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sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Em busca da narrativa



O primeiro dia do julgamento da presidente afastada Dilma Rousseff teve tudo o que esse Congresso pode dar sem esforço nenhum: baixarias, quebra de regras mínimas de convivência, acusações em que geralmente os dois lados têm razão. Tudo reflexo de um momento político rebaixado por instintos primitivos estimulados pela disputa em que o grupo petista já não luta mais pela manutenção do poder, mas pela tentativa de criar uma narrativa que permita disputar as eleições vindouras, inclusive a de 2018, com um mínimo de competitividade.

A senadora Gleisi Hoffman tantas fez que acabou sendo repreendida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, depois que insistiu na afirmação de que o Senado na tem moral para julgar “a presidenta”. [a mulher do assaltante de aposentado, tem certa razão, afinal um Senado que tem entre seus membros uma Gleisi Hoffman, um dependente do ‘pó’  tipo Lindbergh, um Romário e outras peças similares pode ter a capacidade moral dos seus integrantes questionada.]   

Foi essa uma fala quase suicida, pois ela mesma, investigada pela Operação Lava Jato por lavagem de dinheiro, se inclui no rol dos sem moral, e teve que enfrentar a acusação do senador Ronaldo Caiado sobre corrupção no ministério do Planejamento, processo em que seu marido Paulo Bernardo tornou-se réu como integrante de um esquema que desviava dinheiro do empréstimo consignado.

O troco veio do senador petista Lindbergh Farias, que insinuou ligações de Caiado com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Daí para outras insinuações, de que Lindbergh é usuário de cocaína, foi um pulo, o que já demonstra qual será o clima daqui para a frente até a decisão final. O presidente do julgamento, ministro Lewandowski, deixou-se levar pelas manobras petistas e transformou o Procurador junto ao TCU Julio |Marcelo de testemunha em informante, aceitando a tese de que ele seria partidário do impeachment e não teria, portanto, isenção para testemunhar. [todos sabemos que por capacidade, mérito, Lewandowski jamais seria ministro; conseguiu o maravilho emprego por indicação de Marisa ‘botox’ – ex-primeira dama – e é público e notório que os petistas cobram por cada indicação feita.]

Ora, ele estava arrolado justamente como testemunha de acusação, e nada mais natural que, nessa qualidade, acusasse a presidente Dilma de ter ferido a Lei de Responsabilidade Fiscal, como está em seu relatório oficial. Na qualidade de informante, o Procurador disse as mesmas coisas que vem dizendo desde o início do processo, e essa redução de status não reduziu a contundência de suas declarações. [só na cabeça de um indicado por uma petista – leia-se Lewandowski - pode prosperar que o autor de um relatório acusando a ré, durante o depoimento se manifeste contra seu relatório.]   

As testemunhas “de defesa”, que, como o nome diz, testemunharão a favor da presidente Dilma, também passarão por esse mesmo critério e, como ressaltou a senadora Simone Tebet, serão impugnadas da mesma maneira. Especialmente uma que se tornou recentemente funcionária do gabinete da senadora Gleisi Hoffmann, não tendo, pelo critério adotado, independência para testemunhar.

Nada disso tem importância, porém, no resultado final, pois já existe uma sólida maioria a favor do impeachment, e restam agora senadores que buscam valorizar seus votos em busca de favores de última hora. A situação perderá, porém, se não tomar cuidado com o interrogatório da presidente afastada Dilma Rousseff.

Se o clima permanecer nesse nível de tensão, poderemos ter um gran finale para o documentário que está sendo rodado por apoiadores do PT. Sem votos para manter a presidência, a diminuta base de apoio do governo afastado trabalha com o objetivo de prolongar ao máximo o julgamento, e produzir cenas de resistência heróica, em busca da tal narrativa que permita a seus candidatos não esconder a estrela vermelha, como vinha fazendo, por exemplo, o prefeito de São Paulo Fernando Haddad.

Fonte: Merval Pereira - O Globo


quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Procurador do TCU diz que Dilma cometeu crime de responsabilidade

Ouvido como informante e não mais como testemunha de acusação no julgamento final do impeachment, Oliveira disse que Dilma violou a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)

O procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), Júlio Marcelo de Oliveira, afirmou que as pedalas fiscais teriam sido evitadas se os alertas feitos pelos técnicos do Tesouro Nacional ao governo tivessem vindo a público em 2013. Conforme ele, o MP junto ao TCU só teve acesso aos pareces do Ministério da Fazenda em 2016. Na época, Arno Augustin era chefe da pasta e ignorou todas as ponderações dos subordinados. "Os técnicos do Tesouro alertaram que perderíamos o grau de investimentos em decorrência dessas práticas", disse.

Apesar de ter sido anunciado como testemunha, o procurador depõe como informante. Isto porque, de acordo com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, Júlio Marcelo confessou, no plenário do Senado, ter participado de um ato em frente ao Tribunal de Contas da União (TCU) pela rejeição das contas presidenciais. O procurador admitiu a participação no evento a partir de questionamentos do PT, principalmente da senadora Gleisi Hoffman (PR). "A meu ver, Vossa Excelência confessou participação nesse ato", disse Lewandowski hoje.

