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domingo, 2 de janeiro de 2022

Larry Bird, Magic Johnson e 2022 - Revista Oeste

Ana Paula Henkel

Best of Enemies não só mergulha na rivalidade que tornou os jogos entre os dois times espetaculares, mas mostra como a atual sociedade emburreceu

Mais um ano chega ao fim. Como de costume, durante a última semana do ano, meus filhos e marido perguntavam sem parar o que eu gostaria de ganhar de presente de Natal. Pensei, pensei e, finalmente, na sexta-feira dia 24 encontrei o presente perfeito. Depois de ligar para a minha família no Brasil na noite de Natal e desejar uma noite abençoada, desliguei o telefone. Não, não apenas me despedi e desliguei a chamada, desliguei o telefone. Deslizei o dedo pelo botão que aparecia para mim na tela: “TURN OFF”. Puf. Tela escura e desligada. E assim ela permaneceu — em OFF — até o domingo dia 26 à noite. Dois dias inteiros sem WhatsApp, sem redes sociais, sem notícias… Foi o melhor presente que eu poderia ter me dado nos últimos anos.

       Dividida entre Larry Bird e Magic Johnson - Foto: Reprodução/NBA 

Apostas sobre em quanto tempo eu ligaria o telefone foram feitas em casa e, diante da minha tranquilidade em não querer por um segundo ligar o telefone, no sábado à tarde, marido, enteada e filho resolveram fazer o mesmo. E a mágica aconteceu! Durante dois dias inteiros, o tempo pareceu passar mais devagar. Tortas de maçã, biscoitos e bolos foram feitos. Velas e mais velas cheirosas foram acesas, vinhos e bebidas foram degustados — e não apenas ingeridos —, jogos de tabuleiros foram jogados e muitas risadas foram dadas. 
E filmes, muitos filmes foram vistos, desde os clássicos It’s a Wonderful Life e Cantando na Chuva, até clássicos recentes como Gran Torino e Interestelar. E esse foi o melhor presente que os meus filhos e meu marido poderiam ter me dado nos últimos anos.

Dentre as muitas boas horas de filmes e séries a que assistimos juntos, um programa chamou a atenção de todos nós, e acabou alimentando um debate pertinente, saudável e importante em casa. A importância de dar importância ao que é realmente importante. Pode parecer uma frase redundante, mas um documentário sobre a clássica rivalidade entre Boston Celtics e Los Angeles Lakers, times da NBA, acabou trazendo uma boa reflexão a todos. Antes de mais nada, para os amantes do esporte, como eu, “Celtics/Lakers: Best of Enemies” mergulha na rivalidade que tornou os jogos entre os dois times nos anos 1960 e 1980 não apenas espetaculares, mas históricos.

Os rivais Larry Bird e Magic Johnson | Foto: Divulgação/NBA

A saga do “Fla x Flu” do basquete profissional norte-americano mostra como Magic Johnson, Larry Bird, Kareem Abdul-Jabbar, Cedric Maxwell, James Worthy, Kevin McHale e muitas outras lendas mudaram o jogo para sempre. No entanto, as quase cinco horas de pura imersão no universo do esporte profissional não contam apenas a história de uma rivalidade esportiva como outras pelo mundo. Para quem gosta de análises estratégicas detalhadas de jogos clássicos, Best of Enemies  preenche esse requisito com muitas imagens estonteantes e muitas entrevistas internas cheias de detalhes. Mas a série vai além disso.

Em muitos momentos, o documentário também desnuda várias nuances da psicologia humana e de como a atual sociedade, tão polarizada política e intelectualmente, emburreceu e retrocedeu no campo da civilidade e do amadurecimento emocional. Não sei se os mais jovens sentirão certa nostalgia doída de quem viveu nos anos 1980 e 1990, quando o esporte dividia as tribos pelas cores dos uniformes de seus times, e não pela cor da pele ou pelas posições políticas, mas há muito o que ser explorado ouvindo homens de fibra.

