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terça-feira, 7 de novembro de 2023

De volta aos tempos de Hitler - Rodrigo Constantino

Gazeta do Povo - VOZES    

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

Entrei numa máquina do tempo e apareci bem no começo da Segunda Guerra Mundial. 
Hitler tinha decidido ignorar o pacto com Stalin e invadiu a Polônia. 
O intuito nazista já ficara claro para todos. Eis o que encontrei:


Britânicos pacifistas ainda insistiam na política de apaziguamento, alegando que o povo alemão em geral queria paz, e que o importante era negociar com Hitler, adotar a linha do diálogo para se buscar a paz; A maior preocupação soviética era minimizar o número de baixas, e por isso só aceitava participar da guerra utilizando um mínimo de efetivo militar, para valorizar cada vida de seus soldados;

A mídia ocidental estava obcecada com o risco de mortes de alemães, e sequer mencionava mais a chacina dos poloneses. Todos só repetiam que nenhuma morte era aceitável, que era fundamental ter um "cessar fogo", que qualquer reação ocidental era descabida e até "genocídio" de alemães inocentes, que, afinal, não concordavam com Hitler.

Ok, admito que foi um momento petista meu. Eu inventei isso tudo, menti mesmo, pois nada parecido encontrei na minha viagem no tempo. Bem ao contrário, na verdade: vi o Ocidente mobilizado com um único intuito, que era derrotar o nazismo de Hitler, vencer a guerra.

Não havia um só imitador de focas ou artista global espalhando falsa equivalência moral entre agressores e agredidos, muito menos tentando colocar a culpa nas vítimas. Tampouco a obsessão dos "pacifistas" era impedir qualquer morte do lado alemão, já que este era o lado responsável pela guerra, pelos ataques.

Toda guerra é triste, claro, tem morte de inocentes, e todos no lado ocidental sabiam disso, mas também sabiam que a alternativa era a vitória de Hitler, algo inaceitável. Ninguém ficava de forma absurda contando cadáveres alemães e culpando os britânicos, russos e americanos por eles. Todos sabiam que era culpa de Hitler, apenas dele.

Voltei ao presente com uma só lição de minha experiência, com uma reflexão permanente que se recusava a sair de minha cabeça: imaginem se na Segunda Guerra a maior preocupação ocidental fosse não ter uma só morte de alemão inocente, em vez de ganhar a porcaria da guerra contra os terríveis nazistas!

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

O lado sombrio da agenda ESG - Gazeta do Povo

Vozes - Luciano Trigo

É relativamente recente, pelo menos na intensidade atual, o uso do termo ESG (“Environmental, Social and Governance”, “Ambiental, Social e Governança”) por governos, corporações e a grande mídia. 
Mas a sigla apareceu pela primeira vez já em 2005, em um relatório da ONU que pregava a incorporação da questão ambiental à agenda de empresas e investidores.

Quem poderia ser contra? O problema é que, à medida em que se explicitam o alcance, o potencial impacto e o caráter globalista dessa agenda – que une governos, grandes corporações e o capital internacional, ou seja, basicamente todo mundo que manda no planeta – começam a aparecer também análises críticas fundamentadas ao consenso fabricado que une a esquerda e metacapitalistas como George Soros.

Essas críticas dizem respeito ao processo em curso de perda da soberania nacional diante do empoderamento de organismos multinacionais, que condicionam o uso de seus fundos a determinadas regras de interpretação nem sempre objetivas, o que se verifica claramente na Europa.

Basta dizer que, recentemente, a Polônia e a Hungria se rebelaram contra a ascendência das decisões da União Europeia sobre as decisões dos tribunais superiores nacionais. Os dois países se manifestaram, também, contra a regra que condiciona o acesso a fundos da entidade ao respeito à democracia e ao Estado de Direito.

O problema é que quem decide quem está desrespeitando a democracia e o Estado de Direito sequer venceu uma eleição e, frequentemente, soa parcial e ideologicamente motivado em suas decisões. [aqui o articulista deixa a impressão de que está falando do  que ocorre atualmente no Brasil - ou estamos enganados?]
    Se em defesa da democracia se acha bonito suprimir a liberdade de expressão, é natural que também se ache bonito abrir mão da soberania em defesa da natureza.

Soa familiar? Pois é. Se em defesa da democracia se acha bonito suprimir a liberdade de expressão, se relativiza a censura e se perseguem abertamente jornalistas que ousem manifestar opiniões contrárias ao consenso, é natural que também se ache aceitável a até bonito abrir mão da soberania nacional em defesa da natureza.

Fato: quando o grande capital se une a lideranças políticas soi-disant progressistas e detentoras do monopólio do bem e da preocupação com a justiça social, convém botar as barbas de molho.  No Brasil, por exemplo, é no mínimo curioso que um slogan como “A Amazônia é nossa!”, historicamente defendido pela esquerda, esteja sendo substituído paulatinamente pelo discurso de internacionalização da floresta, com a abdicação voluntária da soberania nacional e a defesa entusiasmada de uma gestão internacional da regiãosabidamente rica em minérios (mas seguramente isto é apenas um detalhe).

Como sou, por temperamento, desconfiado dos consensos e já vivi o bastante para entender que ninguém age só por bondade, sobretudo em questões que envolvem a política e a economia do planeta, venho tentando me inteirar do que dizem e argumentam os críticos da agenda ESG, aqueles malucos que teimam em desafiar a narrativa hegemônica em torno das questões ambientais.

Foi assim que cheguei nos livros e palestras do empresário e ativista político americano Vivek Ramaswamy, de quem nunca tinha ouvido falar até outro dia – e que, aliás está sendo cotado como potencial concorrente à Casa Branca em 2024. O tema é complexo, e não sei se concordo com todas as suas teses, mas é certo que a maioria delas faz bastante sentido.

Nascido em Cincinatti, filho de imigrantes indianos, o jovem (37 anos) Ramaswamy é autor de três livros “Woke, Inc.: Inside corporate America's social justice scam”; “Nation of victims: Identity politics, the death of merit and the path back to excellence” e o recém-lançado “Capitalist punishment: How Wall Street is using your money to create a country you didn’t vote for”.

São livros que atacam o bom-mocismo fake, os ataques à meritocracia e o vitimismo identitário promovidos pelos ativistas woke, temas que aliás já abordei em diferentes artigos.Em diversas entrevistas recentes, Ramaswamy vem alertando para os riscos envolvidos na santa aliança que se estabeleceu entre governantes progressistas e o grande capital internacional. Ele costuma fazer declarações bastante enfáticas e reveladoras sobre a agenda secreta do programa ESG, suas verdadeiras motivações, seus potenciais impactos e os verdadeiros interesses por trás de sua narrativa.

Selecionei os trechos abaixo de uma entrevista ao site “The Daily Signal”, para reflexão do leitor.

“O que Wall Street percebeu foi que existe hoje uma nova versão da esquerda, não mais a esquerda do Occupy Wall Street, mas o que chamaremos de nova esquerda woke, focada não mais na pobreza ou na injustiça econômica, mas no racismo sistêmico, na mudança climática, na misoginia e na intolerância.

“Assim, a barganha silenciosa que Wall Street fez foi dizer: 'Nós vamos assumir essas questões. Colocaremos minorias simbólicas em nossos conselhos. E vamos refletir sobre o impacto racialmente díspar das mudanças climáticas, ou o que quer que seja. Mas não faremos isso de graça. Queremos que deixem o nosso próprio status quo intacto”.