Lewandowski decidiu, ainda, que os senadores não poderão usar o tempo concedido para fazer pronunciamentos. Serão aceitas apenas perguntas para Júlio Marcelo de Oliveira. "Temos que ter objetividade nessa fase do julgamento", disse. A decisão foi tomada após pedido da senadora Simone Tebet (PMDB-MS).

Neste momento, os senadores fazem perguntas a Júlio Marcelo. Ele foi o autor da representação que iniciou o processo pela rejeição das contas da presidente Dilma em 2014. Entre os argumentos usados para considerar irregulares os gastos do governo da petista estavam as chamadas “pedaladas fiscais”, adiamentos de pagamentos que deveriam ser feitos a bancos públicos que financiavam programas sociais.

Sessão conturbada
O início da sessão que julga o processo de cassação da presidente afastada Dilma Rousseff (PT) foi marcado por atraso, longo debate de questões de ordem e por troca de xingamentos entre parlamentares. O plenário iniciou os trabalhos às 9h35 e a primeira parte do debate foi suspensa pouco mais de três horas depois, para o almoço. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), que conduz a sessão, negou todos os 10 questionamentos feitos por aliados da petista. Os parlamentares apresentaram todos os argumentos possíveis para tentar suspender o julgamento e arquivar as denúncias contra Dilma.

O momento mais tenso das primeiras horas da sessão foi protagonizado pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), que acusou os senadores de não terem “moral” para julgar a líder afastada do Planalto. Após a crítica, o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) reagiu com críticas ao marido da parlamentar, o ex-ministro Paulo Bernardo, que foi preso em uma operação da Polícia Federal, após suspeita de desvios em contratos de crédito consignado a aposentados e pensionistas do INSS e servidores públicos. “Eu não sou assaltante de aposentado”, retrucou o democrata.

Os ânimos se exaltaram quando senadores do PT começam a chamar Caiado
de “canalha”. Caiado chegou a mandar o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) fazer exame "antidoping" e não ficar "cheirando". Após o fim do bate-boca, Lewandowski retomou o andamento da sessão e concedeu a palavra ao senador Aécio Neves (PSDB-MG). O tucano pediu "serenidade" aos colegas para que o julgamento pudesse continuar.

Reta final
Conduzida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, a sessão deve se estender até a próxima terça-feira, quando senadores votarão pelo afastamento ou não da petista do poder. Hoje, duas testemunhas de acusação, as únicas arroladas, e outras duas de defesa serão questionadas pelos senadores. Amanhã, os parlamentares ouvem mais quatro, também indicadas pela defesa. Antes da oitiva das testemunhas, senadores apresentação questões de ordem que serão analisadas em conjunto pelo presidente do Supremo.

Fonte: Correio Braziliense

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Dilma vai ao Senado, mas evidencia o desprezo que tem pelos senadores. Ou: A melhor propaganda anti-Dilma é deixá-la falar. Sozinha



Presidente afastada decidiu falar em sua defesa e aposta que vai conseguir encenar a farsa da mulher destemida contra uma tropa machista

 Vai, Macunaíma, baixe aí: “Ai, que preguiça!”. Dilma é arrogante até quando tenta ser humilde. É truculenta até quando pretende posar de vítima. Que coisa mais sem jeito! Que coisa mais sem solução! Em conversa com Natuza Ney, do Painel da Folha, ela diz que vai, sim, ao Senado se defender. E, segundo entendi, não vai impor como condição o silêncio dos senadores.

Quanta bondade! Indagada se não teme a reação dura dos senadores, a Afastada deu a seguinte resposta:
“Se eles quiserem que o Brasil veja um show do tipo de 17 de abril (data da votação do processo de impeachment na Câmara)…

O que ela quis dizer com a frase? Naquele dia, parte considerável da Câmara votou a favor do envio da denúncia para o Senado em nome da família, do papagaio, do sua categoria profissional etc. Houve, sim, momentos constrangedores.

Dilma, assim, diz o que pensa do Senado da República. É esta senhora que pretende voltar à Presidência. Isso explica muita coisa. Também está claro que a Afastada pretende levar para o Senado a figura da militante política, da ex-torturada, daquela que teria lutado pela democracia. Não custa lembrar: os grupos aos quais ela pertenceu matavam inocentes em nome da causa.

Os petistas citam como referência uma ida sua ao Senado, ainda ministra, quando teria “destruído” o senador José Agripino (DEM-RN). O democrata fez então uma referência realmente infeliz ao tempo em que Dilma foi prisioneira política, que deu a ela a chance de posar de heroína.

Os tempos são outros. Tudo indica que Dilma pretende desempenhar o papel da mulher destemida e mártir, obrigada a enfrentar o suposto machismo do Senado. Meu conselho aos senadores? Lembrar o Paulo Francis sobre os comunistas: “A melhor propaganda anticomunista é deixar um comunista falar”.

Assim, a melhor propaganda anti-Dilma é deixar Dilma falar. Sozinha!

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo