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quinta-feira, 1 de julho de 2021

24 na cabeça! - Por que a CBF não usa o número 24 no uniforme do Neymar - Gazeta do Povo

Paulo Polzonoff Jr.

O tirânico movimento LGBT está tão preocupado com a discriminação ao simpático número 24 que resolveu judicializá-lo.

Apesar de ser uma besta matemática daquelas que só a muito custo conseguem fazer uma divisão com dois algarismos na chave, sou fascinado pelo assunto. Tanto que há uns dez anos, assim do nada, tive a brilhante ideia (todos os editores discordaram do brilhantismo dela) de escrever todo um livro-reportagem sobre o número 21.

E lá fui eu até a USP entrevistar um matemático entediado que consumiu meia hora da minha vida para atestar: não há nada de especial com o número 21 que justifique um livro sobre ele. 

O tirânico movimento LGBT está tão preocupado com a discriminação ao simpático número 24 que resolveu judicializá-lo.


Pudesse eu voltar no tempo e conversar com o jovem Paulo, sussurraria no ouvido dele (para não assustá-lo muito) o número 24. É provável que ele respondesse todo machão algo como “Tá me estranhando?!”. Mas a verdade é que o número 24 é muito mais interessante do que o 21, 22, 23 ou 25 (só não é mais interessante do que o 0). Tanto é assim que agora até a Justiça, essa que se escreve com jota maiúsculo, mas age como jota minúsculo, quer saber da CBF por que a seleção não estampa o 24 nos uniformes dos jogadores.

Se eu fosse o encarregado de responder ao grupo LGBT estranhamente preocupado com a honra do sensível e frágil número 24, começaria citando, obviamente, a matemática. Na qual o número 24, veja só, é o menor número com oito divisores positivos, um número nonagonal (o que quer que seja isso), semiperfeito (idem) e harshad (ou niven). Aqui vale mencionar que “harshad”, em sânscrito, significa “alegria”.

Que mais? Ah, o número 24 é a soma de dois números primos, 11 e 13, mas sugerir uma promiscuidade incestuosa nisso seria e é um absurdo digno de um cronista menor e preconceituoso. Longe de mim! Vinte e quatro também é o número de osculação (não estou inventando nada aqui) do espaço tetradimensional. Por fim, quando um 4 se junta a um histérico ponto de exclamação (4!), ele vira 24.

Vinte e quatro também é, acredite se quiser, o número atômico do elemento cromo, cujo nome deriva da palavra grega para “cor” e que, em nosso corpo, ajuda a aliviar sintomas de depressão e reduz as variações de humor – sobretudo na TPM. São ainda 24 as horas do dia. E, para não dizerem que o ignorei só porque ele foi um pesadelo nos meus anos de escola, convém citar aqui que o 24, quando dá um gritinho (24!), é uma aproximação do número de Avogrado.

O número 24 também é importante para os que têm fé. A Bíblia Hebraica, por exemplo, tem 24 livros. Vinte e quatro é ainda a soma que representa a Igreja completa mencionada no Apocalipse: 12 tribos de Israel mais 12 apóstolos do Cordeiro de Deus. No jainismo, religião praticada sobretudo na Índia, 24 são os tirtancaras – seres iluminados que conseguiram escapar ao ciclo de renascimentos. Aliás, já mencionei que a representação do darma é uma roda com 24 raios chamada Açoca Chacra? Pois.

Não vai citar o reino animal?, me pergunta alguém. Vou. Porque Vinte e Quatro era o nome de um famoso cavalo de corrida norte-americano. Entre 1961 e 1962, ele foi um verdadeiro Ayrton Senna dos hipódromos. Uma vez aposentado, o garanhão virou reprodutor cobiçado. O nome dele, vale mencionar, foi tirado da canção de ninar “Sing a Song of Sixpence”, muito conhecida no século XVIII e que menciona 24 pássaros pretos servidos numa torta (eca!).

E mais: um computador precisa de 24 bits para representar uma true color. Ouro puro é o de 24 quilates. O ano solar chinês tem 24 ciclos. Um filme é exibido à velocidade de 24 frames por segundo – o que basta para enganar o tolinho do olho humano. O alfabeto grego tem 24 letras – e até por isso a “Ilíada”, de Homero, tem 24 cantos.

Se isso tudo há de convencer a Justiça, ou melhor, “justiça” de alguma coisa, não tenho a menor ideia. Mas os fatos estão aí expostos. Com tanto simbolismo dando sopa para ofender os disléxicos, os ateus, os cromodeficientes, os traumatizados por canções de ninar, os que perderam tudo nas corridas de cavalo e até os fãs da Cindy Lauper, nada mais prudente do que deixar o 24 lá no cantinho dele, sem incomodar ninguém.