Obviamente, a questão racial não é excluída da série. Especificamente, Best of Enemies aborda o assunto, tanto no preconceito intelectualizado de alguns repórteres esportivos — que elogiavam as virtudes do “basquete fundamental” (dos brancos) versus o “estilo playground” (dos negros) —, quanto nas tensas relações raciais dentro de Los Angeles e Boston. O diretor, Jim Podhoretz, também não esconde os problemas do mundo real que obscureciam o jogo, como drogas, mas foca em sua maior atração: o Boston Celtics liderado por Larry Bird e o Los Angeles Lakers liderado por Magic Johnson. Entre 1980 e 1989, o Lakers chegou às finais do Oeste oito vezes e conquistou cinco campeonatos, enquanto o Celtics representou o Leste cinco vezes, vencendo três finais. As duas equipes se enfrentaram apenas três vezes — em 1984, 1985 e 1987 —, mas cada série cativou a nação de maneira marcante até hoje, gerando personalidades e histórias que ajudaram a estabelecer a NBA como um verdadeiro passatempo nacional, pouco antes da chegada de Michael Jordan ao Chicago Bulls, época em que o jogo e a liga foram catapultados para outro nível.

O documentário, além de apresentar um elenco fabuloso de personagens que mudariam a NBA e abririam a mente coletiva da América, revive a década de 1980 com Larry Bird, Magic Johnson e todo o drama dessa época de ouro da NBA. O Celtics de Bird e o Lakers de Magic se enfrentaram por quatro anos até o encontro épico da final em 1984. Sem maiores spoilers, a última parte da série mostra as páginas logo depois das emocionantes finais da NBA de 1984 e, em seguida, explora a saga de 1985 a 1987 e como a rivalidade acabou solidificando, gradualmente, o respeito entre seus personagens. Ao final da última batalha, em 1987, enquanto ainda havia muita animosidade, eles também desenvolveram uma reverência mútua e profunda.

Há momentos preciosos na série, de lições valiosíssimas de humildade, decepção, tristeza, superação. Há frases que, normalmente ditas por palestrantes ou os chamadoscoaches, caem numa certa pieguice das platitudes de autoajuda. Mas quando são ditas — e acompanhadas de imagens espetaculares — por Magic Johnson, por exemplo, a reflexão é inevitável: “Autoavaliação é difícil, mas você tem de ser honesto consigo mesmo. Tive de entender que não era tão bom quanto pensava que fosse”.

O esporte, assim como o mundo, mudou muito com a tecnologia, com o acesso em tempo real a informações que podem mudar o rumo de uma partida ou o destino de um atleta. Programas de computação aplicados a treinamentos e jogos podem fazer toda a diferença. O talento individual e a incansável dedicação não são mais as únicas vias para o sucesso no âmbito do esporte profissional. Muito pode ser ensinado e desenvolvido em tempo recorde nos dias de hoje. No entanto, há talentos incrivelmente pertinentes a esse mesmo âmbito que não podem ser ensinados. Eles normalmente são pontos genéticos ou traços que foram desenvolvidos por meio de experiências importantes ao longo da vida. Estou falando do que esses líderes e rivais tinham em comum: acessibilidade, carisma, determinação com os pés no chão. Mesmo que pudesse haver o debate racial entre negros e brancos, a NBA dos anos 1980 mostrou que isso era secundário, que a espinha dorsal de união e paixão pelo esporte seguia seu caminho com propósito, como lembra Cedric Maxwell, ex-jogador do Celtics no documentário: “Depois de seu terceiro campeonato e terceiro MVP, o respeito por Larry Bird não podia ser negado. Quando vi a foto de Larry em uma barbearia de negros, disse — ele realmente cruzou a linha! Você via Jesus, Malcom-X, mas não uma foto de Larry Bird em uma barbearia de negros!”.

Nos anos 1950, ainda sob as leis raciais em muitos Estados, foi o esporte que abriu portas para a extinção das vis políticas segregacionistas

Em 2021, vimos, mais uma vez, as plataformas sociais — mesmo com todo o apreço que podemos ter pela democratização de opiniões através delas — terem um papel vital na segregação vil e ignorante da atual sociedade. Vimos esses espaços supostamente democráticos usando o esporte, um campo em que diferenças são abandonadas, em especial durante os Jogos Olímpicos, sofrer incansáveis tentativas de sequestros e desvirtuações. Qualquer desavença política ou diferença religiosa sempre foram tratadas como coadjuvantes no campo esportivo. Não importa se na NBA ou nas Olimpíadas, o roteiro fiel ao esporte sempre foi de histórias de superação e respeito, recheadas de enredos dramáticos com derrotas e vitórias espetaculares. A celebração na excelência atlética.

