Todo mundo dizia que a desaceleração chinesa terminaria por derrubar o preço dos principais produtos de exportação
O governo Dilma 2 está cada
vez mais parecido com o Dilma 1. Começou propondo uma guinada de
política econômica, até deu início prático ao novo modelo comandado pelo
ministro Joaquim Levy, mas tem tido sucessivas recaídas no modo Guido
Mantega.
As últimas semanas mostraram três tipos de recaída: o
recurso ao marketing; o improviso na gestão; e colocar a culpa de tudo
em alguém lá fora, no momento, os chineses.
Uma quarta
característica do Dilma 1, o otimismo, não pode ser praticada neste
momento por razões óbvias. A situação econômica é muito pior e vem
piorando. Não há cegueira que esconda isso. Mesmo assim, a presidente
saiu para um tipo de otimismo invertido.
Ok, a crise é maior do
que ela dizia ser. Também mais longa, de modo que não poderia prometer
para o próximo ano “uma situação maravilhosa”. O que estaria
abaixo de “maravilhosa”? Se for, digamos, “muito bonita”, também não dá
para prometer. Sequer uma “bonitinha”. Simplesmente boa? Também não
cabe.
Não tem como escapar de um ano difícil, mas, mesmo admitindo
a qualificação, a presidente ressalva, de novo: não teremos
“dificuldades imensas, como muitos pintam”.
Se não são imensas, seriam apenas grandes? E por aí vai. A técnica é fugir das palavras que descrevem a realidade: recessão e desemprego, com inflação e juros altos.
Esqueçam
as maravilhosas e as imensas. O Brasil está em recessão, ficando mais
pobre neste ano e um pouco mais em 2016. O desemprego é de 8,5%, com
tendência de alta. A inflação, hoje na casa dos 9% ao ano, subtrai renda
das famílias, que estão mais endividadas.
Fazer o quê? Aqui entra uma legítima argumentação Dilma/Mantega: é a economia internacional, no caso, a crise da China. A
China, nossa principal parceira comercial, entrou em desaceleração,
oficialmente, digamos, em 2012. O país, que crescia a 9,5% ao ano, caiu
para a faixa dos 7% — e o novo governo anunciou que esse era o “novo
normal”, em um momento de mudança no modelo econômico.
Todo mundo
sabia e dizia que a desaceleração chinesa terminaria por derrubar o
preço dos principais produtos brasileiros de exportação, minério de
ferro e soja. Em resumo, todo mundo sabia que a era CCC — China,
commodities e crédito/consumo — chegara ao fim não apenas para o Brasil,
mas todos os emergentes.
Só agora, pelo menos três anos depois, a
presidente Dilma percebeu isso? Duas questões: ela de fato não sabia ou
sabia e tratou de esconder isso dos brasileiros? O que seria pior? A
política de ajuste e reformas ortodoxas introduzida com a colocação de
Levy no Ministério da Fazenda era uma confissão tácita de erro. Isso não
foi admitido — ao contrário, era uma “continuidade” — mas, de umas
semanas para cá, parece que a presidente começa a se arrepender.
Chamou os marqueteiros, o pessoal que não resolve nada, mas cria a tal agenda positiva. Por exemplo: cortar dez ministérios.
Quais? Ainda não se sabe, a estudar.
Economia de gasto? Alguns milhões.
Medida
imediata? Colocar à venda uns prédios que estavam fechados há tempos,
incluindo uma cobertura na Barra. Se vender tudo, dá uns 90 milhões de
reais. Para se ter uma ideia: na preparação do Orçamento de 2016 parece
que estão faltando R$ 90 bilhões para fechar as contas. Outra dos marqueteiros: inundar a mídia de propaganda oficial, mostrando um país, aqui sim, maravilhoso.
No
recurso ao improviso (ou trapalhadas), o governo conseguiu arrumar R$
15 bilhões para pagar a primeira parcela do 13º dos aposentados do INSS.
Não faz duas semanas, o ministro Levy havia dito que não tinha o
dinheiro, que só pagaria em novembro. Pegou mal, Lula reclamou, a
presidente mandou pagar tudo agora. Se tem o dinheiro para isso,
então o ministro Levy mentiu. Como ele é de uma franqueza até rude,
pode-se entender o seguinte: não há dinheiro se a meta de fazer economia
for a sério. Nesse caso, o aparecimento súbito dos R$ 15 bilhões indica
que se caminha na direção contrária, de déficit.
Reparem: o
governo arrumou um gasto imediato de R$ 15 bilhões e colocou um anúncio
de venda de imóveis que podem dar uns R$ 90 milhões. Isso é um típico
ajuste fiscal à Mantega.
DESTRUIÇÃO DAS FEDERAIS
A coluna da
semana passada, sobre a longa greve das universidades federais, trouxe
manifestações de professores inconformados com a situação. Como Rodrigo
Paiva, da UFF, que contou: dos 70 professores do Departamento de Física,
apenas três aderiram à greve. Os demais 67 não conseguem dar aulas
porque a direção da universidade não faz as matrículas.
Outra: a UFF tem 3.100 professores. A greve foi decidida em assembleia com pouco mais de cem docentes.
Na
Federal do Rio Grande do Sul, foi feita uma votação eletrônica, da qual
participaram 1.247 professores. Greve rejeitada por uma maioria de
54,5%.
Fonte: Carlos Alberto Sardenberg, jornalista -
www.sardenberg.com.br