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domingo, 26 de julho de 2020

Mandetta 2022: lá vem o pico - Guilherme Fiuza

Henrique Mandetta (se não lembrar quem é vai no Google) 

Gazeta do Povo - Vozes

Henrique Mandetta (se não lembrar quem é vai no Google) surpreendeu zero pessoas ao dizer que pode ser candidato a presidente. Ou talvez uma meia-dúzia ainda estivesse achando que aquele personagem de coletinho e topete falando pelos cotovelos na televisão quase 24 horas por dia era ministro da Saúde. Para quem não se lembra (estamos aqui pra isso), a verborragia salvacionista do suposto ministro chegou a considerações sociológicas sobre a condição humana dos traficantes de drogas. Droga pesada é um homem usar pandemia como palanque.

Aí está. Pelo menos agora os verdadeiros propósitos saíram do armário. Mas esse armário sempre foi transparente para quem não se recusou a olhar para ele. Quem olhou, viu de tudo. Viu previsões levianas sobre projeção da epidemia, um pico móvel que estava sempre um pouco adiante – e ainda hoje está lá na linha do horizonte, em algum ponto nebuloso entre setembro e dezembro, enquanto 2022 não vem. No registro civil o ponto mais alto de óbitos por coronavírus no Brasil está em maio, mas o pico do Mandetta é uma instituição comprometida com o futuro.

Ia faltar respirador (hoje sobram superfaturados), ia faltar leito se a população não se enfiasse toda em casa – e de casa começou a vir o maior número de infectados para os hospitais, como demonstraram os dados de Nova York e da própria Organização Mundial da Saúde. Gente que praticou quarentena severa pegou o vírus, porque ele não ouviu o discurso do Mandetta e já estava por toda parte quando o confinamento começou. O famoso achatamento da curva pelo lockdown místico não achatou nem o topete do homem do coletinho – que continuou botando a culpa da sua demagogia eleitoreira na ciência.

Num show de coerência, depois de passar mais de um mês pregando diariamente que todas as pessoas se isolassem totalmente umas das outras, Mandetta se despediu do cargo de ministro da Saúde jogando às favas seu isolacionismo e saiu abraçando seus auxiliares sem máscara em ambiente aglomerado. Viu como ele estava preocupado com vidas? A cena está por aí para quem quiser revisitar o monumento à hipocrisia – e com certeza será a peça central da campanha Mandetta 22, com narração do próprio candidato sobre as imagens eloquentes: “Olá, esse aí sou eu, Henrique Mandetta, brincando de ministro da Saúde para tripudiar do pânico geral no meio de uma pandemia”. Tá eleito.

Ao tirar sua politicagem do armário, Mandetta disse que pode compor uma chapa com Sergio Moro. Será, de fato, uma chapa perfeita. Depois de fazer história liderando a operação Lava Jato, Moro resolveu ser Mandetta na vida. Em plena pandemia, com os cidadãos apanhando na rua a mando dos tiranetes de lockdown, o então ministro da Justiça resolveu se dedicar à internet com mensagens de autoajuda sobre prudência.

Soa enigmático? Mas não tem enigma nenhum aí. Sergio Moro estava fazendo política contra Bolsonaro (o chefe do governo a que ele servia), com a mesmíssima sutileza de elefante adotada por Mandetta para se apresentar como “oposição” à postura do presidente a favor da circulação controlada da população. Não se sabe se Bolsonaro estava certo ao propor o isolamento apenas dos vulneráveis e grupos de risco, com distanciamento e proteção dos demais. O que se sabe, com toda certeza, é que Moro e Mandetta estavam fazendo política no meio da tragédia.

Abandonaram o barco e estão aí até hoje soltando conselhos de prudência e “se cuida” a 1,99. Os motivos alegados por ambos para se opor e romper com o governo continuam boiando no ar à espera de comprovação. Mas quem confunde circo com ciência não precisa comprovar nada.

Guilherme Fiuza, jornalista - Gazeta do Povo - Vozes



segunda-feira, 10 de junho de 2019

Um país dividido

Narrativa do confronto está sendo substituída pela da negociação com parlamentares e partidos

Os governos petistas acostumaram o País à divisão. Foi o célebre “nós” contra “eles”, os “progressistas” contra os “conservadores”, além de outras versões da acepção do político enquanto distinção entre amigo e inimigo. Apesar de estes governos terem tido, na prática, uma política de negociação e, mesmo, de corrupção com os mesmos “conservadores” e “eles” tão vilipendiados, a narrativa dominante foi a do combate incessante. No imaginário nacional, prevaleceu a narrativa da guerra política, até ela ser desmontada pela Operação Lava Jato, ao expor as entranhas destes compromissos. É esta narrativa, aliás, que continua a nortear o PT ao colocar o ex-presidente, julgado e condenado, como “vítima” e “perseguido” político.