Larry Bird, Michael Jordan e Magic Johnson | Foto: Divulgação/NBA

Mas o que mudou? Infelizmente, já há alguns anos, algo vem atingindo o espírito esportivo. E isso vem sendo demonstrado da maneira mais estúpida possível, por uma sociedade repleta de analfabetos olímpicos e personalidades hedonistas. Depois de alguns anos e uma pandemia global que trouxeram não apenas a banalização da história e suas palavras, até quando vamos seguir com a politização de tudo? O esporte já dava sinais de que não ia escapar à “idiotização” política, com frases do Black Lives Matter sendo repetidas por atletas importantes, ou a visão distorcida e triste de jogadores em campeonatos como a NBA se ajoelhando — literalmente.

Nos anos 1950, ainda sob as leis raciais em muitos Estados norte-americanos, foi o esporte — mais uma vez — que abriu portas para a extinção das vis políticas segregacionistas. E a NBA foi parte fundamental nisso. Em uma sociedade em que movimentos como o Black Lives Matter usam o terrorismo e a violência contra negros e brancos para propagar suas ideias e demandas, em que políticos plantam a segregação racial ou em que ligas esportivas e atletas são sequestrados por grupos ideológicos, é gratificante assistir a um documentário como Celtics/Lakers: Best of Enemies. Ver a magnitude de uma obra que aborda a divisão racial de maneira madura, mas que também traz o melhor de todos nós, independentemente da cor da nossa pele ou de como votamos, não deixa de ser um sopro de esperança para 2022. Divisões sempre existirão, mas a vontade de fazer o correto pode sempre ser exaltada.

Em um ano em que o politicamente correto avançou de maneira violenta, linchando médicos, jornalistas e atletas que ousaram pensar fora das linhas da turba;  
em que o politicamente correto sufocou atletas femininas para proteger a injustiça de apoiar homens biológicos competindo com mulheres
em que o politicamente correto tentou nos obrigar a aplaudir a fraqueza de atletas egoístas que abandonaram suas equipes na última hora porque não conseguiram se manter sob os holofotes e não souberam olhar de frente para as adversidades, despeço-me de 2021 neste último artigo do ano com uma das frases finais de Magic Johnson no documentário: “Eu odiava o Celtics. Mas amei jogar, porque pude jogar contra Larry Bird e o Celtics. Nunca teria sido o jogador mais valioso (MVP), nunca teria sido o jogador que fui se não fosse por Larry Bird e o Celtics. Eles me fizeram alcançar a grandeza, a excelência. Nos anos finais dessa rivalidade entre Celtics e Lakers havia tantos afro-americanos que ovacionavam Larry Bird. Eles sabiam quão grande ele era. Não era sobre cor, sobre raça, era puro respeito por um cara corajoso”.

Que a boa e saudável divisão em 2022 volte, aquela em que a única raiva que tínhamos um do outro era por perder para rivais históricos no esporte. Enquanto isso não chega, que tal, como presente de ano novo, dois dias sem telefone? Recarregar sem estar plugado pode ser uma maneira antiga — porém eficiente — de dar valor ao que realmente importa. Obrigada pela companhia em 2021 e desejo um próspero 2022, com menos redes sociais e mais clássicos na TV. Happy New Year!

Leia também “A guilhotina do bem”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste

 

 

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

A segunda década do século - Fernando Gabeira

Em Blog
 
No passado houve um humorista chamado Don Rossé Cavaca, que escreveu algo mais ou menos assim: acorda que já é 1962 e você precisa trabalhar.  Num país em que os integralistas que atacavam o Barão de Itararé, seus filhotes queimam o Porta dos Fundos, o passado congelou. Talvez fosse necessário reescrever a frase de Cavaca: acorda que já é o século XXI e você precisa trabalhar. E é a segunda década, que já começa perigosa com os incidentes em Bagdá.

Vivemos um sono tão longo. Só agora foi aprovado um marco para o saneamento básico. E a esquerda ainda resistiu. Os manuais dizem que o saneamento é tarefa do governo, mas ao longo de todo esse tempo, ele se mostrou incapaz. Que se danem os manuais. A esquerda poderia, pelo menos, chegar ao pragmatismo dos chineses no século passado: não importa se o gato é preto ou branco… Na educação, o ministro é monarquista, insulta as pessoas na rede e ainda aparece de guarda-chuva imitando Gene Kelly em “Cantando na chuva”.  Isso é um detalhe. Muita gente o acha incompetente. Bolsonaro e seus meninos, não. Por que não chegar a um acordo numa área tão decisiva?

