínhamos um do outro era por perder para rivais históricos no esporte. Enquanto isso não chega, que tal, como presente de ano novo, dois dias sem telefone? Recarregar sem estar plugado pode ser uma maneira antiga — porém eficiente — de dar valor ao que realmente importa. Obrigada pela companhia em 2021 e desejo um próspero 2022, com menos redes sociais e mais clássicos na TV. Happy New Year!

Leia também “A guilhotina do bem”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste

 

 

sábado, 26 de dezembro de 2020

Vereador bolsonarista de BH compartilha fuzil como presente de Natal e atribuiu conquista ao governo Bolsonaro

Sonar - O Globo

Segundo vereador mais votado de Belo Horizonte, Nikolas Ferreira (PRTB) compartilhou nas redes o seu presente de Natal deste ano: um fuzil. No vídeo, Nikolas faz propaganda de um serviço de entrega em residência do armamento e afirma que "graças ao governo Bolsonaro" é possível receber um fuzil como presente de Natal.

Nikolas Ferreira exibe fuzil como presente de Natal

"Já imaginou ganhar de Natal nada mais nada menos do que um fuzil, meu parceiro? Graças ao governo Bolsonaro você pode receber esse presentinho de Natal", diz o vereador, enquanto exibe a arma descrevendo o serviço. Ao seu lado, um amigo, que aparenta ser dono do negócio divulgado por Nikolas, diz: "Você recebe a sua arma na sua casa, é o Brasil do nosso presidente Bolsonaro". O vereador, então, continua: "isso aí não veio lá da favela nem nada, isso aqui tem documento certinho. Isso que o governo Bolsonaro está fazendo por nós, porque o preço da nossa liberdade é a eterna vigilância. A única coisa que para um homem mau com uma arma, é um homem bom com uma arma".

A agenda armamentista é promessa de campanha do governo Bolsonaro e prioridade da gestão presidencial. Recentemente, Bolsonaro zerou a alíquota de importação de pistolas e revólveres, o que na prática deixa o produto mais barato. A decisão, no entanto, foi derrubada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin. Entre os feitos de Bolsonaro sobre o tema nos últimos anos está o aumento do limite da compra de munição, a redução da burocracia para o porte e posse de arma de fogo e a revogação de portarias que facilitavam o rastreamento de armas e munição.

Em 2019, as políticas implementadas pelo governo federal provocaram um aumento na quantidade de armas de fogo no país. De acordo com dados da Polícia Federal (PF), 36.009 novos armamentos foram registrados entre janeiro e agosto, dos quais 52% ocorreram nos últimos três meses do período, após o presidente Jair Bolsonaro editar uma sequência de decretos sobre o tema.

Durante a campanha para vereador, Nikolas Ferreira recebeu o apoio explícito de membros da família Bolsonaro, entre eles o deputado federal Eduardo Bolsonaro, que chegou a compartilhar nas suas redes a candidatura de Nikolas, conhecido de longa data da família. Entre os 189 mil seguidores em seu Instagram, aparecem, além de Eduardo, o senador Flávio Bolsonaro e Jair Renan, o 04. Na mesma rede social, Nikolas tem um destaque dedicado à sua trajetória de militante e apoiador da família Bolsonaro. Lá, ele compartilhou fotos datadas desde 2016 ao lado de Eduardo, Flávio e o então deputado federal Jair Bolsonaro, incluindo imagens de visitas à Câmara dos Deputados.

Sonar - Jornal O Globo


sábado, 28 de dezembro de 2019

Por PL, reajuste para policiais e bombeiros do DF deve demorar até abril - Eixo Capital - CB

Por Alexandre de Paula
 
A alegria das categorias com a assinatura da medida provisória que previa aumento para policiais e bombeiros do DF — anunciada como um presente de Natal para as corporações — durou pouco. O recuo do presidente Jair Bolsonaro ontem azedou a festa. Isso porque a tramitação de um projeto de lei tende a ser muito mais demorada do que a de uma medida provisória, além de não ter validade imediata como a MP. Mesmo com a promessa de que o reajuste será retroativo a janeiro de 2020, os profissionais da segurança terão de esperar. Na avaliação de parlamentares, o PL deve se arrastar, no mínimo, até abril. E, até lá, as categorias devem fazer barulho.