“Esta foi uma troca que funcionou bem para ambos os lados. E assim nasceu esse amálgama ESG, que usa o dinheiro dos cidadãos comuns para investir na América corporativa, desde que essas empresas adotem uma agenda política unilateral. E a ascendente esquerda progressista passou a ver Wall Street como um aliado na promoção de seus próprios objetivos”.

“ESG refere-se ao uso de dólares, incluindo os seus dólares, para promover metas ambientais ou sociais, bem como metas de governança, que não são implementadas por meio de políticas públicas, eleições ou democracia, mas sim por meio do poder econômico, com grandes investidores comprando ações de empresas e forçando essas empresas a se comportarem de uma determinada maneira.

    Esta não é uma questão de republicanos versus democratas. É uma reedição de 1776: aristocracia versus autogoverno democrático. É isso que está em jogo

“Eu acho que isso é assustador, embora pareça algo amigável à primeira vista. Mas é problemático por dois motivos. O primeiro é algo que já preocupava Milton Friedman: isso tornará as empresas menos eficazes na produção de produtos e serviços. Se as empresas estiverem focadas não em seu core business, mas em agendas sociais, elas serão menos competitivas e menos eficazes como motores de criação de valor – o que, por sua vez, reduzirá o tamanho do bolo econômico para a sociedade, o que levará todos a uma situação pior.

Mas também existe uma ameaça à democracia, uma ameaça à própria governança democrática. Porque o que esse novo sistema diz é que a maneira como resolvemos nossas divergências sobre questões como a suposta injustiça racial ou a mudança climática, sob a visão ESG do mundo, não será mais por meio da liberdade de expressão e do debate aberto entre cidadãos, debate em que a voz e o voto de todos contam igualmente. Em vez disso, resolveremos essas questões por meio do poder econômico, e as pessoas terão voz conforme o volume de dólares que controlam no mercado.  


Para mim, isso é particularmente assustador de uma perspectiva americana. Porque, neste país, tomamos uma decisão em 1776. Dissemos que, para o bem ou para o mal, aqui não seria como no Velho Mundo, onde algumas pessoas se reuniam em um enclave palaciano para decidir quais sseriam as respostas certas para o resto da sociedade. Aqui nós resolvemos essas questões como cidadãos, por meio de um processo democrático ordenado constitucionalmente.

“E o que o movimento ESG realmente representa é aquela velha visão de mundo levantando a cabeça novamente, com uma roupagem moderna, dizendo que não se pode confiar nos cidadãos para lidar com questões como desigualdade social ou mudança climática: essas questões têm ser resolvidas por alguém em um escritório na Park Avenue.

“Esta não é uma questão de republicanos versus democratas. É uma reedição de 1776. Trata-se de aristocracia versus autogoverno democrático. É isso que está em jogo. E acho que é por isso que a esquerda e a direita deveriam estremecer igualmente, quando estabelecem que a maneira de resolver divergências não é por meio do processo democrático, mas por meio do poder econômico.”

Luciano Trigo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


terça-feira, 1 de novembro de 2022

E agora? - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

Há inspiradoras páginas na história que precisam ser reabertas hoje para que possamos seguir de cabeça erguida diante dessa eleição presidencial, talvez [talvez? alguma dúvida?]a mais suja da história do país 

Cena do filme <i>Dunkirk</i> | Foto: Divulgação

 Cena do filme Dunkirk | Foto: Divulgação
 
E agora seguimos.

Sim, a ressaca moral hoje não está fácil. Mas nós precisamos seguir. Há inspiradoras páginas na história que precisam ser reabertas hoje, 31 de outubro de 2022, para que possamos seguir de cabeça erguida diante dessa eleição presidencial, talvez a mais suja da história do país.

Para mim, em um dia terrivelmente triste que pode nos deixar sem esperanças e sem boas perspectivas para o futuro, acessar nossa assembleia de vozes pode nos ajudar a sair desse transe de não querer acreditar que o país elegeu um ex-presidiário para presidente do Brasil com a ajuda de nossa Suprema Corte.

No final da primavera na Europa de 1940, as potências europeias ainda estavam engajadas no que havia sido apelidado de “Phoney War”, um período de oito meses no início da Segunda Guerra Mundial, durante o qual houve apenas uma operação militar terrestre limitada na Frente Ocidental, quando as tropas francesas invadiram o distrito de Saar, na Alemanha. 
Apesar da invasão da Polônia pela Alemanha em setembro de 1939, a França e a Grã-Bretanha fizeram pouco mais do que reunir tropas do seu lado das linhas defensivas e olhar com raiva para as de Adolf Hitler. Mas em 10 de maio, os alemães lançaram um ataque blitzkrieg à Holanda e à Bélgica; em 15 de maio, eles romperam as defesas francesas e viraram para o Canal da Mancha. Dentro de uma semana, cerca de 400 mil soldados aliados — compreendendo a maior parte das Forças Expedicionárias Britânicas, três exércitos franceses e os remanescentes das tropas belgas — foram cercados na costa norte da França, concentrados perto da cidade costeira de Dunquerque. (Vale a pena assistir a cada segundo do extraordinário Durnkirk, filme de 2017, dirigido pelo inglês Christopher Nolan.)

Em 4 de junho de 1940, conhecido hoje como o dia da sobrevivência para milhares de soldados britânicos, a tripulação do navio Medway Queen estava levando uma carga extraordinariamente grande de suprimentos para sua próxima missão. Walter Lord, autor do inspirador livro O Milagre de Dunquerque, conta que o assistente do cozinheiro chegou a comentar que havia comida suficiente a bordo para alimentar um exército. Mal sabia a tripulação, mas o Medway Queen estava prestes a ser enviado através do Canal da Mancha em uma das missões de resgate mais ousadas da Segunda Guerra Mundial: a Operação Dynamo, mais conhecida como a evacuação de Dunquerque.

Quando a Operação Dynamo começou, no final de 26 de maio, os oficiais britânicos encarregados de organizar a fuga frenética estimaram que apenas 45 mil homens poderiam ser salvos. Mas, nos oito dias seguintes, quando mais de mil navios britânicos — militares e civis — cruzaram o Canal repetidamente para resgatar mais de 330 mil pessoas, enquanto a Royal Air Force lutava contra a Luftwaffe nos céus. Outros 220 mil soldados aliados foram resgatados dos portos franceses de Saint-Malo, Brest, Cherbourg e Saint-Nazaire pelos britânicos.

(...)

A evacuação de Dunquerque inspirou um dos discursos mais dramáticos da história da humanidade. Quando `entrou na Câmara dos Comuns em 4 de junho de 1940, ele tinha muito o que discutir. Os Aliados tinham acabado de realizar o “milagre de Dunquerque”, resgatando cerca de 338 mil soldados de uma situação terrível na França. 
Depois de operações que encurralaram os soldados aliados na costa francesa, os nazistas estavam a poucos dias de entrar em Paris. 
Churchill sabia que precisava preparar seu povo para a possível queda da França. Ele também sabia que tinha de enviar uma mensagem impactante de resiliência diante da aflição da clara derrota, mesmo que momentânea, para todos.
(...)