É possível dizer: é assim mesmo, uns gostam, outros não, e bola pra frente. Acontece que em outra área decisiva, a infraestrutura, foi encontrado um denominador comum: o ministro é amplamente aceito. Por que não tentar o mesmo na educação, que todos concordam ser o tema essencial para o futuro do país? A cultura brasileira, então, é um campo desolador porque se transformou numa trincheira de guerra ideológica. Tanto esquerda como direita parecem entender a cultura como uma extensão do discurso político. Esse modo de ver reduz a cultura a uma propaganda. [a direita pelo menos busca uma cultura que não destrua valores tão caros como a FAMÍLIA,a RELIGIÃO; já a esquerda quer o apequenamento da cultura, usando-a como veículo para a imoralidade, a pouca vergonha, o desrespeito às famílias, aos valores religiosos.]

A política roubou o estatuto autônomo da arte. Isso é terrível porque as pessoas comuns passam a vê-la assim também: como um departamento auxiliar da corrente no poder. Governos não deveriam financiar propaganda mascarada de arte. Isso deforma a própria produção nacional, obrigando-a a se ajustar aos desígnios do poder. Esta semana, vi uma biografia de Rodin, o grande escultor francês. Nela, ficou claro que uma encomenda do governo impulsionou a sua carreira. Na Alemanha, durante algum tempo o governo financiou a dança de Pina Bausch. Pode-se contestar: vale a pena investir numa arte tão refinada e distante das grandes massas?

Nesses casos, entra em cena a projeção nacional, o chamado soft power. Na juventude, tive a chance de ver o Modern Jazz Quartet, financiado pelo governo americano para se apresentar em alguns países do mundo. Todos de terno escuro, gravata. Tanto no caso de Rodin como no de Bausch e do Quartet, não entra em cena essa gritaria entre esquerda e direita: são manifestações da arte nacional com seu estatuto próprio. Às vezes existe até um entendimento prévio entre governo e artista. Foi o que aconteceu durante a Grande Depressão nos EUA. O governo financiou uma viagem de James Agee, na época um talentoso romancista, e o fotógrafo Walker Evans. Eles saíram pelo interior falando com gente simples e produziram um livro intitulado “Vamos elogiar as pessoas comuns”. Creio que o objetivo ali era levantar moral, preparar o país para superar um áspero momento.  Ao aceitar a ideia de que a arte serve aos governos de direita ou de esquerda, de acordo com a maré, simplesmente estamos condenando a arte brasileira à sua morte simbólica. Enquanto perdurar esse clima, o ideal é produzir ignorando o governo. No fundo, alguns governos são inimigos da arte. Ou pura e simplesmente se colocam contra ela, ou a entopem de dinheiro para ganhar apoio incondicional, que é uma outra forma de negá-la.

Eles acham que o país será lembrado no futuro e conhecido no exterior pelos seus generais, seus líderes carismáticos. O que fortalece a Europa diante dos olhos do mundo, inclusive aqueles que foram explorados por ela, é sua arte.  Na Copa do Mundo acentuei a importância dos escritores, sobretudo os do século XIX , na imagem que os russos queriam mostrar aos estrangeiros. Até escritores que foram massacrados pelo regime, como Anna Akhmatova, ganharam seu museu. Esquerda e direita passam se engalfinhando, mas a arte fica. Claro que ela não vive numa torre de marfim, nem ignora os dramas de sua época. Mas não é marionete de partidos.

 Fernando Gabeira, jornalista - Blog do Gabeira

Artigo publicado no jornal O Globo em 06/01/2020


segunda-feira, 3 de junho de 2019

“Já era mas continua sendo” e outras notas de Carlos Brickmann

É desejável que os presidentes dos três Poderes tenham relacionamento harmonioso. Mas confraternizar ultrapassa os limites




O problema do noticiário político do Brasil é um só: os analistas, tanto da Universidade como da imprensa, insistem em levar as notícias a sério. Não dá. É como criticar uma piada porque peixe não fala. Na piada, fala, sim.
Neste momento, Bolsonaro e o presidente do Supremo, Dias Toffoli, estão em lua de mel. Toffoli participou do pacto de Bolsonaro com Rodrigo Maia “para destravar o Brasil”. Maia, que é do ramo, sabe que esse tal pacto não é para levar a sério. Mas Toffoli está animado. Depois do café da manhã com Bolsonaro e Maia, ficou novamente ao lado do presidente, que recebia deputadas e senadoras. Ouviu impassível quando Bolsonaro, depois de elogiá-lo (“uma pessoa excepcional”), disse: “É muito bom termos a Justiça ao nosso lado”. E completou fazendo com as mãos uma imitação de coração.

