O
primeiro dia do julgamento da presidente afastada Dilma Rousseff teve tudo o que esse Congresso
pode dar sem esforço nenhum: baixarias, quebra de regras mínimas de
convivência, acusações em que geralmente os dois lados têm razão. Tudo reflexo
de um momento político rebaixado por instintos primitivos estimulados pela disputa em que o grupo petista já não luta
mais pela manutenção do poder, mas pela tentativa de criar uma
narrativa que permita disputar as eleições vindouras, inclusive a de 2018,
com um mínimo de competitividade.
A
senadora Gleisi Hoffman tantas fez que acabou sendo repreendida pelo presidente do Supremo
Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, depois que insistiu na afirmação de que
o Senado na tem moral para julgar “a presidenta”. [a mulher do assaltante de aposentado, tem certa
razão, afinal um Senado que tem entre seus membros uma Gleisi Hoffman, um
dependente do ‘pó’ tipo Lindbergh, um Romário e outras peças similares
pode ter a capacidade moral dos seus integrantes questionada.]
Foi
essa uma fala quase suicida, pois ela mesma, investigada pela
Operação Lava Jato por lavagem de dinheiro, se
inclui no rol dos sem moral, e teve
que enfrentar a acusação do senador Ronaldo Caiado sobre corrupção no
ministério do Planejamento, processo em que seu marido Paulo Bernardo tornou-se
réu como integrante de um esquema que desviava dinheiro do empréstimo
consignado.
O troco
veio do senador petista Lindbergh Farias, que insinuou ligações de Caiado com o
bicheiro Carlinhos Cachoeira. Daí para outras
insinuações, de que Lindbergh é usuário de cocaína, foi um pulo, o
que já demonstra qual será o clima daqui para a frente até a decisão final. O
presidente do julgamento, ministro Lewandowski,
deixou-se levar pelas manobras petistas e transformou o Procurador junto ao TCU
Julio |Marcelo de testemunha em informante, aceitando a tese de que ele
seria partidário do impeachment e não teria, portanto, isenção para
testemunhar. [todos sabemos que por capacidade,
mérito, Lewandowski jamais seria ministro; conseguiu o maravilho emprego por
indicação de Marisa ‘botox’ – ex-primeira dama – e é público e notório que os
petistas cobram por cada indicação feita.]
Ora, ele
estava arrolado justamente como testemunha de acusação, e nada mais natural que, nessa qualidade, acusasse a presidente
Dilma de ter ferido a Lei de Responsabilidade Fiscal, como está em seu
relatório oficial. Na qualidade de informante, o Procurador disse as mesmas
coisas que vem dizendo desde o início do processo, e essa redução de status
não reduziu a contundência de suas declarações. [só na cabeça de um indicado por uma petista –
leia-se Lewandowski - pode prosperar que o autor de um relatório acusando a ré,
durante o depoimento se manifeste contra seu relatório.]
As testemunhas
“de defesa”, que, como o nome diz, testemunharão a favor da
presidente Dilma,
também passarão por esse mesmo critério e, como ressaltou a senadora Simone
Tebet, serão impugnadas da mesma maneira. Especialmente
uma que se tornou recentemente funcionária do gabinete da senadora Gleisi
Hoffmann, não tendo, pelo critério adotado, independência para
testemunhar.
Nada
disso tem importância, porém, no resultado final, pois já existe uma sólida maioria a favor
do impeachment, e restam agora senadores que buscam valorizar seus votos em
busca de favores de última hora. A situação perderá,
porém, se não tomar cuidado com o interrogatório da
presidente afastada Dilma Rousseff.
Se o
clima permanecer nesse nível de tensão, poderemos ter
um gran finale para o documentário que está sendo rodado por apoiadores do PT. Sem
votos para manter a presidência, a diminuta base de
apoio do governo afastado trabalha com o objetivo de prolongar ao máximo
o julgamento, e produzir cenas de resistência heróica, em
busca da tal narrativa que permita a seus candidatos não esconder a estrela
vermelha, como vinha fazendo, por exemplo, o prefeito de São
Paulo Fernando Haddad.
Fonte: Merval Pereira - O Globo
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