Sim, hoje é um dia difícil para todos os brasileiros que alertaram e lutaram contra um projeto de poder nefasto que pode engolir o Brasil com a volta de um ladrão, corrupto, descondenado, ex-presidiário e chefe de organização criminosa ao poder. 
 Mas é nas páginas da história que podemos dar o correto senso de proporção de uma ressaca moral que pode receber uma injeção de perspectiva de reação, e o que bravos homens passaram para que pudéssemos estar aqui gozando de plena liberdade, mesmo em tempos perigosos de tirania judiciária no Brasil.

No final da batalha de Dunquerque, 235 navios foram perdidos, com pelo menos 5 mil soldados. Os alemães conseguiram capturar 40 mil soldados. Mas, embora a operação tenha sido uma retirada com pesadas baixas, o resgate de quase meio milhão de soldados de Dunquerque passou a ser uma das vitórias mais importantes e inspiradoras da guerra — e pode muito bem ter mudado seu resultado. Dunquerque — uma derrota histórica foi o começo do fim do Terceiro Reich.

Pelo legado de cidadãos comuns que atravessaram o Canal da Mancha para salvar outros bravos homens, nossa defesa do Brasil começa HOJE – 31 DE OUTUBRO DE 2022.

Pela herança que recebemos de hombridade, coragem e resiliênciae que devemos proteger e passar aos nossos filhos para que façam o mesmo nós não devemos enfraquecer ou fracassar. Iremos até ao fim.

E agora?

Agora lutaremos nos mares e oceanos. Lutamos com confiança e força. Lutaremos nas praias, lutaremos nos terrenos de desembarque, lutamos nos campos e nas ruas, lutaremos nas colinas, lutaremos nas escolas, nos jornais, nas redes sociais. Lutaremos no Senado e na Câmara. E nunca, jamais nos renderemos.

Leia também “Uma facada na democracia”

  Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Plano que amplia vagas do STF está pronto para apresentação ao Congresso

Imprudente e inoportuna, proposta de uma emenda constitucional começou a ser semeada há cerca de seis meses por Bolsonaro e aliados do Legislativo

 NA GAVETA - Supremo Tribunal Federal: o texto elaborado na surdina por parlamentares aliados do governo, com o aval do Palácio do Planalto, prevê a ampliação do número de ministros de onze para quinze -

 NA GAVETA - Supremo Tribunal Federal: o texto elaborado na surdina por parlamentares aliados do governo, com o aval do Palácio do Planalto, prevê a ampliação do número de ministros de onze para quinze -  - Nelson Junior/Fellipe Sampaio/STF

 Jair Bolsonaro nunca fez questão de manter relações harmoniosas com representantes do Poder Judiciário. Desde a sua posse na Presidência, ele bateu de frente com ministros de tribunais superiores, ameaçou enquadrar o Supremo Tribunal Federal (STF) e acusou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de participar de uma conspirata destinada a tirá-lo do poder. Em sua cabeça tão suscetível a teorias da conspiração, integrantes do STF agem para inviabilizar a sua administração, ao suspender uma série de decisões presidenciais, e trabalham para que Lula vença a eleição deste ano.

Os magistrados teriam liberado o petista da prisão com esse propósito e, aninhados na cúpula da Justiça Eleitoral, estariam empenhados em fraudar o resultado das urnas com o objetivo inconfessável de derrotá-lo. 
Não há prova ou indício de que Bolsonaro seja alvo de uma armação. Mesmo assim, o ex-capitão se mantém em estado permanente de ataque. Em seus discursos, ele costuma dizer que, se reeleito, obrigará os magistrados a jogar dentro das quatro linhas da Constituição. O presidente nunca tinha explicado como isso seria feito, mas agora está claro qual é o seu plano — um plano "casuístico" e essencialmente "antidemocrático."

Com a ajuda de aliados no Congresso, Bolsonaro quer tutelar o Supremo, recorrendo a um receituário usado pelo regime militar brasileiro e por ditadores internacionais — da esquerda à direita. O próprio mandatário deixou escapar sua estratégia em entrevista a VEJA, publicada na edição passada, quando foi questionado se pretende aumentar o número de vagas no STF em um eventual futuro governo. Ao responder, ele não só não negou como deixou a porta aberta para a medida. “Já chegou essa proposta para mim e eu falei que só discuto depois das eleições. Eu acho que o Supremo exerce um ativismo judicial que é ruim para o Brasil todo.”

A declaração logo se tornou assunto do debate político e foi usada para reforçar o discurso de que Bolsonaro representa uma ameaça à democracia, tese que uniu tucanos e emedebistas ao PT. Diante do desgaste, o presidente adotou uma postura pendular. Numa entrevista, afirmou que toda a celeuma foi inventada pela imprensa: “Eu falei que isso não estava no plano de governo, e botaram na minha conta”. Noutra, mais condizente com a realidade, declarou que podia desistir da ideia se o Supremo baixasse a bola. O plano existe, está no forno e começou a ser semeado há cerca de seis meses.Presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição

Na segunda quinzena de maio, em uma reunião a sós com parte da cúpula do Congresso, um ministro de um tribunal superior recebeu o rascunho do que até então era tratado com a mais absoluta reserva pelo presidente e pelos principais caciques da Câmara dos Deputados: a proposta de uma emenda constitucional para ampliar o número de assentos no STF. 
 No primeiro esboço, seriam criadas quatro novas vagas para a mais alta Corte do país. Na versão mais atualizada, cinco novos postos ampliariam o universo de onze magistrados para dezesseis, o mesmo patamar imposto pelo Ato Institucional nº 2, assinado em plena ditadura, quando os militares quiseram controlar o STF. “Eu vi a emenda. A ideia é apresentar um aditivo a um texto já em tramitação, e Bolsonaro conseguir rapidamente maioria no STF”, disse a VEJA, sob condição de anonimato, o ministro que meses atrás teve acesso ao teor da proposta.  [o desagradável nas fontes que jorram sob condição de anonimato é que muitas vezes o que jorram apenas sustentam narrativas.]
Na tentativa de cooptar parcelas do Congresso refratárias à ideia, a cúpula da Câmara rascunhou até um seguro an­tirrejei­ção na emenda constitucional. Pelo texto, as novas cadeiras no STF seriam indicadas, alternativamente, pelo presidente da República, pela Câmara dos Deputados e pelo Senado. Ou seja: todo mundo poderia sair ganhando — exceto, claro, a independência da própria Corte.[dificil de entender a 'narrativa' de que aumentando o número de ministros a Corte perde a independência = continua dependente da vontade da maioria dos seus integrantes.]

O projeto detalha, inclusive, como seria o funcionamento do Supremo. Em substituição às atuais duas turmas de julgamento, criadas para desafogar o acervo de processos do pleno, seriam constituídos três colegiados extras para julgar ações variadas, incluindo aquelas envolvendo políticos. “Na criação de vagas para tribunais, quem fica contra? Juízes, membros do Ministério Público e advogados não são contrários porque podem ser indicados para alguma vaga. Quem pode ficar contra é o cidadão comum, mas ele não tem voz nem eco nesse processo”, avalia um ministro do STF, informado sobre a proposta. No roteiro original de Bolsonaro, o projeto de ampliação das cadeiras do Supremo deveria ser mantido em sigilo até estar pronto para a votação, em princípio, em fevereiro de 2023, quando a maioria parlamentar governista e o presidente, à frente de seu segundo mandato, teriam capital político para levar adiante a ideia de empastelar o tribunal. Pelo plano desenhado, caberia a Arthur Lira, aliado de Bolsonaro e favorito à reeleição para o comando da Casa, colocar a proposta em votação, exatamente como fez no caso da emenda constitucional que instituía o voto impresso, rechaçada pelos deputados.