Assembleia
O Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol-DF) convocou, pouco depois do recuo de Bolsonaro, assembleia para segunda-feira. A categoria definirá a posição em relação à mudança proposta e quais ações serão levadas adiante. Mais um sinal de que a mudança de ideia do presidente não será recebida com passividade.

Sinais
A reação aos reajustes foi rápida e grande. Tanto que Bolsonaro foi obrigado a voltar atrás, sob o argumento de que poderia cometer crime de responsabilidade. A repercussão dura e negativa são um sinal de que o embate, no Congresso Nacional, também será árduo.

Outras manifestações
Além da equipe econômica, houve outras manifestações que pesaram para o recuo de Bolsonaro. A Associação da Auditoria de Controle Externo do TCU (Aud-TCU) e a Associação Contas Abertas divulgaram nota em que criticam duramente a MP e a concessão dos reajustes para as forças de segurança do DF. “O árido ambiente financeiro, especialmente agravado em Estados com maior densidade populacional, impõe repúdio veemente ao privilégio que o Governo Federal concede ao Distrito Federal com a edição de Medida Provisória no apagar das luzes de 2019”, dizia o texto.

Aceno
Em meio à notícia de que o reajuste não sairia como esperado, Ibaneis pode, ao menos, contar com o fato de que fez acenos aos militares recentemente. Nesta semana, ele concedeu a redução do interstício, que acelera a promoção de 2,6 mil profissionais. O fato de o recuo na MP ter partido de Bolsonaro também tira peso das costas do governador, que pode argumentar que fez a parte dele.

MATÉRIA COMPLETA Em CB-Poder, Correio  Braziliense


sábado, 24 de dezembro de 2016

Meirelles: Sem contrapartidas, Rio não terá programa de recuperação

Tramitação. Na avaliação do ministro da Fazenda, será possível avançar com as reformas trabalhista e da Previdência no Congresso porque as pautas não são políticas e têm justificativa econômica, além de serem de longo prazo

O ministro da Fazenda Henrique Meirelles garantiu ao GLOBO que não haverá afrouxamento do projeto de renegociação das dívidas dos estados com a União e que medidas como suspender reajustes de servidores e cortar gastos vão voltar, apesar de as contrapartidas terem sido retiradas do projeto na votação na Câmara. Ele lembrou que as exigências foram feitas sob medida para o Rio, estado em pior situação financeira. Neste caso, para se beneficiar de um programa de recuperação fiscal, que permitirá aos estados em pior situação financeira ficarem três anos sem pagar suas dívidas com a União, o governo estadual terá de cumprir tudo o que estava na proposta original. Segundo Meirelles, o “pacote de bondades” anunciado na última semana será importante para reduzir o endividamento das empresas e famílias e vai permitir que o crescimento de 1% da economia se concretize em 2017.
O GLOBO: O governo decidiu dar um presente de Natal aos trabalhadores e empresas com medidas como a liberação do saque das contas inativas do FGTS e a renegociação de dívidas tributárias?
HENRIQUE MEIRELLES: Tudo aconteceu dentro de um cronograma previamente anunciado. No caso das medidas macroeconômicas, dissemos que a PEC do teto seria aprovada esse ano e foi. Anunciamos que a reforma da Previdência seria anunciada este ano e foi. Fizemos uma reunião com o Banco Mundial e anunciamos que iríamos fazer uma agenda microeconômica. Ela foi cumprida rigorosamente.
Mas as bondades foram anunciadas num intervalo curto de tempo. Isso foi para desviar a atenção da população num momento em que a crise política se agravou?
Não. Como tudo na vida, há coincidências. É normal que o governo apresente aquilo que está sendo feito. A agenda foi estritamente técnica.
Das medidas anunciadas, qual é a mais impactante para a economia no curto prazo?
Acho que é o programa de regularização tributária. Um grande número de companhias estão impedidas de tomar crédito porque estão irregulares com a Receita. Elas poderão voltar a tomar crédito e participar da retomada da economia, contratando, expandindo e refazendo estoques. Já o FGTS dá condições para que haja um impulso mais rápido no consumo.
O governo espera que o crescimento da economia em 2017 seja de 1%. As novas medidas vão aumentar esse número?
Não. As medidas visam levar o PIB a esse patamar. Se nada fosse feito, o crescimento certamente seria menor que 1%.
O governo vai obrigar as operadoras a baixarem os juros do cartão de crédito?
Não. Vai existir uma mudança normativa do CMN que vai limitar em 30 dias o crédito rotativo. A partir daí ele vai ser transformado num crédito parcelado. Isso já cria condições para reduzir taxas de juros. Existem também outras medidas operacionais, como máquina única nos estabelecimentos comerciais e facilitação do cadastro positivo. É um conjunto grande de medidas que permitem uma queda dos juros.

