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quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Regina Duarte está pronta para dominar o “serpentário” que é a classe artística - Alexandre Garcia





Gazeta do Povo

A atriz Regina Duarte está aceitando o desafio da Cultura brasileira, que envolve uma estrutura gigantesca. São aquelas fundações que a gente conhece
a Agência Nacional do Cinema (ANCINE); 
o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan); 
o Instituto Brasileiro de Museus; 
a Fundação Nacional das Artes (Funarte); 
a Fundação Palmares; 
a Fundação da Biblioteca Nacional; 
a Fundação Casa Rui Barbosa; a Lei Rouanet. [algumas dessas fundações nem os funcionários sabem para que servem e outras institucionalizam o mau uso do dinheiro público.]

O que se pode dizer é que aquele prêmio que o Alvim Goebbels [ex-secretário da Cultura, Roberto Alvim] estava anunciando é bom, e vai ser mantido. É um prêmio para estimular as artes de um modo geral – a literatura, a escultura, a pintura, a música, a ópera. O valor chega a R$ 20 milhões.

Conselho da Amazônia e Segurança Pública
No caso da Amazônia, o Ministério de Minas e Energia relatou ao presidente Jair Bolsonaro que não pode fazer tudo sozinho, porque tem que lidar com questões fundiárias, de produção agropecuária, que envolvem Exército, Marinha e Aeronáutica, questões de policiamento, de legislações locais, estaduais.

Criou-se esse conselho para dar prestígio e uma Polícia Nacional ambiental, que foi aprovada pelo ministro Paulo Guedes, que tem que dar os recursos para isso. Os recursos vão vir do dinheiro que a Lava Jato conseguiu trazer de volta da corrupção.
Por falar nisso, os secretários de Segurança Pública estão reunidos em Brasília e estão apresentando resultados. Quando a gente olha para o ano passado, vê que todos os números de homicídios estão caindo – até no Rio de Janeiro. [e ainda não deixaram o presidente Bolsonaro e o ministro Moro executarem, conjuntamente, os projetos que ainda estão guardados.]

Os números voltaram a 1991, quase 30 anos. Interessante que há menos policial morto e mais bandido morto. Bandido que reagiu. Ou seja, nesse faroeste, o mocinho está ganhando. Isso é um número bom não só para nos tranquilizar como brasileiros, mas para atrair turistas também para o Brasil, já que eles não têm vindo para cá por causa disso.

Regina Duarte e mulheres na política
Tenho uma pergunta a fazer no dia em que a Grécia escolheu a primeira mulher presidente, uma juíza. Ela foi escolhida pelo Parlamento. Nos EUA, a gente vê que Nancy Pelosi é a presidente da Câmara dos Deputados.

Aqui no Brasil, já tivemos uma presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) mulher (Carmén Lúcia); uma presidente da República mulher (Dilma Rousseff); mas nunca tivemos uma presidente mulher do Senado ou da Câmara dos Deputados. São 15% de mulheres lá. O que há com os nossos legisladores? Será que estão com medo ou é machismo? Que história é essa? [atualizando: duas mulheres, sendo a primeira a ministra Ellen Gracie Northfleet, também a primeira mulher a ser ministra do STF.
Quanto a carência de parlamentares femininas é que o sistema de cotas não funciona - o eleitor não segue cotas;
assim, poucas são eleitas e, lamentavelmente, a maioria nada produz e as vezes ainda pisa na bola. 
Mas, temos algumas mulheres que deram um show. E tivemos a Dilma para prejudicar, e muito, a imagem das mulheres.]

Ainda sobre a Regina Duarte: ela está com inteira liberdade, sinal verde. O presidente chegou a dizer para ela: "Quando você precisar demitir, não precisa me avisar, não". O mesmo para as nomeações. São vinte cargos, por aí, a critério de escolha dela. Ela está muito cautelosa para escolher o seu time.
Vai ser um desafio, mas ela está acostumada. Eu tenho dito que ela é do ramo. Essa área é um serpentário. A gente que trabalha nesse ramo sabe que é um verdadeiro Butantã.

Alexandre Garcia, jornalista - Vozes - Coluna Gazeta do Povo

 


domingo, 1 de setembro de 2019

O inferno de Moro, uma tragédia brasileira- Elio Gaspari





Folha de S. Paulo - O Globo

Há dois anos seria forte candidato à Presidência; hoje é uma fritura ambulante

Ministro é hoje uma fritura ambulante. Fritam-no (ou frita-se) no Planalto, no Congresso e no Judiciário

Quando decidiu largar a toga, trocando o altar da Lava-Jato pelo serpentário de Brasília, Sergio Moro fez uma escolha arriscada. Ele havia se tornado um símbolo da luta contra a corrupção, mandando para a cadeia gente convencida de que aquilo era lugar de preto e de pobre. Na última quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro chamou-o de “patrimônio nacional”, mas Moro e as paredes do Planalto sabem que há poucas semanas ele o chamava de outra coisa. Quem já fritou um bife sabe que é preciso virar a carne, para não queimá-la. Moro é hoje uma fritura ambulante. Fritam-no (ou frita-se) no Planalto, no Congresso e no Judiciário. 

[atualizando: a matéria sobre a fritura do ministro Sérgio Moro tem como fonte principal supostos diálogos que constam da divulgação pelo site intercept = intercePTação - que continuam sendo produto de crime e sem autenticidade comprovada. 
Essa atualização se torna oportuna devido as tais conversas já estarem no lixo do esquecimento.]