(...) 

 Os bolsonaristas não se abalam e têm pressa. Líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR) afirmou numa entrevista que era preciso enquadrar o tribunal. Depois, diante do desgaste eleitoral, foi mais contido. “Não é uma ameaça. Está acontecendo uma reação a um exagero das decisões que são tomadas pelo Judiciário e que não são aceitas pela população. Quem está atacando é o Judiciário.”

Dos onze ministros do STF, dois foram indicados por Bolsonaro: Kassio Nunes Marques e André Mendonça. Outros dois serão escolhidos pelo presidente eleito, em razão da aposentadoria obrigatória de Ricardo Lewandowski e Rosa Weber no ano que vem. Se renovar o mandato e conseguir aprovar o projeto que cria mais cinco cadeiras no Supremo, Bolsonaro terá, a depender da versão final do texto, oito ou nove ministros de sua predileção na Corte, mais do que a somatória de todos os demais juízes indicados por outros presidentes. Se isso acontecer de fato, ele replicará uma prática de líderes autocratas de diferentes espectros ideológicos.

(...)

Na Hungria, o premiê Viktor Orbán, de quem Bolsonaro se considera aliado, ampliou de onze para quinze os ministros da Corte Constitucional e antecipou a aposentadoria de vários outros juízes. Na Polônia, magistrados foram aposentados antes da idade, e o presidente se deu poderes para nomear diretamente o chefe da Suprema Corte.

Sob a condição de anonimato, um dos principais articuladores da proposta no Brasil alega que, apesar de todo o debate em torno de seu suposto caráter antidemocrático, a iniciativa tem potencial para avançar porque é de interesse também dos parlamentares, independentemente do presidente que for eleito em 30 de outubro. “Quando nós votamos a lei de abuso de autoridade, nós não enquadramos o Judiciário? Nós temos direito de fazer isso. Se eles estivessem comportados, não tinha reação”, diz.

(...)

DIREITA - Orbán: em sua cruzada antidemocrática, além de ampliar o número de juízes, ele aposentou alguns -
DIREITA – Orbán: em sua cruzada antidemocrática, além de ampliar o número de juízes, ele aposentou alguns – Riccardo Pareggiani/NurPhoto/Getty Images

Lula usou a possibilidade de ampliação do número de ministros do Supremo para fustigar Bolsonaro. “Nós estamos enfrentando um cidadão que quer aumentar o número de ministros da Suprema Corte para ter o controle sobre ela. Eu nunca indiquei ministros para me ajudar”, disse. Mas tentou. Durante seus dois mandatos, o ex-presidente nomeou oito ministros para o STF. No governo Dilma, Lula procurou convencer os integrantes do tribunal a adiar o julgamento do processo do mensalão para depois das eleições de 2012. Fracassou. Antes de ser preso pela Lava-­Jato, ele reclamou de que o Supremo tinha se acovardado diante do juiz Sergio Moro e pediu que seus aliados procurassem a ministra Rosa Weber, a atual presidente da Corte, para tentar convencê-la a votar a favor de um habeas-corpus que retiraria de Curitiba as investigações sobre ele.

MATÉRIA COMPLETA

Publicado em VEJA, edição nº 2811 de 19 de outubro de 2022


domingo, 9 de outubro de 2022

Bolsonaro pode subjugar STF sem o soldado e o cabo - desertores são repugnantes - O Globo

O presidente Jair Bolsonaro (PL), com o apresentador Datena Gabriela Bilo/Folhapress
 
O roteiro inclui aumentar o número de ministros, encurtar mandatos e restringir o alcance das decisões do Supremo. A cartilha já foi seguida na Hungria e na Polônia, onde aliados de Jair Bolsonaro governam com poderes imperiais.  [COMENTÁRIO: ao que pensamos, não é autoritarismo, poder imperial, ato antidemocrático ou qualquer classificação do tipo - o Poder Executivo e/ou Poder Legislativo exercerem suas atribuições impostas pela Constituição, ou seja,  respeitando os princípios constitucionais de harmonia e independência entre os poderes; 
ao nosso entendimento de cidadão -  ainda que leigo - autoritarismo,  ato antidemocrático e/ou inconstitucional, é um dos poderes, no caso Poder Judiciário, interferir nas decisões e funções, atribuídas pela Constituição aos outros Poderes.
A situação atual, de 'equilíbrio' entre os Poderes da República, é comprovada, de forma indiscutível, no caso da 'suspensão' do piso salarial da enfermagem. O Congresso Nacional, através das suas duas Casas, aprovou por ampla maioria o 'piso nacional salarial de enfermagem' = em ação legislativa que é da sua competência; o Presidente da República, exercendo atribuição constitucional, sancionou a lei. Se somarmos os votos recebidos pelos senadores e deputados aos recebidos pelo Presidente da República - este, quase 60.000.000 de votos - teremos mais de 100.000.000 de votos representados pelas autoridades que aprovaram/sancionaram a lei em questão.
Eis que um único juiz, ministro Barroso, do STF, que nunca foi votado, em decisão monocrática suspendeu dita lei.
Ato que nos parece ser praticamente uma revogação, visto que a suspensão vale até que a decisão seja revogada - no caso pelo voto de seis ministros do STF.]

Recém-eleito senador, Mourão indicou que também defenderá a cassação de atuais ministros do Supremo. Expôs a ideia com seu novo sotaque gaúcho, ensaiado para pedir votos no Rio Grande do Sul. Desde a posse do capitão, o Supremo tem atuado como um dique de contenção ao autoritarismo. Barrou tentativas de censura, suspendeu decretos inconstitucionais, defendeu a democracia dos ataques de extremistas.

Se conseguir a reeleição, Bolsonaro vai apertar o passo na marcha para a autocracia. Um segundo mandato lhe dará armas para liquidar a independência do Judiciário. É o que ainda falta ao capitão para enterrar investigações que o incomodam e exercer o poder sem limites. O novo Congresso não será obstáculo para seu projeto ditatorial.

Mourão não foi o único a ameaçar o Supremo na largada do segundo turno. Em entrevista à revista Veja, o próprio Bolsonaro confirmou as conversas para inflar o plenário da Corte. “Já chegou essa proposta para mim e eu falei que só discuto depois das eleições”, despistou.

No ano passado, ele apresentou um primeiro pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes. A ofensiva foi parada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que agora arrisca perder a cadeira para um bolsonarista raiz. A rigor, Bolsonaro não precisaria se inspirar em Varsóvia ou Budapeste. Seu plano já foi executado em Brasília pela ditadura militar. Em 1965, o regime aumentou o número de ministros de 11 para 16. A manobra permitiu ao marechal Castello Branco “empacotar” a Corte, nomeando cinco aliados de uma vez.

Quatro anos depois, a ditadura cassou três ministros que não se curvavam ao Planalto: Victor Nunes Leal, Evandro Lins e Silva e Hermes Lima. Outros dois anteciparam a aposentadoria, e o Supremo voltou ao formato original.

O episódio mostra que é possível capturar o tribunal sem a necessidade de fechá-lo com um cadeado. O bolsonarismo não precisará do soldado e do cabo: uma vitória do capitão pode ser suficiente.

Arrependidos e humilhados
A eleição para o Congresso provou que o bolsonarismo não tolera desertores. Políticos que romperam com o presidente saíram humilhados das urnas. 