Mas como garantir que eles vão cair pela metade?
A PEC do teto já foi aprovada e a reforma da Previdência já foi apresentada e temos a expectativa de que ela esteja aprovada na Câmara até março. Com isso, passamos a ter as condições para uma queda importante de juros. Dentro desse quadro, nós concordamos que seria importante para todos explicitar de quanto seria essa queda (nos juros cartões). Caso contrário, ficaria uma conversa que ninguém levaria a sério. Diriam: “Ah, vai cair de 435% para 429% ao ano”. Eles afirmaram que vai cair para menos da metade. E nós concordamos que era um patamar razoável de queda.
E o que o governo pode fazer se eles não reduzirem os juros?
Existem medidas regulatórias. A mais forte delas é a questão do prazo para o pagamento ao lojista. Caso haja uma diminuição do prazo de pagamento, isso terá um custo importante para a indústria de cartões. De uma forma ou de outra, o cliente vai receber o benefício.
O governo tem duas reformas ousadas no Congresso num momento em que está fragilizado politicamente. Como conseguir avançar nessas agendas?
A minha visão é que essas medidas têm condições de ser aprovadas e a principal razão disso é que elas não são políticas. São medidas técnicas, fundamentais para a economia. Há justificativa econômica para todas elas e são medidas de longo prazo.
Não foi um sinal ruim o governo ter deixado Forças Armadas, bombeiros e PMs fora da reforma da Previdência?
Isso faz parte de uma estratégia de aprovação para viabilizar a melhor reforma da Previdência possível. O que já foi apresentado é o que já estava consensuado. O importante é aprovar a reforma, não é discutir questões de sinal.


Mas isso dá a impressão de que o governo está disposto de abrir mão de pontos da reforma. O que é inegociável?
Existem várias coisas como idade mínima, que são críticas. Ter uma transição eficaz também. Mas evidentemente, vivemos num regime democrático, com um Congresso soberano. O governo não precisa demonstrar absoluta inflexibilidade para ter condições de ter sucesso. Quando ele mostra que é razoável e pode negociar em pontos que não são cruciais, ele ganha força para fechar pontos de fato importantes.
Não é maldade fixar 49 anos para receber um benefício integral?
Não. Isso é uma boa notícia. Significa que a sua expectativa de vida é muito maior do que era no passado. Os nossos avós tinham uma expectativa de vida muito menor. Eles poderiam se aposentar mais cedo, mas em compensação viviam menos. O que não se pode é ter pessoas que têm mais tempo aposentadas do que trabalhando e contribuindo.
A retirada das contrapartidas do projeto dos estados não enfraquece os acordos com aqueles que querem ingressar no programa de Recuperação Fiscal? O Rio precisa de medidas duras para poder reequilibrar suas contas.
Já que você perguntou do Rio, eu posso dizer que a proposta aprovada pelo Senado (com contrapartidas) foi desenhada de forma que poderia resolver o problema do Rio, que está em piores condições. Essas exigências terão que ser cumpridas. A Fazenda tem que estar convencida de que o plano, de fato, resolve a situação dos estados. Pode haver em alguns casos a eliminação de alguma condição. Por outro lado, pode haver adição.
No caso do Rio, para resolver o problema, o que estava no projeto tem que estar no plano do estado?
Sim. Se não tiver tudo aquilo, não tem condições. Apenas a suspensão dos pagamentos da dívida do estado com a União não resolve o problema.