Tudo muito bom, tudo muito bem, mas acontece que, mais cedo ou mais tarde, alguma medida de Bolsonaro “para destravar o Brasil irá chegar ao Supremo. Como Toffoli poderá participar do julgamento, ele que é “a Justiça ao lado” de Bolsonaro? E, caso se declare impedido, tudo o que o presidente fez para atraí-lo não terá tido nenhum resultado. Muito esforço para nada.  É desejável, inclusive nos temos da Constituição, que os presidentes dos três Poderes tenham relacionamento harmonioso. Mas confraternizar ultrapassa os limites do relacionamento desejável. Pode caber ao Supremo o julgamento de Flávio, o filho 01. Amizade, vá lá. Amizade colorida, não dá.

Não é, mas continua sendo
Outra novela curiosa é o tal fim do Centrão. Depois que o Centrão foi até alvo de manifestantes que apoiam o Governo, ninguém mais é do bloco. Os principais dirigentes do partido, inclusive o presidente ACM Neto, sustentam que Centrão era o grupo de políticos que girava em torno de Eduardo Cunha. Rodrigo Maia? Imagine! A eleição de Rodrigo Maia eliminou os últimos vestígios do Centrão. Aliás, o PR também não é Centrão. Mudou de nome e hoje é PL. O cacique é o mesmo, Valdemar Costa Neto. Mas são personagens diferentes. O Valdemar do PR talvez fosse Centrão, o do PL não é. Simples.

O morto-vivo
Aliás, o extinto Centrão, embora já não exista mais, continua operando como se existisse. Coisas de nossa estranha vida política, se levada a sério.

Bico longo, penas coloridas
O governador de São Paulo, João Dória Jr., acaba de assumir o controle do PSDB. Seu candidato, o deputado pernambucano Bruno Araújo, se elegeu presidente do partido. Toda a análise política é sobre o “novo PSDB”, que Dória “vai levar para a direita, abandonando a tradicional postura tucana de centro-esquerda”. Pois é. Mas, tirando o afastamento da antiga geração, toda com mais de 70 anos, do comando partidário, não há mudança. Dória surgiu na política há 40 anos, na campanha de Franco Montoro para o Senado. Foi um dos marqueteiros na eleição de Montoro para o Governo. Com Mário Covas como prefeito nomeado, dirigiu a Paulistur. Foi indicado por Fernando Henrique para dirigir a Embratur. Quem o lançou candidato a prefeito foi Alckmin. Seu vice era Bruno Covas, aliado até hoje, o neto de Mário Covas. É tucano de ponta a ponta. Não muda nada. PSDB é PSDB, para o bem ou para o mal. O que muda é a formação: Dória é melhor empresário que a média tucana, e tem menos diplomas universitários. Quem diz que ele é recém-chegado ao partido não pode ser levado a sério.

Em nome de Deus
Já a frase de Bolsonaro diante de fiéis da Assembleia de Deus tem de ser levada a sério: ele perguntou ao público se já não estava na hora de haver um ministro evangélico no STF. A Constituição fala em notável saber jurídico e ilibada reputação. Não se refere em nenhum momento à filiação religiosa de Suas Excelências. Nem para favorecer, nem para prejudicar. Se alguém tiver ilibada reputação e notável saber jurídico, suas convicções religiosas não importam. Mas, se quiser, Bolsonaro pode nomear um jurista evangélico para o STF. Basta desistir da nomeação de Moro em favor de um evangélico de notável saber jurídico e ilibada reputação (e que, aliás, não permitiria que a religião influenciasse seus votos – mesmo no caso que interessa ao presidente, contrário a tornar a homofobia um crime). Ou convença Sérgio Moro a adotar a vertente evangélica do cristianismo, e então nomeá-lo. Fora isso, estará só fazendo demagogia para buscar mais apoio dos evangélicos.

O original era melhor
E é difícil levar a sério a política quando o ministro da Educação aparece num vídeo simulando uma cena de Cantando na Chuva, o clássico musical lançado em 1952. Qual a mensagem que Sua Excelência queria transmitir? Não importa: qualquer que fosse, a cena da dança na chuva protagonizada por um ministro a abafaria. Para este colunista, que acha importante manter a liturgia do cargo, a única conclusão a que se pode chegar é que a dança original, com Gene Kelly, foi muito melhor que a do ministro.


Publicado na Coluna de Carlos Brickmann

Blog do Augusto Nunes