Os deputados Alexandre Frota e Joice Hasselmann, derrotados nas urnas em 2022

 Os deputados Alexandre Frota e Joice Hasselmann, derrotados nas urnas em 2022 Agência O Globo

A deputada Joice Hasselmann, que havia recebido mais de 1 milhão de votos em 2018, amargou apenas 13 mil no último domingo. Outros arrependidos, como Abraham Weintraub, Janaína Paschoal e Alexandre Frota, também ficaram longe de se eleger.[os traidores e/ou desertores - quase sempre são sinônimos,  ou os atos vis que praticam, se completam - sempre foram objeto de desprezo.Sempre são comparados a Judas Iscariotes. No caso dos citados e de outros do tipo, a punição foi imposta pelos eleitores. ]

A exceção à regra foi Sergio Moro. O ex-juiz e ex-ministro preferiu se humilhar antes da eleição. Retirou tudo o que disse contra Bolsonaro e conseguiu a sonhada vaga no Senado.

Bernardo Mello Franco, colunista - O Globo
 
 

 

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Seria este o início da Terceira Guerra Mundial? Quem sabotou o gasoduto Nord Stream? Gazeta do Povo

Vozes - Daniel Lopez
 

Geopolítica submarina

Suspeita de sabotagem nos gasodutos Nord Stream levam a Europa (e o mundo) ao nível máximo de tensão

Imagem aérea mostra vazamento de gás do Nord Stream 2 no Mar Báltico, na região da ilha de Bornholm, na Dinamarca| Foto: EFE/EPA/Comando de Defesa da Dinamarca

A semana começou bem agitada. Enquanto protestos acontecem no Irã, Rússia e Colômbia, simplesmente duas explosões subaquáticas danificaram os gasodutos Nord Stream 1 e 2, situados no Mar Báltico, nas regiões econômicas da Suécia e da Noruega. 
A detonação causou grandes vazamentos de gás, exatamente quando a Europa vive sua mais grave crise energética dos últimos tempos. 
Com a chegada cada vez mais próxima do inverno no Hemisfério Norte, o dano aos dutos agrava ainda mais a já delicada situação na Europa, com possíveis reflexos em todo o mundo.
Ainda é cedo para afirmar o que (ou quem) causou as explosões. Inicialmente, cogitou-se a hipótese de problemas técnicos. Mas sismólogos afirmaram que as características do tremor são de explosões, o que levou a comunidade internacional a suspeitar de uma ação proposital. 
A Ucrânia levantou a hipótese de um ataque terrorista, enquanto o Kremlin, a Alemanha e a Polônia não excluíram a possibilidade de sabotagem.

Seguindo o princípio cui bono (“quem se beneficia”), alguns levantaram a hipótese de a ação ter sido realizada pela Ucrânia. Porém, explodir gasodutos em águas dinamarquesas a 70 metros de profundidade pareceu algo fora da realidade ucraniana. Outros, sugeriram que poderia ser um ato de bandeira falsa (quando um grupo ataca a si mesmo e culpa o oponente) realizado por um submarino russo. 

Todavia, o mais estranho foi a manifestação de Radek Sikorski, ex-ministro da Defesa Nacional e Ministro das Relações Exteriores da Polônia, em sua conta no Twitter. Ele postou "Obrigado, EUA", junto a uma foto dos vazamentos de gás do Nord Stream. Ele que é também jornalista e membro do Parlamento Europeu, continuou as postagens escrevendo: “Por falar nisso, não há escassez de capacidade de gasodutos para levar gás da Rússia para a Europa Ocidental, incluindo a Alemanha. A única lógica do Nord Stream era que Putin pudesse chantagear ou criar uma guerra na Europa Oriental impunemente. Todos os estados ucranianos e do mar Báltico se opõe à construção da Nordstream há 20 anos. Agora, US$ 20 bilhões de sucata estão no fundo do mar, outro custo para a Rússia de sua decisão criminosa de invadir a Ucrânia. Alguém, @MFA_Rússia (Ministério das Relações Exteriores da Rússia), fez uma operação de manutenção especial”. 
Ou seja, para ele, foram os norte-americanos que destruíram o gasoduto. E é muito estranho ver um membro do parlamento europeu falando isso abertamente e, ainda por cima, fazendo piada com os diplomatas russos.

Realmente é uma situação muito estranha, que lembra filmes do James Bond. Os gasodutos estavam fechados em virtude dos impasses entre russos e europeus e às sanções impostas a Moscou. Entretanto, os canos estavam cheios de gás. Com isso, as explosões colocam ainda mais certa a realidade de que a Europa não poderá contar com o gás russo neste inverno. Além disso, o estranho acontecimento também contribui para uma intensa escalada no conflito atual.

A questão é que alguns analistas ainda cultivavam a esperança (talvez irreal) de que a chegada do inverno poderia levar a União Europeia propor um acordo com Moscou, retirando as sanções ao país e, com isso, colaborar com o fim do conflito na Ucrânia. Porém, com o rompimento dos gasodutos, a hipótese fica ainda mais remota.[talvez a UE comece a desconfiar que apoiar o ex-palhaço Zelensky, que batalha usando a dos outros, não é um bom negócio; as sanções ocidentais começam a se voltar os países europeus - começando pela Suíça onde a ministra do Meio Ambiente, recomendou que os suíços passem a tomar banho em grupos, para economizar energia ... logo recomendará que comam menos para ...]

No ano passado, escrevi um artigo mostrando que a construção do gasoduto Nord Stream 2 poderia ser considerada um dos grandes catalisadores do conflito na Ucrânia. 
Na época, os Estados Unidos estavam determinados a impedir a conclusão do projeto, uma vez que significaria uma dependência ainda maior da Alemanha e de toda a Europa do gás fornecido pela Rússia, o que daria enorme poder a Vladimir Putin, que poderia usar a conjuntura como instrumento de pressão e chantagem contra o Ocidente. 
Em 2018, por exemplo, o então presidente Donald Trump decidiu sancionar qualquer um que se envolvesse no projeto, o que levou 18 empresas a se retirarem da empreitada. Entretanto, a companhia russa Gazprom decidiu seguir com os trabalhos, mesmo perante as sanções norte-americanas.

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Com a insistência da OTAN de incentivar a Ucrânia a integrar a aliança ocidental, o Kremlin decidiu invadir o país vizinho antes que ele se transformasse em mais uma base avançada das potências ocidentais. Com a invasão, seguida da unanimidade da opinião pública internacional contra a decisão russa, criou-se o ambiente favorável para o cancelamento do projeto, que custou quase 10 bilhões de euros, com 1.230 quilômetros de extensão, sendo o maior gasoduto submarino do mundo. 
 Imagine o tamanho do prejuízo que resultou do cancelamento do projeto. Vale lembrar que, independente do Nord Stream, a maior parte do gás natural que chega à Europa passa exatamente pela Ucrânia. Curioso, não? Estaria tudo conectado? É possível.

Enquanto isso, o cenário geopolítico vai ficando cada vez mais tenso. E quais seriam as reações caso se encontrem os responsáveis pelas explosões? Ursula von der Leyen, chefe da Comissão Europeia, publicou ontem (27) em no Twitter: “Conversei com Frederiksen (primeira-ministra dinamarquesa) na ação de sabotagem #Nordstream. É imperativo agora investigar os incidentes, obter total clareza sobre os eventos e por quê. Qualquer interrupção deliberada da infraestrutura energética europeia ativa é inaceitável e levará à resposta mais forte possível”.