O que foi que aconteceu na votação na Câmara? As contrapartidas eram pedidas pelos próprios governadores. O que deu errado?
Foram várias questões de dinâmica da Câmara. Questões de articulação. Mas não há dúvida de que é importante para o estado que isso esteja colocado como exigência. Seja através de nova lei, regulamentação da lei (já aprovada), portaria ou por uma medida normativa do presidente da República. Estamos estudando. Pretendemos anunciar isso o máximo em janeiro, mas pode ser antes.
Até lá, como vai se resolver a questão do Rio de Janeiro, que não tem dinheiro para pagar salários?
No momento, não. Temos que cumprir a nossa meta fiscal.
Falando em meta, a partilha da multa repatriação com estados e municípios ainda em 2016 não atrapalha o cumprimento da meta do ano (de um déficit de R$ 170,5 bilhões)?
Não. O recurso da repatriação será usado de diversas maneiras. Temos hoje um saldo próximo de R$ 20 bilhões. Você vai usar uma parte disso para pagar estados e municípios. O restante vai quitar restos a pagar. A partilha com municípios afeta o que nós gostaríamos de reduzir de restos a pagar.
Além de fazer a reforma da Previdência, o que mais o governo fará para conter gastos?
No devido tempo, vamos anunciar metas específicas de redução de despesas.
Mas o que pode ser?
Pode ser qualquer coisa. Poderão existir desonerações que não serão renovadas, por exemplo.
E no campo de aumento de receitas?
Acho que tem um aumento grande que virá com a recuperação da economia. Temos expectativa de recuperação forte da receita do ano que vem. Temos ainda um programa de recuperação tributária e a repatriação.
Tem aumento de imposto?
Por enquanto, não. Não temos decidido nenhum aumento de impostos. Temos apenas decisão de não renovar as desonerações a não ser que tenham grande justificativa econômica.


Com a inflação em queda, o senhor acha que já espaço para mexer na meta, hoje fixada em 4,5% ao ano?
Não. Acho que é prematuro hoje. Isso torna-se uma realidade quando estivermos com inflação na meta. Porque senão você gera mais incerteza. Você fica num esforço constante de desinflação.
Por que o governo não reduziu a TJLP se as condições da economia melhoraram? A taxa está servindo para ajudar o BC no esforço de reduzir a inflação?
Não. Isso é porque julgamos que a TJLP tem um nível suficientemente baixo para cumprir a função do BNDES e que ela não necessariamente tem que manter o seu valor como percentual da Selic. Ela não é vinculada aos ciclos de política monetária.
Como o governo pretende mexer no crédito direcionado?
O Banco Central falou em racionalizá-lo, fazendo uma avaliação do que faz sentido ter, do que está comprometido com o longo prazo, do que é de fato necessário para cada segmento da economia. Microcrédito, crédito agrícola e por aí vai. É tratar do assunto crédito direcionado como um todo. Não só ver taxas, mas também aspectos de valor. O que é necessário por segmento, o que há de justificativa econômica.
Fonte: O Globo