O curto mandato do presidente Temer caracterizou-se por uma acepção do político diferente, voltada para a negociação e a pacificação. Foi evitado qualquer confronto que pudesse pôr em questão a estabilidade institucional, por meio de diálogos e compromissos. Tornou-se, assim, possível realizar um ousado projeto de reformas de cunho liberalizante, que colocou o Brasil num novo patamar, tendo faltado o seu desfecho na reforma da Previdência, torpedeada por aqueles mesmos que procuravam manter os seus privilégios. Serviu de álibi a luta “salvacionista” contra a corrupção, embora nada tenha sido provado. Os efeitos midiáticos, porém, foram enormes.

A campanha do atual presidente Bolsonaro, por sua vez, caracterizou-se por uma retomada da acepção do político enquanto contraposição entre amigo e inimigo, construindo uma narrativa de luta contra a “esquerda”, sob as suas várias significações derivadas do politicamente correto. Retomou os valores conservadores que foram brandidos contra os supostos progressistas, insistindo num combate sem tréguas que continua a se desenvolver no novo governo. Interessante observar que o cenário eleitoral foi de tal maneira construído que o governo Temer foi eleitoralmente considerado enquanto inexistente. Isso por uma razão bem simples. A “nova política” precisava de um inimigo e nada melhor para isso do que Lula e o PT. A narrativa estaria, assim, bem ancorada.

Contudo, o novo governo está retomando em seu perfil econômico as linhas-mestras do governo Temer. Parte de seus pressupostos, como a reforma trabalhista, o teto dos gastos públicos e o projeto de concessões de aeroportos, agora realizado segundo as condições elaboradas no governo anterior. Destaque-se, aqui, que um dos não menores méritos do governo Temer consiste em ter tornado transparente a crise fiscal e, em particular, o caráter imprescindível da reforma da Previdência. Se hoje há clareza sobre isso, o crédito deve ser atribuído ao ex-presidente.

A dificuldade maior do atual governo consiste em ter retomado como regra de ação o combate ao inimigo, espraiando-se essa orientação não apenas à oposição, mas a todos os que dele divergem, sem que se saiba ao certo quem são “aqueles” que são tidos por divergentes. Explico. As divergências maiores, que adquiriram contornos agudos, residem dentro do próprio governo e entre os seus aliados potenciais, que nada têm de simpatizantes da “esquerda”. Foram as lutas incessantes entre “olavistas” e “militares”, com estes sendo objeto de uma campanha de difamação nas redes sociais. Foram igualmente os embates contra a “velha” política, contra aliados potenciais que passaram a ser vistos como inimigos.

Torna-se uma missão quase impossível governar com tal fratura no interior mesmo do governo, sobretudo por estar baseado numa forte presença militar. Se até eles vieram a ser chamados de “comunistas” ou outros nomes considerados como impróprios, nem faltando os piores palavrões, é porque uma unidade de ação não consegue ser construída. Note-se que o apaziguamento destas últimas semanas fez com que o governo conseguisse avançar tanto na comunicação com a opinião pública, transmitindo uma imagem de estabilidade, quanto na construção de negociações que viabilizem a reforma da Previdência. O presidente Bolsonaro soube colocar-se acima das disputas, pondo-lhes um término, e não atuando enquanto parte delas. Seria fundamental para o País que persista nesta via.

A narrativa do confronto está sendo também substituída pela da negociação com parlamentares e partidos, o que pressupõe que estes deixem de ser considerados como representantes da “velha política”. É totalmente incompatível considerar parlamentares enquanto inimigos e, ao mesmo tempo, como parceiros de negociação em prol do bem do País. Ou se negocia ou se elimina o “inimigo”. Não é possível manter juntas ambas alternativas. Isto é, não há como avançar uma pauta econômica liberalizante se a narrativa for a de inviabilizar uma mesma negociação necessária. A vida democrática tem como condição o diálogo incessante entre o Executivo e o Legislativo, este último não podendo ser tido por inimigo.

O Brasil só caminhará decisivamente rumo às reformas necessárias se a política for a do apaziguamento. A pauta econômica não avançará se tiver como pressuposto político uma concepção que inviabilize a própria negociação parlamentar. Os impasses destes primeiros meses de governo, em muito, se devem a essas contradições, que estão levando o Brasil à paralisia. Não é demais atentar para o fato de que o desemprego é elevadíssimo, o PIB foi negativo no último trimestre e há um desalento e uma falta de expectativas crescentes. Não dá para brincar de fazer política tendo como pano de fundo um cenário social deste tipo.

Os sinais são auspiciosos de que a reforma da Previdência será aprovada em curto prazo no plenário da Câmara dos Deputados. Espera-se que isso se confirme, sob pena de o País sofrer mais uma vez. E isso está sendo agora possível graças a uma redução visível da alta combustão política. Se o presidente perseverar nesta via, o novo governo dirá, então, ao que veio.