A pergunta que fica é: o que seria essa “resposta mais forte possível”?
 Poderia uma eventual identificação dos autores levar o mundo a uma escalada que acabe desembocando numa Terceira Guerra Mundial? 
Deus queira que não. Contudo, alguns defendem que esse conflito já começou, mas a maioria ainda não se deu conta, uma vez que a modalidade de batalha moderna é indireta, irregular, não-convencional e híbrida. Que Deus nos proteja.

Daniel Lopez, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

domingo, 18 de setembro de 2022

Brasil: uma ilha de prosperidade - Gilberto Simões Pires

ILHA DE PROSPERIDADE

Enquanto a INFLAÇÃO e a RECESSÃO avançam, sem dó nem piedade, deixando rastros de destruição econômica e social em praticamente todos os países do PRIMEIRO MUNDO, eis que no nosso Brasil, que também sente, e muito, os reflexos decorrentes da PANDEMIA e, mais recentemente, da GUERRA RÚSSIA/UCRÂNIA, passou a ser visto, comentado e apreciado como uma ILHA DE PROSPERIDADE em meio a um oceano economicamente revolto. 

INFLAÇÃO

No quesito INFLAÇÃO, que na realidade identifica a VARIAÇÃO DE PREÇOS DE PRODUTOS pelo efeito -ESCASSEZ e/ou DEMANDA MAIOR DO QUE A OFERTA-, os números atualizados apontam o que acontece, por exemplo, nos seguintes países: Lituânia: 15,5% ao ano; Polônia: 11%; Reino Unido: 9%; Índia: 7%; Coreia do Sul: 5%, etc.. Sem falar nos EUA, cuja taxa de inflação já superou o índice de preços do Brasil em 2022. Vejam que o CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês) norte-americano acumula alta de 5,31% de janeiro a julho. Enquanto isso, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) do Brasil chegou a 4,77% no mesmo período. 

PIB

Já no que diz respeito ao PIB, um levantamento feito com 33 países que divulgaram números referentes ao segundo trimestre de 2022 mostra que o crescimento médio dessas economias foi de 0,5%, segundo dados disponibilizados pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). São 24 países com crescimento, 2 com estabilidade e 7 com retração, na comparação com o trimestre anterior. Pois, para surpresa geral, o nosso PIB cresceu 1,2% no segundo trimestre em relação ao anterior. E nesta semana o Banco Central informou que o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), considerado um indicador prévio de desempenho do PIB, subiu 1,17% em julho na comparação com junho. Que tal? 

DETALHE IMPORTANTE

Detalhe importante: Holanda, Romênia, Croácia, Arábia Saudita e Israel estão entre os que mais cresceram no trimestre passado. Na lanterna do ranking aparecem Portugal, Lituânia, Letônia, Polônia e China, que por sua vez teve forte desaceleração no trimestre. Já o continente europeu está nas duas pontas do ranking: o crescimento na ZONA DO EURO foi de 0,7% graças, principalmente ao turismo. 

DESEMPENHO COMPARATIVO

Pois é, meus caros leitores. Enquanto o mundo todo sofre com INFLAÇÃO EM ALTA E CRESCIMENTO EM BAIXA, o nosso Brasil desponta com desempenho bem melhor comparativamente. Atenção: isto é algo jamais visto na história. 
E neste caso há que se reconhecer e aplaudir as acertadas medidas tomadas e operadas pela ótima equipe econômica chefiada por Paulo Guedes, pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sob a liderança do presidente Jair Bolsonaro.  

 Ponto Crítico - Gilberto Simões Pires

 

segunda-feira, 13 de junho de 2022

Cem dias de guerra - Revista Oeste

Flavio Morgenstern

A pior notícia para a Ucrânia é o alento para o mundo: ela hoje está sozinha, implorando ajuda 

Não é chocante dizer que o mundo mudou mais nos últimos dez ou mesmo cinco anos do que no período compreendido entre a década de 1910 e a Guerra Fria. O século 21, inaugurado em seu primeiro cataclismo no 11 de setembro de 2001, foi abalado por reiterados eventos que mudaram a configuração, a cultura ou ao menos o clima político de países bem afastados de seu epicentro: a crise de 2008, a Primavera Árabe se espalhando como fogo numa floresta seca, a eleição de Trump (e mesmo de Bolsonaro), a pandemia do covid e, agora, a guerra na Ucrânia.

Pessoas atravessam uma ponte destruída ao evacuar a cidade de Irpin, a noroeste de Kyev, durante bombardeios | Foto: Shutterstock
Pessoas atravessam uma ponte destruída ao evacuar a cidade de Irpin, a noroeste de Kyev, durante bombardeios -  Foto: Shutterstock

Algo une esses eventos: o quase integral desconhecimento dos formadores de opinião sobre seu desenvolvimento — ainda que a onda conservadora eleitoral só não tenha sido compreendida pelas elites. Se a crise do mercado financeiro era um assunto técnico, a guerra na Ucrânia se destaca pelo seu exotismo. É curioso pensar o que se sabia sobre a Ucrânia no Ocidente até o fim do ano passado, quando Vladimir Putin começou a ameaçar o país de maneira mais ostensiva. Passados cem dias de conflito, ainda é difícil a ocidentais aprender algo dos destroços, mas algo podemos tatear sobre o futuro geopolítico a partir destes cem dias de destruição.

Provokatsiya: dois métodos de guerra
Uma das palavras russas que se parecem com o português é a especialidade dos autocratas russos, sejam os tsares, os ditadores socialistas, sejam os autocratas da nova Rússia: a provokatsiya como gestão de vizinhos, negócios e, sobretudo, inimigos. 
A Rússia, imponente como território e de mentalidade militar desde as reformas de Pedro I, o Grande, e seus anseios por uma Marinha russa pujante, pode constantemente provocar seus inimigos a se moverem, apenas por defesa.

Foram exatamente mobilizações russas na sua imensa fronteira que esquentaram o clima militar na crise de julho, que culminou com a Primeira Guerra Mundial. Putin fez exercícios militares constantes na fronteira ucraniana, e na Geórgia, e em direção à Polônia, antes de finalmente invadir a Ucrânia.

E os movimentos militares russos ainda confundem o Ocidente: o equipamento militar russo do primeiro cerco a Kiev parecia obsoleto, mas ao mesmo tempo possui aviões supersônicos e um conjunto ofensivo de mísseis que rompe barreiras antimísseis com frequência assustadora (e os testes continuam, como na costa japonesa).

A forma russa de fazer guerra, até mesmo na Segunda Guerra Mundial, já envolveu mandar soldados aos pares para o front com apenas um fuzil: quando o primeiro morresse, o segundo tomava a arma e seguia adiante.  
Usar vidas humanas como peões de xadrez ainda é uma constante: contingentes terrestres de soldados aparecem aos montes, sem parecer haver muita preocupação com proteção. A ofensiva é pelo enxame, desnorteando a defesa — mas após destruição aérea e com amplo suporte.

O resultado parece confuso, com dois generais russos sendo mortos em um único dia, totalizando 52 coronéis mortos, ou com a perda de algumas cidades e muitas tropas (e dinheiro), dando a impressão de que Putin perde o controle em algumas ofensivas, ao mesmo tempo em que também parece ter uma vitória esmagadora em Donbass e domina o lado oriental da Ucrânia, já tendo domínio sobre 20% do país. A um só tempo, a Otan fica confusa em saber se retiradas são mesmo retiradas ou novas mobilizações que pareçam até contraditórias.