Paulo Polzonoff Jr., colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

domingo, 6 de janeiro de 2019

O rosto da direita que chega ao poder


Direita no poder: a luta pela agenda liberal será dura, as ideias de alguns ministros são constrangedoras, militares têm sido o poder moderador dentro do governo

Nossa democracia estava capenga, afirmou o ministro da Economia, ao dizer que só a centro-esquerda havia governado o Brasil. Mas que direita é essa que chegou agora? Nos muitos discursos e certas decisões da última semana, o novo rosto do poder começou a ser esboçado. A economia perseguirá a agenda liberal, o que será uma guerra, na qual o front mais ingrato será o interno. Em outras áreas, como direitos humanos, educação e relações exteriores, os ministros mostraram um desconcertante alheamento da realidade. Os militares nomeados parecem ser a força moderadora dentro do próprio governo. A agricultura recebeu poderes indevidos e que levarão a conflitos de interesse.
A democracia pressupõe alternância de grupos e ideias no poder. Até agora, houve o governo de direita de Fernando Collor, de curta duração e final infeliz. Depois o pêndulo oscilou entre o centro, tucano, e a esquerda, petista. Houve uma administração tampão do MDB, que se pode definir como centro-direita. E agora chega ao poder um governo assumidamente de direita.  No Brasil, os conceitos políticos são bem imprecisos. A esquerda fez coisas como aumentar as transferências para o capital, ainda que tenha também ampliado os programas sociais. Vamos entender nos próximos anos o que realmente significa uma administração de direita no Brasil. Destes pouquíssimos dias extrai-se pouca informação. O presidente, Jair Bolsonaro, garantiu que cumprirá promessas de campanha, como a de liberar a posse de armas.

O ministro das Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque, surpreendeu favoravelmente anunciando que a Eletrobras será privatizada, o que levou a uma alta de 20% nas ações em um único pregão. Houve também momentos constrangedores. As ideias da ministra Damares sobre divisão de cores por gênero são principalmente infantis, as do ministro Ernesto Araújo, confusas. [os que torcem contra a Damares, tiveram o desprazer de constatar que Luciano Huck, o Global, tem exatamente as mesmas ideias da ministra quanto as cores para uso de meninos e meninas - aqui;

os a favor do quanto pior, melhor, e que queriam e continuam querendo depor o Araújo também constataram que as ideias do ministro Araújo mereceram o apoio do Grupo de Lima.]

No Ministério da Justiça, o que se tentará é, a partir da experiência da Lava-Jato, reforçar o arcabouço legal contra a corrupção. Na posse, o ministro Sérgio Moro explicou que “um juiz de Curitiba pode pouco”. Um erro de interpretação dos fatos. Foi um juiz em Curitiba, no caso, ele mesmo, que permitiu, com suas decisões, que a Operação Lava-Jato alcançasse a dimensão que tem tido na vida nacional. Moro assumiu com projeto pronto para o combate à corrupção, mas não parece ter propostas para todos os outros assuntos que agora estão sob seu comando.
Na economia, o ministro Paulo Guedes tem ideias consolidadas. Ele é um homem de ideias, um pensador. A vida real dentro de um gabinete ministerial pode ser mais árdua do que ele imaginava. O que fazer diante de um presidente que anuncia de forma confusa e contraditória pedaços da “primeira e maior” das reformas econômicas? E quando o presidente anuncia que subirá o IOF e o secretário da Receita precisa desmentir? Confusos esses primeiros dias na área econômica.
A hora do espanto foi a do discurso barroco do ministro das Relações Exteriores. Depois de citações em grego e latim, ele desculpou-se: “Não conheço tantas línguas antigas assim. Não conheço hitita nem sânscrito”. O problema do chanceler é respeitar a linguagem diplomática, que requer mais cuidados do que ele demonstra ter ao falar de outros países. Ele os escolhe pelo governo que está agora no poder. Elogiou a “nova Itália, a Polônia, a Hungria”. Demonstra encantamento com Donald Trump. Como qualquer aluno do Instituto Rio Branco sabe, os governos são temporários, por isso as relações são entre os países. Ele propõe que o Itamaraty lute contra a “teofobia”, sem esclarecer o que essa cruzada contra problema inexistente tem a ver com os interesses do Brasil.
Na reorganização da administração, o governo acabou com o Ministério do Trabalho, enfraqueceu a Funai e tirou poderes do Ministério do Meio Ambiente. Tudo isso está dentro do ideário da direita. A redução do número de ministérios é bem-vinda. O problema é entregar o poder de demarcar as terras indígenas ao Ministério da Agricultura e transferir o Serviço Florestal Brasileiro do Meio Ambiente para a Agricultura. Isso certamente dará muito conflito. Foram apenas as primeiras pinceladas no novo rosto do poder. Seria bom que as confusões e os delírios desses primeiros dias dessem lugar ao entendimento da verdadeira natureza dos problemas nacionais.

Míriam Leitão, jornalista - O Globo