Há dois anos ele seria um forte candidato na disputa pela Presidência da República. Essa viagem do paraíso ao inferno é uma tragédia brasileira que aponta para algo maior que ele. Mostra os vícios de soberba inerente à ideia do “faço-porque-posso”. Em 2004, antes de se tornar famoso, o juiz Sergio Moro escreveu um artigo sobre a Operação Mãos Limpas italiana e disse o seguinte: “Os responsáveis pela Operação Mani Pulite ainda fizeram largo uso da imprensa. (...) A investigação da ‘Mani Pulite’ vazava como uma peneira. Tão logo alguém era preso, detalhes de sua confissão eram veiculados no ‘L’Expresso’, no ‘La Repubblica’ e outros jornais e revistas simpatizantes. (...) Os vazamentos serviram a um propósito útil.” 

Moro e os procuradores da Lava-Jato repetiram a mágica. Agora queixam-se de vazamentos, e o ministro da Justiça lastimou que seus projetos “não têm tido a necessária exposição na imprensa”. O doutor não percebeu a mudança climática a que se submeteu trocando Curitiba por Brasília. Era um juiz que encarnava o combate à roubalheira e, junto com os procuradores, era também a melhor fonte de notícias. 

Afinal, era preferível ouvir Moro ou Deltan Dallagnol a dar crédito às patranhas virginais de empreiteiros ou de comissários petistas. Moro, Dallagnol e os procuradores sempre souberam que seus serviços seriam avaliados nas cortes superiores de Brasília. Confiaram numa inimputabilidade que lhes seria concedida pela opinião pública, até que vieram as revelações do The Intercept Brasil e, acima de tudo, a decisão do Supremo Tribunal Federal que anulou a sentença de 11 anos de prisão imposta a Aldemir Bendine, ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil.


Os inimigos do procurador Dallagnol acusavam-no de manipular a fama com palestras bem remuneradas, mas ninguém seria capaz de supor que de 20 palestras vendidas entre fevereiro de 2017 e fevereiro de 2019, cinco fossem patrocinadas pelo plano de saúde Unimed, com um tíquete médio de R$ 32 mil. Em setembro de 2018 o procurador queria ir à Bahia e perguntou a uma agenciadora: “Será que a Unimed Salvador não quer me contratar para uma palestra na semana de 24 de setembro?” (A Lava-Jato passou ao largo dos planos de saúde.) 

Dallagnol fez o que achava que podia fazer. Desde o aparecimento das mensagens obtidas pelo Intercept, os procuradores da Lava-Jato e Sergio Moro encastelaram-se numa defesa suicida de silêncio e negação. Danificaram a alma da Lava-Jato com a soberba do encastelamento que levou as empreiteiras e os comissários do PT à ruína e à cadeia.Para Moro, a conta do “faço-porque-posso” veio na semana passada, com a decisão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal. 


Alberto Toron estava certo
No dia 19 de janeiro de 2018 o advogado Alberto Toron, defensor de Aldemir Bendine, encaminhou ao então juiz Sergio Moro um pedido para que seu cliente apresentasse seus argumentos finais depois de conhecer os memoriais de Marcelo Odebrecht e de outros colaboradores que o acusavam de receber propinas. Toron argumentava que eles eram réus, mas haviam se transformado em acusadores, em situação que “se assemelha ao papel de um assistente do Ministério Público”. Quatro dias depois, Moro negou o pedido. Pouco custava aceitá-lo. Sua decisão foi ratificada em duas instâncias superiores, até que na semana passada, por três votos contra um, a Segunda Turma do STF anulou a sentença de Moro que condenou Bendine a 11 anos de prisão, por ter cerceado sua defesa. Talvez o resultado fosse, quatro a um, se o ministro Celso de Mello estivesse na sessão.


Vale a pena voltar no tempo. Na véspera do pedido de Toron, dois procuradores da Lava-Jato discutiam o projeto de colaboração do ex-ministro Antonio Palocci e achavam que ele estava enrolando. Um deles cravou: “Pensamos numa entrevista com o candidato, colocando de modo claro que ou ele melhora, ou vai cumprir pena.”
Moro rebarbou o pedido de Toron no dia 23. Dois dias depois os procuradores da Lava-Jato romperam as negociações com Palocci, que começou a negociar uma colaboração com a Polícia Federal. 


Uma coisa nada teve a ver com a outra, mas ambas tiveram a ver com o “faço-porque-posso”. Moro achou que podia, assim como Palocci achou que podia oferecer sua colaboração à Polícia Federal. Conseguiu, e em abril fechou seu acordo com a PF. Daí em diante, num ano eleitoral, as revelações de Palocci começaram a vazar.
Os dois “faço-porque-posso” encontraram-se no dia 1º de outubro, seis dias antes da realização do primeiro turno da eleição presidencial, quando Sergio Moro divulgou o teor de um anexo da confissão de Antonio Palocci à PF. Como logo disse uma procuradora, “o acordo é um lixo”, mas teve eficácia eleitoral. Moro fez porque podia.


Semanas depois Jair Bolsonaro foi eleito, e Moro aceitou o convite para o Ministério da Justiça. (Segundo o vice-presidente Hamilton Mourão, o primeiro “contato” da equipe de Bolsonaro com Moro ocorreu antes de segundo turno.)
Achavam, mas não podiam. 

(...)


Rodrigues Alves

Bolsonaro repete que quem manda no governo é ele. Faria bem se refletisse sobre o que dizia o grande presidente Rodrigues Alves (1902-1906): Meus ministros fazem tudo o que eles querem, menos o que eu não quero que eles façam.



Elio Gaspari, jornalista - Folha de S. Paulo - O Globo