Se os carros, os tanques e, sobretudo, a munição russas não parecem em bom estado para as tropas terrestres, o mesmo não se pode dizer do armamento de ponta. No fim de maio, russos testaram o míssil hipersônico Zircon, de lançamento marítimo. O receio para o Ocidente é a utilização de armamento inédito, como bombas eletromagnéticas, nunca testadas contra alvos humanos, ou artefatos como a “maior bomba não nuclear” do mundo, o que poderia causar o efeito de uma bomba nuclear sem o risco de um ataque nuclear em um vizinho.

Putin tem se saído um exímio vencedor, sem que o Ocidente consiga nem ao menos entender o que testemunha

Na Ucrânia, cidades foram cercadas, como Kiev, Slovyansk, Kramatorsk, seguindo-se tal paradigma. Com seu contingente, russos podem obrigar o inimigo a gastar tempo se movimentando, mesmo que de forma inútil ou contraditória, apenas para evitar o risco de serem atacados. 
O modelo de luta da Otan é quase invertido: intervenções pontuais, com o mínimo possível de baixas dos próprios exércitos, com retratações rápidas para reagrupamento e realocação. O que os russos consideram um modelo “marítimo” (talassocrático) de guerrear. Determinar quem está ganhando ou perdendo neste novo modelo é tarefa quase impossível.

Mudanças temporais
A mesma incompreensão se dá na dinâmica temporal.
O Ocidente já se meteu em guerras nas quais não fazia a menor ideia do que estava fazendo: Coreia, Vietnã, Afeganistão (crendo que armar um guerreiro muçulmano seria uma forma de enfraquecer o “inimigo ateu” soviético), Iraque. Putin, possivelmente com câncer, não pensa no tempo de sua vida: está em um conflito armado com a Ucrânia, a “Pequena Rússia”, há mais de três séculos, e não pretende resolvê-lo no tempo de sua vida. Valores como “defender o povo” valem mais para um russo do que nossa confusão entre esquerda e direita — e o legado que o autocrata pretende deixar com a guerra e com as mudanças no tabuleiro geopolítico não pode ser facilmente compreendido por nossa visão no máximo eleitoral, de quatro em quatro anos.

Putin pode enfraquecer a Ucrânia, criar governos de autóctones que possa controlar diretamente de Moscou em diversos países-satélites (já havia feito o mesmo com a Guerra Russo-Georgiana, em 2008, num país bem menor e mais facilmente controlável), demonstrar o poder russo para fazer a Otan se retrair e ganhar influência sobre a Europa, até começar a chegar à Polônia, à Alemanha e sabe-se lá mais onde. Em todos esses intentos, Putin tem se saído um exímio vencedor, sem que o Ocidente consiga nem ao menos entender o que testemunha.

Dois lados errados
Em relação à Ucrânia, a Otan vem testando os limites do poder de Putin desde pelo menos a era Obama — foi o ex-presidente que afirmou que convidaria a Ucrânia para a organização, o que nem sequer faz sentido: o estatuto da Otan impede o ingresso de países com conflitos territoriais.
 
Os membros da Otan não têm nenhuma clareza sobre a instituição, e seus dirigentes atuais são pouco instruídos sobre os problemas históricos que enfrentam. Exemplo paradigmático foi a exclusão da Rússia do sistema bancário Swift por Joe Biden. 
Ora, impedir que russos acessem o sistema bancário internacional parece ser uma medida tomada contra a Cuba de 1959, não contra um país patrocinado pela China, e que, ao transferir boa parte de suas reservas para o iuane, pode, pelo contrário, quebrar o dólar sem falar em criptomoedas e no mercado negro.

Mas a Suíça também é um novo paradigma do novo mundo, por aceitar o pedido — logo a neutra Suíça, que passou por duas Guerras Mundiais sem envolvimento, sendo usada quase como sinônimo de hospitalidade e não adesão. Caso este conflito escalone, além de mudanças em moedas, na balança comercial, na produção (na qual os fertilizantes brasileiros têm papel fundamental), veremos uma Europa que não reconhecemos, além de uma dependência cada vez maior das potências entre si, sem falar no risco de conflito com a também turbulenta China, que violou o espaço aéreo de Taiwan seis vezes na mesma manhã da declaração de guerra com a Ucrânia.

Vemos nesta guerra dois lados errados: a Otan com a instalação de bases militares, como a da Romênia, enquanto Putin quer instaurar um totalitarismo, com propaganda de ser um cruzado contra a “decadência” e a “nazificação” ucranianas.

As guerras mundiais começaram por fatores diversos, que entrelaçaram diversos países. A pior notícia para a Ucrânia é o alento para o mundo: ela hoje está sozinha, implorando ajuda. E o Ocidente não quer se comprometer. [Comentando: antes mesmo do primeiro disparo já antecipávamos que a Ucrânia seria a perdedora e alertávamos  que o ex-comediante que ainda preside aquele País, estava arrumando uma guerra na expectativa de seus 'aliados de discurso' aceitassem combater por eles e estes queriam testar o poderio militar russo sem se comprometerem - afinal, a última coisa que os 'líderes' da Otan querem é arrumar uma guerra contra a Rússia - ninguém tem dúvidas que se necessário a Rússia usará armamento nuclear, provavelmente tático, sem que a Otan revide = é bem mais fácil lançar bombas nucleares sobre um Japão moribundo - caso Nagasaki/Hiroshima - do que sobre uma Rússia com capacidade de revide = não esqueçamos que um revide levará a uma retaliação que resultará no fim do planeta Terra
Portanto,  é bem mais fácil dar corda a uma Ucrânia presidida por um 'estadista',  que pensa que uma guerra é uma comédia.]

Leia também “Luz em tempos de escuridão”

Flavio Morgenstern,m colunista - Revista Oeste


domingo, 29 de maio de 2022

Aliados ocidentais começam a discordar entre si quanto às condições para um acordo de paz com a Rússia - O Estado de S.Paulo

The Economist: Como terminará a guerra na Ucrânia?

Foto: SERGEY KOZLOV

A guerra na Ucrânia, segundo o presidente do país, Volodmir Zelenski, será vencida no campo de batalha, mas só poderá chegar ao fim por meio de negociações. Mas quando parar os combates? E de acordo com quais termos? O Ocidente diz que cabe à Ucrânia decidir. No entanto, passados três meses desde o início do conflito, os países ocidentais estão assumindo diferentes posicionamentos diante do seu desenlace.

Eles estão se dividindo em dois grupos, explica Ivan Krastev, do Centre for Liberal Strategies, um centro de estudos com sede em Sofia, na Bulgária. Um deles é o “partido da paz”, que deseja uma interrupção nos combates e o início das negociações o quanto antes. O outro é o partido da justiça”, para quem é preciso exigir da Rússia que pague um alto preço pela agressão cometida.

Ônibus passa em frente a prédio destruído em Borodianka, perto de Kiev; Ocidente ainda não sabe como iniciar negociações para o fim da guerra
Ônibus passa em frente a prédio destruído em Borodianka, perto de Kiev; Ocidente ainda não sabe como iniciar negociações para o fim da guerra  Foto: EFE/EPA/OLEG PETRASYUK
O debate começa com o território: 1)deixar a Rússia manter os que conquistou até o momento; 
2) fazê-la recuar até as fronteiras de 24 de fevereiro; 
3) ou tentar empurrá-la para trás, para dentro de suas fronteiras, para recuperar os territórios perdidos em 2014? 
É um debate que envolve muitos outros aspectos, incluindo o custo, o risco e a recompensa de se prolongar a guerra, e o lugar que a Rússia deve ocupar na ordem europeia. [queiram ou não a Rússia está ganhando a guerra - não no ritmo esperado, mas de forma lenta e consolidando posições - e, em nosso entendimento, jamais aceitará voltar para o antes de 2014 - opção 3.
O dilema está entre as opções 1 e 2 - e será dificil para a Ucrânia conseguir a opção 2, a conveniência da Rússia fortalece optar pela alternativa 1.]

O partido da paz está se mobilizando. A Alemanha pediu um cessar-fogo; a Itália apresentou um plano de quatro pontos para um acordo político; a França fala em um acordo de paz futuro sem “humilhar” a Rússia. Entre as posições deles estão principalmente a Polônia e os países bálticos, defendidos pelo Reino Unido.

E quanto aos Estados Unidos? O mais importante defensor da Ucrânia ainda não definiu um objetivo claro, além de fortalecer os ucranianos para dar ao país mais poder nas negociações. Os EUA já gastaram quase US$ 14 bilhões na guerra até o momento, e o Congresso acaba de destinar outros US$ 40 bilhões.

Os EUA chefiaram um esforço de captação de doações envolvendo mais de 40 outros países. Mas essa ajuda não é ilimitada. Ela produziu uma artilharia, mas não os sistemas de foguetes de longo alcance que a Ucrânia está pedindo.

EUA MUDAM DE OPINIÃO A TODO MOMENTO
Comentários feitos por Lloyd Austin, secretário da defesa dos EUA, só aumentam a ambiguidade. Depois de visitar Kiev, no mês passado, ele aderiu ao partido da justiça, dizendo que o Ocidente deveria ajudar a Ucrânia a “vencer” e “enfraquecer” a Rússia.

Três semanas depois ele parecia ter aderido ao partido da paz, pedindo um “cessar-fogo imediato” após um telefonema ao ministro da Defesa da Rússia, Serguei Shoigu. O Pentágono insiste que sua política não mudou.

Outro golpe sofrido pelo partido da justiça foi um editorial publicado no New York Times defendendo que a derrota da Rússia seria um objetivo irreal e perigoso. Na ocasião, Henry Kissinger, ex-secretário de Estado dos EUA, disse que as negociações deveriam começar em dois meses para evitar “agitações e tensões que não serão fáceis de superar”.

Idealmente, haveria um recuo até as fronteiras de 24 de fevereiro. “Insistir na guerra além disso não seria algo em nome da liberdade da Ucrânia, e sim uma forma de guerrear contra a Rússia”, declarou Kissinger no Fórum Econômico Mundial, em Davos. De acordo com ele, a Rússia tem um papel importante a desempenhar no equilíbrio de poder da Europa e não devemos empurrar o país na direção de uma “aliança permanente” com a China.

Por enquanto, essas fissuras no Ocidente são contidas pelo mantra segundo o qual cabe aos ucranianos decidir o futuro. Mas as alternativas da Ucrânia são, por sua vez, definidas por aquilo que o Ocidente lhe oferecerá. “A Europa e o mundo como um todo deveriam se mostrar unidos. Seremos fortes enquanto vocês se mantiverem unidos”, disse Zelenski, durante uma reunião em Davos. Ele garantiu que “a Ucrânia vai lutar até recuperar todo o seu território”. Mas ele também pareceu deixar para si algum espaço para concessões mútuas. De acordo com Zelenski, as negociações com a Rússia poderão começar quando o país retirar suas forças para as fronteiras de 24 de fevereiro.

Recuo e ataqueRussos concentram ataques no leste da Ucrânia após derrotas em Kiev
AJUSTES DE OPINIÃO CONFUNDEM ALIADOS
EUA, Europa e Ucrânia precisam ajustar continuamente seus posicionamentos em relação ao que os demais considerariam aceitável. “Os ucranianos estão negociando com seus aliados ocidentais tanto quanto estão tratando com os russos, ou ainda mais”, disse Olga Oliker, do International Crisis Group, um centro de estudos estratégicos.

A indefinição também reflete as incertezas da guerra. A Ucrânia está vencendo, já que salvou Kiev e afastou os russos de Kharkiv?          Ou está perdendo, pois a Rússia tomou Mariupol e pode em breve cercar Severodonetsk?

O partido da paz teme que, quanto mais durarem os combates, maior será o custo humano e econômico para a Ucrânia e o restante do mundo. O partido da justiça responde que as sanções aplicadas contra a Rússia estão começando a fazer efeito e, com mais tempo, mais armamento e equipamento melhor, a Ucrânia pode vencer. [será?]

Por trás de tudo isso há duas preocupações contraditórias. Uma delas diz respeito à potência das forças russas, que podem prevalecer em uma guerra de atrito. 
A outra diz respeito à sua fragilidade. Em caso de derrota desastrosa, a Rússia poderia descontar na Otan, ou recorrer a armas químicas ou até nucleares para evitar uma derrota.

No longo prazo, diz Emmanuel Macron, presidente francês, a Europa terá de encontrar uma maneira de conviver com a Rússia. A primeira-ministra da Estônia, Kaja Kallas, respondeu: “É muito mais perigoso ceder a Putin do que provocá-lo”.

Autoridades americanas e europeias vêm ajudando discretamente a Ucrânia a desenvolver suas posições para uma negociação. Um dos principais pontos é a exigência do país de garantias de segurança por parte do Ocidente.[como sempre o ex-comediante quer quer outros países combatam nas guerras que ele provocar. Mesmo já tendo tido tempo e mortes mais que suficientes para mostrar que sua tática não convence.] Na ausência de uma promessa direta de defesa da Ucrânia, outras ideias incluem a possibilidade de imposição automática de novas sanções à Rússia quando essas forem eventualmente suspensas e o rápido rearmamento da Ucrânia caso o país volte a ser atacado.

No momento, a Ucrânia se mostra otimista, e tem motivo para tal. O país impediu uma conquista fácil por parte dos russos, e o novo armamento ocidental está chegando à frente de batalha. Mas, falando a partir do gabinete presidencial protegido com sacos de areia, o principal negociador de Zelenski, Mikhailo Podoliak, se diz cada vez mais preocupado com a “fadiga” em alguns países europeus. “Eles não o dizem diretamente, mas é como uma tentativa de nos forçar a capitular. Qualquer cessar-fogo significa um conflito congelado.” Ele também se queixou da “inércia” em Washington, já que o armamento não estaria chegando na quantidade que a Ucrânia precisa.

O momento do fim da guerra vai depender principalmente da Rússia. O país não tem pressa em aceitar um cessar-fogo, parece determinado a conquistar toda a região do Donbas, no leste, e fala-se em tomar mais territórios no oeste. “O paradoxo da situação está no fato de ambos os lados acreditarem que podem vencer”, disse Volodmir Fesenko, analista político de Kiev. “Só poderemos falar em concessões mútuas quando chegarmos a um impasse reconhecido por Moscou e Kiev. E, mesmo assim, tal situação deve ser provavelmente temporária.”/

 The Economist - O Estado de S. Paulo

TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL